O silêncio fala
mais que mil palavras: os desafios dos problemas auditivos
O Novembro Laranja
é uma campanha nacional com o foco no tratamento e diagnóstico do zumbido,
da hiperacusia e da misofonia. Os problemas de
audição são mais comuns do que se imagina e podem afetar pessoas de
todas as idades, manifestando-se não só na capacidade de ouvir, mas também na
capacidade de se comunicar.
De acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5% da população
brasileira apresenta alguma deficiência auditiva, ou seja, mais de 10 milhões
de pessoas. As causas mais comuns têm variado ao longo dos anos, por conta do uso
excessivo de fones de ouvido e da exposição a ruídos por longos períodos, principalmente,
por fazerem parte do cotidiano de muitas pessoas.
Para a
fonoaudióloga Marlene Escher, esses hábitos podem trazer alterações
irreversíveis, como a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) e o zumbido.
"Sons acima de 85 decibéis, por longos períodos, podem lesionar as células
sensoriais. Além disso, o uso inadequado e o compartilhamento de fones de
ouvido entre as pessoas podem aumentar o risco de infecções.
·
No
nascimento
Os problemas
auditivos podem ser detectados desde o nascimento. Por meio do teste
da orelhinha,
exame realizado em até 48 horas após o nascimento do bebê, é possível
diagnosticar de maneira precoce alguma alteração no sistema auditivo.
·
Na
infância
Causas de perda
auditiva relacionadas à primeira infância podem ser desencadeadas de várias
maneiras. Crianças que fazem o uso de muitos medicamentos podem ser afetadas
por conta dos ototóxicos, termo relacionado a compostos químicos presentes em
remédios, que podem danificar a audição, por conta de doenças virais e
infecciosas, como meningite, sarampo e caxumba.
·
Na
fase adulta
Os problemas
desenvolvidos na fase adulta, e em adolescentes também, são desencadeados pelos
traumas acústicos ou infecções virais. Já na terceira idade, existe a
presbiacusia, que seria a deficiência auditiva progressista relacionada ao
envelhecimento.
·
Sintomas
Os sintomas de
problemas de audição variam, dependendo da causa e da gravidade. Dificuldade
para entender conversas, necessidade de aumentar o volume da TV, do rádio ou do
telefone, sensação de zumbido ou pressão nos ouvidos são alguns exemplos
citados pela fonoaudióloga e audiologista Marlene Escher que merecem atenção.
·
Tratamento
Existem vários
tipos de tratamentos. O uso de aparelhos auditivos, que funcionam como um
amplificador sonoro, é a maneira mais recorrente. "Antigamente, usava-se
com perdas mais moderadas e graves, hoje já é falado em usar o aparelho auditivo
em perdas leves, com a justificativa da não evolução do quadro", explica o
médico otorrinolaringologista Stenio Pontes. O implante coclear pode ser uma
opção quando percebe-se que existe a ausência total de algumas células
auditivas. Em casos mais graves, a intervenção cirúrgica é indicada.
·
Zumbido
O zumbido pode se
manifestar transitoriamente, por conta da exposição ao som alto de uma festa e
desaparecendo em alguns dias, por exemplo. Os zumbidos crônicos, porém,
permanecem por anos ou até para sempre.
·
Hiperacusia
Trata-se de um
hiperestímulo ao som — às vezes, barulhos com intensidade normal podem
causar estresse e irritabilidade em algumas pessoas.
·
Misofonia
Assim como a
hiperacusia, a misofonia é uma condição que gera hipersensibilidade aos sons,
mas a tipos específicos. Segundo João Vitor Bizinoto, médico
otorrinolaringologista, sons repetitivos, como mastigação e barulhos com
caneta, podem desencadear a misofonia em algumas pessoas.
"A indicação
desses problemas (hiperacusia e misofonia) é feita normalmente pelo
otorrinolaringologista. O tratamento para ambos é a psicoterapia, tendo uma
associação direta — zumbido, hiperacusia e misofonia — com estresse e
ansiedade", completa.
·
Cerume
Mais conhecido como
cera de ouvido, o cerume funciona como uma barreira de proteção para os
ouvidos. Muitas pessoas têm o hábito de limpar os ouvidos com cotonetes, porém,
quanto mais se usa, mais cera tende a formar, e a exposição a riscos se torna
maior. Quando usado para limpeza interna do ouvido, os cotonetes têm a
tendência de empurrar essa cera na direção do tímpano, podendo causar
perfuração e lesões. Com isso, o canal auditivo fica obstruído e tampado,
causando sérios danos à audição, como otites, infecções e inflamações.
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Palavra do especialista - Stenio Pontes é médico otorrinolaringologista da
clínica OtorrinoDF
·
Existem
fatores e doenças, que não necessariamente têm relação com a audição, que levam
à perda auditiva?
Sim. Algumas dessas
doenças são as metabólicas, como diabetes e pressão alta. Algumas doenças
reumatológicas, que chamamos de autoimunes, produzem anticorpos contra nós
mesmos e, às vezes, contra as células do ouvido. Então, é bem comum um paciente
com doenças autoimune, como lúpus, ou reumatológicas, algumas meningites, tenha
perda de audição. Às vezes, não tem nada a ver com audição em si, mas podem ter
como sequela uma perda de audição.
·
A
perda auditiva pode ser hereditária?
Sim. Porém, é bom
definir, e deixar claro, que essa predisposição genética pode surgir na idade
precoce ou avançada. A genética da idade avançada não é tão evidente, porque
todo mundo com idade avançada tende a perder a audição naturalmente. Paciente
de 30 anos com perda de audição, criança com perda de audição, aí vale-se o
estudo genético. Os médicos geneticistas ajudam nisso, para entender qual gene
é responsável por aquilo. Conhecer a família é importante para descobrir a dominância
desse gene e se vale a pena um estudo genético, até para prevenir outras
gerações que vão vir, fechar o diagnóstico de tratamento e definir o uso do
aparelho, quando necessário, para evitar que isso se agrave ao longo do tempo.
·
Qual
seria o público-alvo da campanha do Novembro Laranja?
Neste mês de
Novembro Laranja, não devemos esquecer das crianças, porque pensamos só nos
idosos quando o assunto é a perda de audição, e dos familiares que convivem com
esse público. Então crianças e idosos seriam os públicos-alvo dessas campanhas
de prevenção de combate à surdez.
Fonte: Correio
Braziliense
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