segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Os alertas de guerra na Europa que preocupam o mundo

Alertas feitos por autoridades europeias sobre a necessidade de o continente se preparar para um possível conflito têm elevado os níveis de tensão na região.

Na segunda-feira (25/11), um oficial da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) instou empresas na Europa a se prepararem para um cenário de guerra e a ajustarem suas linhas de produção e distribuição, a fim de ficarem menos vulneráveis ​​à chantagem de países como Rússia e China.

"Se pudermos garantir que todos os serviços e bens cruciais possam ser entregues, não importa o que aconteça, isso será uma parte fundamental da nossa dissuasão", disse o presidente do comitê militar da Otan, o almirante holandês Rob Bauer, segundo a agência Reuters.

Em um evento em Bruxelas, Bauer se mostrou preocupado sobre uma possível dependência europeia em relação à China e à Rússia em áreas como fornecimento de energia e metais raros e medicamentos.

Segundo o militar, é inocência pensar que os governos russo e chinês não podem usar essa dependência como vantagem em um cenário de guerra.

“Embora sejam os militares que vençam batalhas, são as economias que vencem as guerras”, disse.

·        Ameaça 'séria e real' de guerra global

A preocupação em relação a um conflito expandido na Europa cresceu após a escalada no conflito na Ucrânia nos últimos dias.

O presidente Vladimir Putin anunciou em novembro uma mudança no protocolo russo sobre o uso de armas nucleares, relaxando os critérios para o emprego desse tipo de armamento em um conflito.

Pouco antes, Estados Unidos e Reino Unido cruzaram (outra) linha vermelha traçada por Putin, ao permitirem que a Ucrânia dispare contra a Rússia mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente.

E tudo isso aconteceu na mesma semana em que Putin ameaçou o Reino Unido, os EUA e qualquer outro país que estiver suprindo a Ucrânia com esse tipo de arma e para esse tipo de propósito.

"Nos consideramos no direito de usar nossas armas contra bases militares nestes países que permitirem o uso de armas contra nossas bases", disse o líder russo, em um pronunciamento à nação na quinta-feira (21/11).

Desde o começo da guerra, governos ocidentais já ultrapassaram diversas "linhas vermelhas" da Rússia: fornecendo tanques, sistemas de mísseis avançados e caças F16 à Ucrânia. E as "consequências" citadas pelo Kremlin nunca se materializaram.

Diante desses acontecimentos, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, fez um alerta sobre uma ameaça "séria e real" de guerra global.

A invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia "está entrando em uma fase decisiva", disse Tusk em um discurso ao Sindicato dos Professores Poloneses na sexta-feira (22/11).

"Todos nós sabemos, sentimos que o desconhecido está se aproximando. Nenhum de nós sabe o fim deste conflito, mas sabemos que ele está assumindo dimensões muito dramáticas no momento", afirmou.

"Os eventos das últimas dezenas de horas mostram que esta ameaça é realmente séria e real em termos de um conflito global".

·        'Se houver crise ou guerra'

Localizados em uma área de risco e temendo as consequências de suas movimentações geopolíticas recentes, países escandinavos também têm instruído suas populações sobre como agir em caso de um conflito.

Em novembro, milhões de suecos começaram a receber um panfleto que orienta a população sobre como se preparar e lidar com a situação em caso de guerra ou outras crises inesperadas.

Intitulado "Se houver crise ou guerra", o panfleto é uma versão atualizada de uma edição distribuída há seis anos, devido ao que o governo de Estocolmo chama de piora na situação de segurança — em outras palavras, à invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia. O livreto tem o dobro do tamanho da versão anterior.

Finlândia, país vizinho, também publicou online suas novas orientações sobre "preparação para incidentes e crises".

E os noruegueses receberam recentemente um panfleto pedindo que se preparem para se virar sozinhos por uma semana em caso de condições meteorológicas extremas, guerra e outras ameaças.

Durante o verão no hemisfério norte, a agência de gestão de emergências da Dinamarca disse que estava enviando por e-mail aos adultos dinamarqueses detalhes sobre água, alimentos e medicamentos de que necessitariam para ultrapassar uma crise durante três dias.

Suécia e Finlândia são os mais recentes países a aderirem à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A decisão das duas nações de abandonarem sua posição de neutralidade foi um revés para Vladimir Putin, que condena a expansão da Otan e lista os movimentos da aliança como um dos motivos para a sua invasão da Ucrânia.

A Finlândia compartilha uma fronteira 1.340 km com a Rússia e solicitou formalmente a adesão à Otan com a Suécia em maio de 2021 por causa da guerra. Já Noruega e Dinamarca fazem parte dos membros fundadores da aliança militar.

·        O que esperar?

Steve Rosenberg, editor de Rússia da BBC News, diz que é difícil saber o que esperar de Vladimir Putin e do futuro do conflito.

Para ele, talvez nem mesmo o presidente russo saiba seus próximos passos, o que deixa tudo mais grave.

Rosenberg afirma que Putin tem usado constantemente nos últimos anos a escalada de tensões como método para atingir suas metas — neste caso, o controle sobre a Ucrânia ou a paz nos termos da Rússia.

“Há muitos exemplos de Putin escalando a guerra: a invasão de grande escala da Ucrânia, a decisão de declarar quatro territórios ucranianos como parte da Rússia, o envio de soldados norte coreanos para a região de Kursk, a decisão de atacar a cidade de Dnipro com um novo míssil balístico hipersônico de alcance médio na quinta-feira e as ameaças de atacar o Ocidente”, diz.

“Uma vez eu descrevi Putin como um carro sem marcha ré ou freio, voando baixo em uma estrada, com o acelerador no máximo. Pelo visto, pouco mudou.”

Segundo o editor da BBC, a escalada é uma possibilidade clara e a Ucrânia deve estar se preparando para mais ataques russos, com bombardeios ainda mais pesados.

Por outro lado, Rosenberg vê a mudança de governo nos Estados Unidos, com Donald Trump assumindo a presidência em 2025, como um evento que pode mudar o rumo atual do conflito.

Trump tem expressado ceticismo sobre assistência militar americana à Ucrânia e críticas em relação à aliança militar Otan. Ele também disse recentemente que conversar com Vladimir Putin seria “algo inteligente”

“Tudo isso deve soar como música aos ouvidos de Putin”, diz Rosenberg. “O que significa que apesar das mais recentes ameaças e alertas, o Kremlin pode decidir evitar uma grande escalada agora.”

“Isso se o Kremlin estiver calculando que Trump vai ajudar pôr um fim à guerra em termos que beneficiam a Rússia. Se esse cálculo mudar, a resposta de Moscou também pode mudar.”

 

¨      A Europa toca os tambores da guerra. Por Flávio Aguiar

Um autêntico calafrio percorreu toda a Europa na semana passada. Noticiou-se com destaque que os governos da Suécia e da Finlândia divulgaram para seus cidadãos manuais sobre como proceder no caso de uma guerra contra terceiros. O governo sueco distribuiu pelo correio uma brochura de 32 páginas. O finlandês disponibilizou uma publicação online. Embora o nome não aparecesse, era óbvio que se tratava de uma guerra com a Rússia. A Suécia não tem uma fronteira terrestre com a Rússia. Há uma fronteira marítima entre ela e o enclave russo de Kaliningrado, espremido entre o Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. A Finlândia tem uma fronteira terrestre com a Rússia de 1.343 km.

Ambas mensagens abordam outras crises, como a ocorrência de pandemias, desastres naturais e ataques terroristas. Mas o destaque no noticiário foi para a guerra, graças à existência do conflito direto entre a Rússia e a Ucrânia, que tem o apoio da OTAN, que Suécia e Finlândia passaram a integrar há pouco tempo.

Tanto na Suécia como na Finlândia as instruções envolvem a manutenção de estoques de alimentos, água, remédios e dinheiro, a guarda de cartões de crédito, conselhos sobre como se manter informado através do rádio, a busca de abrigos coletivos no caso de ataques aéreos ou nucleares, como neles se comportar ou onde se proteger caso seja impossível chegar até eles. Logo no começo das instruções suecas, encontra-se a seguinte exortação patriótica: “Se a Suécia for atacada, nós nunca nos renderemos. Qualquer sugestão em contrário é falsa”.

Aos poucos surgiram informações complementares. Em ambos os casos, tratava-se de uma atualização de instruções anteriores. Também noticiou-se que outros governos, como os da Dinamarca e da Noruega, distribuíam instruções semelhantes. Nada disto atenuou o impacto midiático do clima de preparação para uma guerra.

Para engrossar o caldo, a Alemanha entrou na dança. A mídia do país noticiou a existência de um documento do Exército até então secreto, com mil páginas sobre a possibilidade e os desdobramentos de uma guerra com a Rússia. Entre outras coisas o documento prevê que a Alemanha se transformaria num imenso corredor por onde passariam centenas de milhares de soldados da OTAN – norte-americanos e outros. O país se transformaria no grande organizador logístico do fluxo de tropas, suprimentos e armas de variada espécie para o conflito. Outras informações vieram à tona. O exército está disponibilizando instruções específcas para empresários sobre como adequar suas empresas à circunstância de uma guerra, com destaque para a questão dos transportes.

Para compreender o impacto destas informações, deve-se levar em conta a moldura em que surgiram e alguns antecedentes. Concomitante a elas noticiava-se uma escalada de fato ou retórica em torno da guerra na Ucrânia e agora também em território russo, com a invasão da região de Kursk por tropas ucranianas. Noticiou-se a presença de tropas norte-coreanas em território russo, em apoio a Moscou. O governo Biden autorizou a utilização pela Ucrânia de mísseis de longo alcance contra território russo, e o fornecimento de minas terrestres contra veículos e pessoas para o governo de Kiev. Este anunciou que a Rússia lançara um míssil de longo alcance, capaz de levar uma ogiva nuclear, contra seu território. Moscou relaxou as normas para utilização de armas nucleares em caso de conflito, sobretudo se atacada por um país que tivesse o apoio de uma potência nuclear.

França, Alemanha e Polônia anunciaram estarem aumentando significativamente seus orçamentos militares. O exemplo pode ser seguido por outros países. Os Estados Unidos anunciaram o restabelecimento de mísseis em território europeu. A TV russa divulgou uma reportagem comentando quais cidades europeias poderiam ser alvo de ataques por mísseis de longo alcance. Não faz muito o governo Biden aumentou em 20% a presença de pessoal militar e conexo norte-americano no continente europeu, contingente que hoje passa de 120 mil, maior do que, por exemplo, todo o Exercito do Reino Unido.

Autoridades civis e militares alemãs já falaram abertamente que é possível haver uma guerra com a Rússia em cinco ou seis anos. Em suma, a Europa se prepara para a possibilidade da guerra. Políticos que admitem o risco usam com frequência o dito popularizado em latim, “si vispacem para bellum”, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Entretanto lembremos que o currículo europeu na matéria não é bom. Sempre que a Europa preparou-se para guerra, ela acabou acontecendo, com as consequências trágicas que conhecemos.

 

¨      Europa está em situação grave e não suportará escalada das tensões com Rússia, afirma especialista

A Europa está em uma situação precária e não vai conseguir reagir adequadamente se as relações com a Rússia se agravarem, escreve o especialista britânico em assuntos europeus Edward Lucas em seu artigo para o jornal The Times.

Lucas aborda a questão de quanto a Europa pode se defender perante uma suposta ameaça proveniente da Rússia e chega à conclusão de que os países europeus estão enfrentando "a mais grave crise de segurança" dos últimos tempos.

Mesmo durante a Guerra Fria, segundo ele, o Reino Unido e o Ocidente estavam, em geral, em uma posição melhor do que agora, quando os modelos econômicos e políticos "em lugares autoritários", como Dubai e Cingapura, funcionam melhor do que nas "democracias" modernas.

Lucas acredita que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) já não pode ser considerada a aliança militar mais forte e bem-sucedida do mundo.

"A OTAN está dividida e distraída, prejudicada pelo comportamento caprichoso de administrações dos EUA passadas, presentes e, sem dúvida, futuras e por décadas de mesquinhez e complacência europeias", afirma.

O analista sublinha que, no caso de uma guerra em grande escala, o Reino Unido ficaria sem munição em três ou quatro dias, levando em conta uma escassez de peças de reposição, combustível, comunicações, logística e reservas militares.

Em seu artigo, Lucas expressa a vontade de favorecer a próxima administração do presidente eleito dos EUA Donald Trump e tentar chegar a um acordo com ele para que Washington não deixe a Europa por conta própria.

Anteriormente, o presidente russo Vladimir Putin explicou detalhadamente em uma entrevista ao jornalista norte-americano Tucker Carlson que Moscou não tem a intenção de atacar os países da OTAN, pois isso não faz sentido.

O líder russo observou que os políticos ocidentais intimidam regularmente suas populações com uma imaginária ameaça russa a fim de desviar a atenção dos problemas domésticos, mas que as "pessoas inteligentes entendem perfeitamente que isso é fake".

<><> Europa considera lançamento do Oreshnik como início de nova era de mísseis, segundo mídia

Incerteza sobre o possível resultado da retórica nuclear entre a Rússia e o Ocidente causa preocupações entre especialistas europeus com o futuro da segurança da Europa e do bloco ocidental em geral, de acordo com o jornal The Washington Post.

Em 21 de novembro, em resposta a um ataque ucraniano com armas ocidentais de longo alcance contra o território russo, a Rússia atacou instalações do complexo industrial-militar ucraniano na cidade de Dnepropetrovsk (Dniepre, na denominação uraniana).

Pela primeira vez, um dos mais novos sistemas russos de mísseis de médio alcance, o Oreshnik, foi testado em condições de combate, neste caso sem ogivas nucleares.

O novo míssil balístico de médio alcance (5.500 km), mesmo em configuração não nuclear, representa uma ameaça direta e potencialmente devastadora para a Europa e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), cita o artigo as opiniões de especialistas e analistas entrevistados.

"Alguns especialistas em armas ocidentais consideram [o uso do Oreshnik] o tiro de partida em uma nova corrida armamentista europeia que pode durar décadas e consumir bilhões de dólares nos países da OTAN e na Rússia", diz.

Outra preocupação dos europeus está relacionada à atualização recente da doutrina nuclear russa, que agora amplia a possibilidade jurídica de usar armas nucleares contra países que ainda não as têm.

Considerando os planos da Alemanha e dos Estados Unidos de fazer rodízio de mísseis de médio alcance dos EUA na Europa, o Velho Continente está à beira de "uma nova era dos mísseis", acredita Alexander Graef, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa para a Paz e Política de Segurança de Hamburgo.

O Oreshnik pode atingir qualquer capital da Europa em até 20 minutos, o que é muito pouco para detectar e reagir com antimísseis, por isso a Europa atualmente está em posição mais fraca em frente da Rússia, disse François Diaz-Maurin, editor associado de assuntos nucleares do Bulletin of the Atomic Scientists (Boletim de Cientistas Atômicos).

"Esse novo míssil é, na verdade, uma confirmação de que a Europa deve assumir a liderança na sua própria segurança", concluiu ele.

Anteriormente, o presidente russo Vladimir Putin explicou detalhadamente em uma entrevista ao jornalista norte-americano Tucker Carlson que Moscou não tem a intenção de atacar os países da OTAN, pois isso não faz sentido.

O líder russo observou que os políticos ocidentais intimidam regularmente suas populações com uma imaginária ameaça russa a fim de desviar a atenção dos problemas domésticos, mas que as "pessoas inteligentes entendem perfeitamente que isso é fake".

 

Fonte: BBC News Mundo/Outras Palavras/Sputnik Brasil

 

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