domingo, 30 de abril de 2023

China deixa de ser o país mais populoso do mundo pela 1ª vez em séculos, aponta projeção; Índia agora é a maior nação

Neste mês, a Índia está ultrapassando a China em tamanho de população, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, pela primeira vez em séculos, a China está deixando de ser a nação com mais cidadãos, e a Índia assume esse posto. A data exata desta mudança no ranking de países mais populosos não foi informada, mas a ONU confirmou ao g1 que isso aconteceu em "algum momento" deste mês de abril.

  • A Índia tem 1,428 bilhão de habitantes
  • A China tem 1,425 bilhão de habitantes

Desde 1950, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) começou a contabilizar os tamanhos as populações do país do mundo, a China sempre foi a nação mais populosa do planeta.

A China provavelmente já era o país mais populoso por centenas de anos antes: estima-se que em 1750 havia 225 milhões de chineses, o que a tornava a mais numerosa do globo naquele ano.

·         Por que mudou?

A China tem uma população envelhecida e com crescimento estagnado. Nos anos 1980, a China instaurou a política do filho único. Um dos resultados foi a estagnação do crescimento, mesmo depois do fim da política do filho único. Agora a população chinesa está prestes a encolher. As projeções apontam que em 2050 a população chinesa vai ser 8% menor do que a atual.

·         E a Índia?

A Índia tem uma população muito mais jovem, uma taxa de fertilidade mais alta e uma queda na mortalidade infantil nas últimas três décadas.

A Índia tem mais bebês nascidos a cada ano do que em qualquer outro país, enquanto na China há mais mortes a cada ano do que nascimentos, disse Dudley Poston, Jr., professor emérito de sociologia na Texas A&M University.

A população indiana deve continuar crescendo e deve atingir o pico em 2064, com 1,7 bilhão de pessoas — cerca de 50% maior que a população projetada da China.

A Índia também teve uma política para tentar diminuir o ritmo de crescimento da população: nos anos 1970, houve programas de esterilização em massa. Durante a gestão de Indira Ghandi (ela governou em dois momentos, de 1966 a 1977 e de 1980 a 1984, quando foi assassinada), homens eram forçados a fazer vasectomias (se eles se recusassem, enfrentariam perda de salários ou até de empregos). A polícia prendia homens pobres nas estações de trem e os forçava a passarem por uma vasectomia.

A Índia, no entanto, é uma democracia; Indira Ghandi perdeu a reeleição e, assim, esse programa acabou. A fertilidade da Índia caiu, mas menos, e mais lentamente do que a da China.

·         Por que isso é importante?

Na Índia, a força de trabalho é crescente, e o crescimento populacional estimula a atividade econômica. Na China, o número de adultos em idade produtiva, capazes de sustentar uma população, está envelhecendo.

Quando um país tem um baixo nível de fertilidade, é difícil recuperar o crescimento populacional, mesmo com mudanças na política do governo para incentivar mais nascimentos, disse Toshiko Kaneda, diretor técnico de pesquisa demográfica do Population Reference Bureau, em Washington.

“Psicologicamente, será difícil para a China, especialmente devido à rivalidade entre os dois países em outras áreas”, disse Stuart Gietel-Basten, professor da Khalifa University of Science and Technology, em Abu Dhabi. O professor afirma que esse é um grande momento da humanidade.

·         De onde tiraram esses números?

A base dos números são os censos, ou contagens de pessoas, que, na teoria, acontecem a cada década.

O último censo da China foi em 2020. Os demógrafos usaram registros de nascimento e óbito, juntamente com outros dados administrativos, para calcular como a população cresceu desde então.

O último censo da Índia foi em 2011. O censo programado para 2021 foi adiado pela pandemia de Covid-19.

Sem uma contagem real por mais de uma década, as pesquisas de amostra preencheram as lacunas para ajudar os demógrafos a entender sua população, disse Alok Vajpeyi, da ONG Population Foundation of India, de Nova Delhi.

Andrea Wojnar, representante do Fundo de População da ONU para a Índia, disse que a agência está confiante nos números da pesquisa “porque usa uma metodologia muito robusta”.

 

Ø  Com população da Índia à frente da chinesa, economia indiana pode crescer no ritmo da China?

 

Nas últimas décadas, a China aproveitou o tamanho da sua população para expandir sua economia: o país se posicionou como um produtor que consegue entregar bens a baixos preços porque tem baixos custos — os salários chineses eram muito mais baixos quando a China começou a crescer a taxas muito altas, na década de 1990 e de 2000.

As projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) previam que até o fim de abril - portanto, neste fim de semana -, a Índia, um vizinho da China, se tornaria o país mais populoso do mundo, com 1,428 bilhão de pessoas. A China tem 1,425 bilhão, também segundo as estimativas da ONU.

A Índia tem potencial para aproveitar a mesma vantagem que a China tem: muita mão de obra. Isso, em alguma medida, já aconteceu, o PIB foi quadruplicado em uma geração. O país vai crescer economicamente, e em alguns anos, a taxa será maior até mesmo que a da China —Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, afirma que, no último ano, a Índia cresceu 7%, e a China, 3% (um dos piores desempenhos da China em muitos anos).

Mas, de acordo com analistas, a Índia dificilmente terá um longo período de crescimento "chinês". De 1990 para cá, a China foi o país que mais cresceu economicamente na história, de acordo com o "New York Times". A economia chinesa, hoje, é cerca de cinco vezes maior que a indiana.

Veja abaixo três diferenças significativas que fazem com que a Índia tenha mais dificuldade para ter um "boom" econômico semelhante ao que a China teve:

  • Infraestrutura para indústria.
  • Participação das mulheres na população economicamente ativa.
  • Centralização política.

·         Um setor industrial menos pujante

Nas últimas décadas, as indústrias que poderiam se instalar na Índia foram desencorajadas por uma infraestrutura deteriorada e regulamentações antiquadas, de acordo com o "Financial Times".

A indústria é 15% do PIB da Índia, uma porcentagem relativamente baixa.

Os empregos em indústria, tradicionalmente, geram mais renda do que nos outros setores (agricultura e serviços). Sem um aumento significativo da participação da indústria no total do PIB, dificilmente a Índia terá um crescimento a taxas muito elevadas.

O primeiro-ministro Narendra Modi tem se esforçado para alterar essas condições porque quer que o país se torne um concorrente da China. O país tem tido algum sucesso nessa tentativa, por exemplo, em poucos anos, a Índia passou a produzir 7% dos smartphones no mundo, de acordo com o "New York Times".

Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, aponta que a pirâmide etária dos dois países favorece a Índia: "Tanto a China como a Índia têm uma população de cerca de 1,4 bilhão de pessoas. A população jovem da China, agora, está em declínio, e em um prazo médio isso pode ter um impacto na indústria chinesa, que eles conseguiram instalar a duras penas. Isso vai implicar em desafios e oportunidades para a Índia".

·         Uma participação pequena das mulheres na força de trabalho

Sanghamitra Singh, do Instituto de População da Índia, diz que "dado que as mulheres são cerca de 50% da população, é necessário investir mais para que as mulheres entrem na força de trabalho e contribuam para o progresso da nação".

O motivo pelo qual ele diz isso é que, na Índia, a participação das mulheres na força de trabalho é muito baixa.

Mulheres em Bangalore, na Índia, em outubro de 2006 — Foto: Jagadeesh Nv/Reuters

Neste ano, 24% das mulheres em idade de trabalho (15 anos ou mais) do país de fato trabalham. Já na China, essa porcentagem é de 61,3%.

Ou seja, o grande potencial da Índia, que seria o tamanho da população economicamente ativa, é torpedeado pela baixa participação de mulheres no mercado de trabalho.

Há vários motivos que explicam isso, entre eles:

  • Não há uma tradição de indústrias que empregam mais mulheres, como a têxtil.
  • O conservadorismo impede as mulheres de trabalhar.

·         Um governo centralizado

A Índia e a China têm governos diferentes: o primeiro é uma república parlamentarista, e o segundo, uma república comunista de um partido só.

Isso permitiu que os governos da China desde a revolução pudessem consolidar poder e unificar políticas no país inteiro, e a Índia é mais descentralizada.

Rio Ganges em Varanasi, em 7 de março de 2023 — Foto: Joseph Campbell/Reuters

A partir da década de 1970, o foco desse governo chinês mais centralizado foi crescer economicamente, com foco em exportações. A China fez isso antes. A Índia abriu mais a economia dela cerca de dez anos mais tarde, e é uma democracia na qual os conflitos de interesse (por exemplo, de capital versus classe trabalhadora) não são decididos por um governo não eleito.

 

Fonte: g1

 

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