sábado, 7 de dezembro de 2024

Virgílio Arraes: EUA - com a fadiga da longa guerra na Europa, a paz injusta

Sem guerras próprias no atual mandato, os Estados Unidos envolvem-se na passagem do bastão do comando de Joe Biden para Donald Trump em duas guerras sem perspectiva de encerramento à vista, malgrado a imensa devastação até agora: a desencadeada no leste da Europa durante a pandemia do vírus corona e a no Oriente Médio, a mais antiga, conquanto os meios de comunicação considerem como ponto de partida outubro de 2023.

A repercussão das confrontações é sem dúvida preocupante, ao ultrapassar sem dificuldades os limites de suas respectivas regiões quanto ao impacto humanitário, castrense e também material, por abarcar potências nucleares, ainda que uma delas sem reconhecimento oficial da comunidade internacional.

No conflito russo-ucraniano, o posicionamento do governo republicano deve modificar-se com relação ao do antecessor democrata. Em certa medida, a Casa Branca deve considerá-lo a partir de janeiro de 2025 como confronto interno, ou seja, ‘civil’, ao valer-se da noção histórica da composição territorial naquela parte do continente.

Em sendo avaliada a conjuntura desta forma, posto que de maneira controvertida Rússia, Ucrânia e Belarus (outrora, grafada como Bielo-Rússia) perfariam núcleo único, a partir da tradição, de sorte que a fragmentação corrente seria transitória. Diante disso, a revolução laranja de 2004 deveria ser contida por aversão a Moscou.

Portanto, a subdivisão oriunda do desastrado período de Boris Yeltsin anular-se-ia. A invocação original do Kremlin para provocar a desabalada marcha contra Mariyinsky, a de desnazificar o vizinho via ‘operação especial’, já não é considerada plausível.

Outra justificativa, mais abalizada, é a da temerária aproximação militar entre Kiev e Bruxelas, sob aplausos de Washington. Como resposta, Moscou havia advertido em dezembro de 2021 não aceitar tropas ocidentais próximas de suas fronteiras europeias e caucasianas.

Caso se termine a disputa entre as duas potências, mesmo de maneira bem gradativa, os parceiros norte-atlânticos poderiam compensar a Ucrânia de algum modo, ao menos de forma temporária, pela perda de um quinto da soberania.

Por conseguinte, a nação ucraniana permaneceria neutra, sem ingresso no curto prazo nas fileiras da Organização do Tratado do Atlântico Norte, porém com a esperança de auxílio financeiro e técnico com o fito de se reconstruir e proporcionar assim o retorno de milhões de expatriados, dispersos pela Europa em locais como Polônia e Romênia.

Acresça-se à perda atual a Crimeia, obtida em 1954 na época da União Soviética por iniciativa de Nikita Kruschev, e perdida em 2014. Com a invasão, a Rússia garantiu para si o acesso ao mar Negro e como desdobramento a utilização dos portos de Odessa.

A contrapartida do Kremlin, ao estender suas fronteiras na última década, seria a de conter o apetite por mais territórios contíguos, ao desistir de encraves observados como russos como o da Transnístria da Moldávia e os de áreas adjacentes à Kaliningrado, circundada pela Polônia e Lituânia.

Governos da Europa Ocidental e da Central, embora muito solidários ao drama diário da Ucrânia, sentir-se-iam aliviados com a suspensão da guerra, ao garantir à Rússia retomar o fornecimento de gás a países como Alemanha, Polônia e Eslováquia.

Logo, a discordância com a futura gestão em Washington poderia ser amenizada de via certa caso a paz, ainda que injusta para Kiev, seja estabelecida com Moscou. Seria o pragmatismo da União Europeia em função do andamento desfavorável a seus olhos da disputa, a despeito do seu socorro constante.

•                        Vice-chanceler russo: ameaças de Trump ao BRICS não mudarão nada

O trabalho de criação de um meio de pagamento para os países-membros do BRICS será realizado apesar das declarações do presidente americano eleito de impor 100% de tarifas em resposta, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Aleksandr Pankin, à Sputnik.

Anteriormente, Trump ameaçou os países do BRICS de que imporia "taxas de 100%" sobre eles se não abandonassem os planos de criar uma moeda alternativa ao dólar. Ao mesmo tempo, o presidente russo Vladimir Putin disse anteriormente que era muito cedo para falar sobre a criação de uma moeda única do BRICS.

"Essa é uma oportunidade de plataforma para pagamentos. É claro que o trabalho sobre ela continuará", disse Pankin à margem do XVII Fórum Econômico Euroasiático de Verona realizado em Ras al-Khaimah.

Ele esclareceu que ninguém está falando de uma moeda comum. "Não é o euro, não é o euro-BRICS, ou BRICS-euro", disse o vice-ministro.

Além disso, em sua opinião, as declarações que foram feitas há alguns dias pelo presidente eleito dos EUA, Trump, sobre a imposição de tarifas de 100% no caso de criação de moeda do BRICS, não poderiam influenciar as decisões sobre esse assunto.

"Isso é absolutamente falso. Acho que as declarações do presidente eleito dos EUA mudarão muitas vezes. Mais de uma vez, tanto para um lado quanto para o outro. Esse modo de se comportar foi peculiar a ele no primeiro mandato", concluiu Pankin.

•                        EUA 'não terão dinheiro para nada' se a questão da dívida nacional não for resolvida, alerta Musk

Se os EUA não resolverem o problema da crescente dívida nacional, eles podem ficar sem dinheiro para financiar até mesmo serviços básicos, disse nesta sexta-feira (6) o bilionário e eventual futuro líder do Departamento de Eficiência Governamental, Elon Musk.

"Se não abordarmos o crescimento exponencial da dívida nacional, não haverá dinheiro para nada, incluindo serviços essenciais", disse Musk no X.

A dívida pública dos Estados Unidos deverá aumentar para 121% do produto interno bruto (PIB) e atingir 131,7% em 2029, afirmou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório Fiscal Monitor no final de outubro.

A dívida nacional dos EUA ultrapassou a marca de US$ 36 trilhões (R$ 216,6 trilhões), atingindo o máximo histórico, de acordo com o Departamento do Tesouro dos EUA. Esta é a maior dívida nacional do mundo em termos nominais e aumentou US$ 2 trilhões (R$ 12 trilhões) desde o início do ano.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, anunciou anteriormente que Musk e o empresário Vivek Ramaswamy seriam nomeados para liderar o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Musk disse anteriormente que acreditava que o referido departamento visa aumentar a eficiência dos gastos com defesa dos EUA.

<><> Importações de platina russa nos EUA atingem volume recorde desde outubro de 2022

A Rússia aumentou os fornecimentos de platina para os EUA em outubro, atingindo o maior valor em dois anos, de US$ 203 milhões, representando quase um terço de todas as importações, de acordo com uma análise da Sputnik dos dados do serviço de estatística dos EUA.

Assim, em meados do outono no Hemisfério Norte as exportações cresceram 2,3 vezes em relação a setembro e 2,1 vezes em relação ao ano – até US$ 203 milhões. Esse é o maior volume de suprimentos desde outubro de 2022, quando totalizaram US$ 253 milhões.

A participação das empresas russas nas importações dos EUA foi de 31,5% em outubro, a maior desde abril de 2020.

Como resultado, a Rússia foi o segundo maior fornecedor de platina para os EUA, atrás apenas da África do Sul (US$ 270 milhões). Os cinco primeiros países também incluíam a Alemanha (US$ 51,5 milhões), a Itália (US$ 25,2 milhões) e a Bélgica (US$ 22,3 milhões).

Ao mesmo tempo, em apenas dez meses do ano corrente, o valor dos suprimentos russos, ao contrário, diminuiu em um quinto, para US$ 862 milhões.

•                        'Descontrole' na fronteira: EUA deveriam olhar para a saída de armas do país, apontam especialistas

Após ameaçar impor tarifas a produtos do México pela falta de controle na fronteira, Donald Trump, presidente eleito dos EUA, recebeu uma resposta atravessada da líder mexicana, Claudia Sheinbaum: "Não produzimos armas, não consumimos drogas sintéticas. Infelizmente, fornecemos os mortos pelo crime para responder à procura de drogas no seu país."

A fala da presidente mexicana explicita um problema presente em muitos outros países da América Latina e do mundo, como o próprio Brasil. No Rio de Janeiro, cidade conhecida pelo enfrentamento de organizações criminosas, 47% dos fuzis apreendidos têm origem estadunidense, afirmou o secretário de segurança pública do estado do Rio de Janeiro, Victor dos Santos.

Esse fato parece ignorado pelos governos ocupantes da Casa Branca, sejam democratas ou republicanos. Em vez de olhar para si mesmos como os causadores do problema de segurança pública do continente, por conta de seu grande mercado consumidor de drogas, como aponta Sheinbaum, ou pelo descontrole na saída de armas de fogo, os estadunidenses se veem como vítimas da violência "importada" dos vizinhos do sul através da fronteira com o México.

"Grande parte da atenção pública e política norte-americana é voltada para a entrada ilícita de drogas no país e para a imigração irregular", explica a assistente social Kharine Gil, mestra e doutoranda em sociologia no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e pesquisadora do Dicionário de Favelas Marielle Franco, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), à Sputnik Brasil.

"No entanto, deveria existir um enfoque maior sobre os fluxos que saem dos Estados Unidos, como armas, drogas e dinheiro ilícito."

Segundo a especialista em segurança pública, a legislação de posse e porte de armas estadunidense "favorece o comércio ilegal" desses itens, "pois muitas são obtidas legalmente e posteriormente contrabandeadas".

Dessa forma, o "descontrole" na fronteira sul estadunidense tão alardeado pelo novamente eleito Donald Trump "não deve ser posto apenas sobre o que entra, mas também sobre o que é exportado ilegalmente de lá".

Embora a saída pela fronteira com o México seja a principal rota, diz Gil, "embarques marítimos e aéreos também são utilizados. Uma das rotas conhecidas fica entre Brasil, Peru e Colômbia, passando pelo rio Solimões e outras regiões do Amazonas, até o Rio de Janeiro".

A chegada dessas armas aos países da América Latina fortalece a disputa das organizações criminosas pelo poder, "agravando a violência urbana e os conflitos armados locais, inclusive aumentando os índices de homicídios nesses territórios".

"Que azar do México", disse uma vez o ex-presidente Porfirio Díaz. "Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos."

<><> Percepção turva não é de hoje

O problema de percepção de si mesmo é "histórico", diz Thiago Godoy Gomes de Oliveira, doutorando em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e pesquisador colaborador no Observatório Político dos Estados Unidos (OPEU).

"São nítidos os momentos nos quais os Estados Unidos buscaram fazer de outras nações palcos para conflitos desencadeados por eles mesmos. Basta lembrarmos das famosas guerras por procuração."

Nesse sentido, a mais famosa dentro do tema é a chamada "Guerra às Drogas", que, embora tenha sido lançada no governo de Richard Nixon (1969–1974), se tornou símbolo da era Ronald Reagan (1981–1989), que a instrumentalizou para avançar os interesses econômicos e estratégicos dos EUA pelo resto do continente americano, descreve Oliveira.

A partir dessa iniciativa, os Estados Unidos desenvolveram o Plano Colômbia, durante o governo de Bill Clinton. A medida viu um grande aporte de recursos financeiros e militares para o combate ao narcotráfico colombiano.

"Esse combate intensivo e militarizado não se provou eficaz até hoje, longe disso", diz o pesquisador do OPEU. "É impossível estancar esse mercado ilegal quando os maiores consumidores não reconhecem a própria ineficácia em conter a entrada de drogas e a crescente demanda dentro de seus países."

Para o especialista, se o cenário com Joe Biden "já não era promissor", com Trump a expectativa é de uma continuidade "da lógica de securitização do tema do abuso de drogas ilícitas".

"Podemos esperar com toda certeza que o Trump depositará toda a sua energia onde a maior parte do problema não se encontra: na questão da imigração no país."

•                        Soldados ucranianos servem indefinidamente na linha de frente por carência de pessoas, diz mídia

Uma enorme escassez de efetivos faz o Exército ucraniano não substituir os soldados que estão na linha de frente, o que, por sua vez, faz com que muitos deles abandonem as posições e nunca mais voltem, relata a Bloomberg.

Os últimos tempos são considerados por muitos especialistas como os piores para a Ucrânia de todo o período do conflito, já que há meses que as Forças Armadas ucranianas estão recuando constantemente, perdendo, às vezes, vários povoados em um dia.

O artigo cita os dados da Procuradoria da Ucrânia, segundo os quais há cerca de 96.000 casos criminais contra os militares que abandonaram suas posições desde 2022.

Tendo aumentado seis vezes desde o início do conflito, a maioria dos casos de deserção são deste ano.

Um especialista entrevistado pela Bloomberg disse que a quantidade dos desertores pode ultrapassar 100 mil, o que não está longe do objetivo da mobilização de recrutar 160 mil efetivos.

"Algumas tropas são destacadas indefinidamente, sem chance de descanso. Novas tropas para substituí-las são escassas", diz o artigo.

Portanto, o comando ucraniano envia para as trincheiras especialistas qualificados como infantaria de assalto.

Esse fato também agrava a situação com a deserção nas Forças Armadas da Ucrânia, criando mais uma razão para os soldados desertarem.

Mais cedo, em uma coletiva de imprensa em Bruxelas, o secretário de Estado Antony Blinken chamou a questão da mobilização na Ucrânia de crítica, dizendo que Kiev terá que tomar decisões difíceis sobre a mobilização, mas que ela é necessária.

Aqui se trata da exigência do Ocidente, relatada pela mídia ocidental, de que as autoridades ucranianas devem diminuir o limite inferior da mobilização até 18 anos, para recrutar o maior número possível de homens adultos do país.

Porém, o governo ucraniano ainda não decidiu aceitar essa recomendação.

"Sem reformas, temos menos pessoas motivadas a continuar lutando", disse um soldado entrevistado pela Bloomberg que desertou da sua unidade há pouco.

•                        Ministro da Defesa alemão não exclui possibilidade de envio de forças de paz à Ucrânia

O ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, não descarta a possibilidade de enviar uma força de paz da Bundeswehr para participar de uma operação de manutenção da paz na Ucrânia, disse ele em entrevista à Deutschlandfunk.

"Nós nos preparamos, nós trabalhamos os cenários [de envio de tropas], mas fazemos isso de forma discreta," disse ele.

Pistorius acrescentou que as condições de destacamento de um contingente dependeriam do mandato, do escopo e das condições apresentadas pelas partes no conflito. Ao mesmo tempo, o ministro enfatizou que a Alemanha exclui a participação de tropas terrestres em operações de combate na Ucrânia.

De acordo com Pistorius, é impossível falar sobre o futuro da Ucrânia neste momento, porque vários cenários estão sendo analisados no país, cuja divulgação prematura não ajudará ninguém.

Anteriormente, a mídia alemã informou que a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, teria admitido o envio de militares da Bundeswehr à Ucrânia para garantir um cessar-fogo. No entanto, ao responder a uma pergunta de jornalistas em Bruxelas, Baerbock limitou-se a fazer afirmações gerais e não falou diretamente sobre o envio de tropas.

 

Fonte: BBC News/Sputnik Brasil

 

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