quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A série de assassinatos de alvos russos que revela escalada de tática da Ucrânia

assassinato de Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC) da Rússia, nesta terça-feira (17/12), é um sinal de que a Ucrânia está escalando seus ataques contra membros do alto escalão de Moscou.

Uma fonte do governo da Ucrânia confirmou à BBC que o país está por trás da execução do tenente-general Kirillov, em uma explosão do lado de fora de um prédio residencial da capital russa.

"Isso não é um assassinato isolado. Nem é aleatório", escreveu Jonathan Beale, repórter de assuntos de defesa da BBC.

Hamish de Bretton-Gordon, especialista britânico em armas químicas, afirmou que Kirillov era um general russo importante, que autorizou o uso de cloropicrina – um gás tóxico – em escala industrial.

O assassinato está sendo visto como o mais recente de uma série de ataques direcionados da Ucrânia contra oficiais russos, autoridades militares instaladas pela Rússia e figuras públicas pró-Kremlin em territórios ucranianos ocupados e na própria Rússia.

<><> Sequência de mortes

Em 13 de novembro, uma explosão de um carro-bomba matou Valery Trankovsky, um oficial sênior da marinha russa, na Crimeia, região da Ucrânia ocupada pela Rússia desde 2014.

Uma fonte do Serviço de Segurança da Ucrânia, a SBU, disse ao jornal Kyiv Independent que Trankovsky era um criminoso de guerra que ordenou ataques com mísseis de cruzeiro contra alvos civis na Ucrânia.

O assassinato de Trankovsky teria sido orquestrado pelos ucranianos, informou no mês passado a agência de notícias AFP, citando uma fonte dos serviços de segurança da Ucrânia.

A inteligência ucraniana também é considerada responsável pelo assassinato do cientista russo Mikhail Shatsky, que foi morto perto de Moscou em 12 de dezembro.

Shatsky teria participado do programa de mísseis da Rússia e do desenvolvimento de softwares de inteligência artificial para drones.

Também no início de dezembro, o ex-chefe de uma prisão em Donetsk, outra região da Ucrânia ocupada pela Rússia, morreu após seu carro explodir.

Sergei Yevsyukov era o chefe da prisão de Olenivka quando dezenas de prisioneiros de guerra ucranianos morreram em um ataque com mísseis em julho de 2022.

Na época, a Rússia culpou a Ucrânia pelo ataque à prisão, mas a Ucrânia afirmou que os russos a haviam atacado para destruir evidências de tortura e outros crimes de guerra cometidos no local.

Além desses casos, em abril uma explosão de carro-bomba em território controlado pela Rússia na região de Luhansk matou um funcionário do governo nomeado por Moscou.

E, em outubro, a Ucrânia assumiu a responsabilidade por um ataque com carro-bomba que matou um funcionário da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pela Rússia.

<><> Guerra perto de casa

Para moradores de Moscou, o assassinato do general Kirillov em plena capital russa é um sinal de que esta guerra é muito real e está muito próxima de casa.

Conversando com os moradores do bairro onde aconteceu a explosão, o editor da BBC Rússia em Moscou, Steve Rosenberg, relata que está "claro um profundo sentimento de choque".

"Mesmo após três anos de guerra, para muitos moscovitas, a guerra da Rússia na Ucrânia é algo que acontece longe daqui; algo que eles apenas veem na televisão ou em seus celulares", escreve.

A historiadora e jornalista vencedora do Prêmio Pulitzer, a americana-polonesa Anne Applebaum, disse em entrevista à BBC que a morte de Kirillov parece ter sido "muito cuidadosamente planejada", já que aconteceu um dia após ele ser acusado pela Ucrânia de usar armas químicas.

Applebaum é autora de livros sobre a Rússia comunista e o desenvolvimento da sociedade civil do Leste Europeu.

"Alguém certamente quis fazer parecer que isso foi uma forma de fazer justiça com as próprias mãos", disse ao programa Today, da BBC Radio 4.

 

¨      O que se sabe sobre morte de general russo responsável por forças nucleares

Um general de alto escalão das Forças Armadas russas e seu assistente foram mortos em uma explosão em Moscou, na madrugada desta terça-feira (17/12).

O tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC), estava na entrada de um complexo residencial quando um dispositivo escondido em uma scooter explodiu, informou o Comitê de Investigação da Rússia.

O dispositivo foi detonado remotamente e continha cerca de 300 g de explosivos, conforme fontes russas da área de segurança disseram à agência de notícias estatal Tass.

Fontes da BBC nos serviços de segurança da Ucrânia afirmam que o país está por trás da operação para matar Kirillov em Moscou.

Segundo eles, Kirillov era "um alvo legítimo", uma vez que era um criminoso de guerra que deu ordens para o uso de armas químicas proibidas contra os militares ucranianos.

Na segunda-feira (16/12), o serviço de segurança da Ucrânia, conhecido pela sigla SBU, acusou Kirillov à revelia, dizendo no Telegram que ele era "responsável pelo uso em massa de armas químicas proibidas". O governo ucraniano ainda não comentou oficialmente a morte do general.

Ele já havia sido alvo de sanções do Reino Unido e de outros países por seu papel no uso de armas químicas pela Rússia.

O Comitê de Investigação da Rússia descreveu, por sua vez, o assassinato do tenente-general como um "ato terrorista".

"O incidente foi classificado como um ato terrorista, assassinato, tráfico ilegal de armas e munição", afirmou a porta-voz do comitê, Svetlana Petrenko.

<><> A explosão

A explosão aconteceu em uma zona residencial no sudeste de Moscou, a cerca de 6,5 km a leste do Kremlin, a sede do governo russo.

Imagens do local mostraram que a entrada do prédio estava bastante danificada, com marcas carbonizadas nas paredes e várias janelas quebradas. Dois sacos para coleta de corpos também podiam ser vistos na rua.

Os moradores que vivem perto do local da explosão disseram à agência de notícias AFP que inicialmente pensaram que o barulho alto que ouviram tinha vindo de um canteiro de obras.

O estudante Mikhail Mashkov, que mora no prédio ao lado, contou que foi acordado por um "barulho de explosão muito alto", pensando que "algo havia caído no canteiro de obras", antes de olhar para fora.

Olga Bogomolova relatou, por sua vez, que pensou que um contêiner da obra havia caído, mas depois percebeu que "foi uma explosão muito forte", viu as "janelas quebradas" e notou que se tratava de outra coisa.

O Comitê de Investigação da Rússia disse que "abriu um processo criminal para investigar o assassinato de dois militares".

"Investigadores, especialistas forenses e serviços operacionais estão trabalhando no local", eles afirmaram.

"Ações investigativas e atividades de busca operacional estão sendo realizadas com o objetivo de estabelecer todas as circunstâncias do crime."

As agências de notícias estatais russas informaram que o dispositivo explosivo — que matou Kirillov, de 54 anos, e seu assessor na avenida Ryazansky — tinha uma força explosiva equivalente a 300 g de TNT.

Eles acrescentaram que especialistas em bombas e cães especializados em busca inspecionaram a área ao redor e nenhum outro explosivo foi encontrado.

Assassinatos já foram cometidos na Rússia antes, mas os ataques em Moscou são raros.

<><> Sanções pelo uso de armas químicas

Em outubro, o Reino Unido impôs sanções a Kirillov, dizendo que ele havia supervisionado o uso de armas químicas na Ucrânia e atuado como um "importante porta-voz da desinformação do Kremlin". As sanções envolviam o congelamento de bens e a proibição de viajar.

Ele também foi sancionado pelo Canadá e pela Nova Zelândia.

O SBU, da Ucrânia, acusou Kirillov de cometer um crime de guerra. A agência de segurança afirmou que a Rússia usou armas químicas mais de 4,8 mil vezes sob a liderança do general desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022. Moscou nega as acusações.

"A investigação pré-julgamento está em andamento para documentar outros fatos de violações do direito internacional humanitário", disse o SBU na segunda-feira.

Em maio, os Estados Unidos acusaram a Rússia de usar armas químicas como um "método de guerra" na Ucrânia, violando as leis internacionais que proíbem seu uso.

Autoridades do Departamento de Estado disseram que a Rússia usou o agente asfixiante cloropicrina para obter "ganhos no campo de batalha" sobre a Ucrânia.

De acordo com o SBU, as forças russas usaram drones para lançar armas químicas contra soldados ucranianos.

O coronel ucraniano Artem Vlasiuk havia dito anteriormente que mais de 2 mil membros do serviço ucraniano foram tratados no hospital por envenenamento químico durante a guerra — e que três pessoas morreram.

O Kremlin rejeitou as acusações na época, classificando-as como "sem fundamento".

<><> Quem era Igor Kirillov?

Igor Kirillov era um general russo de alto escalão, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química do país. Ele foi nomeado para chefiar a NBC em abril de 2017.

O general ficou conhecido por seus briefings extravagantes no Ministério da Defesa da Rússia, o que levou o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a rotulá-lo como um "importante porta-voz da desinformação do Kremlin".

De acordo com a agência de notícias estatal Tass, ele frequentou a Escola Superior de Comando Militar de Defesa Química de Kostroma. E serviu em diferentes funções nas Forças Armadas da Rússia associadas a materiais perigosos, incluindo a Diretoria do Chefe das Tropas de Defesa Radioativa, Química e Biológica.

A morte de Kirillov aconteceu menos de uma semana depois que um renomado especialista em armas russo foi morto a tiros perto de sua casa em Moscou.

A mídia ucraniana informou que o assassinato de Mikhail Shatsky foi realizado pelo serviço de inteligência militar da Ucrânia.

 

¨      Qual será a resposta de Putin por morte de general que chefiava forças nucleares na Rússia?

morte de um general de alto escalão das Forças Armadas russas em uma explosão em Moscou provocou reações na Rússia.

O tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC), foi morto nesta terça-feira (17/12) quando um dispositivo escondido em um patinete explodiu.

O dispositivo foi detonado remotamente e continha cerca de 300g de explosivos, conforme fontes russas da área de segurança disseram à agência de notícias estatal Tass.

Fontes da BBC nos serviços de segurança da Ucrânia afirmam que o país está por trás da operação para matar Kirillov em Moscou.

Segundo eles, Kirillov era "um alvo legítimo", uma vez que era um criminoso de guerra que deu ordens para o uso de armas químicas proibidas contra os militares ucranianos.

O ex-ministro da Defesa do Reino Unido, Tobias Ellwood, disse à rede de notícias britânica Sky News, que deve se esperar "uma grande retaliação" por parte dos russos à morte de Kirillov.

"Isso é uma grande vergonha para Putin. Ele não conseguirá esconder isso do povo russo,"

Autoridades russas acusaram o Ocidente de orquestrar o assassinato de Kirillov. O tenente-general era alvo de sanções e processos internacionais.

Em maio deste ano, os EUA acusaram a Rússia de implantar armas químicas como um "método de guerra" na Ucrânia, em violação às leis internacionais que proíbem seu uso.

Em outubro, o Reino Unido sancionou Kirillov, dizendo que ele é "responsável por ajudar a implantar essas armas bárbaras".

O especialista em armas químicas do Reino Unido, Hamish de Bretton-Gordon, diz que Kirillov era um importante general russo que havia autorizado o uso de cloropicrina – um gás tóxico – em escala industrial.

Na segunda-feira (16/12), a Ucrânia acusou Kirilov de cometer crimes de guerra ao autorizar o uso de armas químicas, particularmente o lançamento de granadas de mão com gás lacrimogêneo de drones.

Na terça-feira, após a morte do tenente-general, o deputado da Duma Estatal e general aposentado do Exército, Andrei Gurulyov, afirmou que Kirillov era uma pessoa que "entendia e rastreava toda a atividade criminosa dos EUA e seus satélites, incluindo seus laboratórios biológicos criminosos e a disseminação de armas químicas e biológicas".

Gurulyov pediu uma "resposta dura" que incluirá "ataques contra autoridades anglo-saxônicas".

O presidente do Comitê de Defesa da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento russo) Andrei Kartapolov prometeu encontrar e punir "os responsáveis ​​por organizar e executar" o assassinato de Kirillov "não importa quem sejam ou onde estejam".

No Telegram, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, escreveu que Kirillov "passou muitos anos expondo sistematicamente os crimes dos anglo-saxões".

O premiê britânico, Keir Starmer, comentou a morte de Kirilov nesta terça e ressaltou a importância de fortalecer o apoio da aliança militar Otan à Ucrânia.

"Devemos ficar ao lado da Ucrânia. Acho que essa é uma situação em desenvolvimento. Mas a discussão desta manhã foi muito clara sobre a necessidade estratégica da Otan ficar, como fazemos, ao lado da Ucrânia neste período crítico", disse Starmer.

<><> Estratégia da Ucrânia

Para o correspondente de defesa da BBC News, Jonathan Beale, o assassinato de Kirillov por parte dos ucranianos não é isolado e nem aleatório — mas faz parte de uma estratégia da Ucrânia.

"Os serviços de segurança da Ucrânia parecem estar intensificando seus ataques a indivíduos russos seniores ligados a eventos específicos ou com habilidades fundamentais para a guerra da Rússia na Ucrânia", diz Beale.

No mês passado, um carro-bomba matou Valery Trankovsky, um oficial naval russo sênior, na Crimeia. Uma fonte do Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) disse ao jornal Kyiv Independent que Trankovsky era um criminoso de guerra que ordenou ataques com mísseis de cruzeiro contra alvos civis na Ucrânia.

A inteligência ucraniana estaria por trás do assassinato de um cientista russo, Mikhail Shatsky, perto de Moscou na semana passada. Ele teria se envolvido no programa de mísseis da Rússia e no desenvolvimento de software de inteligência artificial para drones.

O repórter de segurança da BBC, Frank Gardner, diz que Kirilov teria dado a ordem para implantar o agente químico cloropicrina contra tropas ucranianas entrincheiradas na linha de frente na região do Donbas.

A cloropicrina, usada na Primeira Guerra Mundial, é um gás tóxico de controle de distúrbios cujo uso em guerra é proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, um tratado que a Rússia assinou.

A substância causa extrema irritação e dor nos olhos e pulmões e — embora não seja geralmente letal em espaços abertos onde pode se dispersar — tem um benefício tático óbvio no campo de batalha.

"Para alguns no ocidente, o tenente-general Kirillov era um personagem ridículo, quase cômico, propenso a espalhar teorias absurdas sem base em fatos. Ele teria alegado que a covid era uma conspiração dos EUA para infectar a Rússia, por exemplo", diz Gardner.

A Rússia nega ter armas químicas. A Rússia diz que terminou de destruir seu vasto estoque de armas químicas em 27 de setembro de 2017, em um evento que contou com a participação de Putin.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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