Ucrânia: a um passo da derrota do Ocidente
Nesta entrevista, o sociólogo Rafael Poch-de-Feliu responde a
questões cruciais que estão surgindo sobre a escalada bélica no conflito
ucraniano: Por que e como chegamos a este momento? O que está acontecendo na
linha de frente? Que reações estão se desencadeando na Ucrânia e entre as
principais potências do mundo? Donald Trump vai acabar com a guerra? Que
consequências podem ser previstas?
LEIA A ENTREVISTA:
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Após mais de dois
anos do início da Guerra da Ucrânia, quais são as principais
consequências no plano mundial e, em particular, na Europa?
A “guerra da Ucrânia” não é uma, mas três. Por ordem de
relevância cronológica: a guerra da OTAN contra a Rússia; a guerra civil entre
ucranianos; e a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Esta última não teria sido
possível sem as outras duas. Esse fato não elimina a grave responsabilidade da
Rússia por sua invasão de fevereiro de 2022, violando o direito internacional –
mas a coloca em seu contexto e dimensão real. Na minha opinião, a
responsabilidade geral por essa tripla guerra é 70% ocidental e 30%
russo-ucraniana. Podemos discutir essa divisão, e é importante fazê-lo, mas o
que não podemos fazer é renunciar à realidade e abraçar as narrativas
oferecidas pelas instituições, thinktanks e meios de
comunicação europeus sobre a “luta entre democracia e autocracia” e a “agressão
russa não provocada”.
O principal vetor do conflito tem origem no término mal
resolvido da Guerra Fria, há três décadas. Trata-se de infligir uma “derrota
estratégica” à Rússia. Se em Gaza todas as pessoas informadas entendem que a
violência não começou em 7 de outubro de 2023, mas setenta anos antes, em
relação à Ucrânia ignora-se o contexto. Em 1992, em Washington, decidiu-se que
os Estados Unidos haviam vencido a Guerra Fria e, portanto, poderiam impor seu
domínio hegemônico de forma unilateral.
Esse esquema funcionou ao custo de uma série de guerras
desastrosas contra a Iugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e outros,
resultando em mais de quatro milhões de mortos, cerca de 40 milhões de
deslocados e sociedades inteiras desestruturadas. Após a grande festa
privatizadora-predatória dos anos 1990 na Rússia, a elite desse país quis
restabelecer seu papel soberano no mundo.
A elite russa acreditava que seria admitida em pé de igualdade
na internacional capitalista de predadores, mas o capital ocidental apenas lhe
oferecia um papel de “burguesia compradora”, subsidiária-intermediária no
comércio internacional de recursos e matérias-primas que a Rússia, que ocupa um
sétimo da superfície terrestre, possui em enorme abundância.
A identidade secular da Rússia como grande potência impedia
aceitar esse papel de vassalo. Esse é o choque fundamental do qual derivam os
demais: a pressão militar, o avanço da OTAN em direção ao leste, as sanções e a
guerra.
O segundo elemento da situação é o avanço chinês e a mudança que
ele produz na correlação geral de forças no mundo. Alguns dos antigos “anões”
do Sul hoje são gigantes e têm capacidade para ser soberanos.
A soma de ambos os fatores – o russo e o chinês – abre possibilidades
sem precedentes para acabar com o domínio que o Ocidente exerce sobre o mundo
de forma unilateral e para afirmar algo mais compartilhado. Isso exige uma
reforma profunda das instituições internacionais desenhadas pelo Ocidente após
a Segunda Guerra Mundial, sob medida para seu domínio: ONU, FMI, Banco Mundial,
OMS, OMC, entre outras.
A crise geral do mundo atual consiste, fundamentalmente, no fato
de o Ocidente tentar resolver por meios militares o problema do declínio de seu
domínio mundial indiscutível ao longo dos últimos séculos.
Esse é um problema geral do Norte global – ou seja, também afeta
a Rússia, porque todos entendem que, apesar de sua recuperação atual, ela não
voltará a ser a potência que foi com a União Soviética. Mas é, sobretudo, um
problema do Ocidente.
Isso, me parece, é o que a maioria da população mundial deduz do
que está sendo visto na Ucrânia, como refletem as votações na ONU.
Condena-se a invasão russa, mas fora do Ocidente ninguém apoia
as sanções contra a Rússia, pois entende-se que qualquer país que pretenda ser
soberano, dono de seu destino no mundo, sofrerá esse “remédio” do Ocidente.
E isso também explica a criação de mecanismos econômicos e
alianças alternativas que, graças ao peso específico da China, permitem à
maioria mundial se libertar das amarras ocidentais e experimentar outras
fórmulas: Brics, Organização de Cooperação de Xangai, integração euroasiática,
entre outras.
Essa é a principal consequência mundial que emerge da disputa na
Ucrânia.
Em relação à Europa é preço observar o enorme desastre que
representa uma nova grande guerra no continente. Ela já causou centenas de
milhares de mortes entre ucranianos e russos, mas, se se expandir, pode
provocar muitas mais na Europa Central e Oriental. Mas a principal consequência
é a submissão da União Europeia aos Estados Unidos.
Com a guerra, Washington conseguiu romper dois processos que o
deixavam fora de qualquer controle sobre o velho continente, o que reduziria
muito seu poder global.
O principal processo é a integração euroasiática que a China
tenta promover, do Pacífico ao Atlântico. Nessa Eurásia, os Estados Unidos não
figuram geograficamente. Porém, a União Europeia está, de forma insensata,
entrando em conflito com seu principal parceiro comercial.
O segundo é a complementariedade dos recursos energéticos e
científicos russos com a tecnologia e o capital europeu, especialmente alemão.
Lembremos que a Rússia não “cortou o gás para a UE”, como se afirma, mas foi a
própria União Europeia que renunciou à energia russa, com a ajuda dos Estados
Unidos sabotando gasodutos, aliás…
Apoiada nesses dois vetores, a União Europeia poderia se tornar
a península ocidental da grande Eurásia, e alcançaria uma autonomia estratégica
dentro desse grande conglomerado, algo contra o quê muitos documentos e
estrategistas dos Estados Unidos alertam desde meados dos anos 1990.
Mas a atual geração de políticos europeus demonstrou ser muito
inepta, algo que merece ser estudado. Assim, em vez disso, hoje temos uma União
Europeia submissa aos Estados Unidos no papel de “ajudante do xerife”, o que é
um desastre para o futuro econômico e político da Europa, como começamos a
perceber.
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No que diz respeito
aos avanços bélicos e às relações diplomáticas entre os contendores, qual é a
situação atual da guerra?
A situação é desfavorável para a Ucrânia. Os Estados Unidos
priorizam a ajuda militar a Israel e os preparativos para um front chinês, mas
não podem atender aos três. A ajuda militar dos Estados Unidos à Ucrânia está
diminuindo.
Portanto, trata-se de transferir a questão para a União
Europeia, mas esta não possui a capacidade militar produtiva necessária para
assumir o controle.
A Alemanha transferiu um sistema de defesa antiaérea para a
Ucrânia, dos oito que possui. A França poderia transferir dois sistemas dos dez
que tem, mas para proteger a Ucrânia da aviação e dos mísseis russos de forma
eficaz, seriam necessárias muitas dezenas, segundo os militares.
Não existe capacidade europeia para isso. Seriam necessários
muitos anos. Não digo que a Rússia não tenha problemas, mas, por enquanto, as
sanções incentivaram a diversificação de fornecedores e fortaleceram a
indústria local – algo que eu mesmo não esperava.
Não se sabe se isso será sustentável a longo prazo, mas a
economia russa crescerá este ano mais do que qualquer outra europeia, cerca de
4,2%.
Enquanto isso, a Ucrânia enfrenta um sério problema de falta de
efetivos. Segundo o Financial Times, que em agosto citou o chefe da
comissão de desenvolvimento econômico do parlamento ucraniano, Dmitri Nataluji,
cerca de 800 mil homens ucranianos em idade militar “passaram à
clandestinidade”, mudando de residência e trabalhando informalmente para não
deixar registros trabalhistas e evitar a mobilização.
Os efeitos da carnificina que a Ucrânia está sofrendo são
incomensuráveis. Em junho do ano passado, 78% dos cidadãos declararam ter
parentes próximos e amigos que morreram ou ficaram feridos na guerra. Desde sua
independência, o país perdeu entre 15 e 20 milhões de habitantes; ninguém sabe
ao certo o número exato. Vale lembrar que a Rússia é o país que acolhe o maior
número de emigrantes ucranianos.
Enquanto isso, Putin administrou com habilidade sua máquina de
guerra russa. Os voluntários russos recebem um salário de 2,1 mil dólares por
mês e, ao se alistarem, ganham um bônus de US$ 4,1 mil. Se morrerem em combate,
suas famílias recebem até 150 mil dólares, sendo US$ 50 mil imediatamente e o
restante em diversos prazos. Se forem feridos, podem receber até 75 mi dólares.
Em todos os lugares, são os pobres que fornecem mais soldados
para as guerras, mas na Rússia esse sistema lota os escritórios de recrutamento
e, por enquanto, garante o consenso de uma sociedade ainda menos disposta a
“morrer pela pátria” do que a ucraniana. 2.100 dólares equivalem a cinco ou seis
vezes o salário médio nas regiões pobres do país. Com esse dinheiro, um soldado
resolve a economia de sua família e de seus parentes próximos, por assim dizer.
Atualmente, em regiões pobres como Tuva ou Buriátia, há uma
explosão nos depósitos bancários – o dobro da média russa… Tudo isso permite a
Putin manter a guerra sem necessidade de uma mobilização geral, que criaria
problemas e protestos entre a maioria sensata das classes médias.
Naturalmente, tudo isso mudaria se a OTAN interviesse com tropas
em solo russo e se confirmasse o cenário patriótico de uma nova grande invasão
ocidental à mãe Rússia, como as de Napoleão e Hitler. Mas, por ora, as coisas
estão assim.
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Quais têm sido as
principais reações internacionais à guerra? Quais posições as principais
potências mundiais sustentam?
No Sul Global, a Ucrânia tende a ser vista como um instrumento
do hegemonismo ocidental, independentemente do grau de discordância em relação
à invasão russa.
Na China, há uma consciência de que a pressão da OTAN contra a Rússia
faz parte de algo que vem sendo preparado e anunciado contra o próprio país há
anos.
No início da guerra, quando o Ocidente exigia que a China
aderisse às sanções contra a Rússia, a comentarista da televisão chinesa Liu
Xin formulou a questão da seguinte forma: “O que estão nos dizendo é:
ajudem-nos a lutar contra seu amigo para que depois possamos nos concentrar
melhor em lutar contra você”.
Tudo isso faz com que a causa ucraniana careça de apoio fora do
“Ocidente ampliado”: União Europeia, Canadá, Austrália e os aliados asiáticos
do Ocidente, como Japão e Coreia do Sul.
Na Europa, esse conflito deu força às antigas vítimas da URSS no
Leste Europeu, como a Polônia e as repúblicas bálticas, que têm grande
influência na narrativa da União Europeia e da OTAN. A influência desses
países, estreitamente ligados aos Estados Unidos, nos dois blocos de Bruxelas
decorre de sua extrema beligerância contra a Rússia.
Pessoas como a nova responsável pela política externa da UE, a
estoniana Kaja Kallas, e o novo responsável pela defesa comum, o lituano
AndriusKubilius, sonham com a dissolução da Rússia em pequenos Estados e
representam a garantia de uma linha de confronto que será muito difícil de
reverter.
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Seria algo
anedótico, não fosse o fato de que essa linha encontrou terreno fértil na
Alemanha, onde os netos daqueles que perderam em Stalingrado resgatam velhos
ressentimentos contra os “sub-humanos” soviéticos que os derrotaram. A
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen é uma delas.
Nesse conflito, a Alemanha é um país-chave que deveria deitar no
divã do Dr. Freud. O tímido chanceler Scholz jogou pela janela o que restava da
cultura social-democrata em questões de relações exteriores, mas expressa
algumas dúvidas a partir da fraqueza de seu precário governo de coalizão.
Naturalmente, a invasão russa acelerou esse revanchismo, mas,
mesmo antes de 2022, a história europeia já estava sendo reescrita, de acordo
com o roteiro dos anos 1950 daquela caverna ex-nazista da Alemanha reciclada no
pós-guerra como lutadora contra o comunismo, junto com seus colaboracionistas e
vítimas da URSS no Leste Europeu.
Nesse contexto, a França não marca presença – nem se espera o
faça – e os escandinavos surpreendem por sua beligerância, algo que alguém
deveria explicar.
Por enquanto, os únicos que expressam posições de bom senso são
o direitista Viktor Orban, na Hungria, cuja postura em relação ao massacre de
Israel em Gaza é indecente; e os eslovacos, ambos tachados de “pró-Rússia” na
UE por sua oposição à espiral de escalada bélica.
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Como você acha que a
eleição de Trump como presidente dos Estados Unidos influenciará na guerra?
O mais provável é que Trump cause um desastre em seu próprio
país. Ele tem faro e instinto político para vencer eleições, jogando com os
interesses dos mega ricos e os instintos mais baixos do populacho, mas duvido
que saiba governar.
Ele já indicou para seu governo pessoas variadas, dispostas a
aprofundar o suicídio de Israel no Oriente Médio e a lutar contra o Irã e a
China. Ao mesmo tempo, quer nomear TulsiGabbard, que acusou os Estados Unidos
de apoiar terroristas na Síria e de provocar a invasão russa da Ucrânia ao
ignorar os interesses de segurança de Moscou, como Diretora Nacional de
Inteligência, supervisora das agências imperiais.
Trump diz que expulsará os imigrantes ilegais, que somam vários
milhões, e que resolverá a guerra da Ucrânia em “24 horas”. Sua declaração de
guerra comercial “contra todos” se voltará contra seu próprio país, criando
mais inflação, dívida e queda no nível de vida para a maioria. Portanto, o mais
provável é que, em vez de “tornar a América grande novamente”, ele cause um
grande desajuste que acelere o declínio mundial dos Estados Unidos. Ele pode
ser uma espécie de “Yeltsin americano”, o presidente russo responsável pelo
desastre dos anos 1990, que leve Washington a um conflito aberto com o Irã e a
China.
O principal thinktank do Pentágono, a RAND Corporation, afirma
que os Estados Unidos não poderão vencer esse confronto. Vamos ver, mas, por
enquanto, o que é certo é que a ajuda militar e econômica à Ucrânia será muito
reduzida.
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Para terminar, qual
futuro você acha que aguarda a Ucrânia? E a Europa?
É preciso começar a questionar as consequências de uma derrota
ocidental na Ucrânia. Isso poderia não apenas desmantelar a OTAN, mas
seguramente teria consequências fora da Europa, como, por exemplo, na AUKUS,
essa espécie de OTAN do Pacífico orientada contra a China que Washington
promove; e, em geral, para toda a rede sobre a qual se sustenta o poder
imperial dos Estados Unidos no mundo.
Alguns países que possuem bases militares dos Estados Unidos – e
são muitos – deixariam de confiar nelas como forma de proteção. Por sua vez,
tal derrota aceleraria os movimentos de desdolarização da economia mundial que
já estão em andamento. Por isso, o Ocidente resistirá muito em admitir uma
derrota. Para que o conflito não escale para uma guerra maior, muito dependerá
de como ele será encerrado, da habilidade e inteligência das partes envolvidas.
De qualquer forma, as guerras deixam apenas feridas humanas. Por
enquanto, o que se desenha é uma Ucrânia derrotada, ressentida e, física,
geográfica e demograficamente, mutilada.
Em relação à Rússia, é preciso perguntar o que significaria sua
vitória. Certamente, do ponto de vista externo, ela sairia fortalecida em
prestígio e credibilidade, mas me pergunto como o Kremlin administraria os
territórios retirados da Ucrânia. Haverá consenso interno em relação a uma
anexação? Haverá resistência armada, clandestinidade, “terrorismo” e
“antiterrorismo”? Certamente, na Crimeia e no Donbass há bastante consenso, mas
e nas províncias de Kherson e Zaporizhzhia, por exemplo?
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A vitória será
estável para a Rússia ou será um câncer? Muito dependerá de como o conflito
será encerrado, mas a divisão, o ódio e o ressentimento em relação à Rússia por
parte de uma boa parcela de toda uma geração de ucranianos precisarão ser
colocados na conta.
No plano interno, a guerra e a confrontação com o Ocidente já
estão transformando as opções do regime russo. Seu contrato social com a
população está se abrindo para uma maior redistribuição de renda, suas posições
internacionais estão se “sovietizando” no sentido de se aproximarem das da
antiga URSS, e há um controle ainda maior sobre a dissidência.
Teremos que ver. Por enquanto, se triunfar na guerra de maneira
convincente para sua população, o regime bonapartista de Putin conseguirá adiar
por mais alguns anos suas contradições internas, sua falta de pluralismo e de
mecanismos de alternância e renovação no poder, o que gera uma oposição focada
no colapso frontal e total do regime, devido à ausência de espaços e canais de
consenso e reforma, além dos problemas relacionados à sucessão do líder, entre
outros.
Todos esses problemas continuam presentes e ressurgirão algum
dia. Mas tudo o que foi mencionado me parece anedótico em comparação ao
principal: sempre tivemos guerras, mas nunca a contradição entre a estupidez
guerreira das potências e a urgente necessidade de que elas entrem em acordo
para enfrentar os problemas das mudanças globais que ameaçam diretamente a
humanidade foi tão grande.
No século XXI, devemos observar todas essas guerras a partir da
evidência de uma visão mais ampla e fundamental de nossa realidade como
espécie. Os problemas das mudanças globais aumentam à medida que não são
enfrentados com uma estreita cooperação internacional, e estamos perdendo um
tempo precioso, que não temos.
Se quisermos deixar para as futuras gerações um planeta
habitável em seus equilíbrios mais fundamentais, é necessário mudar completamente
o sistema socioeconômico e a mentalidade.
Fonte: Por Rafael Poch em entrevista ao Diario Socialista |
Tradução: AntonioMartins em Outras Palavras
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