Moraes levou 78 dias para derrubar sigilo
do 8/1 e ignorou vídeos em julgamento
O
ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), levou 78 dias
para derrubar o sigilo das imagens internas de segurança do Palácio do Planalto
de 8 de janeiro, quando o local foi invadido e vandalizado.
No
último dia 18, ele votou para tornar réus 50 denunciados pelas depredações no
Planalto, no Congresso Nacional e no Supremo. Moraes tomou a decisão sem ter
assistido à íntegra das gravações que mostram os responsáveis pela invasão e
depredação no Planalto -outros sete ministros acompanharam a posição do
magistrado, vencedora.
O
voto do ministro foi dado no inquérito que investiga 50 pessoas pertencentes ao
grupo dos executores dos atos golpistas; ou seja, os atuantes na depredação do
patrimônio público. Há na lista participantes da vandalização de um ou mais dos
seguintes edifícios: o Supremo, o Congresso e o Planalto.
Poucos
dias após a depredação em 8 de janeiro, a Câmara e o Senado divulgaram imagens
dos ataques em suas instalações, somando mais de 40 minutos. Em 25 de janeiro,
o STF disponibilizou as imagens do local na data dos atos.
Em
relação às imagens do circuito de segurança do Planalto, Moraes obteve acesso à
íntegra dos arquivos após a revelação de vídeos em que o ex-ministro do GSI
(Gabinete de Segurança Institucional) Gonçalves Dias aparece no palácio no dia
da invasão. Nas imagens, é possível ver agentes do GSI, subordinados a Dias, cooperando
com os vândalos.
Alguns
trechos dessas imagens já eram conhecidos. Uma semana após a invasão, a TV
Globo divulgou vídeos de câmeras de segurança que mostram bolsonaristas
quebrando itens históricos, rasgando quadros e depredando o Planalto. Nenhuma
imagem de integrantes do GSI ou do governo foi veiculada na ocasião.
No
dia seguinte, o governo liberou as mesmas gravações para toda a imprensa -ainda
sem os registros da reação dos integrantes do GSI.
Em
12 de janeiro, a Folha solicitou, via Lei de Acesso à Informação, a íntegra das
imagens internas do Planalto no dia 8 de janeiro. A resposta oficial foi dada
em 1 de fevereiro.
O
governo impôs sigilo e negou acesso às imagens, argumentando não ser
"razoável" a divulgação, devido a informações que exporiam métodos,
equipamentos, procedimentos operacionais e recursos humanos da segurança
presidencial.
"Dessa
forma, presente pedido de informação não pode ser atendido, haja vista que as
imagens do sistema de vídeo monitoramento do Palácio do Planalto são de acesso
restrito, considerando que sua divulgação indiscriminada traz prejuízos e
vulnerabilidades para a atividade de segurança das instalações
presidenciais", disse na ocasião a resposta do governo.
A
notícia de que a gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia decretado sigilo
dessas imagens foi publicada logo em seguida. Apenas 78 dias depois, no
entanto, Moraes assinou a decisão em que determinou a retirada desse sigilo.
A
decisão foi dada um dia após a CNN Brasil divulgar as imagens de Gonçalves Dias
no Planalto enquanto o local era destruído por bolsonaristas.
Moraes
então concluiu que o sigilo era inadmissível.
"A
presente hipótese não caracteriza qualquer excepcionalidade às necessárias
publicidade e transparência, não sendo possível, com base na Lei de Acesso à
Informação, a manutenção da vedação de divulgação de todas --absolutamente
todas-- as imagens verificadas na ocasião do nefasto e criminoso atentado à
democracia."
O
magistrado citou o princípio constitucional da publicidade e disse que o Estado
"tem o dever de absoluta transparência na condução dos negócios públicos,
sob pena de desrespeito" à Constituição. Também determinou o envio dos
arquivos ao STF em 48 horas.
O
ministro afirmou ter, ainda, determinado o envio dos vídeos para os autos do processo
no dia 8 de janeiro --que ficaram sob guarda da Polícia Federal nesse período.
Na
decisão daquela data, ele mandou a PF obter "todas as imagens das câmeras
do Distrito Federal que possam auxiliar no reconhecimento facial dos
terroristas que praticaram os atos", sem mencionar especificamente as
imagens internas do Planalto.
Já
no voto para tornar réus os primeiros investigados de serem executores dos
atos, o ministro não descreveu de maneira individualizada a conduta de cada
denunciado. Tampouco citou as imagens ou os itens dos prédios públicos que cada
um depredou.
O
magistrado defendeu que não deveria prosperar a tese dos advogados dos
investigados de que, na denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República),
"há nítida generalização, sem qualquer particularização" das ações de
cada um.
Segundo
Moraes, no caso foram cometidos os chamados delitos multitudinários.
"Há,
portanto, como bem sustentado pela PGR, a ocorrência dos denominados delitos
multitudinários, ou seja, aqueles praticados por um grande número de pessoas,
onde o vínculo intersubjetivo é amplificado significativamente, pois 'um agente
exerce influência sobre o outro, a ponto de motivar ações por imitação ou
sugestão, o que é suficiente para a existência do vínculo subjetivo, ainda que eles
não se conheçam'."
Defesa anuncia que Bolsonaro irá à CPMI,
e o depoimento pode durar vários dias
A
defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que ele estará
“à disposição” para ir à CPI mista dos Atos Antidemocráticos caso seja
convocado. A formação da CPMI foi lida na sessão desta quarta-feira pelo
presidente, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Perguntado
sobre se o Bolsonaro prestaria depoimento à CPMI, o advogado Paulo Amador da
Cunha Bueno respondeu: “Lógico, ele está sempre à disposição”.
A
declaração foi dada logo após Bolsonaro ser ouvido pela Polícia Federal nesta
quarta-feira, sobre ter postado um vídeo que sugeria, sem apresentar provas,
que a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido fraudada pelo
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). À PF,
Bolsonaro afirmou que considera a eleição em que foi derrotado por Lula como
“página virada” e que fez a postagem por engano e sob efeito de remédios,
segundo a sua defesa.
—
Este vídeo foi postado na página do presidente no Facebook quando ele tentava
transmitir para o seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente. Por
acaso, justamente nesse período, ele estava internado em um hospital em Orlando
— afirmou o advogado. — Foi feita de forma equivocada. Tanto que pouco depois,
duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente retirou a
postagem.
A
base do governo Lula no Congresso pretende fazer de Bolsonaro o principal alvo
da CPMI, que foi proposta pela oposição. Prevendo os ataques, o ex-presidente
já pediu ao PL que escale os seus filhos, deputado Eduardo Bolsonaro e o
senador Flávio Bolsonaro, para compor a comissão. O PL tem direito a três
cadeiras na Câmara e duas no Senado.
Costa Neto vê erro de Bolsonaro em
indicar seus filhos para a CPMI de Atos Golpistas
O
presidente do PL, Valdemar Costa Neto, sinalizou a aliados, de maneira
reservada, que vê como erro de Jair Bolsonaro a estratégia de escalar os filhos
para atuarem na CPMI dos atos golpistas, composta por senadores e deputados.
Como
informou o colunista Lauro Jardim, além de indicar o deputado federal Eduardo
Bolsonaro para uma das três cadeiras que o partido terá na comissão, o
ex-presidente quer o senador Flávio Bolsonaro no colegiado.
Na
opinião de Valdemar Costa Neto, colocar os filhos na CPI é trazer não só
Bolsonaro, mas todo o clã para o centro da crise. Entre membros do PL, a
leitura é que não há como o ex-presidente sair “ileso” da comissão.
Lauro
Jardim revelou que Jair Bolsonaro traçou uma estratégia para tentar se blindar
de eventuais desgastes na CPMI dos atos golpistas. Além de indicar Eduardo
Bolsonaro para uma das três cadeiras que o PL terá na comissão mista, quer
também Flávio Bolsonaro entre as duas vagas do Senado.
Antes,
o PL previa escalar os bolsonaristas Magno Malta e Jorge Seif. Porém, o capitão
está convencido de que será o principal alvo da CPMI e precisará dos filhos
Zero Um e do Zero Três para protegê-lo.
Ainda
segundo Lauro Jardim, o PL também deve escalar o ex-Abin e atual deputado
Alexandre Ramagem e André Fernandes, autor do requerimento, para o colegiado.
NOTA
Podem
anotar aí. Essa CPMI vai ficar na História do Legislativo como a mais
esculhambada de todos os tempos. Os trabalhos serão de tal maneira
radicalizados que ninguém vai conseguir falar nada nem apurar nada, em meio à
baixaria que se instalará a cada sessão. Esta CPMI será um retrato fiel do
atual estágio da política brasileira. Ou seja, não valerá nada nem terá a
mínima importância. Estamos numa Era das Trevas, em matéria de política.
Braga Netto precisa se preparar para
receber fogo amigo dos bolsonaristas na CPI do golpe
Eleito
como um dos alvos prioritários dos governistas na CPI dos atos de 8 janeiro, o
ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto, também entrou na
mira do fogo amigo de apoiadores de Jair Bolsonaro, dentro e fora do Congresso.
Candidato
a vice na chapa da reeleição de Bolsonaro, o general da reserva é apontado por
aliados e assessores do ex-presidente como um dos culpados pela derrota.
São
destacadas contra ele a “total falta de jogo político” na eleição e a postura
de incentivar o radicalismo e golpismo de Bolsonaro, tanto antes quanto depois
das eleições.
Entre
os membros moderados do PL e de siglas da oposição, não há disposição em sair
em defesa do militar, que hoje é contratado pelo partido de Bolsonaro como
secretário nacional de relações institucionais e despacha diariamente no
escritório de Brasília.
Após
a derrota de Bolsonaro para Lula, Braga Netto foi um dos poucos aliados do
ex-presidente que estavam diariamente com ele no Palácio do Planalto. Em
novembro, chegou a empolgar os apoiadores golpistas com uma frase enigmática
dada em frente ao Palácio do Alvorada. O militar pediu que “não perdessem a fé.
É só o que eu posso falar para vocês agora”. A frase, gravada em vídeo, foi
recebida nas redes bolsonaristas como um recado do então presidente sobre algo
que poderia ocorrer e que atendia aos protestos golpistas na porta de quarteis.
NOTA
O
general deveria se mancar, vestir o pijama e sumir do mapa da política. Mas
prefere fazer esse papel ridículo de posar como falso dirigente de partido
político, cujos integrantes lhe dedicam desprezo absoluto. Braga Netto faria
melhor se fosse trabalhar com Silvio Santos, naquele quadro do programa “Tudo
por Dinheiro”, ao qual se adapta perfeitamente.
Fonte:
FolhaPress/O Globo
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