Decisão do CMN para
meta de inflação abre caminho para corte de juros em agosto, diz economista
A
decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter o alvo de inflação em 3%
para 2026 e adoção da meta contínua perseguida pelo Banco Central (BC) em 2025
deixa o caminho “mais fácil para começar a cortar juros em agosto.”
Esta
é a avaliação do estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz.
Em
entrevista à CNN Rádio, ele afirma que foi solucionada a “última grande dúvida na
cabeça do Banco Central.”
Isso
porque existia a incerteza a respeito da mudança ou não da meta de inflação.
“Tirada
essa dúvida, junto com o arcabouço fiscal, que deu belo passo na Câmara, e a
inflação que baixou, o BC conseguirá iniciar a redução dos juros”, completou.
O
economista destaca que, em um primeiro momento, o corte pode ser “mais tímido”,
de 0,25 pontos, acelerando no fim do ano e ao longo de 2024.
Gustavo
Cruz ainda afirmou que, justamente por esses motivos, a decisão do CMN foi
recebida pelo mercado “de forma positiva.”
Atualmente,
a taxa Selic está em 13,75% ao ano.
O
colegiado do CMN é composto pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone
Tebet (Planejamento e Orçamento), além do presidente do BC, Roberto Campos
Neto.
• Meta de inflação será contínua a partir
de 2025, diz Haddad
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad , anunciou nesta quinta-feira (29) que
adotará, a partir de 2025, um regime de metas contínuo para a inflação, com
isso, a meta passa a ser contínua em 3% a partir de 2025. A meta será cumprida
se estiver em um intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
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Atualmente,
a regra é balizada pelo ano-calendário, ou seja, de janeiro a dezembro é
necessário fazer com que a meta convirja para o percentual estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
"Em
relação à meta de inflação, eu anunciei ao Conselho Monetário Nacional e
explico o porquê, porque é uma prerrogativa do presidente da república uma
mudança do regime em relação ao ano calendário, de maneira que agora, conforme
já discutido com a sociedade em inúmeras ocasiões, já tinha manifestado minha
simpatia por uma mudança desse padrão que só se verifica em dois países do
mundo, dentre os quais, o Brasil, de maneira que nós adotaremos agora meta contínua
a partir de 2025", afirmou Haddad ao sair da reunião do CMN.
A
meta de 3% é a mesma estabelecida para 2024 e 2025. "Lembrando que as
projeções pra 2025 já se encontram praticamente nesse patamar", disse o
ministro
De
acordo com o ministro, o “horizonte relevante” a ser atingido com a meta
contínua será definido pelo Banco Central, mas tende a ser de 24 meses, a
exemplo de experiências internacionais.
A
decisão traz maior flexibilidade para o Banco Central, principalmente pensando
na política monetária e na taxa de juros. “Você mantém a meta e redefine a
trajetória", afirmou Haddad.
No
formato atual, objetivo é que a inflação medida em dezembro, acumulada desde o
janeiro anterior, esteja dentro da meta. No caso de 2023, o centro dessa meta é
de 3,25%.
No
modelo contínuo, a inflação tem que estar na meta ao longo de um horizonte de
tempo, independente de data fechada.
Haddad
já vinha defendendo a decisão antes mesmo da reunião do CMN. Fazem parte do
Conselho o ministro Haddad, a ministra Simone Tebet (Planejamento) e o
presidente do BC, Roberto Campos Neto.
"[Vamos
discutir] se é o caso ou não de tomar essa decisão sobre padronizar em relação
ao resto do mundo o programa de metas de inflação do Brasil, que é sui generis,
só no Brasil e mais outro país, acho que Turquia, que usa meta
calendário", afirmou.
Mais
cedo, nesta quinta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse
que um estudo do Banco Central mostrou que a meta contínua seria “mais
eficiente”.
"Em
alguns momentos da história, o governo ficou preocupado em estourar a meta em
um ano específico e acabou tomando medidas no final do ano que fizesse com que
aquela inflação caísse de forma pontual e que gerou uma alocação de recursos
que não era a mais eficiente do ponto de vista econômico. E grande parte dos
países não tem meta de ano-calendário.
O presidente da Federação Brasileira de Bancos
(Febraban), Isaac Sidney, disse que a decisão do CMN “foi muito positiva”.
“A
mudança na forma de apuração, que passa a valer a partir de 2025, alinha o
nosso modelo à prática da quase totalidade dos demais países que adotam essa
sistemática, em especial os desenvolvidos e os nossos pares emergentes”,
afirmou em nota divulgada nesta quinta.
• O que é meta contínua de inflação, que
será adotada no Brasil a partir de 2025
O
Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve, nesta quinta-feira (29), o alvo da
inflação em 3% para 2026 – com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para
baixo – e aprovou a adoção do sistema de meta contínua a ser perseguida pelo
Banco Central (BC) a partir de 2025.
Fazem
parte do colegiado os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet
(Planejamento e Orçamento), além do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
O
sistema de metas para a inflação foi um padrão estabelecido em diversos países
no final dos anos 1990 e é usado até hoje para moderar os preços. No Brasil,
existe desde 1999.
• Como é hoje
Atualmente,
a meta de inflação brasileira é definida seguindo o chamado ano-calendário, ou
seja, a autoridade monetária deve perseguir uma meta de inflação, medida pelo
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechada ao fim de cada ano.
Essa
meta é definida anualmente pelo CMN, em junho, sempre para três anos à frente:
em 2023, coube ao conselho definir a meta de 2026, bem como as suas bandas.
As
metas de 2024 e de 2025, definidas nos anos anteriores, já eram de 3%, com a
margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Os mesmos parâmetros foram mantidos
para 2026.
Caso
o resultado da inflação, em dezembro, fique fora desses limites, o presidente
do Banco Central deve fazer uma carta aberta, endereçada ao ministro da
Fazenda, explicando as razões por não ter cumprido sua missão.
Como
o sistema é desenhado para exigir a inflação da meta apenas ao fim do ano, não
há nenhuma exigência quando ela é estourada ao longo dos outros meses – o que
aconteceu com bastante frequência nos mais de 20 anos do sistema de metas do
Brasil.
• O que é a meta contínua
Na
meta contínua, o Banco Central passa a ter que buscar manter a inflação do país
dentro da meta de uma maneira – como o diz o nome – contínua, e também por
prazos mais flexíveis e mais longos do que o de um ano fechado entre janeiro e
dezembro.
É
a metodologia aplicada na grande maioria dos países que possuem um sistema de
metas, salvas as particularidades de regras de cada um.
De
acordo com um levantamento feito pela equipe econômica do banco Itaú,
Filipinas, Indonésia, Tailândia e Turquia, além do Brasil, são os únicos países
que têm um regime de metas e que adotam o sistema de ano-calendário.
“Os
demais países fixam uma meta contínua, mas desses, poucos possuem um processo
de verificação explícito e formal e há dispersão sobre o horizonte que os
bancos centrais buscam atingir a meta”, explicou o banco, em relatório.
A
lista de dezenas de países que seguem este modelo vai de Estados Unidos, Reino
Unido e Israel a África do Sul, Chile e Índia.
“Muitos
dos países nesse grupo fixam uma meta sem ter necessidade de revisão periódica
do valor da mesma, ao contrário do Brasil, onde a meta é fixada todo ano”,
disse o Itaú.
“Outros
possuem uma confirmação periódica do número de meta, enquanto Canadá, Zona do
Euro e Estados Unidos fazem revisão completa do arcabouço monetário de tempos
em tempos. Poucos países que adotam meta contínua possuem um processo de
verificação com previsão de escrever uma carta aberta em caso de não
cumprimento.”
• Detalhes a serem definidos
Os
detalhes de como funcionará a meta contínua no Brasil ainda não foram
apresentados e deverão ser definidos, de acordo com Haddad, por decreto a ser
publicado pela Presidência da República.
O
ministro adiantou em sua coletiva, porém, que o horizonte para cumprimento do
objetivo na meta contínua deverá ser, “na prática”, de 24 meses.
Ele
também afirmou que o BC continuará tendo que prestar contas sobre seu trabalho
para perseguir a meta de inflação, a exemplo da carta que, atualmente, deve
fazer ao fim do ano quando ela não cumprida.
“Mas
isso tende a ser mais frequente que na condição atual”, disse Haddad.
Haddad cobra redução 'robusta' dos juros
a partir de agosto
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobrou nesta quinta-feira (29) uma série
se reduções "robustas" na taxa básica de juros (Selic) a partir de
agosto. Atualmente, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% ao ano, maior patamar desde
2016.
"Cortes
robustos na taxa de juros podem ser praticados a partir de agosto sem nenhum
risco de desancoragem. Porque as trajetórias estão dadas", disse o
ministro. "Temos todas as razões para acreditar que vem um ciclo
consistente de cortes dessas taxas".
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Haddad
disse que toda a área econômica do governo espera "cortes
consistentes" na taxa devido à inflação estar em trajetória de queda.
Mesmo assim, o ministro mencionou preocupação com o crescimento da economia no
próximo ano.
"(Há)
uma preocupação muito grande com o resultado do crescimento econômico a partir
do ano que vem. Nós razões para nos preocupar com a desaceleração que está
sendo vista neste momento e queremos garantir para a sociedade brasileira um
2024 melhor que 2023. Nós entendemos que praticar uma taxa de juros que está
hoje na casa de 9% em termos reais, ou mais até, é algo que tem que ser revisto
em proveito da sociedade à luz dos indicadores."
O
ministro voltou a cobrar harmonização da política fiscal e da política
monetária, e disse que o corte da Selic é importante para melhorar as contas
públicas.
"Sem
uma política monetária consistente, os resultados fiscais não aparecerão,
justamente por falta de atividade econômica. Temos que harmonizar esses dois
braços, e a política monetária e fiscal terão que trabalhar juntas para que
tenhamos os melhores resultados daqui para a frente."
As
declarações foram dadas após a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN),
onde foi anunciada a mudança no regime de metas de inflação para
"contínuo", deixando de considerar o ano-calendário.
• Cenário é todo favorável para queda
robusta dos juros em agosto, diz Tebet
A
ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse nesta sexta-feira
(30) que todos os cenários para a economia brasileira estão favorecendo uma
queda acentuada da taxa Selic de seu patamar de 13,75%.
“Todos
esses cenários são positivos. Não tem nenhum cenário para que não haja a queda
robusta da taxa de juros no Brasil já a partir de agosto”, disse a ministra em
entrevista à GloboNews, ao mencionar fatores como a redução da inflação e a
perspectiva de aprovação do novo marco fiscal pelo Congresso Nacional.
Na
ata sobre sua última reunião, na qual decidiu manter a Selic em 13,75%, o
Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sinalizou a
possibilidade de corte “parcimonioso” da taxa básica de juros em seu próximo
encontro, marcado para o início de agosto.
Na
entrevista à emissora, Tebet ainda disse que, se não for aprovado pelo
Congresso um projeto de reforma tributária que simplifique impostos, o país
continuará perdendo indústrias e postos de trabalho.
“Se
nós não aprovarmos a reforma tributária, ainda que não seja a reforma
tributária excepcional, mas uma boa reforma tributária, que simplifique
impostos que tribute lá no consumo para diminuir a carga tributária da
indústria como um todo, nós vamos continuar perdendo indústrias, fechando
postos de trabalho, mandando embora trabalhador e trazendo produtos importados
de fora. Nada contra essas importações, são mais do que bem-vindas, mas elas
não podem tirar o emprego do trabalhador brasileiro”, defendeu.
• “Única bala de prata que temos é reforma
tributária” diz Simone Tebet
A
ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, afirmou, nesta
quinta-feira (29), durante o GZERO Summit Latam 2023, que acredita que a
reforma tributária deve ser colocada em prática até o final do ano. De acordo
com a ministra, “crescimento duradouro só se pode dar com a reforma
tributária”.
O
evento promovido pela consultoria de risco político Eurasia Group foi realizado
na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo, e contou com uma série
de painéis e entrevistas com especialistas e autoridades. O objetivo era
debater tendências da geopolítica na América Latina.
Na
semana passada, o relator da reforma tributária, deputado Agnaldo Ribeiro
(PP-PB), apresentou sua proposta à Câmara. Para Tebet, o texto deve ser votado
na casa entre a semana que vem e a primeira semana de agosto. “Nunca vi um
ambiente tão favorável, tão maduro”, disse Tebet.
A
PEC em tramitação corresponde ao que pode ser o primeiro estágio da reforma
tributária. A ideia é criar dois “Imposto Sobre Valor Adicionado” (IVA dual, um
ao nível nacional e outro estadual) em substituição aos tributos que incidem
sobre consumo, como o estadual ICMS, municipal ISS, e federais PIS/Cofins e
IPI.
O
ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy também defendeu a reforma tributária. O
atual diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra
participou do painel “Tempos difíceis – América Latina em meio a desafios
econômicos globais”.
Levy
afirmou que a reforma tributária pode ser um mecanismo para atrair investidores
de outros países. “A reforma tem um aspecto, que nem tá sendo tão discutido, de
simplificação dos créditos, na base do IVA, que pode ter um efeito
simplificador na vida das empresas enorme (…) Aí a gente vai poder finalmente
dar aqueles motivos que a S&P está sempre procurando: crescer, crescer,
crescer”, disse.
A
reforma tributária foi tema de um dos painéis apresentados no evento. A mesa
contou com a participação de Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro
Nacional.
“Pela
primeira vez, a gente tem chances de aprovar uma reforma tributária. Há 30 anos
a gente discute reforma tributária no Brasil. O Brasil tem dois problemas com
tributos: é um sistema muito confuso, muito complexo, com mudanças muito
frequentes de regras e o Brasil tem uma carga tributária muito elevada (…) A
gente não tem espaço para reduzir carga tributária, mas o desafio é melhorar o
sistema tributário”, disse.
• Banco Central
A
ministra Simone Tebet (MDB-MS) também afirmou que existe um cenário no Brasil
que possibilita a redução na taxa básica de juros. Ela argumenta que o país não
vive mais uma crise institucional e política, e que isso, junto a fatores como
a apresentação do novo arcabouço fiscal, deixam o ambiente econômico mais
seguro.
“Tudo
isso mostra que já podemos falar em queda de juros. Percentual eu não falo,
porque Banco Central é um órgão técnico.” A ministra defendeu que o país
precisa de “credibilidade, previsibilidade e segurança jurídica”.
No
semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do
Brasil (BC) decidiu por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A
decisão acontece em meio a pressões de governos, empresários e representantes
dos setores produtivos para que haja uma redução na taxa de juros.
O
ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida acredita em uma queda de juros maior
do que o mercado tem previsto. “O mercado precifica que a gente vai terminar o
ano com a taxa de juros nominal, mais ou menos, na casa de 12,25%. Acho que a
gente vai se surpreender, acho que a queda vai ser maior”.
• Economia digital
Em
entrevista à CNN, o presidente e fundador da Eurasia Group e GZERO media, Ian
Bremmer, afirmou que a economia brasileira deveria ter planos a longo prazo,
independentemente das mudanças de governo, para atrair investidores.
O
cientista político defendeu investimentos estruturais nos jovens. Para Bremmer,
os principais focos deveriam ser na economia digital e em tecnologia.
“Quando
falamos de Brasil, ainda não estamos falando da economia do século XXI. Ainda
não estamos falando sobre a biotecnologia e sobre a IA, além dos semicondutores
que vão conduzir uma nova globalização. O Brasil precisa se atualizar nessas
questões. E precisa definitivamente de governos mais consistentes, fortes e
estratégicos ao longo do tempo para poder fazer isso”.
• Potencial na América Latina
O
vice-ministro de Finanças do México, Gabriel Yorio, que fez parte de um dos
painéis do evento, afirmou que, apesar de América Latina estar longe das
tensões mundiais de geopolítica, a região pode ser considerada uma boa opção
para receber investimentos do mercado externo.
Para
Ian Bremmer, o Brasil, perante o cenário da política internacional, pode se
beneficiar por ter bons relacionamentos com diferentes governos.
“A
relação com os EUA é bastante amigável. A relação com a China é bastante
amigável. Ele (presidente Lula) levou centenas de executivos de empresas,
quando viajou para a China. Não há muitos países que estão equilibrando os EUA
e a China de forma tão eficaz quanto o Brasil agora. Espero que isso continue.”
Fonte: CNN
Brasil/Reuters/iG
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