terça-feira, 10 de dezembro de 2024

‘Cérebro de lagarto’: novas descobertas abrem caminho para tratamento de depressão e ansiedade

Um estudo conduzido pela Northwestern Medicine, publicado em 22 de novembro, na revista Science Advances, buscou entender a motivação dos humanos em tentar compreender tudo o que se passa na cabeça de outras pessoas. A pesquisa tem a intenção de auxiliar nos tratamentos de condições psiquiátricas como ansiedade e depressão.

“Passamos muito tempo nos perguntando: ‘O que essa pessoa está sentindo, pensando? Eu disse algo que a aborreceu? As partes do cérebro que nos permitem fazer isso estão em regiões do cérebro humano que se expandiram recentemente em nossa evolução, e isso implica que é um processo desenvolvido recentemente. Em essência, você está se colocando na mente de outra pessoa e fazendo inferências sobre o que essa pessoa está pensando quando você realmente não pode saber”, explicou Rodrigo Braga, autor sênior do estudo.

A análise revelou que as partes recentemente expandidas do cérebro dão suporte às interações sociais, além de estarem conectadas com uma parte antiga do órgão chamada amígdala. Os cientistas explicam que o ancestral em comum dos humanos com os lagartos possivelmente também tinham a amígdala, por isso ela é frequentemente chamada de “cérebro de lagarto”. A função da ferramenta é a detecção de ameaças e processamento do medo – a resposta de alguém a uma cobra, por exemplo, corpo assustado, coração acelerado e palmas das mãos suadas, é ação dessa parte da mente.

Porém, a pesquisa completa que há mais funções dessa parte do corpo humano. “Por exemplo, a amígdala é responsável por comportamentos sociais como parentalidade, acasalamento, agressão e navegação de hierarquias de dominância social”, disse o especialista.

Investigações anteriores já tinham identificado a relação entre a amígdala e a rede cognitiva social, mas o novo estudo busca focar no porque essa comunicação está sempre acontecendo.

Dentro da estrutura há uma parte chamada núcleo medial –importante para controle de comportamentos sociais – conectada a várias regiões da rede cognitiva recentemente evoluída. Essa ligação faz com que ela tenha grande impacto no processamento do conteúdo emocional dos humanos.

As descobertas do estudo só foram possíveis pelo uso da ressonância magnética funcional – técnica não invasiva de medição e criação de imagem cerebral e das alterações de níveis de oxigênio no sangue. Seis participantes foram usados no teste, o que permitiu mais detalhamentos da rede cognitiva – estas repostas completaram os dados que já descobertos no Northwestern’s Center for Translational Imaging, no qual os integrantes realizam as tarefas com a intenção de auxiliar nos processos cognitivos sociais.

“Conseguimos identificar regiões de rede que não conseguíamos ver antes. Isso é algo que tinha sido subestimado antes do nosso estudo, e conseguimos chegar lá porque tínhamos dados de alta resolução”, explicou a coautora DonnisaEdmonds, candidata a doutorado em neurociência no laboratório de Braga na Northwestern.

<><>Ansiedade e Depressão

Ambas as condições psicológicas envolvem a hiperatividade da amígdala, o que pode contribuir para respostas emocionais excessivas e regulação emocional prejudicada. Atualmente, já existe um tratamento para o controle dessas condições, mas poucos optam por testá-lo por seu grau de invasão. A nova investigação abre portas para uma técnica menos invasiva chamada estimulação magnética transcraniana (EMT) – capaz de de usar o conhecimento sobre a conexão cerebral que atinge a amígdala. Porém, os pesquisadores ainda não possuem certeza de se a técnica teria um efeito benéfico no tratamento.

“Por meio desse conhecimento de que a amígdala está conectada a outras regiões do cérebro — potencialmente algumas que estão mais próximas do crânio, que é uma região mais fácil de atingir — isso significa que as pessoas que fazem EMT podem atingir a amígdala em vez de atingir essas outras regiões”, completou Edmonds.

 

¨      A consciência é apenas uma ilusão? Por Diógenes Henrique

O cientista cognitivo Daniel Dennett acredita que nossos cérebros são máquinas, feitas de bilhões de minúsculos “robôs” – nossos neurônios ou células cerebrais. A mente humana é realmente tão especial?

Em uma nota infame escrita em 1965, o filósofo Hubert Dreyfus afirmou que os humanos sempre venceriam os computadores no xadrez porque as máquinas não tinham intuição. Daniel Dennett não concordou.

Alguns anos mais tarde, Dreyfus se encontrou vergonhosamente com o xaque-mate de um computador. E em maio de 1997, o computador da IBM, Deep Blue derrotou o campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov.

Muitos que não estavam satisfeitos com este resultado alegaram que o xadrez era um jogo aborrecido e lógico. Os computadores não precisavam de intuição para vencer. Os tilhos mudaram.

Daniel Dennett sempre acreditou que nossas mentes são máquinas. Para ele, a questão não é “os computadores podem ser humanos?”, mas “os humanos são realmente tão espertos?”.

Em uma entrevista para o programa de rádio The Life Scientific da BBC Radio 4 ,Dennett diz que não há nada de especial em relação à intuição. “A intuição é simplesmente saber algo sem saber como você chegou a esse algo”.

Dennett culpa o filósofo Rene Descartes por poluir permanentemente nosso pensamento sobre como pensamos a respeito da mente humana.

Descartes não conseguiu imaginar como uma máquina poderia ser capaz de pensar, sentir e imaginar. Tais talentos devem ser dadas por Deus. Ele escreveu no século 17, quando as máquinas eram feitas de alavancas e polias, não de CPU’s e RAM’s, então talvez possamos perdoá-lo.

<><>Robôs feitos de robôs

Nossos cérebros são feitos de algo em torno de cem bilhões de neurônios – as mais recentes estimativas contam 86 bilhões dessas células: se você fosse contar todos os neurônios em seu cérebro a uma taxa de um segundo, levaria mais de 3.000 anos.

Nossas mentes são feitas de máquinas moleculares, também conhecidas como células cerebrais. E se você achar isso deprimente, então lhe falta imaginação, diz Dennett. “Você conhece o poder de uma máquina feita de um trilhão de peças móveis?”, ele pergunta.

Nossas células cerebrais são robôs que respondem a sinais químicos. As proteínas motorizadas que esses robôs criam são robôs. E assim vai. “Nós não somos apenas robôs”, completa o filósofo. “Somos robôs, feitos de robôs, feitos de robôs”.

<><>Como uma tela do telefone

A consciência é real. Claro que é. Nós a experimentamos todos os dias. Mas para Daniel Dennett, a consciência não é mais real do que a tela no seu laptop ou no seu telefone.

Os geeks que fazem aparelhos eletrônicos chamam o que vemos em nossas telas de “ilusão do usuário”. É um pouco paternalista, talvez, mas eles têm um porquê.

Pressionar ícones em nossos telefones nos faz sentir no controle. Nós nos sentimos no comando do hardware que há lá dentro. Mas o que fazemos com os dedos nos nossos telefones é uma contribuição bastante patética para a soma total da atividade do telefone. E, claro, não nos diz absolutamente nada sobre como eles funcionam.

A consciência humana é a mesma, diz Dennett. “É a própria ‘ilusão do usuário’ do cérebro”, diz ele. Parece real e importante para nós, mas isso não é uma coisa muito grande. “O cérebro não precisa entender como o cérebro funciona”, completa.

<><>Não tão inteligente quanto pensamos

Sabemos que evoluímos de símios. Sabemos que compartilhamos 99% do nosso DNA com chimpanzés.

Reconhecemos que alguns de nossos comportamentos são devidos à nossa natureza animal (embora geralmente não são esses os aspectos de que estamos mais orgulhosos). Nossas qualidades mais especiais, nossa inteligência, nossa percepção e nossa criatividade, nós gostamos de pensar, devem ter causas mais especiais.

Nossos cérebros, como nossos corpos, evoluíram ao longo de centenas de milhões de anos. Eles são o resultado de milhões e milhões de anos de experimentos aleatórios e experimentais errôneos.

Do ponto de vista evolutivo, nossa capacidade de pensar não é diferente da nossa capacidade de digerir, diz Dennett.

Ambas as atividades biológicas podem ser explicadas pela Teoria da Seleção Natural de Charles Darwin, muitas vezes descrita como a sobrevivência do mais apto.

<><>Tentativa e erro

Nós evoluímos de bactérias incapazes de compreender. Nossas mentes, com todos os seus talentos notáveis, são o resultado de inúmeras experiências biológicas.

Nosso gênio não é dado por Deus. É o resultado de milhões de anos de tentativa e erro.

Quando uma bactéria se move em direção a uma fonte de alimento, os cientistas não elogiam as bactérias por serem inteligentes. Isso seria altamente não científico. Mas quando os cientistas descrevem o pensamento como uma atividade biológica, eles se arriscam serem ridiculizados ou indignar (dependendo da empresa que lhes mantenham).

Tal reducionismo feroz ofende. Quão ingênuo sugerir que não há nada mais na mente humana do que um monte de neurônios!

Descartes subestimou as máquinas grosseiramente. Alan Turing as ajustou direito.

Ele previu que até o final do século XX: “O uso de palavras e opiniões educadas em geral terão alterado tanto que alguém poderá falar com máquinas pensantes sem ser contraditado”.

Os computadores na década de 1960 não eram muito bons no jogo de xadrez. Agora eles tocam saxofone como John Coltrane.

Nesta era digital de supercomputadores e telefones inteligentes, certamente não é tão difícil imaginar como uma máquina composta de trilhões de peças móveis pode ser capaz de ser humana.

 

¨      Pela primeira vez, microplásticos são detectados em cérebros humanos

O mundo moderno é feito de plástico. O material é onipresente: está em nossas roupas, celulares, garrafas, recipientes de comida, embalagens e muito mais. Embora o plástico possua uma utilidade valiosa, como na área da medicina, ele tem se tornado um verdadeiro problema ambiental há muito tempo em discussão, e agora, uma preocupação crescente para a saúde das pessoas.

Nesse contexto, cientistas dos Estados Unidos fizeram uma descoberta inédita e preocupante: pela primeira vez, microplásticos foram encontrados em cérebros humanos. Essa revelação, que ainda necessita de confirmação por meio de estudos independentes conduzidos por outros especialistas, foi amplamente destacada na mídia como uma notícia perturbadora, chocante e profundamente alarmante.

No entanto, essa descoberta levanta algumas questões importantes: o que exatamente são microplásticos? Como eles podem afetar nossa saúde de maneira significativa? Devemos estar verdadeiramente preocupados com essa nova ameaça emergente? Saiba mais.

<><>O que são os microplásticos

Com frequência, é possível ver os itens de plástico como materiais praticamente indestrutíveis. No entanto, o plástico, ao longo do tempo, se fragmenta em partículas menores. Ainda que existam diferentes definições, os microplásticos geralmente são classificados como partículas com menos de cinco milímetros de tamanho.

Devido a esse tamanho reduzido, muitos microplásticos são tão pequenos que não podem ser vistos a olho nu. Por isso, muitas das imagens utilizadas pela mídia para ilustrar artigos sobre microplásticos podem ser enganosas, já que frequentemente mostram pedaços de plástico muito maiores e claramente visíveis.

Desse modo, os microplásticos têm sido encontrados em diversas fontes de água potável e em alimentos que consumimos diariamente. Isso significa que estamos constantemente expostos a essas partículas em nossa dieta, muitas vezes sem sequer nos darmos conta.

Essa exposição constante e prolongada aos microplásticos levanta preocupações sérias sobre os possíveis impactos na saúde humana. As pesquisas sobre os riscos potenciais que os microplásticos podem representar para nossa saúde ainda são limitadas, mas o interesse e os estudos nessa área estão crescendo de forma significativa – e com razão.

<><>Novo estudo encontra quantidade maior de microplásticos em amostras de cérebro

estudo analisou microplásticos em 51 amostras de tecidos de homens e mulheres, coletadas durante autópsias de rotina em Albuquerque, Novo México. Os cientistas examinaram amostras do fígado, rins e cérebro.

Devido ao tamanho extremamente pequeno dessas partículas, estudá-las diretamente é um desafio, mesmo com o uso de microscópios poderosos. Para superar essa dificuldade, os pesquisadores têm recorrido a instrumentos avançados que identificam a composição química dos microplásticos nas amostras.

Os resultados foram surpreendentes: os pesquisadores identificaram até 30 vezes mais microplásticos no cérebro em comparação com o fígado e os rins. Eles sugeriram algumas possíveis explicações para essa diferença. Uma teoria é que o cérebro, por receber um fluxo sanguíneo intenso, pode estar acumulando mais microplásticos.

Outra hipótese é que o fígado e os rins, sendo órgãos especializados na filtragem e eliminação de toxinas, sejam mais eficazes na remoção dessas partículas. Além disso, como o cérebro não passa por renovação celular tão frequentemente quanto outros órgãos, os microplásticos poderiam se acumular ali por mais tempo.

Outra descoberta preocupante foi o aumento significativo da quantidade de microplásticos nas amostras de cérebro, que cresceu cerca de 50% entre 2016 e 2024. Esse crescimento pode refletir tanto o aumento da poluição ambiental por plásticos quanto a maior exposição humana a esses contaminantes ao longo dos anos.

<><>Como diminuir a exposição aos microplásticos

Os microplásticos estão presentes em praticamente todos os lugares ao nosso redor, tornando quase impossível evitá-los completamente. Os pesquisadores ainda estão nos primeiros passos para compreender os possíveis impactos desses minúsculos fragmentos em nossa saúde.

Enquanto as pesquisas avançam, a melhor abordagem popular é tentar diminuir a nossa exposição aos plásticos sempre que possível e reduzir a quantidade de resíduos plásticos que geramos, evitando assim que mais dessas partículas contaminem o ambiente.

Uma maneira simples de começar é optando por alimentos e bebidas que não estejam embalados em plásticos descartáveis ou evitando aquecer alimentos em recipientes de plástico. Outra medida importante é reduzir o uso de fibras sintéticas em nossas roupas e em nossa casa, contribuindo para um ambiente mais saudável.

 

Fonte: Revista Planeta/Só Cientifica

 

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