Voto
indireto em Uganda: redução de custos ou enfraquecimento da democracia?
Uganda
pode estar prestes a vivenciar uma mudança radical em seu sistema político.
Recentemente, o partido Movimento de Resistência Nacional (NRM), do presidente
Yoweri Museveni, que está no poder desde 1986, apresentou uma proposta que
determina que presidentes sejam eleitos pelo voto indireto do parlamento, não
mais pelo voto direto dos cidadãos.
Os
defensores da proposta argumentam que a medida reduziria os custos com a
realização de eleições e tornaria a administração mais efetiva. Por outro lado,
críticos temem que a mudança enfraqueça a democracia no país.
Em
entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam os
possíveis impactos da medida, bem como quais seriam os interesses por trás da
mudança no sistema eleitoral.
José
Ricardo Araujo, pesquisador no Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da
Escola de Guerra Naval (EGN), afirma que a mudança para um sistema parlamentar,
com eleições indiretas, é algo que vem sendo discutido em Uganda desde 2022.
Porém ele considera improvável que a proposta, mesmo que aprovada, possa valer
já para as próximas eleições, marcadas para 2026.
"O
que acontece é que, atualmente, nós já temos um plano estratégico da comissão
eleitoral que está em prática, que é o plano estratégico que vai de 2023 a
2027. Ou seja, existem alguns procedimentos eleitorais que já estão sendo
postos em prática […] e existe pouco tempo, considerando que [o pleito] é no
início de 2026, para implementar esse tipo de reforma", afirma.
Quanto
às críticas de que a mudança enfraqueceria a democracia, Araujo destaca que
neste ano Uganda celebra o 62º aniversário de independência.
"Ou
seja, foi em 1962 que Uganda conseguiu sua independência e iniciou um governo,
que é o de Milton Obote, que foi o primeiro presidente ugandense, que, em
seguida, em um contexto de Guerra Fria, sofreu um golpe de Estado, em 1971.
Depois Obote volta, em 1980. E quando ele volta é quando o Museveni, que é o
atual presidente, aparece na história de Uganda."
Ele
explica que Museveni surge como opositor de Obote, afirmando que o então
presidente não representava os interesses dos ugandenses e apresentando seu
partido, o NRM, como o verdadeiro defensor das demandas da população.
Iniciou-se então uma guerra civil no país, que termina em 1986, com a deposição
de Obote e a ascensão de Museveni.
"Quando
ele [Museveni] assume, instaura um sistema unipartidário, em que você não tem o
multipartidarismo […]. Então a falta de partidos diferentes impacta muito.
Apenas em 2005, com pressão popular e internacional, que Museveni cede, e é o
momento em que existem as eleições multipartidárias, o multipartidarismo é
instaurado no país. E em 2006 ocorre a primeira eleição multipartidária [antes
disso, foram realizadas duas eleições com candidatos independentes]. Isso é um
marco muito recente", afirma o especialista.
Araujo
frisa que o fato de Uganda ter apenas 20 anos de multipartidarismo diz muito
sobre o conteúdo democrático do país, "que é muito recente".
"Atualmente,
para ter uma noção, em 20 anos de sistema multipartidário, nós ainda não temos
um partido de oposição consolidado."
Segundo
Araujo, de fato a eleição indireta reduz custos, mas a grande questão é
analisar se esse é o real objetivo da proposta do NRM.
"A
maior parte das reformas eleitorais recentes de Uganda tem como objetivo manter
Museveni no poder […]. Em 2018 nós tivemos uma proposta, um projeto de lei que
foi justamente para remover o limite de idade presidencial de 75 anos,
justamente porque Museveni estava chegando perto dessa idade. E foi isso que
permitiu que ele postergasse mais um mandato, e atualmente, em 2026, nas
próximas eleições, ele vai completar 40 anos no poder."
Araujo
aponta que Museveni está preparando o filho, Muhoozi Kainerugaba, que é chefe
das Forças Armadas de Uganda, para assumir a presidência após deixar o cargo.
Ele lembra que não houve declaração oficial quanto a isso, mas Kainerugaba
divulgou posts na rede social X (antigo Twitter) afirmando a intenção de se
candidatar. Pouco tempo depois, ele apagou as postagens e anunciou apoio ao
pai.
"Ele
anunciou que Deus conversou com ele, Deus falou que ele deveria ir mantendo as
Forças Armadas, e que agora ele iria apoiar o pai. E é justamente quando ele
diz sobre apoiar o pai, que ele fala que o pai será o próximo presidente, […]
ou seja, esse tipo de postura do Muhoozi, de prematuramente se candidatar às
eleições, pode ser um spoiler do que vem pela frente."
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Transição democrática ainda não foi efetivada em vários países
Os
sistemas políticos de países da África têm um percurso histórico diferente dos
de outros países fora do continente. É o que explica Joaquim Maloa, doutor em
geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP); doutor em sociologia
urbana pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com pós-doutorado em
geografia urbana pela USP; chefe de departamento e professor auxiliar do
Departamento de Geociências do Instituto Superior de Desenvolvimento Rural e
Biociências (ISDRB) da Universidade Rovuma, em Moçambique; presidente do
conselho fiscal da Associação de Geógrafos de Moçambique (GAM); e escritor.
Segundo
Maloa, a democracia entrou tarde nos países do continente africano, em um
processo iniciado principalmente na década de 1990.
Nesse
contexto, ele afirma que esses países adotaram o que pode ser chamado de uma
"democracia frágil".
Para
ele, no caso de Uganda, "a questão de escolha de que tipo de democracia,
se vai ser uma democracia parlamentar, uma democracia semiparlamentar ou uma
democracia presidencial", não é um problema. O problema seria quando
"as instituições que fundamentam e fazem com que essa democracia permaneça
vêm não mais para garantir aquilo que são os direitos dos povos", mas para
favorecer uma elite política.
Por
conta disso, Maloa acredita que o país ainda não vivenciou uma transição
democrática completa, assim como outros Estados africanos.
"Muitos
dizem que não, que nós já fizemos a transição. Não, porque as nossas
instituições ainda são instituições muito fragilizadas, e essas instituições
são fragilizadas por vários interesses", conclui o especialista.
• Romênia anula eleição
por suposta interferência da Rússia
O
Tribunal Constitucional da Romênia anulou o resultado do primeiro turno da
eleição presidencial poucos dias antes da realização do segundo turno, marcado
para este domingo (8/12), por uma suposta interferência russa.
Isso
significa que o processo eleitoral vai recomeçar do zero, e o governo vai
decidir uma data para a nova votação.
O
primeiro turno havia sido vencido por Calin Georgescu, candidato de direita
radical quase desconhecido, cético em relação à Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan), que já elogiou o presidente russo, Vladimir Putin.
A
decisão do tribunal foi tomada depois da divulgação de documentos de
inteligência sugerindo que Georgescu se beneficiou de uma operação de
influência em massa — conduzida a partir do exterior — para interferir no
resultado da eleição.
O
atual primeiro-ministro da Romênia, Marcel Ciolacu, disse que a decisão do
tribunal de anular o pleito era "a única solução correta após a retirada
do sigilo dos documentos... que mostram que o resultado da votação dos romenos
foi descaradamente distorcido como resultado da intervenção da Rússia".
Os
juízes do tribunal se reuniram na manhã desta sexta-feira (6/12), apesar de
terem anunciado na noite anterior que não discutiriam novas informações sobre
uma possível influência externa nas eleições até o segundo turno da votação.
A
lei estipula que, no caso de anulação das eleições, elas devem ser retomadas no
segundo domingo após a data da anulação — o que significaria 22 de dezembro.
No
entanto, o tribunal decidiu pedir ao governo que refaça todo o processo
eleitoral e, portanto, a campanha eleitoral.
Na
semana passada, o tribunal ordenou uma recontagem dos votos do primeiro turno,
após alegações de que a plataforma de rede social TikTok ofereceu
"tratamento preferencial" ao inesperado vencedor.
Georgescu,
um político sem partido próprio, fez campanha principalmente no TikTok.
A
plataforma afirmou que era "categoricamente falsa a alegação de que sua
conta foi tratada de forma diferente de qualquer outro candidato".
Ele
obteve 23% dos votos, contra 19% da segunda colocada, Elena Lasconi, do partido
de oposição União Salve a Romênia.
Ciolacu,
do partido governista Social Democrata, ficou em terceiro lugar.
Lasconi
condenou a decisão do tribunal, classificando a medida como "ilegal"
e "imoral".
Segundo
ela, "hoje é o momento em que o Estado romeno pisoteou a democracia".
"Quer
a gente goste ou não, de um ponto de vista legal e legítimo, 9 milhões de
cidadãos romenos, tanto no país quanto na diáspora, manifestaram sua
preferência por um determinado candidato. Não podemos ignorar sua
vontade!", afirmou.
Ela
esperava vencer a eleição no segundo turno, que agora foi cancelado.
O
Tribunal Constitucional também rejeitou os pedidos apresentados por dois dos
candidatos derrotados que acusaram Georgescu de financiamento ilegal de
campanha.
Nesta
semana, Georgescu negou à BBC que sua vitória nas urnas no primeiro turno
tivesse sido resultado de uma operação de influência apoiada pela Rússia.
Ele
alegou que o establishment político não conseguia lidar com seu sucesso e
estava tentando inviabilizá-lo.
O
país está agora em um terreno totalmente novo, politicamente. E ninguém sabe ao
certo o que vai acontecer a seguir.
• Polícia e Procuradoria
sul-coreanas iniciam investigações contra presidente do país
A
polícia e os procuradores sul-coreanos iniciaram investigações separadas sobre
a tentativa do presidente Yoon Suk-yeol de impor a lei marcial no país,
informou a agência de notícias Yonhap.
A
polícia disse que montou uma equipe de investigação especial de 120 membros
para analisar quatro queixas que acusam o presidente e outros indivíduos de
alta traição, motim e abuso de poder em relação a imposição e posterior
suspensão da lei marcial.
O
gabinete do procurador acrescentou que está sendo formada uma sede de
investigação chefiada pelo chefe da Procuradoria Superior de Seul, Park
Se-hyun, para analisar outras reclamações semelhantes.
Além
disso, segundo informações da Yonhap, o presidente Yoon Suk-yeol ordenou
prender líderes de ambos os partidos governista e da oposição, inclusive:
- O
líder do Partido Democrático Lee Jae-myung;
- O
líder do Partido do Poder Popular (governista) Han Dong-hoon;
- O
presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-shik;
- O
líder do Partido de Reconstrução da Coreia, de oposição menor, Cho Kuk;
E
outros políticos, de acordo com a agência de notícias sul-coreana.
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Lei marcial na Coreia do Sul
O
presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, anunciou na terça-feira lei marcial
"para acabar com as forças pró-Coreia do Norte e manter a ordem
constitucional liberal", depois de o Partido Democrático da oposição ter
apoiado um projeto de redução do orçamento e apresentado uma moção de
impeachment contra o auditor de Estado e o procurador-geral.
As
Forças Especiais do Exército foram enviadas ao parlamento do país para impedir
a entrada de parlamentares, mas a Assembleia Nacional da Coreia do Sul ainda
conseguiu se reunir e votar pelo fim da lei marcial.
A
oposição da Coreia do Sul afirmou que apresentará acusações de golpe de Estado
contra o presidente, o ministro da Defesa, o ministro do Interior e da
Segurança e outros importantes militares e policiais envolvidos na situação.
Além
disso, os partidos de oposição apresentaram ao parlamento projetos de
impeachment contra o presidente e o ministro da Defesa, com votação prevista
para os dias 6 e 7 de dezembro.
• Mais de 280 mil pessoas
na Síria foram forçadas a abandonar suas casas, estima ONU
Mais
de 280 mil pessoas na Síria foram forçadas a deixar suas casas devido à
contínua onda de violência no país, segundo o Programa Mundial de Alimentos
(PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU).
"A
recente escalada de violência no noroeste (Síria) deslocou mais de 280 mil
pessoas, somando-se os anos de sofrimento do povo sírio", informou a
organização humanitária por meio da rede social X (antigo Twitter).
O
órgão também afirmou que está trabalhando para aumentar sua presença no país
árabe, a fim de fornecer alimentos à população, mas precisa de apoio urgente
para dar conta das necessidades que não param de crescer.
Além
disso, o PMA também continua a negociar a possibilidade de criar corredores de
abastecimento seguros para atender todos os necessitados.
O
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários
(ENUCAH), por sua vez, informou que mais de 30 instalações médicas cessaram as
operações no noroeste da Síria desde o início dos combates.
De
acordo com o ENUCAH, a saída dos médicos criou um fardo imenso para os
hospitais que ainda estão em funcionamento.
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Escalada de tensões na Síria
No
dia 27 de novembro, terroristas da Tahrir al-Sham — anteriormente chamada
Frente al-Nusra, uma organização terrorista banida na Rússia e em outros países
— lançaram, juntamente com vários grupos armados da oposição síria, uma
ofensiva em grande escala contra o exército do país nas províncias sírias de
Aleppo e Idlib. Ações na região retornaram pela primeira vez desde 2016.
Também
na semana passada, em 30 de novembro, os radicais tomaram o controle da cidade
de Aleppo, incluindo o aeroporto internacional e a base aérea de Kuweires, algo
que não acontecia desde a eclosão do conflito armado na Síria, em março de
2011, em que as forças governamentais enfrentam grupos armados de oposição e
organizações terroristas.
Os
comandantes regulares do Exército afirmam ter interrompido a ofensiva na área
de Hama e recuperado algumas cidades.
Desde
março de 2011, a Síria tem vivido um conflito em que as forças do governo
enfrentam grupos armados de oposição e organizações terroristas.
A
solução para o conflito é procurada em duas plataformas, a de Genebra, sob os
auspícios da ONU, e a de Astana, com mediação do Irã, da Rússia e da Turquia.
Fonte:
Sputnik Brasil/AFP
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