Os números por trás
do 'milagre econômico' da ditadura no Brasil
Em 13 de dezembro
de 1968, o governo militar decretava o
Ato Institucional número 5 (AI-5), o quinto de 17 grandes decretos emitidos
durante a ditadura. Era o início da
fase que é considerada a mais repressiva do regime.
O período iniciado
em 1968 foi marcado pelo fechamento do Congresso Nacional,
pela tortura de
adversários políticos e pela morte e desaparecimento de mais de 400 pessoas,
como indica o relatório da
Comissão Nacional da Verdade.
Ainda assim, não é
incomum que o período do regime militar no Brasil, entre 1964 e 1985, seja
lembrado por alguns com certa nostalgia como um tempo marcado por um forte crescimento
da economia, que ficou conhecido "milagre econômico". A economia brasileira
nunca cresceu tanto — antes ou depois. A taxa média de crescimento nesse
período girava em torno de 10% por ano.
Mas especialistas
notam que o regime militar deixou para o país uma herança maldita para a
economia, como o agravamento de alguns dos problemas que ainda marcam o
noticiário econômico brasileiro, como o endividamento do setor público e o
aumento da desigualdade social.
"O governo
militar, quando assume em 1964, enfrenta um período de bastante desorganização
da economia, com desequilíbrio fiscal, inflação alta e desemprego. Havia um
desgaste muito grande do modelo econômico anterior, com o fracasso do Plano
Trienal (para retormar o crescimento econômico). Eles conseguiram modernizar a
economia, mas isso teve um alto preço, que acabou sendo pago após a
redemocratização, como hiperinflação e dívida externa estratosférica", diz
Vinicius Müller, professor de história econômica do Insper, à BBC News Brasil.
Mesmo serviços
públicos, como a educação eram restritos e sofreram uma clara erosão de
investimentos do Estado. O desenvolvimento da indústria, por outro lado, se deu
à custa de muito endividamento público. A dívida externa brasileira cresceu em
mais de 30 vezes. Se o PIB cresceu como nunca, a repressão limitou o poder de
barganha dos sindicatos, e o salário dos trabalhadores amargou duas décadas de
reajustes abaixo da inflação.
A BBC News Brasil
analisou os dados do período e entrevistou historiadores, economistas e
sociólogos em busca de um raio-x do legado socioeconômico do regime militar.
Veja os principais pontos.
·
Havia
menos corrupção?
Pouco se ouve falar
em corrupção durante a ditadura. Mas isso quer dizer que ela não existiu?
O ambiente do
regime militar era "ideal para práticas corruptas", segundo o
professor Pedro Henrique Pedreira Campos, do Departamento de História e
Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
e autor do livro Estranhas Catedrais: As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura
Civil-militar, 1964-1988, que analisa mais profundamente essa relação.
"Os mecanismos
de fiscalização eram inexistentes ou estavam amordaçados: a imprensa, a
oposição política, o Parlamento. As próprias instituições do Estado, como
Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário, sofreram forte limitação na
sua atuação naquele período", diz Campos.
Campos lembra,
ainda, que "mesmo com todo esse amordaçamento dos mecanismos de fiscalização,
alguns casos vieram à tona, principalmente no período da transição política, e
foram denunciados publicamente".
É o caso, por
exemplo, do Relatório Saraiva, que envolve a suposta cobrança de propina por
parte de Delfim Netto, então ministro da Fazenda, em obras de engenharia e
financiamento para equipamentos de usinas hidrelétricas. Delfim sempre negou a
acusação.
"O próprio SNI
(Serviço Nacional de Informações), o órgão de espionagem da ditadura, flagrou
alguns ministros, empresários e agentes públicos cobrando propina e recebendo
recursos ilegais por parte de empresas para ter favorecimentos", diz.
"Não é porque
tínhamos menos notícia de corrupção que havia menos (atos de corrupção). Pelo
contrário, tudo aponta que a corrupção era deliberada. O que a gente conhece e
que veio a público provavelmente é a ponta do iceberg das irregularidades que
foram cometidas naquele período. É uma pena que exista um desconhecimento de
grande parte da população em relação a isso", conclui Campos.
·
'Crescimento
chinês' e Estado na infraestrutura
De fato, o PIB
brasileiro (Produto Interno Bruto, ou a soma de todas as riquezas produzidas)
cresceu muito durante o governo militar. No início do regime, o crescimento foi
baixo por conta das medidas tomadas para conter a inflação, que chegava a quase
100% ao ano.
Mas, a partir de
1968, a economia deslanchou. Inaugurava-se um período de cinco anos que ficou
conhecido como "milagre econômico", quando o país cresceu a taxas
elevadas e sem precedentes.
Em 1973, no auge do
"milagre", o PIB cresceu 14%.
Imagine se toda
essa riqueza acumulada fosse dividida igualmente por toda a população
brasileira. É o chamado PIB per capita, que não considera a desigualdade, mas
dá uma primeira ideia da evolução no período. Foi de US$ 261 em 1964 para US$
1.643 em 1985.
Em 1964, um
brasileiro ganhava, em média, o equivalente a 17% da renda recebida por um
típico cidadão americano. Já em 1978, a renda média do brasileiro passou a
corresponder a 28% a do americano. O problema era que nem todos recebiam igual
fatia do bolo.
"Os militares
alcançaram resultados bem positivos do ponto de vista econômico na primeira
metade do regime: conseguiram controlar a inflação (em um primeiro momento),
aumentaram a produtividade da economia, modernizaram a máquina pública e o
parque industrial. Além disso, fortaleceram o Estado, que passou a ter um
protagonismo significativo nos investimentos em infraestrutura", diz
Guilherme Grandi, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP
(FEA/USP).
A taxa de investimento
público em relação ao PIB passou de quase 15% em 1964 para 23,3% em 1975.
"Mas como isso
foi feito? Foi feito em um ambiente autoritário, à custa de muitas vidas",
ressalva.
·
Emprego,
obras públicas e financiamento internacional
Com esse crescimento,
também vieram mais empregos, especialmente na indústria.
Em 1965, o setor
empregava 2 milhões de pessoas. Vinte anos depois, em 1985, 3,5 milhões.
A inflação também
caiu. Foi de 92% em 1964 para 15,6% em 1973.
Mas como isso foi
possível? Houve uma combinação de fatores.
Os militares
incentivaram a entrada do capital estrangeiro, estimularam exportações e
implementaram medidas para proteger o investimento financeiro, como a correção
monetária. Foram feitas reformas fiscais, tributárias e financeiras.
"A criação do
Banco Central (1964), que administra nossa política monetária, data desse
período", lembra Grandi, da Faculdade de Economia e Administração da USP
(FEA/USP).
O governo também
apostou em grandes obras. Vieram a Ponte Rio-Niterói, a mega usina de Itaipu,
usinas nucleares de Angra, polos petroquímicos e Rodovia Transamazônica (até
hoje não concluída).
Mas grande parte
desse "milagre" só foi possível graças ao dinheiro internacional. Era
uma época de crédito farto no exterior. O capital estrangeiro chegou ao Brasil
tanto pelas chamadas multinacionais, que encontraram no nosso país um ambiente
mais favorável, quanto por empréstimos tomados de instituições internacionais.
Os militares
investiram ainda num programa de desenvolvimento do parque industrial. A Zona
Franca de Manaus, por exemplo, foi formada nessa época, com isenção de impostos
às empresas que por lá se estabeleciam. A ideia era substituir importações, ou
seja, incentivar a produção nacional de bens que vinham sendo importados com um
alto custo em dólar à balança comercial externa.
E para quem defende
uma economia com forte controle estatal, não faltaram exemplos durante a
ditadura. Ao todo, 274 estatais foram criadas durante o governo militar, como
Nuclebrás (energia nuclear), Infraero (aeroportos) e Telebras (telefonia).
O crescimento
durante a primeira metade do regime militar aumentou a oferta de postos de
trabalho, que por sua vez ajudou a expandir o consumo interno.
A fartura de
emprego atraiu muita gente das zonas rurais, inchando as cidades, que não
estavam preparadas para receber esse excedente populacional. Em 1960, mais da
metade da nossa população vivia no campo. Já no fim da ditadura, sete em cada
dez brasileiros já moravam nas cidades.
·
Arrocho
salarial e enfraquecimento dos sindicatos
Mas a conta do
milagre não saiu nada barata. No início da ditadura, a inflação foi controlada,
mas às custas das classes mais baixas, dos trabalhadores. Os salários foram
achatados, já que foi mudada a fórmula que reajustava os salários pela
inflação.
No governo militar,
os trabalhadores tiveram aumentos salariais que eram insuficientes para
recompor as perdas causadas pela elevação dos preços, reduzindo o poder de
compra.
Entre 1964 e 1985,
o salário mínimo caiu 50% em valores reais, ou seja, já ajustados pela
inflação. Foram precisos 30 anos para recuperar o poder salarial dos mais
pobres.
Esse arrocho
salarial aconteceu em parte como resultado da intervenção dos militares sobre
os sindicatos, o que diminuiu o poder dos movimentos e de negociação dos operários.
Muitas dessas associações foram desmanteladas. Vários dirigentes sindicais
foram presos ou substituídos por simpatizantes do regime.
O achatamento dos
salários diminuiu o custo de mão-de-obra. Além disso, foi reduzida a alíquota
máxima do Imposto de Renda, beneficiando os mais ricos, e concedidas várias
isenções fiscais ao empresariado.
Foi criada a
chamada correção monetária, um instrumento que protegia os investimentos da
inflação e favoreceu mais quem tinha dinheiro para investir no mercado financeiro.
"Os
trabalhadores foram os grupos mais fragilizados para disputar politicamente
esses ganhos. Houve uma resposta muito agressiva contra eles", diz Müller,
do Insper.
·
Riqueza
na mão de poucos
Na visão dos
militares, era "preciso fazer o bolo crescer para depois reparti-lo".
A frase, que se tornou célebre, foi dita por Delfim Netto, ministro da Fazenda
de 1967 a 1974 e considerado o "pai" do milagre econômico. Não era a
única teoria econômica que embasava o desenvolvimento em diferentes partes do
mundo, mas foi a que prevaleceu no país.
As medidas
implementadas, no entanto, acabaram também acentuando a desigualdade social de
uma forma nunca vista, aumentando enormemente a concentração de riqueza.
Em 1964, o 1% mais
rico da população detinha entre 15-20% de toda a renda do país. No fim da
ditadura, passou a controlar quase 30%, como mostra um estudo conduzido por
Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e da UnB.
Souza usou dados do
Imposto de Renda, seguindo a mesma metodologia do economista francês Thomas
Piketty, conhecido por ampliar as discussões sobre desigualdade social no mundo
com seu livro O Capital no Século 21 (2014).
"Meu estudo
mostrou que a desigualdade não foi consequência do milagre econômico, mas se
acentuou antes desse período, com as decisões do governo militar que jogou a
conta do ajuste no colo dos trabalhadores", diz Souza à BBC News Brasil.
O especialista
lembra ainda que os militares acabaram com a estabilidade após dez anos de
serviço, regra que valia no setor privado. Em contrapartida, criaram o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
"O governo
arranjou um motivo político para acabar com a estabilidade e criou um mecanismo
de poupança forçada para subsidiar empréstimos para financiar setores
escolhidos. Ficou mais barato para as empresas demitirem. Ou seja, antes do
reajuste anual, vários funcionários eram demitidos e recontratados logo depois.
E a rede de proteção social do Brasil daquela época era quase nula",
explica Souza.
·
O
choque do petróleo de 1973
A trajetória de
crescimento do PIB do Brasil começou a mudar em 1973, quando o Brasil e o mundo
se surpreenderam com o primeiro choque do petróleo. Os países árabes
exportadores de petróleo acertaram um embargo direcionado às nações que eram
vistas como apoiadoras de Israel.
Como consequência
imediata, o preço do barril de petróleo quadruplicou, afetando países
importadores, como o Brasil. O crédito, que antes era farto, ficou de repente
escasso. A economia brasileira, tão dependente de empréstimo estrangeiro,
passou a enfrentar dificuldade. A rolagem da dívida externa teve de ser feita a
juros mais elevados.
Lembram-se do
crescimento de 14% em 1973? Ele caiu para 9% no ano seguinte e 5,2% em 1975.
Mas os militares
decidiram não abrir mão do modelo econômico. Eles defendiam que o país deveria
continuar crescendo a qualquer custo.
A opção foi
continuar se endividando. Não esperavam, porém, uma nova piora do quadro
externo.
Em 1979, houve uma
segunda crise do petróleo. O Irã, então segundo maior produtor mundial, cortou
a venda e a distribuição da matéria-prima, devido à Revolução Islâmica liderada
pelo aiatolá Khomeini. O preço médio do barril explodiu. Mais um golpe à
economia brasileira.
Mudança de rumo?
Não, o Brasil decidiu continuar a se endividar.
·
Menos
dinheiro para a educação
Você já ouviu falar
que, antigamente, a escola pública época era de boa qualidade e só quem
estudava em colégios particulares era quem não fosse capaz de acompanhar a
rigidez da escola pública?
O que muitos não
sabem é que o processo de deterioração do ensino público ganhou força
justamente no regime militar.
De fato, os
governantes do período conseguiram reduzir a taxa de analfabetismo e estenderam
a obrigatoriedade da educação básica. Segundo censos do IBGE, a taxa de
analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais caiu de 33,6% em 1970 para 20% em
1991.
Também houve um
foco importante na pós-graduação — especialmente na área de ciência e
tecnologia.
No entanto, a
ampliação do ensino não foi acompanhada de um aumento dos investimentos em
educação. A verba, por outro lado, caiu.
A Constituição de
1967, aprovada durante a ditadura, trouxe duas alterações que mudariam o rumo
da política educacional brasileira.
Primeiro,
desobrigou o investimento público mínimo no setor.
No governo
anterior, de João Goulart, a legislação previa que a União tinha de investir
pelo menos 12% do PIB em educação. Além disso, obrigava Estados e municípios a
alocarem 20% do orçamento na área de educação.
Em 1970, esse
percentual foi para 7,6% do PIB, caiu para 4,31% em 1975, se recuperou um pouco
e atingiu 5% em 1978.
Segundo, os
militares abriram o ensino para a iniciativa privada, principalmente no ensino
superior.
"O regime
militar relativizou o princípio da gratuidade do ensino. O significativo
aumento da participação privada na oferta de ensino, principalmente em nível
superior, foi possível pelo incentivo governamental assumido deliberadamente
como política educacional", diz à BBC News Brasil Dermeval Saviani,
professor emérito da Unicamp e estudioso do tema.
Dados compilados
por ele mostram que, de fato, ocorreu no período uma grande expansão do ensino
superior. Entre 1964 e 1973, enquanto o ensino primário cresceu 70,3%, o
ginasial, 332%, o colegial, 391%; o ensino superior foi muito além, tendo
crescido no mesmo período 744,7%.
"E o grande
peso nessa expansão se deveu à iniciativa privada: entre 1968 e 1976, o número
de instituições públicas de ensino superior passou de 129 para 222, enquanto as
instituições privadas saltaram de 243 para 663", explica Saviani.
Os militares também
estenderam a educação básica obrigatória de quatro para oito anos.
"A mudança foi
positiva. Mas não foi acompanhada de um crescimento de verbas em igual
proporção", afirma o pesquisador.
Como resultado, não
havia professor para todo mundo e a formação de novos docentes ficou
prejudicada. Os salários e as condições de trabalho se deterioraram. O
magistério deixou de ser uma profissão cobiçada pela classe média. Foram
contratados os chamados professores leigos (sem qualificação pedagógica) para
atender a demanda.
No Nordeste, por
exemplo, 36% do quadro de docentes tinham apenas o 1º grau completo.
Tudo isso acabou
por sucatear as escolas públicas.
Assim, os filhos da
classe média que antes estavam matriculados nas escolas públicas passaram a
frequentar colégios particulares. Os colégios públicos ficaram voltados aos
mais pobres e esquecidos pelo governo.
Especialistas em
educação tendem a atribuir a piora em serviços públicos em várias partes do
mundo a medidas que incentivam a migração da classe média para a rede privada,
deixando a rede pública desprovida da pressão política por melhorias
tradicionalmente feita pela classe média escolarizada e ciente de seus
direitos.
·
Queda
na mortalidade infantil e saúde privada
Na área da saúde,
houve avanços. A mortalidade infantil caiu pela metade de 1964 a 1985, e a
expectativa de vida subiu de 56,3 anos para 63,5 anos no mesmo período.
Mas apesar do
progresso em alguns indicadores, especialistas apontam que o regime militar
"privatizou a saúde".
O Estado passou a
diminuir sua participação no atendimento à população e foi substituído aos
poucos pela rede privada.
De 1964 até 1974, o
número de hospitais com fins lucrativos foi de 944 para 2.121.
Já o êxodo rural, a
saída do campo rumo às cidades, foi mal planejado e nunca pôde ser revertido.
As cidades brasileiras, despreparadas para o imenso contigente de pessoas que
chegavam do interior, ficaram inchadas. Sem uma política habitacional efetiva,
comunidades pobres, como favelas, se multiplicaram sem acesso a infraestrutura
e saneamento básico.
·
Ganhos
que não se sustentaram
Voltando à
economia, o modelo adotado pelo regime militar se mostrou um "castelo de
areia", segundo especialistas entrevistados pela BBC News Brasil.
A inflação, que foi
controlada no início, explodiu na segunda metade do regime. Em 1985, o índice
anual já batia 231%. Quatro anos depois, durante o governo Sarney, eleito
indiretamente pelo Congresso, a inflação chegou a quase 2.000% em 12 meses.
O endividamento
subiu de 15,7% do PIB em 1964 para 54% do PIB quando os militares deixaram o
poder, em 1984.
A dívida externa
cresceu 30 vezes. Passou de US$ 3,4 bilhões em 1964 para mais de US$ 100
bilhões em 1985.
E ainda que a renda
média tenha avançado, o salto brasileiro foi muito inferior ao da Coreia do
Sul, por exemplo, cuja trajetória é frequentemente comparada à do Brasil.
Em 1964, o PIB per
capita da Coreia do Sul era de US$ 123,59, a metade do brasileiro. Em 1985,
quando a ditadura militar brasileira acabou, já era 50% maior do que o nosso
(US$ 2.457,33).
·
O
dia em que o país "faliu"
Em 1982, portanto
ainda no regime militar, o Brasil quebrou. Começava a crise da dívida, no que
se convencionou chamar de "década perdida", que pôs fim ao modelo de
forte crescimento do país, sustentado no endividamento externo e políticas
desenvolvimentistas como a substituição de importações (relançada
posteriormente no governo Lula).
Cinco anos depois,
o país declarou a moratória: o presidente José Sarney anunciou a suspensão do pagamento
dos juros da dívida externa por tempo indeterminado. Não tínhamos mais dinheiro
e a inflação estava nas alturas.
Nesse cenário, os
militares se despediram do comando. Basicamente, deixaram de presente para a
democracia uma conta bem alta, o que se convencionou chamar de "herança
maldita".
"As reformas
feitas pelos militares foram feitas sem o contraditório da oposição. Foram
medidas polêmicas, que implicaram em vencedores e perdedores. Não houve
discussão porque o regime era de exceção", diz à BBC News Brasil Claudio
Hamilton dos Santos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Vale lembrar que
naquela época só havia dois partidos — MDB (oposição) e Arena (governista).
Vários opositores do regime foram presos ou exilados.
Fonte: BBC News
Brasil
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