domingo, 2 de julho de 2023

Bolsonaro acerta contas com Código Eleitoral e terá encontro com Código Penal

Quase ninguém percebeu quando o Congresso aprovou a Lei de Defesa do Estado Democrático que um novo tipo penal estava sendo criado. Acrescido ao artigo 286 do Código Penal, havia uma nova modalidade de incitação ao crime, incorrendo na mesma pena dele “quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”.

É a sombra deste artigo que, depois do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vai se aproximar da cabeça do ex-presidente Jair Bolsonaro. No Supremo Tribunal Federal (STF) ninguém esqueceu que o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos pediu, no dia 13 de janeiro, a inclusão de Bolsonaro na investigação sobre a intentona do dia 8 de janeiro, em Brasília. Usou para tanto a representação de 80 procuradores contra o ex-presidente que, no dia 10 de janeiro, publicou vídeo no Facebook no qual se dizia que “Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE”.

O vídeo afirmava ainda que o adversário de Bolsonaro “não foi eleito pelo povo brasileiro”. “Lula foi escolhido pelo serviço eleitoral, pelos ministros do STF e pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral.” Para o Ministério Público Federal não há dúvida de que, apenas dois dias depois da tresloucada tomada da sede dos Três Poderes, a mensagem de Bolsonaro incitava “novos atos de insurgência civil contra os Poderes da República, de modo a configurar o crime previsto no art. 286, parágrafo único, do Código Penal”.

O constitucionalista Oscar Vilhena, que participou da comissão que debateu o projeto da Lei de Defesa do Estado Democrático, afirma que a lei, a partir de então, passou a punir as vivandeiras que buscam provocar extravagâncias no poder militar. “Antes, quando as vivandeiras se manifestavam, a lei não dispunha de meios para punir esse conduta. Agora tem.” Para ele, não se restringiu a liberdade de expressão em nome de um discurso autoritário, mas se definiu que não se pode incitar as Forças Armadas a dar um golpe.

Vilhena cita ainda dois outros artigos da lei que ajudaram a defender a democracia. O que definiu como crime tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais e ainda o que tornou um delito a ação de impedir ou perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado, mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Para Vilhena, com a introdução desses dispositivos na legislação penal, o sistema de defesa da democracia ficou fortalecido, paradoxalmente, por um Congresso conservador, em uma conjuntura política caracterizada por ataques permanentes por parte do próprio presidente da República e seus apoiadores. É diante dessa nova realidade que Bolsonaro vai ter de prestar contas.

Como não se pode alegar desconhecimento da lei, Bolsonaro terá de responder à Polícia Federal e, eventualmente à Justiça, o significado de mensagens encontradas no celular do ex-capitão Ailton Barros. Preso e acusado de participar do esquema de falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19, Barros enviou, por exemplo, para seu contato PR1, que os investigadores acreditam ser o então Presidente da República, no qual dizia. “Vamos acampar em Brasília até os 11 ministros do STF saírem de suas cadeiras!”

Entre as pautas que ele deseja incluir em uma manifestação em Brasília estava um xingamento ao ministro Alexandre de Moraes, o Supremo tribunal Federal (STF): “Bicha velha, pelancuda na questão das urnas eletrônicas”. Em outra mensagem, ele dizia: “Bom dia PR quer que eu ligue ou já safou? Apaguei ‘pq’ já peguei orientação com o Cidinho” Cidinho é o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-chefe da ajudância de ordens do presidente, também preso sob a acusação de fraude nas carteiras de vacinação.

•        Bolsonaro fala sobre medo de ser preso: “Tudo pode acontecer”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta sexta-feira, 30, que está sendo perseguido e admitiu que teme ser preso. A fala ocorreu horas após a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que o condenou por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social, o deixando inelegível por oito anos.

 “Temos algo justo no Brasil? Eu estou há seis meses fora do governo, nem estava no Brasil no 8 de janeiro. Continua a perseguição”, criticou o ex-presidente.

Além de admitir que teme ser preso, Bolsonaro também reclamou de uma suposta atuação passiva do Ministério Público, que não estaria agindo de acordo com a sua função.

“Vira e mexe alguém pergunta se tenho medo de ser preso. Tudo pode acontecer. Não se tem motivo para ninguém ser preso hoje no Brasil. Qualquer um pode ser preso, não se diz o motivo e ponto final. O Ministério Público está ignorando no Brasil”, apontou.

Bolsonaro também comentou sobre a possibilidade de um novo mandado de busca e apreensão direcionado a ele, no caso do inquérito liderado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

“Já foi feita uma busca e apreensão na minha casa e pode vir uma segunda. Pode vir uma decisão mais drástica por parte do ministro que conduz o inquérito, que só ele sabe o que acontece. A PF vasculhou minha casa, não vou desconfiar da Polícia Federal. Outra busca e apreensão, a gente fica preocupado. Por que o que vão querer buscar agora?”, questionou.

 

       Bolsonaristas baianos se revoltam com condenação de Bolsonaro

 

Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) formar maioria pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), pela prática de abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições majoritárias do ano passado, aliados do ex-presidente na Bahia condenaram a decisão dos magistrados.

João Roma, presidente do PL Bahia, classificou como "mais uma manobra arbitrária do judiciário brasileiro". "Tornar inelegível um homem público digno, que derramou o seu sangue e suor, dedicando-se a transformar a vida e a realidade do povo brasileiro e resgatar valores como o amor à pátria e o orgulho de pertencer a um país valoroso, de proporções continentais e tão cheio de vocações como o nosso Brasil".

"Antes dessa sentença autocrática e de evidente viés político-ideológico, Jair Bolsonaro sequer foi submetido a qualquer ajuizamento constitucional pelos ilogismos os quais o imputam hostilmente nessa sanha persecutória e cheia de ódio. Dos dois um, ou eles têm medo de Bolsonaro voltar ao poder ou não sabem conviver com o seu legado histórico em benefício do povo. Tô fechado com o Capitão!', emendou.

O deputado estadual Diego Castro (PL) abriu uma live criticando a ação movida pelo PDT contra o líder político. "Fundamento ridículo, vagabundo", criticou. "Acusaram o presidente de atentar contra o sistema por uma reunião de embaixadores", emendou.

O vereador de Salvador Alexandre Aleluia (PL) classificou a decisão como "um péssimo recado aos brasileiros". "Não dá para ter muita dúvida que o julgamento foi político. O problema é que o maior representante dos conservadores, Jair Bolsonaro, foi simplesmente expulso da política sem um fundamento legal claro. Teremos milhões de brasileiros sem representação política. Não tem como isso ser bom para o país", declarou.

O deputado estadual Leandro de Jesus (PL) se manifestou sobre a notícia afirmando que 58.206.354 brasileiros "estão sendo calados". "Um grande prejuízo para a nossa democracia, um grande prejuízo para o Brasil, sem sombra de dúvidas. Uma decisão que, na realidade, atinge metade da população brasileira. Mais de 58 milhões de brasileiros foram silenciados no dia de hoje", disse o parlamentar.

O deputado federal Capitão Alden (PL-BA), que esteve com o ex-presidente na última semana, em Brasília, seguiu na mesma linha. "O resultado do julgamento do TSE que está deixando Bolsonaro inelegível é uma verdadeira derrota para a democracia brasileira. Mais de 58 milhões de vozes estão sendo caladas, mas não vamos desistir. Seguiremos defendendo o legado de Jair Messias Bolsonaro", disse.

 

       Oposição da Bahia comemora inelegibilidade de Bolsonaro

 

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), se manifestou nas redes sociais após a condenação de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na mensagem, o petista fez uma alusão ao 2 de Julho.

"Os corações brasileiros não combinam com tiranos. Quem atenta contra o Estado Democrático de Direito não pode representar o nosso povo. Viva a democracia no Brasil!", escreveu, no Twitter, no início da tarde de ontem.

Já o presidente do Partido dos Trabalhadores da Bahia, Éden Valadares, comentou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou o ex-presidente inelegível por oito anos pela prática de abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação nas eleições majoritárias do ano passado. 

“Vitória da democracia. Democracia é o império da Lei e ninguém está acima dela. Hoje a Justiça brasileira deu um forte exemplo para aqueles que tentam ofender ou atacar o Estado Democrático de Direito: não ficarão impunes”, afirmou Éden.

O placar final no TSE ficou em 5 a 2 contra Bolsonaro. O acordão (decisão coletiva dos ministros) com a condenação do ex-presidente deve ser publicado nos próximos dias. A decisão passa a valer de forma imediata, mesmo com eventuais recursos.

“Esse caso é apenas um. Bolsonaro passou quatro anos atacando as instituições democráticas, promovendo o negacionismo, a desinformação e o empobrecimento da nossa população. Bolsonaro inelegível é uma resposta altiva da democracia brasileira”, comentou o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA). “É fundamental que o sistema político crie mecanismos de inibição de comportamentos e práticas deletérias a nossa democracia. Bolsonaro precisa ser investigado e responsabilizado pelo conjunto de crimes cometidos no que tange às denúncias que já pesam contra ele, a exemplo de infração a medidas sanitárias preventivas; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade, dentre outros”, completou o parlamentar.

Em 2022, Jair Bolsonaro se reuniu com embaixadores de diversos países no Palácio da Alvorada, em Brasília, para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro sem nenhuma prova. O encontro com autoridades estrangeiras foi transmitido pela TV oficial do Governo Federal. 

 

       Bolsonaro inelegível confirma 'fé na democracia', diz Moraes

 

Responsável por fechar o placar de 5 a 2 no julgamento que declarou Jair Bolsonaro inelegível até 2030, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou nesta sexta-feira, 30, que a resposta da Corte sobre os ataques do ex-chefe do Executivo às urnas confirma a ‘fé na democracia’ ao invés do ‘viés autoritário extremista’.

"A resposta que o TSE dará, tenho absoluta certeza que confirmará a fé no Estado de Direito, e nosso grau, enquanto Poder Judiciário, de repulsa ao degradante populismo renascido a partir da chama dos discursos de ódio e antidemocrático, que propagam infame desinformação produzida e divulgada por verdadeiras milícias digitais em todo mundo", frisou.

Segundo o magistrado, o ex-presidente foi responsável por um ‘encadeamento de mentiras e notícias fraudulentas’ sobre o sistema eleitoral, em reunião com ‘produção cinematográfica’, para ‘imediatamente, em tempo real, as redes sociais bombardearem eleitores com a desinformação no sentido de angariar mais votos, mais eleitores, com discurso absolutamente mentiroso e radical’.

O presidente do TSE frisou que ‘não há nada de liberdade de expressão em um presidente mentirosamente dizer que há fraude nas eleições’. Ressaltou que Bolsonaro tentou ‘instigar seu eleitorado’ contra o sistema eleitoral e contra as urnas. Alexandre disse ainda que, ‘lamentavelmente, não houve nenhuma alteração no procedimento’ de Bolsonaro, mesmo com os alertas da Justiça Eleitoral. "Gravidade ímpar um presidente da República se usar desses mecanismos", ressaltou.

Alexandre destacou ainda que a decisão do TSE sobre Bolsonaro consiste em importante reafirmação, para eleições futuras, dos parâmetros da corte sobre a disseminação de desinformação sobre as urnas eletrônicas - ‘para que pré-candidatos e candidatos não se utilizem de seus cargo públicos para disseminar noticias fraudulentas sobre o sistema eleitoral. "O TSE não se preocupa com candidato ou ideologia, mas sim com a proteção da lisura das eleições e a isonomia entre os candidatos", destacou.

O ministro ainda frisou que a Corte eleitoral ‘não está inovando’ no julgamento, mas ‘reiterando seu posicionamento’, em especial o firmado no caso Francischini. Segundo o ministro, à época, ‘se reforçou a proteção à democracia, a proteção e defesa de eleições livres, com a confirmação da essencialidade das instituições’.

"A Justiça Eleitoral avisou a todos os candidatos que não admitiria extremismo criminoso e atentatório aos poderes, noticias fraudulentas, desinformação a titulo de tentar enganar eleitores sobre fraudes no sistema eleitoral. Isso ficou pacificado e com alerta para se evitar exatamente o que estamos fazendo hoje. Que o descumprimento gerasse a inelegibilidade daqueles que insistissem em praticar os ilícitos eleitorais", frisou.

Nessa linha, Alexandre destacou que nenhum candidato poderia alegar desconhecimento sobre o posicionamento do TSE acerca das principais premissas que deveriam ser observadas para as eleições de 2022. "Nenhum candidato, principalmente o investigado (Bolsonaro), ninguém poderia alegar surpresa, porque já estava definido o que seria abuso dos meios de comunicação e o que seria abuso de poder politico. Usar o cargo para falsamente, de forma mentirosa, acusar de fraude o sistema eleitoral"

 

       Com Bolsonaro inelegível, desempenho da economia sob Lula será fundamental

 

Para aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o desempenho do governo na economia se torna ainda mais importante agora que Jair Bolsonaro (PL) está inelegível.

Eles dizem que, com Bolsonaro fora do pleito, a disputa nas próximas eleições presidenciais não deve ter ânimos tão acirrados, nem deve ser tão focada na pauta de costumes e em polêmicas. Por isso, o desempenho da economia se torna fundamental para que o petista garanta sua reeleição ou a eleição de seu sucessor.

Auxiliares do presidente são praticamente unânimes em afirmar que Lula será candidato à reeleição em 2026, a não ser que o presidente não tenha condições por conta de sua idade. Lula estará com 80 anos nas próximas eleições nacionais.

Caso ele decida não disputar a Presidência, aliados apontam que seu sucessor natural seria Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, o que torna o desempenho da pasta ainda mais relevante.

 

 Fonte: Agência Estado/Tribuna da Bahia

 

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