O "indício
concreto" que, segundo a PF, deve incriminar Bolsonaro no caso das joias
O
delegado Adalto Ismael Machado, da Polícia Federal, concedeu esta semana à
defesa de Jair Bolsonaro uma cópia do inquérito que apura o caso das joias
árabes que o ex-presidente tentou se apropriar ilegalmente. O ex-mandatário
foi, que retornou ao Brasil esta semana após 3 meses nos Estados Unidos, foi
intimado a prestar depoimento aos investigadores na próxima quarta-feira (5).
No
inquérito ao qual os advogados de Bolsonaro tiveram acesso, o delegado
responsável pela investigação fala em "indícios concretos" do
envolvimento do ex-presidente no escândalo, sinalizando que ele pretendia, ao
contrário do que diz sua defesa, ficar com as joias em caráter pessoal,
violando a lei que prevê a incorporação dos presentes de alto valor dados por
autoridades de outros países ao patrimônio do Estado.
O
principal indício, segundo reportagem do jornal O Globo, consiste no ofício do
dia 28 de dezembro de 2022, disponível no Portal da Transparência, em que o
então ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, solicita que o
secretário da Receita Federal libere as joias de R$ 16,5 milhões que tinham
sido apreendidas no Aeroporto de Guarulhos (SP), em outubro de 2021, com um
assessor do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. No documento,
Mauro Cid indica que a Receita deveria entregar o estojo valioso ao servidor
Jairo Moreira da Silva para "atender demandas do Senhor Presidente da
República".
O
servidor tentou cumprir a missão e, de fato, viajou até o Aeroporto de
Guarulhos no dia 29 de dezembro de 2022 para tentar resgatar as joias, mas não
teve sucesso graças à recusa de um servidor da Receita, que cumpriu a lei que
prevê que somente com a comprovação de que o presente iria para o patrimônio da
União ou pagar tributos e multa permitiria a liberação do presente - o que não
ocorreu.
Há,
inclusive, um vídeo do circuito de câmeras da Receita Federal no aeroporto que
flagrou, inclusive com áudio claro e compreensível, a tentativa do assessor de
recuperar as joias para que Bolsonaro as incorporasse em seu acervo pessoal de
forma clandestina.
• Segundo e terceiro estojo de joias
O
ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), emitiu um
despacho nesta quarta-feira (29) em que obriga Jair Bolsonaro a entregar
"imediatamente" um terceiro conjunto de joias que recebeu da Arábia
Saudita e que se apropriou de maneira ilegal.
O
primeiro conjunto de artigos valiosos, que incluía peças de diamante, avaliadas
em R$ 16,5 milhões, foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de
Guarulhos (SP). Um segundo kit com artigos de luxo e armas de uso restrito que
estavam sob a posse de Bolsonaro foi devolvido por sua defesa ao Estado
brasileiro na última sexta-feira (24). Um terceiro estojo de joias vindo da
Arábia Saudita, entretanto, ainda não foi incorporado ao patrimônio da presidência
e está "escondido", junto a outros presentes recebidos por Bolsonaro,
em uma propriedade gigantesca do ex-piloto de Fórmula 1 bolsonarista Nelson
Piquet, no Lago Sul, em Brasília.
A
informação sobre este outro presente veio à tona a partir de reportagem do
jornal Estadão publicada nesta terça-feira (28). Trata-se de um relógio rolex
de ouro branco cravejado de diamantes com valor estimado em R$ 364 mil, uma
caneta Chopard, abotoaduras e anéis estimados em R$ 200 mil.
A
deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP), então, acionou o TCU para que a
apropriação ilegal que Bolsonaro fez deste terceiro kit de joias seja
investigada e, horas depois, o Tribunal deu retorno, obrigando o ex-presidente
a entregar "imediatamente" o conjunto, sob pena de sanções. Em seu
despacho, o ministro Augusto Nardes determinou ainda uma auditoria
"urgente" na fazenda de Nelson Piquet para que sejam apreendidos
outros presentes que porventura estejam escondidos no local.
Diante
da decisão do TCU, a defesa de Bolsonaro informou, nesta sexta-feira (31), que
vai entregar este terceiro estojo, assim como fez com o segundo.
• Bolsonaro intimado
Nesta
quarta-feira (29), a Polícia Federal intimou Jair Bolsonaro a prestar
depoimento na sede da corporação na capital federal no próximo dia 5 de abril.
Além
do ex-mandatário, foi intimado a depor seu ex-ajudante de ordens, o
tenente-coronel Mauro Cid. As oitivas se darão no âmbito do inquérito que
tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre as joias e outros artigos de
luxo vindos da Arábia Saudita e Emirados Árabes que Bolsonaro tentou se
apropriar de maneira ilegal.
Na
última sexta-feira (24), emparedado pelo Tribunal de Contas da União (TCU),
Bolsonaro, através de seus advogados, devolveu ao Estado brasileiro um segundo
estojo de joias que recebeu de presente durante viagem à Arábia Saudita em
2021, além de armas de uso restrito que havia ganhado em uma viagem aos
Emirados Árabes em 2019.
Na
mesma viagem oficial, em outubro de 2021, na qual o governo saudita deu à
comitiva de Bolsonaro as joias de R$ 16,5 milhões que foram apreendidas pela
Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos - as peças não foram declaradas e
estavam escondidas na mala de um assessor do então ministro de Minas e Energia,
Bento Albuquerque -, as autoridades do país árabe presentearam o ex-mandatário
com um segundo conjunto de peças de luxo milionárias, composto por relógio (de
R$ 223 mil), abotoaduras, caneta, anel e uma espécie de rosário.
Este
segundo estojo de joias entrou no Brasil de forma ilegal através de Bento
Albuquerque que, ao contrário de seu assessor, não foi pego pela Receita
Federal chegando ao país com as peças não declaradas. O ex-ministro passou um
ano com o conjunto valioso mantido sob sua posse - e sem ser declarado - e,
somente em novembro de 2022, isto é, um mês antes de Bolsonaro deixar o país,
entregou o pequeno tesouro ao então mandatário no Palácio da Alvorada, conforme
mostra um recibo da presidência da República.
O
próprio Bolsonaro chegou a admitir, em entrevista já após o escândalo ser
revelado, que incorporou o segundo estojo árabe ao seu “acervo pessoal”, sob a
alegação de que trata-se de um presente “personalíssimo”. O ex-presidente, no
entanto, não poderia se apossar das joias. Pela lei, elas deveriam ir para o
acervo da presidência da República.
Aparecem MAIS joias roubadas por
Bolsonaro
O
ex-presidente Jair Bolsonaro listou em seu inventário pessoal alguns presentes
luxuosos feitos com pedras preciosas e recebidos em viagens oficiais nos
Emirados Árabes Unidos e no Catar. Apenas uma dessas peças foi avaliada em
quase R$ 100 mil e incorporada ao acervo privado do ex-mandatário, segundo
documentos obtidos pelo GLOBO. Ao todo, são mais de 9 mil itens. Bolsonaro
entrou na mira da Polícia Federal após o seu ajudante de ordens tentar reaver,
na reta final do governo, joias da Arábia Saudita avaliadas em R$ 16,5 milhões
e retidas pela Receita Federal. A defesa do ex-presidente nega qualquer
irregularidade.
Em
seu giro por países do Golfo Pérsico, em novembro de 2021, Bolsonaro ganhou nos
Emirados Árabes um relógio de mesa “confeccionado em prata de lei com banho de
ouro, cravejado com diamantes, esmeraldas e rubis” e uma escultura
“confeccionada em aço, prata, tendo parte com banho de ouro”, de acordo com a
descrição feita pelo seu gabinete. Não há registro da estimativa do valor
dessas peças. No Catar, o então presidente recebeu outro relógio de mesa,
confeccionado em prata e “tendo partes com banho de ouro”. Esse presente é
avaliado em R$ 97 mil, a partir da comparação feita pelo governo com itens
semelhantes.
O
Rolex recebido por Bolsonaro na Arábia Saudita, revelado pelo jornal O Estado
de S. Paulo, é confeccionado em ouro branco e diamantes, com “pulseira modelo
Presidente, com três fileiras de elos semicirculares, com fecho desdobrável”,
além de “caixa com mostrador em madrepérola branca, cravejada com diamantes”. O
ex-presidente também foi presenteado com um colar fabricado por uma joalheria
de Minas Gerais. A peça possui um pingente feito com uma ágata preta, em
formato circular, tendo um círculo com grânulos em ouro branco incrustado na
parte inferior.
Em
sua viagem à Hungria, em fevereiro de 2022, Bolsonaro recebeu do
primeiro-ministro Viktor Orbán um jogo de chá, confeccionado em porcelana
branca esmaltada e composta por duas unidades de pires, duas xícaras, uma
cremeira, um bule de chá e um açucareiro. A peça foi estimada em R$ 12.331,91,
segundo informações coletadas pela Presidência da República com o fabricante do
item.
Bolsonaro
de volta ao Brasil: as pistas de como será a atuação política do ex-presidente
Apesar
de alardear que preferia usar “caneta Bic”, Bolsonaro incluiu em seu acervo
privado três canetas da marca Montblanc. Uma delas é uma edição especial em
homenagem ao Walt Disney cujo preço médio é de R$ 6 mil. Mas, de acordo com o
documento da Presidência da República, “não foi possível detalhar” a descrição
da peça, porque “foi solicitada pelo Presidente, a pedido do mesmo”. A outra é
o modelo Meisterstuck Classique, com pena em ouro 14K com incrustação a ródio,
e custa, em média, mais de R$ 3 mil. Por fim, há outro item da mesma marca,
confeccionada em metal prateado e plástico preto.
No
acervo privado de Bolsonaro, há também presentes inusitados e de menor valor
como um relógio de mesa “em formato de tanque de guerra” ou um “nariz
artificial”, feito de látex. Também faz parte dos presentes que ficaram com o
ex-mandatário um boneco inflável de 45 centímetros do general Augusto Heleno,
ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e diversos itens
envolvendo o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Além disso, há mais
de 245 itens identificados como “máscara de proteção”, que foi criticada por
Bolsonaro durante a pandemia.
Artigos
de futebol também ganham destaque no acervo de Bolsonaro. Há mais de 400
camisetas de diferentes times, do Palmeiras ao Paysandu, e uma da bola oficial
da Copa do Mundo de 2022, autografada pelo jogador Neymar. O interesse do
ex-presidente por armas também se reflete em alguns dos presentes. Ele recebeu
uma “miniatura decorativa de fuzil semiautomático” com “balas douradas em seu
interior”, uma pistola da marca Taurus e outra do “tipo garrucha, confeccionada
em nogueira e metal prateado”.
Advogados de Bolsonaro dizem “absurdo”
criticá-lo por roubar joias
A
defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) informou ao TCU (Tribunal de Contas
da União) que entregará à Caixa Econômica Federal um terceiro conjunto de joias
guardado no acervo privado da Presidência em 2019.
O
ofício foi enviado ao tribunal nesta quinta-feira (30). Os advogados
argumentaram, porém, que esses bens não eram objeto da representação do TCU que
apura a situação dos presentes recebidos por ocasião da visita da comitiva
presidencial à Arábia Saudita em outubro de 2021.
Além
disso, afirmaram que a “delonga” na entrega efetiva dos bens se deu, “a
despeito da forma como os veículos de imprensa optaram por noticiar, unicamente
em razão da burocracia desta corte”.
“Infelizmente,
a deliberação quanto ao local apropriado para o depósito, bem como a expedição
de ofícios e diligências para efetivar a entrega segura e transparente dos bens
se arrastou mais do que o esperado”, diz o documento, assinado pelo escritório
do advogado Paulo Amador da Cunha Bueno.
Os
advogados afirmam que a situação acabou contribuindo “ainda mais” para a demora
e “gerou na mídia e na opinião pública a impressão de recusa por parte do
peticionário em colaborar com uma entrega que ele próprio requereu
inicialmente”.
Manifestaram
ainda “indignação com a forma como a situação foi tratada no último despacho do
TCU, visto que a relação do acervo privado do ex-presidente será auditado pela
corte”.
“Descabido,
portanto, o tratamento da questão como se houvesse por parte do peticionário
alguma tentativa maliciosa de escamotear determinados bens desta Corte e de
qualquer outro órgão.”
Por
fim, os advogados de Bolsonaro pediram ao TCU que verifique se há mais algum
item que entende que deva ser depositado “para que se evite confusão, celeuma
ou qualquer tipo de dúvida a respeito da idoneidade e real intenção do
peticionário em colaborar com o esclarecimento mais célere possível a respeito
do status legal dos bens em análise”.
Na
quarta-feira (29), o ministro Augusto Nardes, relator do processo no TCU,
enviou um alerta ao ex-presidente para que, caso existam outros presentes
recebidos do governo da Arábia Saudita, eles deverão ser restituídos
imediatamente, sob pena de sanção em caso de descumprimento.
Em
sua decisão, Nardes destacou que o TCU já havia determinado a entrega de todos
os itens recebidos como presentes na visita da comitiva presidencial à Arábia
Saudita.
A
medida foi tomada após um grupo de parlamentares informarem à corte que um
outro conjunto de joias foi diretamente entregue ao então presidente, que
ordenou a guarda dos objetos no acervo privado da Presidência em 2019 e recebeu
em seu gabinete em 2022.
Bolsonaro
recebeu da Arábia Saudita um primeiro estojo com artigos de luxo em 2019,
durante viagem àquele país. O material entrou para o acervo presidencial no dia
11 de novembro daquele ano, segundo mostrou a Folha.
Esse
kit continha um relógio, abotoaduras, um anel, uma caneta e um tipo de rosário.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o valor estimado do conjunto é de mais
de R$ 500 mil.
Os
advogados de Bolsonaro entregaram em 24 de março à Caixa Econômica Federal em
Brasília o conjunto de joias masculinas que ele recebeu de presente da Arábia
Saudita em 2021. O kit inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de
rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard.
Além
desses presentes, um conjunto de joias supostamente destinadas à
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi apreendido no aeroporto internacional
de Guarulhos (SP) em outubro de 2021. Os artigos de luxo estavam com um
assessor de Albuquerque, que tentou ingressar no país sem declará-los à Receita
Federal.
Fonte:
O Globo/FolhaPress
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