sábado, 29 de abril de 2023

Noblat: Quando você pensa já ter visto tudo, o bolsonarismo o surpreende

Distinga a extrema-direita fanática, radical e golpista da direita que muitos chamam de civilizada, que abriga conservadores e liberais. No Brasil, muitas vezes, as duas andaram juntas. Foi assim quando Getúlio Vargas, para não ser deposto, matou-se.

Foi assim 10 anos mais tarde com o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e só permitiu sua volta ao país dentro de um caixão. Foi assim em 2018 para eleger Bolsonaro e derrotar Fernando Haddad, de vez que Lula estava preso e fora da disputa.

Feita a distinção, lembre-se de bolsonaristas ajoelhados sob chuva à porta de quarteis, alguns a reverenciar tanques e até pneus, outros a gritarem “autorizo” a um golpe para anular o resultado das eleições, e um a tentar deter um caminhão em alta velocidade.

Se você pensou já ter visto tudo, saiba que verá muito mais quando a CPI do Golpe, finalmente, começar; pelo menos a levar-se em conta o que aconteceu, ontem, durante audiência no Senado que ouviria o ministro Silvio de Almeida, dos Direitos Humanos.

O senador Eduardo Girão (NOVO-CE), bolsonarista de quatro costados, tentou entregar ao ministro uma réplica de plástico de um feto de 12 semanas. Almeida negou-se a receber e disse que o gesto era uma performance inaceitável. Deu-lhe um duro carão:

“Com todo respeito, é uma exploração inaceitável de um problema muito sério que temos. […] Respeitando o seu cargo, eu não vou aceitar, eu sou um homem sério e acredito que o senhor também seja. Vou ser pai de uma menina”.

A plateia levantou-se e aplaudiu Almeida. Girão não se abalou com isso. Uma assessora o filmava. E ele postou o vídeo nas redes sociais com a seguinte mensagem:

“Desprezo pela vida? Ministro de Lula recusa réplica de bebê com 12 semanas, símbolo de defesa da vida. Na campanha, Lula fez uma carta aos cristãos se comprometendo com a vida plena em todas as fases. Mas seu governo é favorável ao aborto.”

O senador bolsonarista enrustido Sérgio Moro, que saiu do armário ao despir a toga para servir a Bolsonaro, ameaçado de demissão por ele voltou ao armário, de onde saiu novamente para apoiá-lo no segundo turno, elogiou o gesto de Girão:

“Não entendi o argumento do ministro de Lula de que a entrega da réplica de um feto seria ofensiva. Era um argumento contra o aborto. Tempos atrás, recebi uma réplica igual do Senador, pessoa, aliás, muito educada. Minha solidariedade ao Senador.”

Foi-se o tempo que no Senado a direita era representada por figuras do porte de Teotônio Vilella, Eunice Michilles, Jarbas Passarinho, José Sarney, Murilo Badaró, Saldanha Derzi, Nilo Coelho, Petrônio Portella, Amaral Peixoto e Roberto Campos.

Por ela, hoje, falam Dr. Hiran, Professora Dorinha, Damares Alves, Magno Malta, Romário (que não fala), o indigitado Sérgio Moro, Hamilton Mourão, Marcos do Val, Eduardo Girão e outros do mesmo naipe. Na Câmara dos Deputados é muito pior.

O ex-presidente americano Barack Obama perguntou um dia:

“Nós fazemos uma política do cinismo ou uma política da esperança?”

À parte o cinismo, a política que vemos por aqui, mas não só por aqui, é a do empreendedorismo que beneficia acima de tudo os donos de mandatos. Danem-se os que os elegeram.

 

Ø  Vídeo de Bolsonaro nos EUA não mostra doença que teria provocado uso de remédios e fake News

 

Em depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira (26), a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro alegou que estava sob efeito de medicamentos quando postou um vídeo questionando o resultado das urnas eletrônicas após as eleições de 2022.

O motivo da medicação seria uma erisipela em sua perna. A doença causada por uma infecção causa dores fortes e parte do tratamento envolve o uso de analgésicos fortes, como morfina.

A divulgação da doença foi feita, à época, pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, em uma foto no Telegram. O ferimento, que parecia extremamente grave, contudo, não apareceu nas pernas de Bolsonaro em um vídeo postado três semanas depois, na Flórida.

O vídeo questionando a eleição de Lula foi postado e apagado no dia 11 de janeiro, quando a perna de Bolsonaro já estava normal e sem ferimentos. 

"Sobre esse post, tanto a postagem foi acidental que ele não fez nenhum comentário e apagou logo na sequência. Presidente quando saiu de férias, ele tratou a eleição como página virada. Então, em momento algum você vai encontrar alguma declaração dele declinando que a eleição tenha sido fraudada. Em momento algum isso é falado", afirmou o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, no dia de hoje.

"O presidente repudiou na noite do 8 todos os acontecimentos lamentáveis que ocorreram aqui em Brasília. Fim da eleição, o presidente virou a página política dele, o presidente enfrentou um processo de erisipela [doença de pele] severo, o presidente não recebeu pessoas no Palácio, o presidente não articulou politicamente, o presidente se fechou e no [dia] 30 viajou para os EUA, onde permaneceu até o fim de março", completou o advogado.

·         Doença não apareceu em vídeo de Bolsonaro nos EUA

A foto publicada no Telegram de Carlos Bolsonaro exibia ferimentos graves na perna do então presidente:

Em 3 de janeiro, um vídeo mostra a perna de Bolsonaro sem o ferimento grave divulgado pelo filho anteriormente.

A informação divulgada pelo ex-ministro e advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, se deu no âmbito do inquérito que apura os responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A publicação foi incluída na investigação e, por isso, o ex-presidente está sendo investigado.

 

Ø  Bolsonaristas cotados para CPMI foram “engolidos” por ministro de Lula

 

Os deputados bolsonaristas cotados para participarem da CPMI dos atos golpistas não tiveram uma boa experiência num primeiro confronto com governistas.

Os parlamentares do PL André Fernandes (CE), autor do requerimento de criação da comissão, e Delegado Ramagem (RJ), ex-chefe da Abin com Jair Bolsonaro, são apontados como favoritos para serem indicados à CPI, junto com Eduardo Bolsonaro (RJ).

Fernandes e Ramagem já foram “engolidos” numa audiência pública pelo ministro Flávio Dino (Justiça), em 28 de março, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

Fernandes foi alvo da crítica e da ironia de Dino ao dizer que, com base no Jusbrasil, site com informações jurídicas sobre as pessoas, que o ministro respondia a 277 processos.

O ministro explicou a ele que esse site registra nomes de quem pediu direito de resposta, de quem registrou candidatura e de quem foi testemunha num processo, entre outros motivos. E afirmou:

“É um piadista. Eu sou professor de direito e vou contar isso aos meus alunos como uma anedota. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias” – disse Dino ao bolsonarista, provocando risos entre os governistas.

Ramagem foi questionar o ministro sobre sua ida ao Complexo da Maré no Rio, e insinuou que ele teria ido ao local após um acordo com uma “organização criminosa”. O ministro rebateu:

 “Eu ouvi um deputado, acho que foi esse senhor aqui, Ramagem, dizendo que só é possível entrar lá com autorização do tráfico e não sei o quê. Eu não tenho acordo com facção criminosa. O senhor me respeite. E não há contrapartida do Ministério da Justiça a nenhuma facção criminosa. Basta o senhor olhar os fatos. E eu acho que, como policial, o senhor deve tratar de fatos”.

E complementou:

“Um deputado reclamou que às vezes eu faço uma piada ou outra. É a forma de me defender de ofensas gravíssimas”.

Os deputados do PL criticaram Dino e disseram que ele os desrespeitou e foi irônico nas respostas.

 

Ø  Exército ordenou que policiais “não tocassem em barracas” no QG, diz coronel da PM a CPI

 

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa, a coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Cíntia Queiroz detalhou que o Exército protegeu os bolsonaristas que estavam acampados em frente ao Quartel-General de Brasília. “Não era permitido tocar nas barracas”, afirmou Cíntia.

A CPI investiga os atos antidemocráticos de 12 de dezembro e 8 de janeiro. Cíntia Queiroz é subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) e participou de ações no QG, que, segundo ela, não acabaram com a desmobilização do ato golpista devido às ordens do Exército.

“Por três vezes o Comando Militar do Planalto solicitou apoio para retirada do comércio ambulante. A gente tinha expectativa, quando chegava nas reuniões, que era para retirar o acampamento, mas eles diziam que era para retirar o comércio ilegal. Não era permitido tocar nas barracas, na cozinha coletiva, na tenda religiosa. A orientação que a gente tinha era essa”, detalhou.

Cíntia ressaltou que era desejo do governador Ibaneis Rocha (MDB) e do então secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo, a retirada do acampamento, mas houve dificuldade por parte da PM, por se tratar de uma área do Exército.

“Foram feitas três tentativas de retirada. O movimento crescia, havia preocupação do governador e do secretário, todo mundo queria retirar o acampamento, mas era área do Exército, a gente precisava de autorização do Comando Militar do Planalto.”

Em nota à reportagem, o Exército afirmou que “os fatos estão sendo apurados por parte das autoridades competentes”. “A Instituição segue à disposição dos Órgãos que esclarecem os acontecimentos, a fim de contribuir com as investigações em curso, sendo que quaisquer informações solicitadas serão prestados exclusivamente aos mesmos”.

A coronel Cíntia foi responsável por elaborar o Protocolo de Ações Integradas (PAI) da SSP sobre atos contra o resultado das urnas, marcados para os dias 7, 8 e 9 de janeiro. Em março, ela foi indiciada pela Corregedoria da PMDF em um dos cinco inquéritos que apuram a conduta de militares no dia 8.

O Metrópoles mostrou que protocolos de ações elaborados pela SSP antes de manifestações em Brasília apontavam um planejamento mais firme contra atos LGBTs, passeata estudantil e Marcha da Maconha do que na contenção de protestos antidemocráticos. Orientações sobre a dimensão das ameaças e a condução de possíveis presos, por exemplo, não aparecem no PAI anterior à tentativa de golpe de janeiro.

Em depoimento à Polícia Federal, que também investiga possíveis omissões ou conivência de autoridades diante dos atos antidemocráticos, Cíntia disse que a PMDF agiu de forma atípica ao não elaborar planejamento próprio para a manifestação que culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, além do PAI da SSP, avaliando isso como algo “raro”.

A subsecretária contou à PF que cabia à Polícia Militar do DF, por meio de planejamento próprio, reforçar o policiamento ostensivo e empregar tropas especializadas. O Departamento de Operações seria o responsável por esse serviço.

 

Fonte: Metrópoles/Fórum

 

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