terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Orçamento, cortes e reforma: Congresso tem semana cheia antes do recesso do fim do ano

Os parlamentares chegam à última semana do ano legislativo com uma agenda recheada de matérias econômicas no Congresso Nacional.

O recesso começa oficialmente na segunda-feira (23), mas deputados e senadores correm contra o tempo para entregar as votações de propostas de interesse dos poderes Executivo e Legislativo.

As discussões envolvendo o governo e o parlamento sobre a liberação de emendas jogaram para a última semana antes do recesso a votação do pacote fiscal do governo (leia mais abaixo).

Além disso, deputados e senadores precisam votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento de 2025 (LOA) até sexta-feira (20).

🔎A LDO estabelece as regras para a elaboração do Orçamento do ano seguinte. Cabe ao texto definir, por exemplo, o nível de equilíbrio entre receitas e despesas federais. A LOA fixa as receitas e despesas do governo para o ano seguinte.

O presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), afirmou que o colegiado vai analisar a LDO na terça-feira (17) e a LOA na quarta-feira (18).

Está programada para quinta-feira (19) a sessão conjunta do Congresso Nacional para analisar as duas propostas, mas o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmou que a sessão pode ser realizada na sexta (20) se for necessário.

Também devem entrar na pauta do Congresso vetos presidenciais e projetos de lei do Congresso Nacional que tratam sobre matéria orçamentária.

<><> Controle de gastos e reforma tributária

Após focar em projetos voltados à segurança pública, a Câmara deve analisar nesta semana propostas do pacote de cortes de gastos enviados pelo governo.

·        Anistia a armas, castração química, internações compulsórias: entenda projetos aprovados pela Câmara

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já escolheu o relator de duas das três propostas. Com as urgências aprovadas, as votações devem ser realizadas entre terça e quarta-feira.

Os projetos abordam os seguintes temas:

·        obrigatoriedade da biometria para concessão e manutenção de benefícios e previsão de que o reajuste do salário mínimo precise seguir o mesmo limite de crescimento das despesas estabelecido pela regra de controle das contas públicas;

·        vedação de novos benefícios tributários em caso de déficit nas contas e permissão do bloqueio de emendas parlamentares na mesma proporção do corte que atingir outras despesas.

Um terceiro texto, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), estabelece as mudanças nas regras do abono salarial, além da garantia de que até 25% do Fundeb — a principal forma de financiamento da educação básica — seja utilizado para manter escolas de tempo integral.

A PEC também traz um dispositivo para tentar acabar com os super salários no funcionalismo público.

Lira confirmou que este texto deve ser apensado a outra PEC já pronta para o plenário, com o objetivo de pular etapas de tramitação e ser votado também nesta semana.

🔎As propostas enviadas pelo Executivo incluem ajustes orçamentários que buscam equilibrar as contas públicas, com impacto em áreas como aposentadorias e salário mínimo.

O governo prevê economizar com isso R$375 bilhões até 2030 e evitar um descontrole das contas públicas.

Além do pacote de corte de gastos, a Câmara deve analisar na terça-feira as mudanças promovidas pelo Senado em um dos projetos de regulamentação da reforma tributária.

No domingo, após reunião com deputados, o relator Reginaldo Lopes (PT-MG) afirmou que a Câmara vai "revisar" parte dos descontos e isenções incluídos pelo Senado para evitar que a alíquota geral do IVA ultrapasse os 26,5% definidos como "teto".

Líderes dos partidos na Câmara devem voltar a se reunir nesta segunda (16) – e, se houver consenso sobre essas mudanças, o texto pode ir a plenário ainda nesta segunda.

<><> Dívida dos Estados

Já o Senado deve analisar, na terça-feira, o projeto de renegociação das dívidas dos estados que, esta semana, passou pela Câmara e foi alterado pelos deputados.

Como as discussões começaram no Senado, o texto precisa passar por nova análise da Casa antes de seguir para sanção.

Patrocinado pelo presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o texto alivia juros e permite o parcelamento em até 30 anos.

A previsão é que o Senado faça sessões terça, quarta e quinta. A Casa pode analisar ainda os projetos de corte de gastos do governo, caso a Câmara conclua as análises a tempo.

Outro projeto que também deve entrar em pauta é o que proíbe celulares nas escolas e que passou pela Câmara nesta semana.

 

¨      Haddad diz que apelo do governo é para que medidas fiscais não sejam desidratadas pelo Congresso

O ministro da Fazenda, Fernando Haddadvisitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (16), para uma reunião sobre a reforma tributária e as medidas de corte de gastos que estão em tramitação no Congresso Nacional. Ele afirma que o apelo do presidente é de que as medidas não sejam desidratadas.

"O presidente disse ontem que ninguém se preocupa mais com a questão fiscal quanto ele. Nesse sentido, é algo que conversaram com concreto. Por isso o apelo que ele está fazendo é para que as medidas não sejam desidratadas", disse o ministro em entrevista a jornalistas.

"Temos um conjunto de medidas que garante a robustez do arcabouço fiscal e para garantir que vamos continuar cumprindo com as metas fiscais nos próximos anos", acrescentou.

Ele ainda disse estar convencido de que o governo conseguirá cumprir com as metas fiscais estabelecidas para os próximos anos.

"Se não fosse o contratempo que tivemos com o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) e com a desoneração da folha, nós teríamos já nesse primeiro ano de orçamento do governo Lula um superávit primário", disse o ministro, reiterando que o superávit só não deve vir por conta da renúncia fiscal de R$ 45 bilhões com as medidas.

Em agosto, o Senado aprovou uma proposta que mantém a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios até o fim deste ano. O projeto também prevê uma reoneração gradual da folha dos setores e das prefeituras a partir de 2025.

Haddad ainda afirmou que contou sobre os principais pontos em discussão na Câmara para o presidente para que, caso fosse necessário, Lula tomasse alguma providência, "como dar um telefonema tranquilizador para acelerar as coisas".

O ministro, no entanto, não detalhou qual "ponto", nas negociações em curso na Câmara, poderia exigir esse telefonema. O governo espera que a Câmara conclua a votação do projeto de regulamentação da reforma tributária e inicie a análise do pacote de corte de gastos ainda esta semana.

<><> Preocupações com a reforma tributária

Haddad afirmou ainda que o presidente se mostrou preocupado com as alterações feitas no texto da reforma tributária que passou no Senado, na última quinta-feira.

"Discutimos com ele alguns detalhes que o preocupavam, como a questão das armas. Eu não sabia que esse assunto estava sendo debatido, e também a questão das bebidas açucaradas, em função da saúde pública", afirmou Haddad.

Segundo o ministro, todos os detalhes do que foi alterado na reforma foram discutidos com o presidente, para que ele pudesse "julgar a conveniência de eventualmente orientar os líderes da base".

"O que se espera é que a reforma tributária seja sancionada este ano, com eventuais conciliações entre o Senado e a Câmara em torno da alteração das questões das armas e dos produtos", disse Haddad.

As afirmações do ministro fazem referência às mudanças feitas nas regras do imposto seletivo. Apesar de a Câmara dos Deputados ter mantido a inclusão de armas e munições e das bebidas açucaradas no chamado "imposto do pecado", o Senado derrubou a medida no texto aprovado na última semana.

O Imposto Seletivo é uma sobretaxa aplicada para desestimular o consumo de bens e serviços que sejam prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente.

"Então, talvez a Câmara possa, se não houver acordo com o governo, revisar isso. Pode ser que a Câmara já tenha feito visitas a esses temas", acrescentou Haddad.

¨      Lula diz que não quer 'aumento' de impostos e que vai avaliar mudanças da Câmara

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo (15) que o governo não "quer aumento de tributos" com a reforma tributária, em discussão no Congresso.

Lula disse que a equipe econômica trabalhará para analisar as futuras mudanças feitas pela Câmara dos Deputados no texto do principal projeto de regulamentação da reforma.

A proposta, que cria regras para a cobrança de três novos impostos sobre consumo, foi aprovada pelo Senado na última semana.

projeto voltará ao debate na Câmara nesta segunda. Os deputados terão a palavra final, antes de encaminhar o texto à sanção de Lula.

"Nós não queremos fazer uma reforma para aumentar tributo nesse país. Nós achamos que, se o Brasil arrecadar corretamente os tributos já estabelecidos por Lei o Brasil, vai ter arrecadação suficiente para cuidar desse país. Não é preciso aumentar tributo", afirmou.

Lula deu a declaração em uma entrevista ao Fantástico, pouco depois de receber alta no Hospital Sírio-Libanês, na capital de São Paulo, onde ficou internado por seis dias.

·        O presidente foi submetido, na madrugada de terça-feira (10), a uma cirurgia de emergência para drenar um hematoma entre o cérebro e uma das membranas que envolvem o órgão.

·        Liberado do ambiente hospitalar, o petista continuará a ser acompanhado por uma equipe médica até, pelo menos, a próxima quinta (19).

Na entrevista, o presidente disse que, assim que retornar ao trabalho, conversará com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para avaliar o projeto aprovado pelo Congresso.

"Essa proposta aprovada no Senado vai voltar para a Câmara, porque já tinha sido aprovada na Câmara. Então, vamos ver, quando eu voltar a partir de quinta-feira, vou conversar com as pessoas, vou conversar com o [Fernando] Haddad, possivelmente em casa esta semana, e vou ver o que a gente pode fazer. O que a gente não quer é aumento de tributos", ressaltou Lula.

A reforma tributária prevê um novo regime de cobrança de impostos, que será completamente implementado em 2033.

Cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — vão ser unificados em um Imposto sobre Valor Agregado, dividido na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e no Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

principal projeto de regulamentação da reforma tributária trata do funcionamento desse novo sistema, com regras sobre a cobrança em diversos setores.

O texto, que já havia contemplado uma série de benefícios na Câmara, recebeu ainda mais exceções no Senado.

Com isso, a alíquota-padrão do novo IVA — que será cobrada sobre todos os produtos e serviços que não estão em regimes diferenciados — poderá superar uma estimativa inicial do Ministério da Fazenda.

Em agosto, após mudanças aprovadas pela Câmara, a pasta projetou que este patamar seria de 27,97% — acima dos 26,5% estimados inicialmente.

O patamar global de 26,5% garante, na avaliação de técnicos do Ministério da Fazenda e do Congresso, a neutralidade da carga tributária. Isto é, não haveria aumento do peso atual dos cinco impostos que serão extintos.

<><> Câmara vai discutir

As lideranças partidárias da Câmara devem se reunir nesta segunda-feira (16) para discutir as mudanças feitas pelo Senado no projeto.

À TV Globo e ao g1, o relator da proposta, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), afirmou que o colegiado terá a palavra final sobre mudanças que pressionam a soma da futura alíquota.

Uma das mais relevantes, na avaliação de deputados, foi a inclusão do saneamento básico na lista de serviços que terá direito a uma redução de 60% na alíquota-padrão da CBS e do IBS.

Somente essa mudança teria um impacto aproximado de 0,38 ponto percentual na alíquota, estimada em quase 28%.

"Talvez a alteração com maior impacto seja o saneamento. Essa é uma decisão [de beneficiar o setor] que cabe ao colégio de líderes e ao plenário da Câmara dos Deputados, se a gente vai manter ou voltar ao texto original", avaliou Reginaldo Lopes.

Houve ainda alterações, por exemplo, em benefícios tributários para o setor imobiliário e a retirada de bebidas açucaradas da lista de produtos que serão sobretaxados pelo Imposto Seletivo.

A mudança no Imposto Seletivo é, inclusive, uma das que devem ser alvos de debate. Lopes e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), têm sinalizado desejo de retornar ao texto aprovado pela Câmara.

"Estamos calculando os impactos das alterações na alíquota-padrão. Acredito que não foi grande, foi pequeno, razoável. Somos duas Casas políticas e é legítimo que tenham alterações", declarou o relator.

 

Fonte: g1

 

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