Onde lulistas e
bolsonaristas concordam e discordam sobre diferentes temas do país, segundo
Datafolha
Eleitores
do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concordam quando
questionados sobre temas como o elo entre política e valores religiosos, a
homossexualidade e benefícios a bandidos. Discordam sobre a possibilidade de o
país se tornar comunista e o direito a ter armas.
Alguns
temas dividem os dois públicos, como o aborto e os possíveis benefícios
trazidos pela ditadura militar brasileira, ocorrida entre 1964 e 1985 e da qual
Bolsonaro é saudosista.
É
o que relata a pesquisa Datafolha feita de 12 a 14 de junho com 2.010
entrevistados em 112 cidades pelo país, registrando margem de erro de dois
pontos percentuais, para mais ou para menos.
Da
mesma forma em relação aos resultados gerais, há entre lulistas apoio em
relação a bandeiras consideradas conservadoras, e entre bolsonaristas, há vazão
a pautas vistas como progressistas.
Um
dos temas que reflete essa contradição é o acolhimento de pessoas LGBTQIA+
--ambos eleitores de Lula e de Bolsonaro concordam com a aceitação da
homossexualidade por toda a sociedade, mas apoiam a formação da família a
partir de um homem e uma mulher.
Na
estatística global, envolvendo todos os grupos entrevistados pelo levantamento,
75% se dizem favoráveis, totalmente ou em parte, à aceitação da
homossexualidade. Índice semelhante, 72%, concordam com a ideia de que família
só é composta por homem e mulher.
Entre
os eleitores do capitão reformado do Exército, 44% concordam totalmente e 26%
em parte com a aceitação de pessoas com outra sexualidade, mas 71% acreditam
plenamente, e 13%, parcialmente, que uma família deve ser constituída por
pessoas de gêneros diferentes.
Entre
os votantes do atual chefe do Executivo, a família exclusivamente heterossexual
ainda é bem aceita, apesar de maior divergência, com 27% discordando totalmente
e 8%, parcialmente da ideia.
Outro
assunto que registrou semelhança no posicionamento dos dois grupos é o elo
entre a política e a religião para que o Brasil possa prosperar.
Alvo
de intensos debates na esfera eleitoral especialmente com o disputado voto dos
evangélicos, tanto eleitores do petista, quanto do ex-presidente veem com bons
olhos a união entre a atuação nos espaços de poder e os valores religiosos.
46%
dos votantes do atual mandatário concordam totalmente com o elo entre política
e a religiosidade para o desenvolvimento do país, e 24% discordam totalmente.
Já entre os bolsonaristas, 51% estão plenamente favoráveis à ideia, ante 19%
completamente desfavoráveis.
A
consideração sobre a quantidade de benefícios existentes para pessoas presas ou
condenadas é mais um tópico capaz de mostrar as contradições na convergência
entre pautas progressistas e conservadoras entre o eleitorado do país.
O
Datafolha perguntou se há, no Brasil, muita mordomia para bandido, e a maioria
de lulistas e bolsonaristas concordam com a afirmação --84% dos eleitores de
Bolsonaro e 58% dos de Lula aderem totalmente à ideia.
Já
os limites da liberdade de expressão nas redes sociais dividem os dois grupos.
Entre
todos os entrevistados, 61% afirmam não é possível postar qualquer coisa nas
redes, enquanto 38% creem que a regra deveria ser esta. Considerando
bolsonaristas e lulistas, 54% e 66%, respectivamente, discordam da liberdade
irrestrita de publicação na internet.
O
tema ganhou relevância na esteira do inquérito das fake news no STF (Supremo
Tribunal Federal) e com a campanha eleitoral passada, quando vários perfis de
políticos e personalidades foram suspensos a fim de evitar a divulgação de
notícias falsas durante o pleito.
Partido
agora para os temas que distanciam os dois perfis de eleitores, o risco do
Brasil se tornar um Estado comunista é uma preocupação entre os bolsonaristas,
enquanto os petistas não acreditam na hipótese.
Para
73% dos eleitores do ex-presidente, existe a possibilidade de o país deixar o
atual modelo de produção capitalista, com 51% concordando totalmente, e 22%,
parcialmente. Dentre os que votaram em Lula, porém, a ideia só ressoa em 31%
dos entrevistados.
O
ex-presidente explorou o assunto durante seu mandato e na candidatura à
reeleição. Desde a posse, em 2019, Bolsonaro afirmava que a bandeira nacional
"jamais será vermelha".
Já
o comportamento de Lula à frente do Planalto impede que esse
"fantasma" deixe de repercutir no cenário público do país. O petista
já relativizou críticas a diversos regimes autoritários de esquerda.
O
caso mais recente é o da Venezuela, de Nicolás Maduro --o presidente afirmou
haver diferentes visões do que é democracia, relativizando o caráter
autoritário do regime. Também chamou de "narrativa" a ideia de que há
uma ditadura em Caracas.
O
armamento civil também opõe lulistas e bolsonaristas, na esteira das
plataformas políticas de seus candidatos. Enquanto 61% de votantes de Lula são
refratários ao direito de ter uma arma, 67% dos eleitores do ex-presidente Jair
Bolsonaro concordam com a proposta.
Enquanto
o antigo ocupante do Planalto defende o direito a ter armas como uma forma de
se proteger, o atual mandatário da República a repele, afirmando durante a
campanha passada que "desarmaria o país". Bolsonaro editou diversos
decretos flexibilizando o acesso, o porte e a fiscalização dos itens.
Agora,
o governo petista prepara novo decreto regulamentando o uso de armas no país,
criando um programa de recompra dos equipamentos de CACs (caçadores, atiradores
desportivos e colecionadores), além da restrição ao uso de fuzis e o distanciamento
de clube de tiros a escolas.
Há,
por fim, os tópicos que dividiram ambos lulistas e bolsonaristas, na esteira do
resultado global divulgado pelo Datafolha. Um deles é a legalização do aborto
para além das situações já previstas na lei.
Atualmente,
é permitida a interrupção da gravidez em caso de estupro, risco de morte para a
mãe ou anencefalia do feto.
Os
eleitores petistas concordam mais com o direito da mulher em escolher quando
abortar, com 54% de aderência. Entre os bolsonaristas, a maioria é desfavorável
à ideia, com 63% refratários parcialmente ou na totalidade.
A
discussão paira o espectro eleitoral desde a redemocratização, e desde então,
não houve mudanças bruscas nem em governos petistas, ditos progressistas, nem
em gestões conservadoras.
Também
há divisão quando ambos os grupos de eleitores são perguntados sobre a ditadura
militar, de 1964 a 1985. Lulistas discordam mais --são 55% totalmente ou em
parte contrários a ideia de que o regime autoritário trouxe benefícios ao país,
ante 40% dos bolsonaristas.
Em 6 meses de governo, Lula acumula 6
derrotas no Congresso
O
presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva (PT) acumula 6 derrotas no
Congresso Nacional nestes 6 primeiros meses do seu 3º mandato. Na média mensal,
o petista tem uma derrota por mês no Legislativo.
O
chefe do Executivo ainda não tem um grupo sólido de apoio na Câmara, o que faz
a Casa dar as maiores derrotas a Lula. Além disso, congressistas criticam a
falta de articulação política do governo e a demora na liberação de emendas
parlamentares.
A
isso se soma o fato de que nesta legislatura há o maior número de congressistas
de direita desde a redemocratização. Uma das derrotas de Lula foi a derrubada
do decreto do saneamento e a aprovação da MP da Mata Atlântica.
Em
5 de abril deste ano, o presidente Lula assinou os atos 11.466/23 e 11.467/23,
que dispõem sobre a universalização do saneamento básico. A decisão recebeu
críticas de parte do Congresso, inclusive do presidente da Câmara. No dia 3 de
maio, a Casa Baixa aprovou o PDL (Projeto de Decreto Legislativo) 98 de 2023
que susta trechos de ambos os decretos.
Dias
depois, em 24 de maio, a Câmara aprovou a MP sobre a regularização ambiental.
Por 364 votos a 66 contra e com duas abstenções, os deputados retomaram trechos
sobre a Mata Atlântica que tinham sido rejeitados na votação no Senado.
Em
30 de maio, outra derrota. Na contramão das pautas prioritárias do governo, a
Câmara aprovou o projeto que institui um marco temporal para as demarcações de
terras indígenas. O texto agora precisa ser votado no Senado. Ao contrário do
que foi feito na Casa Baixa, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG),
disse que não tratará a proposta com regime de urgência e deverá ser analisada
por comissões especiais antes de ir a plenário. O partido de Pacheco faz parte
da base do governo no Congresso.
Outras
3 MPs de Lula não foram analisadas no Congresso e perderam a validade. O
governo tentou, sem sucesso, incluir a MP que extingue a Funasa (Fundação
Nacional de Saúde) e a MP que transfere o Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras) para o Ministério da Fazenda dentro do texto da medida
provisória dos Ministérios. A Funasa foi recriada e o Coaf continuou
subordinado ao BC (Banco Central).
A
MP do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) também caducou. O
Planalto enviou então um projeto de lei, que tramitava em regime de urgência
constitucional na Câmara. Desde 21 de junho, a pauta da Câmara está travada
porque a Casa Baixa não analisou o texto do Carf. Projetos com urgência
precisam ser analisados em 45 dias por deputados. Caso contrário, trancam a
pauta. A proposta recria o voto de qualidade do Carf. O mecanismo é importante
em um processo administrativo em disputa, a fim de desempatar o placar em favor
da União.
Fonte:
FolhaPress/Poder 360
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