sábado, 1 de julho de 2023

Decisão do CMN para meta de inflação abre caminho para corte de juros em agosto, diz economista

A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter o alvo de inflação em 3% para 2026 e adoção da meta contínua perseguida pelo Banco Central (BC) em 2025 deixa o caminho “mais fácil para começar a cortar juros em agosto.”

Esta é a avaliação do estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz.

Em entrevista à CNN Rádio, ele afirma que foi solucionada a “última grande dúvida na cabeça do Banco Central.”

Isso porque existia a incerteza a respeito da mudança ou não da meta de inflação.

“Tirada essa dúvida, junto com o arcabouço fiscal, que deu belo passo na Câmara, e a inflação que baixou, o BC conseguirá iniciar a redução dos juros”, completou.

O economista destaca que, em um primeiro momento, o corte pode ser “mais tímido”, de 0,25 pontos, acelerando no fim do ano e ao longo de 2024.

Gustavo Cruz ainda afirmou que, justamente por esses motivos, a decisão do CMN foi recebida pelo mercado “de forma positiva.”

Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano.

O colegiado do CMN é composto pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), além do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

•        Meta de inflação será contínua a partir de 2025, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad , anunciou nesta quinta-feira (29) que adotará, a partir de 2025, um regime de metas contínuo para a inflação, com isso, a meta passa a ser contínua em 3% a partir de 2025. A meta será cumprida se estiver em um intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

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Atualmente, a regra é balizada pelo ano-calendário, ou seja, de janeiro a dezembro é necessário fazer com que a meta convirja para o percentual estipulado pelo  Conselho Monetário Nacional (CMN).

"Em relação à meta de inflação, eu anunciei ao Conselho Monetário Nacional e explico o porquê, porque é uma prerrogativa do presidente da república uma mudança do regime em relação ao ano calendário, de maneira que agora, conforme já discutido com a sociedade em inúmeras ocasiões, já tinha manifestado minha simpatia por uma mudança desse padrão que só se verifica em dois países do mundo, dentre os quais, o Brasil, de maneira que nós adotaremos agora meta contínua a partir de 2025", afirmou Haddad ao sair da reunião do CMN.

A meta de 3% é a mesma estabelecida para 2024 e 2025. "Lembrando que as projeções pra 2025 já se encontram praticamente nesse patamar", disse o ministro

De acordo com o ministro, o “horizonte relevante” a ser atingido com a meta contínua será definido pelo Banco Central, mas tende a ser de 24 meses, a exemplo de experiências internacionais.

A decisão traz maior flexibilidade para o Banco Central, principalmente pensando na política monetária e na taxa de juros. “Você mantém a meta e redefine a trajetória", afirmou Haddad.

No formato atual, objetivo é que a inflação medida em dezembro, acumulada desde o janeiro anterior, esteja dentro da meta. No caso de 2023, o centro dessa meta é de 3,25%.

No modelo contínuo, a inflação tem que estar na meta ao longo de um horizonte de tempo, independente de data fechada.

Haddad já vinha defendendo a decisão antes mesmo da reunião do CMN. Fazem parte do Conselho o ministro Haddad, a ministra Simone Tebet (Planejamento) e o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

"[Vamos discutir] se é o caso ou não de tomar essa decisão sobre padronizar em relação ao resto do mundo o programa de metas de inflação do Brasil, que é sui generis, só no Brasil e mais outro país, acho que Turquia, que usa meta calendário", afirmou.

Mais cedo, nesta quinta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que um estudo do Banco Central mostrou que a meta contínua seria “mais eficiente”.

"Em alguns momentos da história, o governo ficou preocupado em estourar a meta em um ano específico e acabou tomando medidas no final do ano que fizesse com que aquela inflação caísse de forma pontual e que gerou uma alocação de recursos que não era a mais eficiente do ponto de vista econômico. E grande parte dos países não tem meta de ano-calendário.

 O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, disse que a decisão do CMN “foi muito positiva”.

“A mudança na forma de apuração, que passa a valer a partir de 2025, alinha o nosso modelo à prática da quase totalidade dos demais países que adotam essa sistemática, em especial os desenvolvidos e os nossos pares emergentes”, afirmou em nota divulgada nesta quinta.

•        O que é meta contínua de inflação, que será adotada no Brasil a partir de 2025

O Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve, nesta quinta-feira (29), o alvo da inflação em 3% para 2026 – com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – e aprovou a adoção do sistema de meta contínua a ser perseguida pelo Banco Central (BC) a partir de 2025.

Fazem parte do colegiado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), além do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

O sistema de metas para a inflação foi um padrão estabelecido em diversos países no final dos anos 1990 e é usado até hoje para moderar os preços. No Brasil, existe desde 1999.

•        Como é hoje

Atualmente, a meta de inflação brasileira é definida seguindo o chamado ano-calendário, ou seja, a autoridade monetária deve perseguir uma meta de inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechada ao fim de cada ano.

Essa meta é definida anualmente pelo CMN, em junho, sempre para três anos à frente: em 2023, coube ao conselho definir a meta de 2026, bem como as suas bandas.

As metas de 2024 e de 2025, definidas nos anos anteriores, já eram de 3%, com a margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Os mesmos parâmetros foram mantidos para 2026.

Caso o resultado da inflação, em dezembro, fique fora desses limites, o presidente do Banco Central deve fazer uma carta aberta, endereçada ao ministro da Fazenda, explicando as razões por não ter cumprido sua missão.

Como o sistema é desenhado para exigir a inflação da meta apenas ao fim do ano, não há nenhuma exigência quando ela é estourada ao longo dos outros meses – o que aconteceu com bastante frequência nos mais de 20 anos do sistema de metas do Brasil.

•        O que é a meta contínua

Na meta contínua, o Banco Central passa a ter que buscar manter a inflação do país dentro da meta de uma maneira – como o diz o nome – contínua, e também por prazos mais flexíveis e mais longos do que o de um ano fechado entre janeiro e dezembro.

É a metodologia aplicada na grande maioria dos países que possuem um sistema de metas, salvas as particularidades de regras de cada um.

De acordo com um levantamento feito pela equipe econômica do banco Itaú, Filipinas, Indonésia, Tailândia e Turquia, além do Brasil, são os únicos países que têm um regime de metas e que adotam o sistema de ano-calendário.

“Os demais países fixam uma meta contínua, mas desses, poucos possuem um processo de verificação explícito e formal e há dispersão sobre o horizonte que os bancos centrais buscam atingir a meta”, explicou o banco, em relatório.

A lista de dezenas de países que seguem este modelo vai de Estados Unidos, Reino Unido e Israel a África do Sul, Chile e Índia.

“Muitos dos países nesse grupo fixam uma meta sem ter necessidade de revisão periódica do valor da mesma, ao contrário do Brasil, onde a meta é fixada todo ano”, disse o Itaú.

“Outros possuem uma confirmação periódica do número de meta, enquanto Canadá, Zona do Euro e Estados Unidos fazem revisão completa do arcabouço monetário de tempos em tempos. Poucos países que adotam meta contínua possuem um processo de verificação com previsão de escrever uma carta aberta em caso de não cumprimento.”

•        Detalhes a serem definidos

Os detalhes de como funcionará a meta contínua no Brasil ainda não foram apresentados e deverão ser definidos, de acordo com Haddad, por decreto a ser publicado pela Presidência da República.

O ministro adiantou em sua coletiva, porém, que o horizonte para cumprimento do objetivo na meta contínua deverá ser, “na prática”, de 24 meses.

Ele também afirmou que o BC continuará tendo que prestar contas sobre seu trabalho para perseguir a meta de inflação, a exemplo da carta que, atualmente, deve fazer ao fim do ano quando ela não cumprida.

“Mas isso tende a ser mais frequente que na condição atual”, disse Haddad.

 

       Haddad cobra redução 'robusta' dos juros a partir de agosto

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobrou nesta quinta-feira (29) uma série se reduções "robustas" na taxa básica de juros (Selic) a partir de agosto. Atualmente, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a  Selic em 13,75% ao ano, maior patamar desde 2016.

"Cortes robustos na taxa de juros podem ser praticados a partir de agosto sem nenhum risco de desancoragem. Porque as trajetórias estão dadas", disse o ministro. "Temos todas as razões para acreditar que vem um ciclo consistente de cortes dessas taxas".

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Haddad disse que toda a área econômica do governo espera "cortes consistentes" na taxa devido à inflação estar em trajetória de queda. Mesmo assim, o ministro mencionou preocupação com o crescimento da economia no próximo ano.

"(Há) uma preocupação muito grande com o resultado do crescimento econômico a partir do ano que vem. Nós razões para nos preocupar com a desaceleração que está sendo vista neste momento e queremos garantir para a sociedade brasileira um 2024 melhor que 2023. Nós entendemos que praticar uma taxa de juros que está hoje na casa de 9% em termos reais, ou mais até, é algo que tem que ser revisto em proveito da sociedade à luz dos indicadores."

O ministro voltou a cobrar harmonização da política fiscal e da política monetária, e disse que o corte da Selic é importante para melhorar as contas públicas.

"Sem uma política monetária consistente, os resultados fiscais não aparecerão, justamente por falta de atividade econômica. Temos que harmonizar esses dois braços, e a política monetária e fiscal terão que trabalhar juntas para que tenhamos os melhores resultados daqui para a frente."

As declarações foram dadas após a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), onde foi anunciada a mudança no regime de metas de inflação para "contínuo", deixando de considerar o ano-calendário.

•        Cenário é todo favorável para queda robusta dos juros em agosto, diz Tebet

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse nesta sexta-feira (30) que todos os cenários para a economia brasileira estão favorecendo uma queda acentuada da taxa Selic de seu patamar de 13,75%.

“Todos esses cenários são positivos. Não tem nenhum cenário para que não haja a queda robusta da taxa de juros no Brasil já a partir de agosto”, disse a ministra em entrevista à GloboNews, ao mencionar fatores como a redução da inflação e a perspectiva de aprovação do novo marco fiscal pelo Congresso Nacional.

Na ata sobre sua última reunião, na qual decidiu manter a Selic em 13,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sinalizou a possibilidade de corte “parcimonioso” da taxa básica de juros em seu próximo encontro, marcado para o início de agosto.

Na entrevista à emissora, Tebet ainda disse que, se não for aprovado pelo Congresso um projeto de reforma tributária que simplifique impostos, o país continuará perdendo indústrias e postos de trabalho.

“Se nós não aprovarmos a reforma tributária, ainda que não seja a reforma tributária excepcional, mas uma boa reforma tributária, que simplifique impostos que tribute lá no consumo para diminuir a carga tributária da indústria como um todo, nós vamos continuar perdendo indústrias, fechando postos de trabalho, mandando embora trabalhador e trazendo produtos importados de fora. Nada contra essas importações, são mais do que bem-vindas, mas elas não podem tirar o emprego do trabalhador brasileiro”, defendeu.

•        “Única bala de prata que temos é reforma tributária” diz Simone Tebet

A ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, afirmou, nesta quinta-feira (29), durante o GZERO Summit Latam 2023, que acredita que a reforma tributária deve ser colocada em prática até o final do ano. De acordo com a ministra, “crescimento duradouro só se pode dar com a reforma tributária”.

O evento promovido pela consultoria de risco político Eurasia Group foi realizado na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, e contou com uma série de painéis e entrevistas com especialistas e autoridades. O objetivo era debater tendências da geopolítica na América Latina.

Na semana passada, o relator da reforma tributária, deputado Agnaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou sua proposta à Câmara. Para Tebet, o texto deve ser votado na casa entre a semana que vem e a primeira semana de agosto. “Nunca vi um ambiente tão favorável, tão maduro”, disse Tebet.

A PEC em tramitação corresponde ao que pode ser o primeiro estágio da reforma tributária. A ideia é criar dois “Imposto Sobre Valor Adicionado” (IVA dual, um ao nível nacional e outro estadual) em substituição aos tributos que incidem sobre consumo, como o estadual ICMS, municipal ISS, e federais PIS/Cofins e IPI.

O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy também defendeu a reforma tributária. O atual diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra participou do painel “Tempos difíceis – América Latina em meio a desafios econômicos globais”.

Levy afirmou que a reforma tributária pode ser um mecanismo para atrair investidores de outros países. “A reforma tem um aspecto, que nem tá sendo tão discutido, de simplificação dos créditos, na base do IVA, que pode ter um efeito simplificador na vida das empresas enorme (…) Aí a gente vai poder finalmente dar aqueles motivos que a S&P está sempre procurando: crescer, crescer, crescer”, disse.

A reforma tributária foi tema de um dos painéis apresentados no evento. A mesa contou com a participação de Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional.

“Pela primeira vez, a gente tem chances de aprovar uma reforma tributária. Há 30 anos a gente discute reforma tributária no Brasil. O Brasil tem dois problemas com tributos: é um sistema muito confuso, muito complexo, com mudanças muito frequentes de regras e o Brasil tem uma carga tributária muito elevada (…) A gente não tem espaço para reduzir carga tributária, mas o desafio é melhorar o sistema tributário”, disse.

•        Banco Central

A ministra Simone Tebet (MDB-MS) também afirmou que existe um cenário no Brasil que possibilita a redução na taxa básica de juros. Ela argumenta que o país não vive mais uma crise institucional e política, e que isso, junto a fatores como a apresentação do novo arcabouço fiscal, deixam o ambiente econômico mais seguro.

“Tudo isso mostra que já podemos falar em queda de juros. Percentual eu não falo, porque Banco Central é um órgão técnico.” A ministra defendeu que o país precisa de “credibilidade, previsibilidade e segurança jurídica”.

No semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A decisão acontece em meio a pressões de governos, empresários e representantes dos setores produtivos para que haja uma redução na taxa de juros.

O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida acredita em uma queda de juros maior do que o mercado tem previsto. “O mercado precifica que a gente vai terminar o ano com a taxa de juros nominal, mais ou menos, na casa de 12,25%. Acho que a gente vai se surpreender, acho que a queda vai ser maior”.

•        Economia digital

Em entrevista à CNN, o presidente e fundador da Eurasia Group e GZERO media, Ian Bremmer, afirmou que a economia brasileira deveria ter planos a longo prazo, independentemente das mudanças de governo, para atrair investidores.

O cientista político defendeu investimentos estruturais nos jovens. Para Bremmer, os principais focos deveriam ser na economia digital e em tecnologia.

“Quando falamos de Brasil, ainda não estamos falando da economia do século XXI. Ainda não estamos falando sobre a biotecnologia e sobre a IA, além dos semicondutores que vão conduzir uma nova globalização. O Brasil precisa se atualizar nessas questões. E precisa definitivamente de governos mais consistentes, fortes e estratégicos ao longo do tempo para poder fazer isso”.

•        Potencial na América Latina

O vice-ministro de Finanças do México, Gabriel Yorio, que fez parte de um dos painéis do evento, afirmou que, apesar de América Latina estar longe das tensões mundiais de geopolítica, a região pode ser considerada uma boa opção para receber investimentos do mercado externo.

Para Ian Bremmer, o Brasil, perante o cenário da política internacional, pode se beneficiar por ter bons relacionamentos com diferentes governos.

“A relação com os EUA é bastante amigável. A relação com a China é bastante amigável. Ele (presidente Lula) levou centenas de executivos de empresas, quando viajou para a China. Não há muitos países que estão equilibrando os EUA e a China de forma tão eficaz quanto o Brasil agora. Espero que isso continue.”

 

Fonte: CNN Brasil/Reuters/iG

 

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