segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

RAÚL ZIBECHI: LIÇÕES DO ORIENTE MÉDIO À AMÉRICA LATINA

Agora que os Estados Unidos alcançaram boa parte dos seus objetivos no Oriente Médio e têm espaço para se ocupar de outros continentes. Agora que ninguém pode colocar em dúvida que o Ocidente criou e financiou grupos terroristas, como a Al-Qaeda. Quando fica evidente que entre os objetivos fundamentais do capitalismo está a destruição dos estados-nação, porque acumula mais e melhor em situações caóticas. Agora, devemos olhar para o nosso continente para refletir sobre o que nos espera nos próximos anos.

Vamos aprendendo também que os chamados “geopolíticos” são apenas propagandistas, salvo exceções, que se limitam a acobertar os objetivos das potências para as quais trabalham. Isto nos obriga a pensar com as nossas próprias cabeças, mas com os pés bem firmes no chão e nos territórios de nossos povos. Tomar ideias emprestadas é um jeito errado de nos orientarmos na tempestade.

Penso que o Oriente Médio, assim como a Líbia, o Iêmen e tantos outros países destruídos pela intervenção “humanitária” dos impérios, pode servir de espelho para pensarmos o que vem pela frente. Não porque vamos ter exatamente o mesmo destino, mas para tirar lições que nos permitam antecipar o que o capitalismo prevê para os nossos territórios.

A primeira é que almejam a destruição dos estados-nação, criação neocolonial das burguesias crioulas para seguir oprimindo os setores populares quando as metrópoles europeias não davam mais conta disto. Temos um exemplo muito próximo: o Equador. Foi um dos países menos turbulentos e mais pacíficos da região. Em bem poucos anos, tornou-se um inferno para os de baixo. Assim que o sol se põe, a população se fecha em suas casas, sem eletricidade e com pouca água, porque sair às ruas é perigoso. O protesto social foi silenciado e a militarização se tornou a norma.

Precisamos saber como fizeram isso. Incluindo o papel abominável dos meios de comunicação, que são capazes de transformar um terrorista, por cuja cabeça os Estados Unidos ofereciam 10 milhões de dólares, em um “rebelde moderado” ou em um autêntico democrata.

A segunda é que o capital e os seus auxiliares (do Pentágono e os governos ao suposto crime organizado) cooperam para alcançar os seus objetivos. É evidente que não os anunciam, nem os proclamam. Ninguém diz “vou destruir o seu país”. Escondem os seus planos para executá-los melhor. Por isso, devemos interpretar as suas intenções pelas tendências que podemos observar. Sigo pensando que as colocações do EZLN no seminário Pensamento crítico frente à hidra capitalista, em maio de 2015, e a dissertação do subcomandante Marcos, Quais são as características fundamentais da quarta guerra mundial?, são elementos centrais para compreender este mundo.

A terceira é que, de imediato, o principal objetivo do capitalismo estadunidense na região é deter e reverter a presença da China, para a impedir o acesso aos bens comuns do continente. Busca reverter a presença da China na região, refletida na recente inauguração do Porto de Chancay, no Peru. Assim como no Oriente Médio, estão dispostos a pular qualquer obstáculo legal ou humanitário.

O subsecretário de Estado para o Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente da Casa Branca, José W. Fernández, projetou as futuras relações do seu país com a América Latina e se deteve em um punhado de nações. Como exemplo, disse que “estamos trabalhando estreitamente com o Equador em temas de segurança, cadeias de abastecimento e geração de empregos”. Omitiu que estão negociando a instalação de bases militares.

Parabenizou El Salvador por “destinar economias da redução da dívida para projetos de preservação ambiental”. Bukele chegou a um acordo com os Estados Unidos para financiar a recompra de títulos da dívida externa por um bilhão de dólares. Os dois países são governados com regimes de exceção, onde governam as forças armadas. “Os Estados Unidos já possuem 76 bases militares na América Latina e querem mais”, afirma o analista Alfonso Insuasty.

A quarta é que o capitalismo precisa impedir que os povos se organizem e se levantem, como acontecia em vários países da região. A principal tendência do capital global consiste em subjugar os povos, impedir que implementem as suas iniciativas e tentar deslocá-los de lugares onde existem bens comuns dos quais decidiu se apropriar.

É para a matança do povo palestino que devemos olhar. Agora, sabemos que os de cima podem exterminar povos inteiros à vista do mundo, sem limites e quase sem oposição. Enquanto isso, os cidadãos/consumidores seguem indiferentes em sua vida cotidiana, até que a tempestade os arrase.

Estamos na era dos genocídios. Não resta outra coisa a não ser se resguardar das tempestades, evitar as guerras e semear o futuro em silêncio, em comum e em comunidade.

 

¨      Rejeição do relatório da UNESCO sobre jornalistas mostra a 'autonomia do Sul Global'

A não aprovação do relatório da diretora-geral da UNESCO sobre os assassinatos de jornalistas em todo o mundo, que omitiu as mortes de jornalistas russos, revela a crescente autonomia de um bloco mundial que não segue os ditames de Washington, disse Damián Bio, especializado em direito internacional, à Sputnik.

Na última quinta-feira (12), foi realizada em Paris uma sessão do Conselho Intergovernamental do Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação da UNESCO.

A agenda incluiu a discussão do relatório sobre a segurança dos jornalistas e o problema da impunidade nos anos 2022-2023. O documento não foi aprovado. Isto depois de a Rússia e vários outros países terem repudiado a omissão das mortes de trabalhadores da imprensa russa no documento.

Para o especialista argentino formado pela Universidade de Buenos Aires Damián Bio, esta rejeição demonstra não só a perda de confiança nas instituições internacionais geridas pelos EUA, mas também "a crescente autonomia e poder do Sul Global".

"Não há muitos anos, uma posição tão forte dentro da própria UNESCO teria sido impensável, uma vez que a hegemonia dos EUA e de seus aliados era absoluta e a censura não era permitida", salienta.

No entanto, o especialista destaca também que o enfraquecimento dos Estados Unidos e de seus aliados a nível internacional, graças em grande parte ao ressurgimento da Rússia e ao advento da China como a segunda maior economia do mundo, tornou possível não só o reconfiguração do tabuleiro de xadrez mundial, mas também levou a uma discussão renovada, mais equilibrada e justa sobre questões globais.

Nesse sentido, Bio afirma que enfrentar a UNESCO "é mais uma peça desta nova realidade", percebendo que o que dizem organizações como as Nações Unidas não é tomado como verdade absoluta pelo resto do mundo, pois é evidente que são instituições que defendem os interesses geopolíticos ocidentais.

Esta semana, o Clube Mexicano de Jornalistas se juntou à exigência para que a UNESCO corrigisse o relatório sobre a morte de jornalistas nos anos 2022-2023, por ignorar os trabalhadores da mídia russa.

"Estamos surpresos pelo referido relatório omitir – sem qualquer justificativa, mesmo na metodologia aplicada – o delicado caso dos jornalistas russos que tombaram no exercício de uma missão profissional, como a reportagem em uma frente e em contexto de guerra", escreveu Celeste Sáenz de Miera, secretária-geral da associação jornalística, em sua conta na rede social X.

Sáenz de Miera solicitou ao órgão cultural das Nações Unidas, em nome da associação, que retificasse esta falta de informação, verificasse os dados precisos e os dados das organizações de jornalistas russas, além de incluir seus nomes no relatório em um anexo.

Numerosos meios de comunicação e associações russas, bem como dirigentes do Sindicato dos Jornalistas Russos e do Sindicato dos Jornalistas de Moscou enviaram uma carta à diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, para protestar contra a parcialidade do relatório.

Além disso, vários altos funcionários do governo russo também expressaram seu repúdio, incluindo a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, o embaixador russo na UNESCO, Rinat Alautdinov, e o próprio chanceler da Rússia, Sergei Lavrov.

¨      Sul Global está 'extremamente decepcionado' com fim de audiências do clima em Haia

Uma porta-voz das nações mais vulneráveis às mudanças climáticas expressou, nesta sexta-feira (13), sua "enorme decepção" com a postura das grandes potências poluidoras e solicitou ao tribunal superior da Organização das Nações Unidas (ONU) que as responsabilize legalmente por suas emissões de gases.

Os juízes da Corte Internacional de Justiça (CIJ) escutaram durante dez dias os argumentos das principais economias globais, que foram refutados por pequenas nações insulares e organizações que defendem os países mais suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas.

As audiências evidenciaram as divergências entre os maiores emissores de gases responsáveis pelo aquecimento global e as nações que mais sofrem com as consequências dessas mudanças no clima.

A maioria das grandes economias, como Estados Unidos, China e Índia, defende que a CIJ não deve modificar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Em nome de um grupo de 79 países da África, Caribe e Pacífico, Cristelle Pratt declarou à mídia estrangeira que há uma "enorme decepção".

"Não podemos depender apenas dos tratados climáticos para enfrentar essa crise global", afirmou Pratt, que é secretária-geral adjunta da Organização dos Estados da África, Caribe e Pacífico (ACP).

¨      Ideias de Trump de deportar imigrantes levarão a outra crise como a de 2008, diz Congresso dos EUA

As propostas do presidente eleito dos EUA Donald Trump de deportar imigrantes em massa ameaçam prejudicar a economia do país, reduzir a força de trabalho e aumentar a inflação, diz um relatório publicado pelo Comitê Econômico Conjunto do Congresso estadunidense.

Cerca de 10,5 milhões de imigrantes ilegais vivem nos EUA no momento.

Se 8,3 milhões de imigrantes ilegais forem deportados, o PIB dos Estados Unidos vai cair 7,4% e o emprego 7,0% até 2028, afirmaram os senadores democratas com base em cálculos do Instituto de Economia Internacional Peterson.

De acordo com outras estimativas, a deportação de um milhão de pessoas por ano, até não haver mais imigrantes sem documentos nos EUA, ameaça resultar em uma perda do PIB entre 4,2% e 6,8% ou US$ 1,1 trilhão a US$ 1,7 trilhão (R$ 6,65 a 10,27 trilhões).

O problema vai ser mais grave no Texas, na Flórida e na Califórnia.

Destaca-se que, durante a crise financeira global de 2008, a economia dos EUA sofreu uma contração de 4,3%.

Com as deportações em massa, o relatório prevê que o custo de produtos e serviços em setores como a agricultura, construção e saúde aumentem para os cidadãos dos EUA, já que os imigrantes ilegais desempenham um papel importante nessas áreas.

"Eles cultivam, colhem e processam os alimentos dos americanos; constroem casas em comunidades de todo o país e prestam assistência domiciliar a idosos e outras pessoas. Sem a mão de obra imigrante, esses setores enfrentarão escassez de mão de obra, exacerbando ainda mais as suas necessidades de pessoal", indica o documento.

De fato, muitos setores estão com falta de trabalhadores.

Por exemplo, 282 mil vagas estavam por ocupar no setor de construção em setembro de 2024, sendo necessárias 454 mil pessoas para atender à demanda de mão de obra no próximo ano.

Trump prometeu, no primeiro dia de sua presidência anterior, lançar "o maior programa de deportação da história americana para remover criminosos".

O jornal The New York Times disse que o político planeja organizar batidas em massa para procurar pessoas sem documentos, simplificar o processo de expulsão, proibir a entrada de imigrantes de determinados países "problemáticos" e abolir o direito de filhos de pais sem documentos de obter cidadania no país.

<><> Quase 70% dos franceses duvidam que novo premiê traga estabilidade ao país

Uma nova pesquisa indicou que 67% dos franceses não acreditam que o novo primeiro-ministro, François Bayrou, será capaz de restabelecer a estabilidade política no país.

Os dados foram levantados pela empresa de pesquisas Elabe para a rede midiática BFMTV. Ao todo, foram ouvidas 1.009 pessoas. A margem de erro não foi indicada.

O levantamento indicou também que 52% dos entrevistados duvidam que Bayrou conseguirá formar um gabinete amplo e realizar um acordo com a oposição sobre o projeto de lei orçamentária de 2025.

O presidente francês Emmanuel Macron indicou o centrista François Bayrou, líder do partido Movimento Democrático (MoDem), como primeiro-ministro do país em 13 de dezembro.

O movimento político segue a renúncia do predecessor, Michel Barnier, após um voto de não confiança da Assembleia Nacional, parte de uma maior crise política que assola o país desde uma derrota da coalizão macronista nas eleições do Parlamento Europeu.

Essa foi a primeira vez que o governo francês foi dissolvido por um voto de desconfiança do parlamento desde 1962.

Barnier foi declarado o chefe de governo em 5 de setembro após quase dois meses de paralisia da assembleia pela falta de consenso para eleger um premiê.

Sua chegada ao poder foi acompanhada de protestos populares depois que Macron se recusou a apontar Lucie Castet, da coalizão de esquerda Nova Frente Popular, a maior do parlamento, para a posição.

 

Fonte: IHU/Sputnik Brasil/Opera Mundi

 

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