sexta-feira, 28 de abril de 2023

O que Biden alcançou (e o que não) no primeiro mandato

O que já era há muito tempo especulado tornou-se oficial nesta terça-feira (25/04): o presidente dos EUA, Joe Biden, vai ser candidato à reeleição na eleição presidencial de 2024. Mas o que ele alcançou no primeiro mandato?

·         Redução do desemprego

Principalmente a pandemia de covid-19 levou a uma grande alta do desemprego nos Estados Unidos em 2020, para mais de 14%.

A economia gerou muito mais postos de trabalho do que o esperado. Os dados de janeiro de 2023 do Departamento de Trabalho superaram todas as expectativas, com a criação de 517 mil novos empregos, levando o desemprego para 3,4%. É o nível mais baixo desde maio de 1969.

·         Investimentos em tecnologia

Com incentivos de 52 bilhões de dólares, no âmbito da chamada Lei dos Chips (Chips and Science Act), Biden ajudou a indústria doméstica de chips a alavancar a produção de semicondutores.

Produtos de alta tecnologia, como chips de computadores, baterias e carros elétricos, deverão novamente ser made in USA, com incentivos e apoios do governo.

Cadeias de produção deverão ser garantidas com incentivos a investimentos e políticas industriais ativas.

Os primeiros resultados já puderam ser vistos: todos os grandes fabricantes mundiais de chips e baterias anunciaram investimentos milionários nos Estados Unidos.

·         Proteção ambiental

Subsídios, créditos fiscais, empréstimos: com cerca de 369 bilhões de dólares, o governo quer combater a crise climática ao longo dos próximos dez anos, no âmbito da Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act, ou IRA), de agosto de 2022.

A produção de energias renováveis deverá ser ampliada, a eficiência energética de residências deverá ser melhorada, e as emissões de usinas a gás e carvão, reduzidas.

Um americano que decidir comprar um carro elétrico usado receberá um subsídio de 4 mil dólares. Se for um carro novo, de 7.500. Com isso, os EUA querem reduzir suas emissões em 40% até 2030.

·         Saúde

A mesma lei também prevê investimentos de 64 bilhões de dólares no sistema de saúde dos Estados Unidos. A ideia é ajudar os cidadãos com os custos de planos privados de saúde e também reduzir os preços de medicamentos. Também as contribuições próprias são reduzidas: um paciente com diabetes precisa pagar apenas 35 dólares por mês pela sua insulina.

·         Renovação da infraestrutura

O pacote para a infraestrutura, aprovado em novembro por maioria de votos dos dois partidos, prevê cerca de 1 trilhão de dólares. Estradas, pontes e ferrovias, bem como portos e aeroportos em todo o país deverão ser renovados, e áreas rurais deverão receber internet de banda larga. O pacote inclui também mais estações de recarga de carros elétricos e incentivos para ônibus elétricos.

·         Casamento homoafetivo

Em dezembro de 2022, Biden assinou a lei para proteção do casamento homoafetivo, que obriga estados a reconheceram alianças seladas em outros estados americanos.

Além disso a lei elimina um trecho que definia o casamento como a união entre um homem e uma mulher, já classificado de inconstitucional.

Biden fez história já ao entrar na Casa Branca, quando nomeou como secretário dos Transportes um homem declaradamente homossexual, Pete Buttigieg.

·         Retomada das relações transatlânticas

Depois de o antecessor, Donald Trump, favorecer ações nacionais isoladas e até mesmo ameaçar com a saída dos Estados Unidos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Biden retomou a cooperação internacional e, com isso, o tradicional rumo da política externa americana.

Os Estados Unidos assumiram a liderança no apoio conjunto, com a União Europeia, à Ucrânia depois da invasão da Rússia. Desde o início da guerra, os EUA já ofereceram mais de 70 bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia.

·         Apenas um leve endurecimento da lei de armas

Biden chamou de importante a lei de proteção contra a violência por armas de fogo, que ele assinou em junho de 2022, mas reconheceu que esperava mais.

O acordo entre democratas e republicanos prevê que compradores de armas com menos de 21 anos sejam mais fortemente controlados. Incentivos financeiros devem fazer com que estados retirem temporariamente as armas de portadores potencialmente perigosos.

Além disso, um pacote bilionário deverá tornar as escolas mais seguras e garantir um melhor atendimento psiquiátrico. Mas: a proibição de fuzis de assalto foi bloqueada pelos republicanos.

Com os atentados em Uvalde, no Texas, e em Buffalo, em Nova York, a lei se mostrou aquém das expectativas.

·         Sem direito nacional ao aborto

Biden não conseguiu implementar muitas de suas promessas de campanha. O crédito fiscal ampliado para crianças não foi renovado, o programa de créditos estudantis foi suspenso, e a reforma da polícia não avançou. E Biden e o Partido Democrata não conseguiram tornar o direito ao aborto nacional. A Suprema Corte, predominantemente conservadora, derrubou o direito constitucional ao aborto em junho de 2022.

·         Fiasco na retirada do Afeganistão

O ponto baixo da presidência de Biden foi a caótica retirada de tropas americanas do Afeganistão. O mundo inteiro viu as imagens de afegãos que tentavam se agarrar aos aviões dos EUA no aeroporto de Cabul. Biden queria encerrar a presença americana no Afeganistão sem barulho, mas o resultado foi um fiasco.

Muito criticada foi a insistência de Biden em encerrar a presença americana ainda antes de 11 de setembro de 2021 (20 anos depois do 11 de Setembro), o que, segundo muitos analistas, favoreceu o retorno ao poder do grupo fundamentalista Talibã. Em meio à retirada, um atentado suicida no aeroporto de Cabul matou cerca de 170 civis afegães e 13 soldados dos EUA.

·         Questão migratória em aberto

Depois do governo Trump, Biden prometera uma política migratória mais humana para a fronteira sul dos Estados Unidos. Ele colocou a vice-presidente Kamala Harris no posto de encarregada especial de migração com a missão de conter a migração ilegal.

Até aqui, a missão fracassou. É verdade que crianças não são mais separadas dos pais na fronteira e colocadas em campos que lembram prisões, mas famílias continuam sendo separadas.

Também deportações aceleradas sem verificação jurídica voltaram a ser rotina. E o número de pessoas que chegam todos os dias à fronteira se manteve alto — foram 8 mil em dezembro passado.

A nova abordagem de Biden: até 30 mil migrantes por mês, vindos da Venezuela, da Nicarágua, de Cuba ou do Haiti, podem entrar de forma legal nos EUA, para ficarem por dois anos, se passarem por um controle rigoroso de antecedentes. Em contrapartida, 30 mil imigrantes ilegais desses países são deportados.

 

Ø  Biden só é boa opção como antídoto a Trump. Por Ines Pohl

 

Os presidentes americanos gostam de se ver como "os homens mais poderosos do mundo" (até o momento não houve nenhuma mulher). Mas – para além da questão de se, na competição com a China, os Estados Unidos ainda são realmente a nação mais influente do planeta – o poder do chefe da Casa Branca dentro de seu próprio país é bastante restrito.

No sistema bipartidário, para alcançar êxitos políticos duradouros, o chefe de Estado precisa encontrar meios de negociar consensos com a oposição. Só assim se consegue aprovar leis: caso contrário, ele até pode assinar um monte decretos, mas seu sucessor também poderá anulá-los com uma canetada só. Como aconteceu com Acordo do Clima de Paris sob o antecessor de Joe Biden, Donald Trump.

No contexto destrutivo do clima básico atual, o primeiro mandato de Joe Biden foi uma história de sucesso do ponto de vista político. Embora para a ala de esquerda progressista do Partido Democrata, haja muito que não foi longe o suficiente, ele fez passar projetos importantes de infraestrutura, de que o país ainda se beneficiará por décadas.

Sob o rótulo do combate à inflação, Biden fez aprovar um incentivo à economia com traços protecionistas, não muito diferente da doutrina "America first" de Trump. Os medicamentos também ficaram mais baratos para milhões de americanas e americanos.

Ele também conseguiu impor sua linha na política externa: o volumoso apoio financeiro à Ucrânia, dos cofres americanos, é também mérito do democrata. Desde o começo da guerra, os EUA investiram 71 bilhões de dólares na luta contra a agressora Rússia.

Como demonstra seu decidido engajamento pelo país sob ataque e pela Otan, Joe Biden é um dos últimos "grandes transatlânticos". Portanto sua eleição seria uma boa notícia para a Alemanha, a Europa e toda a aliança ocidental, ainda mais em tempos de guerra em solo europeu.

·         Kamala Harris, uma vice fraca

Mas, aos 80 anos de idade, já sendo o chefe de Estado mais idoso da história americana, ele conseguirá mais uma vez, ainda mais tendo a seu lado a vice Kamala Harris? Caso Biden falte, a pouco apreciada democrata teria que assumir no lugar dele. Nas próximas presidenciais, portanto, a decisão é também sobre ela como eventual presidente substituta.

A crer nas pesquisas de opinião mais recentes, Biden só tem uma chance real se Donald Trump vencer as primárias republicanas e for seu oponente em novembro de 2024. Como no pleito anterior, para grande parte do eleitorado americano, o democrata, com sua confiabilidade e experiência, representa o menor dos males.

Embora no momento Trump lidere diversas consultas da ala republicana, sua candidatura está longe de assegurada. Correm contra ele acusações formais e ameaças de processo por fraude, sonegação de impostos e incitação popular. E, em especial nos meios econômicos, há reticência em confiar no homem que, como nenhum outro presidente americano antes dele, levou o país à beira do golpe de Estado.

Outras/os candidatas/os republicanas/os vão se aquecendo para a disputa. A ex-embaixadora nas Nações Unidas Nikki Haley já anunciou sua candidatura. Há o ultraconservador governador da Flórida, Ron DeSantis. E o senador da Carolina do Sul Tim Scott, que me parece ter grandes chances, pelo menos no momento.

É altamente questionável se, numa campanha estafante e em formatos de debate altamente exigentes, o velho, "obsoleto" Biden conseguirá se impor contra essa nova geração.

·         Tudo, menos Trump

Do ponto de vista dos democratas, é um jogo arriscado apostar no antagonismo de Trump. É bem possível que desta vez o partido perca a Casa Branca por superestimar o republicano.

Não se discute: Joe Biden fez por merecer o cargo. Não só por ter evitado mais um mandato de Trump, mas por, graças a sua experiência, implementar projetos que poderão realmente contribuir para melhorias nos EUA. Sobretudo com seus pacotes de investimentos, ele alcançou mais mudanças do que contavam até mesmo seus próprios correligionários.

Mas a política não é justa. E Biden não seria o primeiro líder de cujos êxitos quem vai tirar proveito político é o seu sucessor. O fato de os democratas apostarem nele para evitar de todo modo a volta de Trump mostra quão grande é o medo que este inspira. Do ponto de vista internacional, é quase de um gesto nobre.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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