sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Republicanos ‘consternados’ com desempenho de Trump em debate

A campanha do ex-presidente Donald Trump acionou o modo de controle de danos após o primeiro debate presidencial contra a democrata Kamala Harris nesta terça-feira (10/09) em meio a uma consternação generalizada dos correligionários.

Embora Trump insista que venceu o debate “por uma grande margem”, os republicanos foram praticamente unanimes ao afirmar que ele ficou atrás de Kamala em diversas discussões onde a vice-presidente atacou seus pontos fracos, o qual respondia com raiva visível. Até mesmo os apresentadores da conservadora Fox News tiveram uma visão diferente do candidato republicano.

Segundo o jornal britânico The Guardian, muitos comentaristas destacam que o tom do debate foi definido logo no início, quando Kamala Harris se aproximou do púlpito de Trump para se apresentar e apertar sua mão. Este foi o primeiro aperto de mão em um debate presidencial desde 2016.

Outro momento muito comentado foi a reação de Trump aos comentários de Kamala Harris sobre os comícios do republicano, os quais a democrata afirmou que as pessoas iam embora “cedo por exaustão ou tédio”.

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Trump acabou deixando de responder a um questionamento sobre projeto de lei de imigração para comparar os comícios. Harris apenas sorriu e olhou para ele, apoiando o queixo na mão.

“Essa troca – junto com várias outras – cristalizou o que muitos republicanos descreveram como uma derrota clara para Trump. Também houve elogios relutantes dos republicanos para Harris, que ganhou respeito por estar bem preparada”, destaca a publicação britânica.

¨      A noite foi de Trump “e da pior forma possível”, diz Politico

O debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos trouxe algumas percepções à tona: Kamala Harris fez um bem enorme à sua candidatura, Donald Trump confirmou as principais dúvidas de qualquer um que não esteja ao seu lado, e o principal: se Trump não sofrer nenhum dano político, ele vai se mostrar mais invulnerável ao fluxo político do que o imaginado.

“Harris sabia os pontos que queria atingir, e atingiu-os. Ela fez tão bem que o pessoal de Trump pode ter suspeitado de que um teleprompter escondido tinha sido usado ilegalmente”, explica reportagem do site Politico.

Ao mesmo tempo, a publicação destaca que Harris fez com que a noite fosse de Donald Trump, “e da pior forma possível” – a campanha da democrata a municiou com diversas armadilhas que não só foram acionadas por Trump como ele também tropeçou em seus próprios argumentos.

A democrata sabia o que encontrar ao provocar Trump sobre o “tédio e exaustão” que levam multidões a deixar seus comícios, pois sabia que ele não iria resistir em rebater que suas plateias eram maiores – mas nem a equipe dela poderia esperar que o republicano voltaria para os “milhões e milhões” de imigrantes ilegais e alegasse que eles estão “comendo os mascotes!”

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Até mesmo a ótica jogou a favor de Harris. Ela superou Trump no início do debate indo até ele e apertando suas mãos. Ela certamente não tinha medo de ser vista como menor que Trump.

Em uma percepção mais ampla, a publicação destaca que Kamala Harris pretende convencer o país a virar a página sobre Trump e, ao dizer que ele foi “demitido por 81 milhões de eleitores”, viu o republicano repetir o discurso sobre a “eleição roubada de 2020”.

Diante do cenário em que muitos destacam a vitória de Kamala sobre Trump, o site recomenda atenção para as próximas pesquisas a serem divulgadas – pois, embora elas não representem tudo, “estamos prestes a descobrir o quão arraigado o sentimento realmente está sobre Trump, e se Harris precisa encontrar alguma outra maneira de conquistar os poucos eleitores indecisos restantes em um eleitorado polarizado”.

 

¨      Debate nos EUA: atacar a China é um 'golpe baixo para ganhar pontos políticos', diz analista

A China teve grande destaque no debate de terça-feira (10) entre o ex-presidente dos EUA Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, mas o fracasso dos Estados Unidos em promulgar uma política coerente relacionada à superpotência asiática é exclusivamente ilustrativo das falhas de sua classe política.

De acordo com o jornalista e consultor de negócios internacionais George Koo, os EUA falharam em quebrar sua dependência da potência industrial.

"Tudo o que as tarifas farão é que o público norte-americano, o consumidor norte-americano, o contribuinte norte-americano simplesmente pague muito mais por tudo o que precisar e tudo o que precisar comprar", disse Koo à Sputnik na quarta-feira (11), referindo-se aos pesados impostos sobre produtos chineses cobrados sob o governo Trump (2017-2021) e mantidos por seu sucessor, o presidente dos EUA, Joe Biden.

"Tudo o que eles vão comprar — boa parte, pelo menos — será feito na China e eles pagarão o preço por ser feito na China com tarifas mais altas", continuou. "Não é dinheiro de graça que Trump continua a se gabar. Vai sair do bolso do público norte-americano e vai aumentar o custo de vida."

Nenhum dos candidatos explicou completamente a natureza das tarifas aos espectadores durante o debate. Trump e Harris se dirigiram ao público norte-americano de forma incipiente, sem oferecer algo substancial para as pessoas.

"Eles realmente tratam o público norte-americano como inculto, sujo, ignorante, inquestionável", afirmou Koo. "Mas um dia desses eles vão acordar e vão dizer: 'ei, isso é balela'. E vamos ter que 'expulsar esses vagabundos'."

"Atacar a China é apenas um golpe baixo que lhes dá pontos políticos", continuou o especialista, alegando que os legisladores dos EUA tratam o público com tanto respeito quanto Trump e Harris. "O comércio entre os EUA e a China, na verdade, não diminuiu em nenhum grau desde que a guerra tarifária começou. O que é consequente é que estamos pagando mais por produtos feitos na China."

Koo citou o apoio à fabricante de chips dos EUA, Intel, como uma das principais falhas da guerra comercial. Os Estados Unidos concederam à empresa bilhões em subsídios apenas para que ela continuasse a perder sua posição outrora dominante como fabricante de semicondutores.

O analista afirmou que o público dos EUA ainda não entende até que ponto "a China pode exercer sua própria barreira e sanções e barreiras comerciais sobre [os Estados Unidos da] América", alertando que o país tem uma alavancagem significativa para retaliar contra medidas punitivas. "Quando isso acontecer — já está começando a acontecer, a propósito — não teremos sorte."

"A China tem sido muito cuidadosa, escolhendo muito lenta e gradualmente as áreas onde fará isso. E, no fim de contas, o público norte-americano entenderá que há uma dor que eles estão sentindo [que] vem de Washington e é uma consequência direta da falta de vontade de colaborar e cooperar de qualquer forma por causa de pontos políticos baratos que podemos ganhar dando tiros na China."

"A China está saindo do chamado desacoplamento em nome da 'redução de riscos' construindo sua [Iniciativa] Cinturão e Rota, construindo a aliança BRICS, fazendo seu comércio global", observou Koo. "Eles são agora o país comercial número um com praticamente todos no mundo. Até mesmo os países da União Europeia [UE] estão sentindo a dor das políticas norte-americanas que prejudicam sua economia. E eles estão gradualmente — Espanha, Itália, entre eles — vendo que faz muito mais sentido trabalhar com a China e tirar vantagem do projeto Cinturão e Rota do que tentar seguir sozinho ou tentar lançar sua sorte com os Estados Unidos."

"A China não tem intenção de desafiar os Estados Unidos, ou de substituir os EUA", afirmou o governo chinês durante o auge da guerra comercial EUA-China em 2019. Mas acrescentou que "os EUA são incapazes de forçar a mão da China e ainda menos propensos a deter o desenvolvimento da China. Os EUA não podem manter sua força tentando conter e suprimir outros países, ou transferindo suas próprias tensões domésticas para fora."

¨      Dívida dos EUA é 'um fracasso moral intergeracional' não abordado nas eleições, diz jornalista

A dívida dos Estados Unidos atingiu níveis preocupantes de várias dezenas de trilhões de dólares e, no entanto, apesar da sua grande importância para Washington e para a economia internacional, não é uma questão que seja abordada de forma importante durante a campanha presidencial de ambos, Kamala Harris ou Donald Trump.

Segundo um artigo publicado pelo The Hill, a importância que a dívida nacional deverá ter no ciclo eleitoral que elegerá o próximo presidente dos Estados Unidos, especialmente para os jovens, que vão receber como herança uma dívida que poderá ser "paralisante", não pode ser ignorada.

"A crescente dívida nacional de US$ 35 trilhões [cerca de R$ 198,4 trilhões] ameaça se tornar o mais sério dilema da política fiscal e o fardo fundamental que a posteridade norte-americana herdará", destaca o artigo assinado por Jeremy Etelson, ex-funcionário democrata em Maryland.

A análise destaca que a dívida nacional dos EUA representa agora 122% do seu produto interno bruto (PIB) de US$ 28,6 trilhões (aproximadamente R$ 162,1 trilhões). Isso está entrando em um território sem precedentes, uma vez que esse nível de dívida nem sequer foi alcançado na Segunda Guerra Mundial.

O autor alerta que os Estados Unidos enfrentam atualmente um declínio no valor do dólar, complementado por impostos em rápida expansão que são capazes de "comprar menos em termos de serviços governamentais".

"Legar aos jovens e futuros norte-americanos uma dívida nacional paralisante, enquanto muitos já estão enterrados em dívidas estudantis, não é apenas economicamente inviável e míope. É um fracasso moral intergeracional", observa Etelson.

Em função disso, o analista insiste que os candidatos à Casa Branca abordem um tema tão importante como o da dívida, que tem vindo a aumentar significativamente, tornando-se um pesado fardo para as gerações futuras.

"As eleições presidenciais de 2024 devem dar prioridade à libertação dos jovens e futuros norte-americanos de uma dívida pública que está prestes a afundar a posição [dos Estados Unidos] da América no mundo. A economia norte-americana deve se tornar sustentável", conclui.

¨      Crescem os 'rios de ferro' até o México: armas saem de forma ilegal dos EUA para o vizinho ao sul

As armas norte-americanas são transportadas de forma ilícita dos Estados Unidos até o México como um verdadeiro "rio de ferro", desde as sedes das empresas fabricantes, passando pelos armazéns e pela fronteira compartilhada, até chegarem às mãos de grupos criminosos que geram violência e morte no país latino-americano.

Um estudo recente da ONG Stop US Arms to Mexico obteve dados inéditos sobre as origens das armas traficadas e exportadas para o México e para a América Central a partir do solo norte-americano.

A organização afirma que a violência armada no México cresceu graças a dois acontecimentos ocorridos anos atrás: o fim da proibição federal de armas de assalto nos Estados Unidos em 2004 e a declaração em 2007 da guerra às drogas no México, segundo o relatório intitulado "O rio de ferro de armas para o México: suas fontes e conteúdo".

Sobre o número de armas de fogo traficadas dos Estados Unidos para o México, o relatório, elaborado entre 2010 e 2012, estimou que 253 mil armas por ano são compradas nos Estados Unidos com a intenção de contrabando para o território mexicano. No entanto, aponta a ONG, em 2022 a produção e importação de armas de fogo nos Estados Unidos duplicou, o que significa que o número atual pode ser muito superior.

Segundo dados do Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em inglês) obtidos pela Stop US Arms to Mexico, a cada ano são recuperadas cerca de 20 mil armas no México, que são enviadas ao ATF para rastrear suas origens.

Os mesmos dados revelam que o número de armas recuperadas pelo México aumentou 45% entre 2015 e 2022, passando de 18.063 para 26.433. Durante o mesmo intervalo de oito anos, o país latino-americano recuperou e enviou às autoridades norte-americanas um total de 158.289 armas.

"Se os dados forem verdadeiros, a situação é alarmante, mas ao mesmo tempo corresponderia a um crescente processo de militarização do Estado mexicano", disse em entrevista à Sputnik Sandra Kanety, acadêmica do Centro de Relações Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e criadora do projeto de pesquisa "Ressonâncias da militarização na segurança humana no século XXI".

O número de recuperações registradas pelo México contrasta com o dos Estados Unidos, pois enquanto o México recupera uma média de 20 mil armas por ano, funcionários ​​da Segurança Nacional destacaram recentemente um aumento do número de armas destinadas ao México que foram apreendidas no ano fiscal de 2023, chegando a 1.392.

O contraste entre a quantidade de armas recuperadas pela nação latino-americana e a de seu vizinho é abissal, já que Washington não recupera nem 10% do que o governo mexicano consegue, o que demonstra haver falta de interesse por parte das autoridades norte-americanas.

"A verdade é que teria que ser feito um esforço conjunto do mais alto nível [para acabar com o tráfico de armas], isto é, a partir do nível governamental dos Estados Unidos e do México. O problema aqui é que o governo dos EUA não tem o interesse nem vontade política para acabar com o tráfico de armas para o México", acrescenta Kanety.

Os dados do ATF identificaram cerca de 925 fabricantes de armas traficadas para o país latino-americano. "Mas, de longe, as armas recuperadas com mais frequência no México são fabricadas por quatro empresas que o México está processando em um tribunal dos EUA por negligência com o tráfico para o México: Smith & Wesson, Colt, Glock e Beretta", revela o estudo.

A Smith & Wesson foi o fabricante com o maior número de armas recuperadas no México durante 2022, com 2.243. As pistolas foram as armas mais confiscadas no referido ano, um total de 13.546 unidades, seguidas de fuzis, com 8.173 apreensões.

Governo mexicano segue comprando dos EUA

Embora o governo mexicano tenha apresentado recentemente uma ação judicial contra os fabricantes de armas norte-americanos perante um tribunal dos EUA por negligência, continua comprando armas de fabricantes do vizinho para equipar as suas Forças Armadas. Essas compras têm, inclusive, aumentado.

"As agências policiais do México estão comprando legalmente dos Estados Unidos. Como é possível você dizer que eles negligenciam o tráfico de armas e você mesmo comprar deles?", questiona Montserrat Martínez Téllez, especialista independente e membro do Fórum sobre o Comércio de Armas.

Na América Latina, o México é, de longe, o maior importador de armas de fogo dos Estados Unidos, revela o relatório da Stop US Arms to Mexico. Em abril de 2020, a Secretaria de Defesa Nacional importou 51.097 pistolas Sig Sauer para uso da então nova Guarda Nacional, ao custo de US$ 18,6 milhões (R$ 105,44 milhões), o que representou o maior envio de armas de fogo ao México já registrado, e o maior envio de pistolas dos EUA a qualquer país latino-americano desde 2002.

Até 2023, acrescenta o estudo, os EUA exportaram 12.515 rifles militares para o México — mais do que para a Ucrânia e apenas menos do que para Israel —, bem como 6.686 metralhadoras, tudo a um custo superior a US$ 27 milhões (R$ 153,06 milhões). Em março deste ano, o México comprou mais de 14 mil rifles militares do seu vizinho do norte, mais do que todo o resto do mundo durante esse mês.

"A compra de armas dos Estados Unidos pelo governo do México aumentou, mas o México poderia deixar de adquirir essas armas dos Estados Unidos para fazê-lo com outros países, e essa compra não deixaria de abastecer as forças policiais. […] poderia haver uma advertência ou um alerta, como 'Até que você resolva essa situação [tráfico ilegal de armas], não vou comprar de você'", critica Martínez Téllez.

·        Existe alguma possibilidade de solução?

Uma possível solução para o tráfico ilegal de armas depende em grande parte da vontade do governo dos Estados Unidos de regulamentar ainda mais a compra e a venda de armas, e de um maior envolvimento dos fabricantes no assunto.

"A dinâmica que se esperaria é que não apenas os Estados Unidos, como país, regulem federalmente a questão da compra e venda de armas de fogo, mas que também as empresas privadas se envolvam", destacou Martínez Téllez.

No que diz respeito ao trabalho do governo mexicano, a especialista da UNAM reconhece o valor da ação judicial que as autoridades mexicanas impuseram contra alguns fabricantes pelo tráfico de seus produtos para o México e pela violência que geram.

"É uma estratégia sem precedentes, e tem sido muito importante, porque de alguma forma ajuda a tornar visível de onde vêm essas armas, nomeia as corporações ou empresas que vendem essas armas. De alguma forma, também coloca em evidência o enorme tráfico ilegal de armas dos Estados Unidos para o México e nos permite compreender as causas da militarização e da violência no México", conclui Kanety.

 

Fonte: Jornal GGN/Sputnik Brasil

 

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