Virgílio
Arraes: EUA - com a fadiga da longa guerra na Europa, a paz injusta
Sem
guerras próprias no atual mandato, os Estados Unidos envolvem-se na passagem do
bastão do comando de Joe Biden para Donald Trump em duas guerras sem
perspectiva de encerramento à vista, malgrado a imensa devastação até agora: a
desencadeada no leste da Europa durante a pandemia do vírus corona e a no
Oriente Médio, a mais antiga, conquanto os meios de comunicação considerem como
ponto de partida outubro de 2023.
A
repercussão das confrontações é sem dúvida preocupante, ao ultrapassar sem
dificuldades os limites de suas respectivas regiões quanto ao impacto
humanitário, castrense e também material, por abarcar potências nucleares,
ainda que uma delas sem reconhecimento oficial da comunidade internacional.
No
conflito russo-ucraniano, o posicionamento do governo republicano deve
modificar-se com relação ao do antecessor democrata. Em certa medida, a Casa
Branca deve considerá-lo a partir de janeiro de 2025 como confronto interno, ou
seja, ‘civil’, ao valer-se da noção histórica da composição territorial naquela
parte do continente.
Em
sendo avaliada a conjuntura desta forma, posto que de maneira controvertida
Rússia, Ucrânia e Belarus (outrora, grafada como Bielo-Rússia) perfariam núcleo
único, a partir da tradição, de sorte que a fragmentação corrente seria
transitória. Diante disso, a revolução laranja de 2004 deveria ser contida por
aversão a Moscou.
Portanto,
a subdivisão oriunda do desastrado período de Boris Yeltsin anular-se-ia. A
invocação original do Kremlin para provocar a desabalada marcha contra
Mariyinsky, a de desnazificar o vizinho via ‘operação especial’, já não é
considerada plausível.
Outra
justificativa, mais abalizada, é a da temerária aproximação militar entre Kiev
e Bruxelas, sob aplausos de Washington. Como resposta, Moscou havia advertido
em dezembro de 2021 não aceitar tropas ocidentais próximas de suas fronteiras
europeias e caucasianas.
Caso
se termine a disputa entre as duas potências, mesmo de maneira bem gradativa,
os parceiros norte-atlânticos poderiam compensar a Ucrânia de algum modo, ao
menos de forma temporária, pela perda de um quinto da soberania.
Por
conseguinte, a nação ucraniana permaneceria neutra, sem ingresso no curto prazo
nas fileiras da Organização do Tratado do Atlântico Norte, porém com a
esperança de auxílio financeiro e técnico com o fito de se reconstruir e
proporcionar assim o retorno de milhões de expatriados, dispersos pela Europa
em locais como Polônia e Romênia.
Acresça-se
à perda atual a Crimeia, obtida em 1954 na época da União Soviética por
iniciativa de Nikita Kruschev, e perdida em 2014. Com a invasão, a Rússia
garantiu para si o acesso ao mar Negro e como desdobramento a utilização dos
portos de Odessa.
A
contrapartida do Kremlin, ao estender suas fronteiras na última década, seria a
de conter o apetite por mais territórios contíguos, ao desistir de encraves
observados como russos como o da Transnístria da Moldávia e os de áreas
adjacentes à Kaliningrado, circundada pela Polônia e Lituânia.
Governos
da Europa Ocidental e da Central, embora muito solidários ao drama diário da
Ucrânia, sentir-se-iam aliviados com a suspensão da guerra, ao garantir à
Rússia retomar o fornecimento de gás a países como Alemanha, Polônia e
Eslováquia.
Logo,
a discordância com a futura gestão em Washington poderia ser amenizada de via
certa caso a paz, ainda que injusta para Kiev, seja estabelecida com Moscou.
Seria o pragmatismo da União Europeia em função do andamento desfavorável a
seus olhos da disputa, a despeito do seu socorro constante.
• Vice-chanceler russo:
ameaças de Trump ao BRICS não mudarão nada
O
trabalho de criação de um meio de pagamento para os países-membros do BRICS
será realizado apesar das declarações do presidente americano eleito de impor
100% de tarifas em resposta, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Aleksandr Pankin, à Sputnik.
Anteriormente,
Trump ameaçou os países do BRICS de que imporia "taxas de 100%" sobre
eles se não abandonassem os planos de criar uma moeda alternativa ao dólar. Ao
mesmo tempo, o presidente russo Vladimir Putin disse anteriormente que era
muito cedo para falar sobre a criação de uma moeda única do BRICS.
"Essa
é uma oportunidade de plataforma para pagamentos. É claro que o trabalho sobre
ela continuará", disse Pankin à margem do XVII Fórum Econômico
Euroasiático de Verona realizado em Ras al-Khaimah.
Ele
esclareceu que ninguém está falando de uma moeda comum. "Não é o euro, não
é o euro-BRICS, ou BRICS-euro", disse o vice-ministro.
Além
disso, em sua opinião, as declarações que foram feitas há alguns dias pelo
presidente eleito dos EUA, Trump, sobre a imposição de tarifas de 100% no caso
de criação de moeda do BRICS, não poderiam influenciar as decisões sobre esse
assunto.
"Isso
é absolutamente falso. Acho que as declarações do presidente eleito dos EUA
mudarão muitas vezes. Mais de uma vez, tanto para um lado quanto para o outro.
Esse modo de se comportar foi peculiar a ele no primeiro mandato",
concluiu Pankin.
• EUA 'não terão dinheiro
para nada' se a questão da dívida nacional não for resolvida, alerta Musk
Se
os EUA não resolverem o problema da crescente dívida nacional, eles podem ficar
sem dinheiro para financiar até mesmo serviços básicos, disse nesta sexta-feira
(6) o bilionário e eventual futuro líder do Departamento de Eficiência
Governamental, Elon Musk.
"Se
não abordarmos o crescimento exponencial da dívida nacional, não haverá
dinheiro para nada, incluindo serviços essenciais", disse Musk no X.
A
dívida pública dos Estados Unidos deverá aumentar para 121% do produto interno
bruto (PIB) e atingir 131,7% em 2029, afirmou o Fundo Monetário Internacional
(FMI) em seu relatório Fiscal Monitor no final de outubro.
A
dívida nacional dos EUA ultrapassou a marca de US$ 36 trilhões (R$ 216,6
trilhões), atingindo o máximo histórico, de acordo com o Departamento do
Tesouro dos EUA. Esta é a maior dívida nacional do mundo em termos nominais e
aumentou US$ 2 trilhões (R$ 12 trilhões) desde o início do ano.
O
presidente eleito dos EUA, Donald Trump, anunciou anteriormente que Musk e o
empresário Vivek Ramaswamy seriam nomeados para liderar o recém-criado
Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Musk disse
anteriormente que acreditava que o referido departamento visa aumentar a
eficiência dos gastos com defesa dos EUA.
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Importações de platina russa nos EUA atingem volume recorde desde outubro de
2022
A
Rússia aumentou os fornecimentos de platina para os EUA em outubro, atingindo o
maior valor em dois anos, de US$ 203 milhões, representando quase um terço de
todas as importações, de acordo com uma análise da Sputnik dos dados do serviço
de estatística dos EUA.
Assim,
em meados do outono no Hemisfério Norte as exportações cresceram 2,3 vezes em
relação a setembro e 2,1 vezes em relação ao ano – até US$ 203 milhões. Esse é
o maior volume de suprimentos desde outubro de 2022, quando totalizaram US$ 253
milhões.
A
participação das empresas russas nas importações dos EUA foi de 31,5% em
outubro, a maior desde abril de 2020.
Como
resultado, a Rússia foi o segundo maior fornecedor de platina para os EUA,
atrás apenas da África do Sul (US$ 270 milhões). Os cinco primeiros países
também incluíam a Alemanha (US$ 51,5 milhões), a Itália (US$ 25,2 milhões) e a
Bélgica (US$ 22,3 milhões).
Ao
mesmo tempo, em apenas dez meses do ano corrente, o valor dos suprimentos
russos, ao contrário, diminuiu em um quinto, para US$ 862 milhões.
• 'Descontrole' na
fronteira: EUA deveriam olhar para a saída de armas do país, apontam
especialistas
Após
ameaçar impor tarifas a produtos do México pela falta de controle na fronteira,
Donald Trump, presidente eleito dos EUA, recebeu uma resposta atravessada da
líder mexicana, Claudia Sheinbaum: "Não produzimos armas, não consumimos
drogas sintéticas. Infelizmente, fornecemos os mortos pelo crime para responder
à procura de drogas no seu país."
A
fala da presidente mexicana explicita um problema presente em muitos outros
países da América Latina e do mundo, como o próprio Brasil. No Rio de Janeiro,
cidade conhecida pelo enfrentamento de organizações criminosas, 47% dos fuzis
apreendidos têm origem estadunidense, afirmou o secretário de segurança pública
do estado do Rio de Janeiro, Victor dos Santos.
Esse
fato parece ignorado pelos governos ocupantes da Casa Branca, sejam democratas
ou republicanos. Em vez de olhar para si mesmos como os causadores do problema
de segurança pública do continente, por conta de seu grande mercado consumidor
de drogas, como aponta Sheinbaum, ou pelo descontrole na saída de armas de
fogo, os estadunidenses se veem como vítimas da violência "importada"
dos vizinhos do sul através da fronteira com o México.
"Grande
parte da atenção pública e política norte-americana é voltada para a entrada
ilícita de drogas no país e para a imigração irregular", explica a
assistente social Kharine Gil, mestra e doutoranda em sociologia no Instituto
de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(IESP/UERJ) e pesquisadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco, da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), à Sputnik Brasil.
"No
entanto, deveria existir um enfoque maior sobre os fluxos que saem dos Estados
Unidos, como armas, drogas e dinheiro ilícito."
Segundo
a especialista em segurança pública, a legislação de posse e porte de armas
estadunidense "favorece o comércio ilegal" desses itens, "pois
muitas são obtidas legalmente e posteriormente contrabandeadas".
Dessa
forma, o "descontrole" na fronteira sul estadunidense tão alardeado
pelo novamente eleito Donald Trump "não deve ser posto apenas sobre o que
entra, mas também sobre o que é exportado ilegalmente de lá".
Embora
a saída pela fronteira com o México seja a principal rota, diz Gil,
"embarques marítimos e aéreos também são utilizados. Uma das rotas
conhecidas fica entre Brasil, Peru e Colômbia, passando pelo rio Solimões e
outras regiões do Amazonas, até o Rio de Janeiro".
A
chegada dessas armas aos países da América Latina fortalece a disputa das
organizações criminosas pelo poder, "agravando a violência urbana e os
conflitos armados locais, inclusive aumentando os índices de homicídios nesses
territórios".
"Que
azar do México", disse uma vez o ex-presidente Porfirio Díaz. "Tão
longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos."
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Percepção turva não é de hoje
O
problema de percepção de si mesmo é "histórico", diz Thiago Godoy
Gomes de Oliveira, doutorando em relações internacionais pelo Programa de
Pós-Graduação San Tiago Dantas e pesquisador colaborador no Observatório
Político dos Estados Unidos (OPEU).
"São
nítidos os momentos nos quais os Estados Unidos buscaram fazer de outras nações
palcos para conflitos desencadeados por eles mesmos. Basta lembrarmos das
famosas guerras por procuração."
Nesse
sentido, a mais famosa dentro do tema é a chamada "Guerra às Drogas",
que, embora tenha sido lançada no governo de Richard Nixon (1969–1974), se
tornou símbolo da era Ronald Reagan (1981–1989), que a instrumentalizou para
avançar os interesses econômicos e estratégicos dos EUA pelo resto do
continente americano, descreve Oliveira.
A
partir dessa iniciativa, os Estados Unidos desenvolveram o Plano Colômbia,
durante o governo de Bill Clinton. A medida viu um grande aporte de recursos
financeiros e militares para o combate ao narcotráfico colombiano.
"Esse
combate intensivo e militarizado não se provou eficaz até hoje, longe
disso", diz o pesquisador do OPEU. "É impossível estancar esse
mercado ilegal quando os maiores consumidores não reconhecem a própria
ineficácia em conter a entrada de drogas e a crescente demanda dentro de seus
países."
Para
o especialista, se o cenário com Joe Biden "já não era promissor",
com Trump a expectativa é de uma continuidade "da lógica de securitização
do tema do abuso de drogas ilícitas".
"Podemos
esperar com toda certeza que o Trump depositará toda a sua energia onde a maior
parte do problema não se encontra: na questão da imigração no país."
• Soldados ucranianos
servem indefinidamente na linha de frente por carência de pessoas, diz mídia
Uma
enorme escassez de efetivos faz o Exército ucraniano não substituir os soldados
que estão na linha de frente, o que, por sua vez, faz com que muitos deles
abandonem as posições e nunca mais voltem, relata a Bloomberg.
Os
últimos tempos são considerados por muitos especialistas como os piores para a
Ucrânia de todo o período do conflito, já que há meses que as Forças Armadas
ucranianas estão recuando constantemente, perdendo, às vezes, vários povoados
em um dia.
O
artigo cita os dados da Procuradoria da Ucrânia, segundo os quais há cerca de
96.000 casos criminais contra os militares que abandonaram suas posições desde
2022.
Tendo
aumentado seis vezes desde o início do conflito, a maioria dos casos de
deserção são deste ano.
Um
especialista entrevistado pela Bloomberg disse que a quantidade dos desertores
pode ultrapassar 100 mil, o que não está longe do objetivo da mobilização de
recrutar 160 mil efetivos.
"Algumas
tropas são destacadas indefinidamente, sem chance de descanso. Novas tropas
para substituí-las são escassas", diz o artigo.
Portanto,
o comando ucraniano envia para as trincheiras especialistas qualificados como
infantaria de assalto.
Esse
fato também agrava a situação com a deserção nas Forças Armadas da Ucrânia,
criando mais uma razão para os soldados desertarem.
Mais
cedo, em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, o secretário de Estado Antony
Blinken chamou a questão da mobilização na Ucrânia de crítica, dizendo que Kiev
terá que tomar decisões difíceis sobre a mobilização, mas que ela é necessária.
Aqui
se trata da exigência do Ocidente, relatada pela mídia ocidental, de que as
autoridades ucranianas devem diminuir o limite inferior da mobilização até 18
anos, para recrutar o maior número possível de homens adultos do país.
Porém,
o governo ucraniano ainda não decidiu aceitar essa recomendação.
"Sem
reformas, temos menos pessoas motivadas a continuar lutando", disse um
soldado entrevistado pela Bloomberg que desertou da sua unidade há pouco.
• Ministro da Defesa
alemão não exclui possibilidade de envio de forças de paz à Ucrânia
O
ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, não descarta a possibilidade
de enviar uma força de paz da Bundeswehr para participar de uma operação de
manutenção da paz na Ucrânia, disse ele em entrevista à Deutschlandfunk.
"Nós
nos preparamos, nós trabalhamos os cenários [de envio de tropas], mas fazemos
isso de forma discreta," disse ele.
Pistorius
acrescentou que as condições de destacamento de um contingente dependeriam do
mandato, do escopo e das condições apresentadas pelas partes no conflito. Ao
mesmo tempo, o ministro enfatizou que a Alemanha exclui a participação de
tropas terrestres em operações de combate na Ucrânia.
De
acordo com Pistorius, é impossível falar sobre o futuro da Ucrânia neste
momento, porque vários cenários estão sendo analisados no país, cuja divulgação
prematura não ajudará ninguém.
Anteriormente,
a mídia alemã informou que a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena
Baerbock, teria admitido o envio de militares da Bundeswehr à Ucrânia para
garantir um cessar-fogo. No entanto, ao responder a uma pergunta de jornalistas
em Bruxelas, Baerbock limitou-se a fazer afirmações gerais e não falou
diretamente sobre o envio de tropas.
Fonte:
BBC News/Sputnik Brasil
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