Alexandre de Moraes
relata delírios de bolsonaristas presos no dia 8 de janeiro: "negócio
assustador"
Em
palestra na Fundação FHC na manhã desta sexta-feira (31), o ministro Alexandre
de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que ficou assustado com
os delírios dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) presos por causa dos atos
terroristas no dia 8 de janeiro.
O
ministro disse que visitou um presídio - sem identificar se a Papuda, onde
ficam os homens, ou a Colmeia, onde estão as mulheres - com a presidenta do
Supremo Tribunal Federal (STF) e relatou uma declaração que ouviu.
"Eu
fui no presídio com a ministra Rosa (Weber). Há várias pessoas alienadas, que
acham que não fizeram nada, que era liberdade de manifestação. Uma delas chegou
a dizer que estava passando por perto, viu (a depredação) e aí ela ia orar e
Deus disse para ela se refugiar embaixo da mesa do presidente do Senado. Só por
causa disso ela entrou. É um negócio assustador", afirmou.
Nesta
semana, Moraes firmou uma parceria com a CPI dos Atos Golpistas que acontece na
Camara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e afirmou que parte das pessoas
presas relatam ter recebido dinheiro.
“Ele
falou que muita gente foi instrumentalizada, utilizada e financiada para estar
nos atos golpistas do dia 8. Tivemos por exemplo 50 pessoas que estavam em
situação de rua ou de vulnerabilidade, que foram levadas e pagas para
participar no 8 de janeiro. A maior parte era de São Paulo, mas muita gente
também era de Santa Catarina”, narrou o deputado distrital Fábio Félix (Psol),
titular da CPI que participou da reunião com o ministro.
Segundo
o deputado, Moraes afirmou que o STF já conseguiu localizar os financiadores
intermediários por trás dos atos golpistas, e que a atual prioridade dos
investigadores é identificar os grandes financiadores, objetivo comum com a
CPI.
• Moraes defende inquérito das fake News
O
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta
sexta-feira, 31, que a abertura do inquérito das fake news foi um ‘acerto
histórico’.
“Se
não tivesse esse inquérito, as agressões teriam aumentado de forma exponencial
até uma ruptura”, defendeu.
A
investigação foi instaurada por ordem do então presidente do tribunal, Dias
Toffoli, e se tornou uma das primeiras ofensivas do STF contra a base de apoio
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Moraes
foi escolhido relator do inquérito, o que o colocou na mira da militância
bolsonarista. “Não achem que eu pedi para ser o relator, foi goela abaixo”,
afirmou.
Ele
contou que a investigação foi aberta por iniciativa do próprio tribunal, em
meio a uma escalada de ameaças aos ministros, porque a Polícia Federal (PF) não
teria respondido aos apelos de Toffoli.
“Você
não tem resposta da PF, o risco pessoal e profissional aumenta, nós vamos,
enquanto Brasil e enquanto instituição, esperar pra ver o que ocorre? Foi um
acerto histórico do ministro Dias Toffoli como presidente do STF”, avalia.
Na
época, a decisão gerou uma onda de críticas ao STF, porque na prática o
tribunal abriu a apuração e passou a equilibrar os papéis de ‘vítima’ e ‘juiz’
do caso.
“A
forma de utilização tradicional dos mecanismos era insuficiente. Toffoli já
havia enviado mais de 30 ofícios à Polícia Federal. Estavam todos parados”,
contou. “Ou você interpreta finalísticamente ou você entrega a chave do Supremo
Tribunal Federal.”
Diante
de uma pequena e seleta plateia, na Fundação FHC, em São Paulo, o ministro fez
uma espécie de balanço da atuação do Supremo em defesa da democracia ao longo
do governo Bolsonaro. Moraes defende que o STF funcionou como uma espécie de
trincheira contra os arroubos autoritários do ex-presidente e de sua base
aliada.
“A
queda do STF seria a queda do Estado Democrático de Direito”, disse. “Vimos
deputados gravando vídeo e ameaçando de morte ministros do Supremo Tribunal
Federal como fosse uma coisa normal.”
O
ministro relembrou, por exemplo, o ataque ao STF, em junho de 2020, quando
extremistas do autodenominado grupo 300 do Brasil soltaram fogos contra o
prédio do tribunal: “Hoje é rojão, amanhã é tiro e depois de amanhã é bazuca”,
projeta. “Era ridículo, mas incendiou as redes.”
Moraes
também se defendeu das críticas à decisão que mandou fazer buscas em endereços
ligados a grandes empresários bolsonaristas investigados sob suspeita de
financiarem atos antidemocráticos. A operação aberta em agosto do ano passado
atingiu nomes como Luciano Hang, da rede de lojas Havan, Afrânio Barreira
Filho, do Grupo Coco Bambu, e Joseph Meyer Nigri, fundador da Tecnisa.
“Por
que não são pobres, eles não podem ter busca e apreensão? Porque no Brasil só
pobre e preto pode ter busca e apreensão? Só que isso evitou 7 de Setembro
financiado”, defendeu.
O
ministro assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às vésperas
da eleição e precisou lidar com tentativas de colocar sob suspeita a segurança
das urnas eletrônicas, de descredibilizar os institutos de pesquisa e de anular
o resultado do processo eleitoral.
Foi
ele quem vetou as investigações abertas pela PF e pelo Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) sobre os institutos de pesquisa eleitoral.
“Claramente era uma forma de tentar influenciar nas eleições”, afirmou.
A
campanha de Bolsonaro também chegou a pedir o adiamento do segundo turno. A
equipe jurídica do então presidente alegou que ele teria sido prejudicado
porque parte de suas inserções de rádio não teria ido ao ar. “A ideia era
colocar o segundo turno em risco”, avalia Moraes.
Com
a derrota de Bolsonaro nas urnas, o PL passou a tentar anular parte dos votos.
A ação rendeu ao partido uma multa de R$ 22,9 milhões, imposta por Moraes, e
investigações na esfera criminal. O ministro classificou a estratégia como uma
‘grande e patética manobra’.
“Negócio
patético se não fosse agressivo à democracia”, disparou o ministro. “O absurdo
de um partido político que, no primeiro turno elegeu 99 deputados, quase 20% da
Câmara, 6 a 8 senadores, governadores, pedir a impugnação da eleição.”
Na
avaliação do ministro, o discurso infundado sobre fraude das urnas foi uma
‘lavagem cerebral’. Ele também avalia que foi um ‘erro’ ter deixado os
bolsonaristas acampados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.
“Eu diria mais que um erro, foi uma omissão que está sendo investigada.
Obviamente eu não poderia determinar de ofício a retirada”, explicou.
Moraes
ainda ironizou os acampamentos, que segundo ele lotavam no final do dia, com ‘churrasco’
e ‘chope de graça’: “Esses são os verdadeiros revolucionários.”
A
PF e o Ministério Público Federal (MPF) já sinalizaram que o acampamento serviu
de base para os atos golpistas do dia 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes.
As sedes do STF, do Congresso e do Planalto foram invadidas e depredadas por
bolsonaristas radiciais inconformados com a vitória do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT).
“Essas
pessoas precisam ser responsabilizadas para perceber que não é fácil atentar
contra a democracia”, defende Moraes. “É um negócio assustar o que essa lavagem
cerebral das milícias digitais está fazendo com as pessoas. E nós não podemos
subestimar de novo.”
• Redes terão que se responsabilizar por
conteúdo pago
O
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes afirmou nesta
sexta-feira (31) que irá sugerir ao Congresso que as big techs sejam
responsabilizadas por todo conteúdo monetizado e impulsionado. Segundo ele,
essa proposta muda a ideia de que as plataformas são só intermediárias.
As
medidas se inserem em sua visão de que as plataformas devem ser tratadas como
empresas de mídia e não de tecnologia. Ele disse que as plataformas foram
cooperativas na eleição do ano passado, dentro da visão delas do negócio, mas
que há total irresponsabilidade.
“O
que ocorre hoje é uma total irresponsabilidade dos que levam a notícia para
milhares de pessoas”, disse. “Dia 8 de janeiro é o grande exemplo de
instrumentalização das redes. Várias medidas já eram de destruição e deixaram
proliferar.”
A
declaração foi dada em evento em São Paulo sobre democracia e plataformas
digitais na Faculdade de Direito da USP, da qual Moraes é professor.
Segundo
Moraes, no ano passado o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) esperou “até o
limite” o Congresso agir em relação à proliferação de notícias falsas. Como
isso não ocorreu, o tribunal agiu com resolução que aumentou seus poderes para
a retirada de conteúdos.
Ele
também quer que a inteligência artificial, já é usada para rastrear pedofilia,
por exemplo, seja usada para barrar automaticamente postagens de incitação à
violência, racismo e nazismo, entre outros.
“Não
podemos deixar de regulamentar senão fica só a decisão extrema que é tirar do
ar. É 8 ou 80. Como foi com o Telegram.”
“O
Telegram por um tempo se recusou a aceitar convite de reunião no TSE. Se
recusava a cumprir ordem judicial brasileira dizendo que era imune à jurisdição
nacional porque era em Dubai a sua sede. Ótimo. O que eu fiz? Bloqueio. Acabou
o Telegram. 53 milhões de pessoas que usavam iam ficar muito felizes comigo.
Iam se somar às outras 50 milhões que já são felizes comigo.”
Ele
lembrou que a rede se recusava a responder à Justiça brasileira, o que o levou
a bloquear a rede. O bloqueio foi revertido após a rede social responder ao
Supremo.
Outro
ponto que Moraes levará ao Congresso é que todos os conteúdos idênticos a
outros que já tenham sido derrubados sejam automaticamente excluídos das redes.
A medida já estava prevista na resolução do TSE publicada durante a eleição.
As
propostas sugeridas por Moraes foram elaboradas no âmbito de um grupo de
trabalho sobre o tema no TSE e devem ser enviadas ao Congresso no próximo dia
17 ou 18, afirmou o ministro.
Moraes
afirmou que a regulamentação das redes não precisa ser extensa. Bastaria, em
sua avaliação, que o que já é proibido no mundo real seja proibido também no
virtual.
Ao
falar do direcionamento de anúncios a partir de conversas dos usuários, ele
afirmou que já acorda partindo do pressuposto de que está sendo gravado e por
isso só fala o que pode ser gravado.
O
ministro disse ainda que o discurso de que o Judiciário quer limitar liberdade
de expressão é uma narrativa constante da extrema direita no mundo todo porque
é um discurso fácil.
O
tema tem sido debatido pelo STF, que promoveu nesta semana audiência pública
sobre o Marco Civil da Internet nesta semana.
“[A
pessoa diz] só tô falando que eu quero acabar com a democracia, matar meus
inimigos destruir o prédio do STF. Por que eu não posso falar isso?”, disse o
ministro. “É uma lavagem cerebral constante e isso tem métodos.”
• Moraes rejeita limite de 8 anos para
ministros do STF
O
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse ser
contra mandatos para ministros da Corte. Em entrevista coletiva nesta
sexta-feira, após palestra na Fundação FHC, Moraes defendeu a vitaliciedade
como garantia de maior independência e autonomia dos ministros.
–
Eu entendo, e isso no mundo todo ocorre, que só há mandato quando uma corte é
somente um tribunal constitucional – argumentou Moraes, acrescentando: – Quando
acumula as funções de tribunal constitucional com tribunal jurisdicional, que
julga casos concretos, como ocorre no Supremo Tribunal Federal no Brasil, a
vitaliciedade é a garantia que prevê uma maior independência e autonomia dos
ministros. Portanto, entendo que deva permanecer a vitaliciedade dos ministros
do Supremo Tribunal Federal – afirmou Moraes.
A
proposta de criar mandatos no STF a membros de tribunais superiores, inclusive
do STF, tem ganhado força entre integrantes das principais Cortes do país e no
Parlamento, como mostrou o GLOBO. Pelo menos quatro ministros do Supremo se
dizem favoráveis à mudança — três deles na condição de anonimato. No Congresso,
o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), vem sinalizando disposição em
pautar projeto sobre o tema.
Uma
PEC que estabelece mandato a magistrados, apresentada pelo senador Plínio
Valério (PSDB-AM), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, aguarda para ser
votada no Senado. O projeto fixa o prazo de atuação no STF em oito anos, sem
direito à recondução. Embora não haja um consenso sobre a extensão do mandato,
a ideia une partidos governistas e de oposição.
• Indicação de Zanin
Moraes
não quis opinar sobre a possível indicação de Cristiano Zanin, advogado que
atuou na defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato, para a
vaga do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposenta em 11 de abril. O
ministro disse que não acha “nada” sobre a escolha e ressaltou que a indicação
cabe ao presidente da República.
–
Isso não é algo que o Supremo Tribunal Federal, principalmente os seus membros,
deva analisar. É uma questão do Executivo e do Legislativo — no caso, o Senado
Federal. O presidente da República tem a liberdade, como todos os outros
presidentes tiveram, de escolher, e o Senado, de sabatinar e aprovar ou não
(aprovar)– disse o ministro.
Base de direita de Lula vota com oposição
em relação a PL das Fakes News
Um
deputado da base governista apresentou requerimento para travar a tramitação do
PL das Fake News na Câmara. Marcos Tavares, do PDT do Rio de Janeiro,
protocolou o pedido para instalar uma comissão especial destinada a discutir o
Projeto de Lei nº 2630/20.
A
criação de uma comissão especial é defendida por deputados da oposição
bolsonarista, que querem protelar a votação do PL no plenário. O governo Lula é
contrário à ideia.
No
requerimento, Marcos Tavares alega que o projeto apresenta “risco de censura” e
que não está claro se haverá “vigilância em massa de dados” — argumentos que
seguem à risca a lógica da oposição.
No
último dia 14, o PV republicou, em seu site oficial, um texto escrito pelo
deputado Jadyel Alencar, do Piauí, em defesa da comissão especial. A sigla
participa de uma federação com o PT e o PCdoB.
O
relator do PL é o deputado Orlando Silva, do PCdoB de São Paulo. Orlando
defende a aprovação de um requerimento de urgência para levar o projeto
diretamente para votação no plenário.
Fonte:
Fórum/Agencia Estado/FolhaPress/O Globo/Metropoles
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