Republicanos ‘consternados’ com desempenho
de Trump em debate
A campanha do
ex-presidente Donald Trump acionou o modo de controle de danos após o primeiro
debate presidencial contra a democrata Kamala Harris nesta terça-feira (10/09)
em meio a uma consternação generalizada dos correligionários.
Embora Trump insista
que venceu o debate “por uma grande margem”, os republicanos foram praticamente
unanimes ao afirmar que ele ficou atrás de Kamala em diversas discussões onde a vice-presidente atacou seus pontos fracos, o qual
respondia com raiva visível. Até mesmo os apresentadores da conservadora Fox
News tiveram uma visão diferente do candidato republicano.
Segundo o jornal britânico The Guardian, muitos comentaristas destacam que o tom do debate foi definido
logo no início, quando Kamala Harris se aproximou do púlpito de Trump para se
apresentar e apertar sua mão. Este foi o primeiro aperto de mão em um debate
presidencial desde 2016.
Outro momento muito
comentado foi a reação de Trump aos comentários de Kamala Harris sobre os
comícios do republicano, os quais a democrata afirmou que as pessoas iam embora
“cedo por exaustão ou tédio”.
Trump acabou deixando
de responder a um questionamento sobre projeto de lei de imigração para
comparar os comícios. Harris apenas sorriu e olhou para ele, apoiando o queixo
na mão.
“Essa troca – junto
com várias outras – cristalizou o que muitos republicanos descreveram como uma
derrota clara para Trump. Também houve elogios relutantes dos republicanos para
Harris, que ganhou respeito por estar bem preparada”, destaca a publicação britânica.
¨ A noite foi de Trump “e da pior forma possível”, diz Politico
O debate entre os
candidatos à presidência dos Estados Unidos trouxe algumas percepções à tona:
Kamala Harris fez um bem enorme à sua candidatura, Donald Trump confirmou as
principais dúvidas de qualquer um que não esteja ao seu lado, e o principal: se
Trump não sofrer nenhum dano político, ele vai se mostrar mais invulnerável ao
fluxo político do que o imaginado.
“Harris sabia os
pontos que queria atingir, e atingiu-os. Ela fez tão bem que o pessoal de Trump
pode ter suspeitado de que um teleprompter escondido tinha sido usado
ilegalmente”, explica reportagem do site Politico.
Ao mesmo tempo, a
publicação destaca que Harris fez com que a noite fosse de Donald Trump, “e da pior forma possível” – a
campanha da democrata a municiou com diversas armadilhas que não só foram
acionadas por Trump como ele também tropeçou em seus próprios argumentos.
A democrata sabia o que encontrar ao provocar Trump sobre o “tédio e exaustão” que levam multidões
a deixar seus comícios, pois sabia que ele não iria resistir em rebater que
suas plateias eram maiores – mas nem a equipe dela poderia esperar que o
republicano voltaria para os “milhões e milhões” de imigrantes ilegais e
alegasse que eles estão “comendo os mascotes!”
Até mesmo a ótica
jogou a favor de Harris. Ela superou Trump no início do debate indo até ele e
apertando suas mãos. Ela certamente não tinha medo de ser vista como menor que
Trump.
Em uma percepção mais
ampla, a publicação destaca que Kamala Harris pretende convencer o país a virar
a página sobre Trump e, ao dizer que ele foi “demitido por 81 milhões de
eleitores”, viu o republicano repetir o discurso sobre a “eleição roubada de 2020”.
Diante do cenário em
que muitos destacam a vitória de Kamala sobre Trump, o site recomenda atenção
para as próximas pesquisas a serem divulgadas – pois, embora elas não
representem tudo, “estamos prestes a descobrir o quão arraigado o sentimento
realmente está sobre Trump, e se Harris precisa encontrar alguma outra maneira
de conquistar os poucos eleitores indecisos restantes em um eleitorado
polarizado”.
¨ Debate nos EUA: atacar a China é um 'golpe baixo para ganhar
pontos políticos', diz analista
A China teve grande
destaque no debate de terça-feira (10) entre o ex-presidente dos EUA Donald
Trump e a vice-presidente Kamala Harris, mas o fracasso dos Estados Unidos em
promulgar uma política coerente relacionada à superpotência asiática é
exclusivamente ilustrativo das falhas de sua classe política.
De acordo com o
jornalista e consultor de negócios internacionais George Koo, os EUA falharam
em quebrar sua dependência da potência industrial.
"Tudo o que as
tarifas farão é que o público norte-americano, o consumidor norte-americano, o
contribuinte norte-americano simplesmente pague muito mais por tudo o que
precisar e tudo o que precisar comprar", disse Koo à Sputnik na
quarta-feira (11), referindo-se aos pesados impostos sobre produtos chineses
cobrados sob o governo Trump (2017-2021) e mantidos por seu sucessor, o
presidente dos EUA, Joe Biden.
"Tudo o que eles
vão comprar — boa parte, pelo menos — será feito na China e eles pagarão o
preço por ser feito na China com tarifas mais altas", continuou. "Não
é dinheiro de graça que Trump continua a se gabar. Vai sair do bolso do público
norte-americano e vai aumentar o custo de vida."
Nenhum dos candidatos
explicou completamente a natureza das tarifas aos espectadores durante o
debate. Trump e Harris se dirigiram ao público norte-americano de forma
incipiente, sem oferecer algo substancial para as pessoas.
"Eles realmente
tratam o público norte-americano como inculto, sujo, ignorante,
inquestionável", afirmou Koo. "Mas um dia desses eles vão acordar e
vão dizer: 'ei, isso é balela'. E vamos ter que 'expulsar esses
vagabundos'."
"Atacar a China é
apenas um golpe baixo que lhes dá pontos políticos", continuou o
especialista, alegando que os legisladores dos EUA tratam o público com tanto
respeito quanto Trump e Harris. "O comércio entre os EUA e a China, na
verdade, não diminuiu em nenhum grau desde que a guerra tarifária começou. O
que é consequente é que estamos pagando mais por produtos feitos na
China."
Koo citou o apoio à
fabricante de chips dos EUA, Intel, como uma das principais falhas da guerra
comercial. Os Estados Unidos concederam à empresa bilhões em subsídios apenas
para que ela continuasse a perder sua posição outrora dominante como fabricante
de semicondutores.
O analista afirmou que
o público dos EUA ainda não entende até que ponto "a China pode exercer
sua própria barreira e sanções e barreiras comerciais sobre [os Estados Unidos
da] América", alertando que o país tem uma alavancagem significativa para
retaliar contra medidas punitivas. "Quando isso acontecer — já está
começando a acontecer, a propósito — não teremos sorte."
"A China tem sido
muito cuidadosa, escolhendo muito lenta e gradualmente as áreas onde fará isso.
E, no fim de contas, o público norte-americano entenderá que há uma dor que
eles estão sentindo [que] vem de Washington e é uma consequência direta da falta
de vontade de colaborar e cooperar de qualquer forma por causa de pontos
políticos baratos que podemos ganhar dando tiros na China."
"A China está
saindo do chamado desacoplamento em nome da 'redução de riscos' construindo sua
[Iniciativa] Cinturão e Rota, construindo a aliança BRICS, fazendo seu comércio
global", observou Koo. "Eles são agora o país comercial número um com
praticamente todos no mundo. Até mesmo os países da União Europeia [UE] estão
sentindo a dor das políticas norte-americanas que prejudicam sua economia. E
eles estão gradualmente — Espanha, Itália, entre eles — vendo que faz muito
mais sentido trabalhar com a China e tirar vantagem do projeto Cinturão e Rota
do que tentar seguir sozinho ou tentar lançar sua sorte com os Estados
Unidos."
"A China não tem
intenção de desafiar os Estados Unidos, ou de substituir os EUA", afirmou
o governo chinês durante o auge da guerra comercial EUA-China em 2019. Mas
acrescentou que "os EUA são incapazes de forçar a mão da China e ainda menos
propensos a deter o desenvolvimento da China. Os EUA não podem manter sua força
tentando conter e suprimir outros países, ou transferindo suas próprias tensões
domésticas para fora."
¨ Dívida dos EUA é 'um fracasso moral intergeracional' não
abordado nas eleições, diz jornalista
A dívida dos Estados
Unidos atingiu níveis preocupantes de várias dezenas de trilhões de dólares e,
no entanto, apesar da sua grande importância para Washington e para a economia
internacional, não é uma questão que seja abordada de forma importante durante
a campanha presidencial de ambos, Kamala Harris ou Donald Trump.
Segundo um artigo
publicado pelo The Hill, a importância que a dívida nacional deverá ter no
ciclo eleitoral que elegerá o próximo presidente dos Estados Unidos,
especialmente para os jovens, que vão receber como herança uma dívida que
poderá ser "paralisante", não pode ser ignorada.
"A crescente
dívida nacional de US$ 35 trilhões [cerca de R$ 198,4 trilhões] ameaça se
tornar o mais sério dilema da política fiscal e o fardo fundamental que a
posteridade norte-americana herdará", destaca o artigo assinado por Jeremy
Etelson, ex-funcionário democrata em Maryland.
A análise destaca que
a dívida nacional dos EUA representa agora 122% do seu produto interno bruto
(PIB) de US$ 28,6 trilhões (aproximadamente R$ 162,1 trilhões). Isso está
entrando em um território sem precedentes, uma vez que esse nível de dívida nem
sequer foi alcançado na Segunda Guerra Mundial.
O autor alerta que os
Estados Unidos enfrentam atualmente um declínio no valor do dólar,
complementado por impostos em rápida expansão que são capazes de "comprar
menos em termos de serviços governamentais".
"Legar aos jovens
e futuros norte-americanos uma dívida nacional paralisante, enquanto muitos já
estão enterrados em dívidas estudantis, não é apenas economicamente inviável e
míope. É um fracasso moral intergeracional", observa Etelson.
Em função disso, o
analista insiste que os candidatos à Casa Branca abordem um tema tão importante
como o da dívida, que tem vindo a aumentar significativamente, tornando-se um
pesado fardo para as gerações futuras.
"As eleições
presidenciais de 2024 devem dar prioridade à libertação dos jovens e futuros
norte-americanos de uma dívida pública que está prestes a afundar a posição
[dos Estados Unidos] da América no mundo. A economia norte-americana deve se
tornar sustentável", conclui.
¨ Crescem os 'rios de ferro' até o México: armas saem de forma
ilegal dos EUA para o vizinho ao sul
As armas
norte-americanas são transportadas de forma ilícita dos Estados Unidos até o
México como um verdadeiro "rio de ferro", desde as sedes das empresas
fabricantes, passando pelos armazéns e pela fronteira compartilhada, até
chegarem às mãos de grupos criminosos que geram violência e morte no país
latino-americano.
Um estudo recente da
ONG Stop US Arms to Mexico obteve dados inéditos sobre as origens das armas
traficadas e exportadas para o México e para a América Central a partir do solo
norte-americano.
A organização afirma
que a violência armada no México cresceu graças a dois acontecimentos ocorridos
anos atrás: o fim da proibição federal de armas de assalto nos Estados Unidos
em 2004 e a declaração em 2007 da guerra às drogas no México, segundo o relatório
intitulado "O rio de ferro de armas para o México: suas fontes e
conteúdo".
Sobre o número de
armas de fogo traficadas dos Estados Unidos para o México, o relatório,
elaborado entre 2010 e 2012, estimou que 253 mil armas por ano são compradas
nos Estados Unidos com a intenção de contrabando para o território mexicano. No
entanto, aponta a ONG, em 2022 a produção e importação de armas de fogo nos
Estados Unidos duplicou, o que significa que o número atual pode ser muito
superior.
Segundo dados do
Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em
inglês) obtidos pela Stop US Arms to Mexico, a cada ano são recuperadas cerca
de 20 mil armas no México, que são enviadas ao ATF para rastrear suas origens.
Os mesmos dados
revelam que o número de armas recuperadas pelo México aumentou 45% entre 2015 e
2022, passando de 18.063 para 26.433. Durante o mesmo intervalo de oito anos, o
país latino-americano recuperou e enviou às autoridades norte-americanas um total
de 158.289 armas.
"Se os dados
forem verdadeiros, a situação é alarmante, mas ao mesmo tempo corresponderia a
um crescente processo de militarização do Estado mexicano", disse em
entrevista à Sputnik Sandra Kanety, acadêmica do Centro de Relações
Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e criadora do
projeto de pesquisa "Ressonâncias da militarização na segurança humana no
século XXI".
O número de
recuperações registradas pelo México contrasta com o dos Estados Unidos, pois
enquanto o México recupera uma média de 20 mil armas por ano, funcionários da Segurança Nacional destacaram
recentemente um aumento do número de armas destinadas ao México que foram apreendidas no ano fiscal de 2023, chegando a
1.392.
O contraste entre a
quantidade de armas recuperadas pela nação latino-americana e a de seu vizinho
é abissal, já que Washington não recupera nem 10% do que o governo mexicano
consegue, o que demonstra haver falta de interesse por parte das autoridades norte-americanas.
"A verdade é que
teria que ser feito um esforço conjunto do mais alto nível [para acabar com o
tráfico de armas], isto é, a partir do nível governamental dos Estados Unidos e
do México. O problema aqui é que o governo dos EUA não tem o interesse nem
vontade política para acabar com o tráfico de armas para o México",
acrescenta Kanety.
Os dados do ATF
identificaram cerca de 925 fabricantes de armas traficadas para o país
latino-americano. "Mas, de longe, as armas recuperadas com mais frequência
no México são fabricadas por quatro empresas que o México está processando em
um tribunal dos EUA por negligência com o tráfico para o México: Smith &
Wesson, Colt, Glock e Beretta", revela o estudo.
A Smith & Wesson
foi o fabricante com o maior número de armas recuperadas no México durante
2022, com 2.243. As pistolas foram as armas mais confiscadas no referido ano,
um total de 13.546 unidades, seguidas de fuzis, com 8.173 apreensões.
Governo mexicano segue
comprando dos EUA
Embora o governo
mexicano tenha apresentado recentemente uma ação judicial contra os fabricantes
de armas norte-americanos perante um tribunal dos EUA por negligência, continua
comprando armas de fabricantes do vizinho para equipar as suas Forças Armadas.
Essas compras têm, inclusive, aumentado.
"As agências
policiais do México estão comprando legalmente dos Estados Unidos. Como é
possível você dizer que eles negligenciam o tráfico de armas e você mesmo
comprar deles?", questiona Montserrat Martínez Téllez, especialista
independente e membro do Fórum sobre o Comércio de Armas.
Na América Latina, o
México é, de longe, o maior importador de armas de fogo dos Estados Unidos,
revela o relatório da Stop US Arms to Mexico. Em abril de 2020, a Secretaria de
Defesa Nacional importou 51.097 pistolas Sig Sauer para uso da então nova Guarda
Nacional, ao custo de US$ 18,6 milhões (R$ 105,44 milhões), o que representou o
maior envio de armas de fogo ao México já registrado, e o maior envio de
pistolas dos EUA a qualquer país latino-americano desde 2002.
Até 2023, acrescenta o
estudo, os EUA exportaram 12.515 rifles militares para o México — mais do que
para a Ucrânia e apenas menos do que para Israel —, bem como 6.686
metralhadoras, tudo a um custo superior a US$ 27 milhões (R$ 153,06 milhões).
Em março deste ano, o México comprou mais de 14 mil rifles militares do seu
vizinho do norte, mais do que todo o resto do mundo durante esse mês.
"A compra de
armas dos Estados Unidos pelo governo do México aumentou, mas o México poderia
deixar de adquirir essas armas dos Estados Unidos para fazê-lo com outros
países, e essa compra não deixaria de abastecer as forças policiais. […]
poderia haver uma advertência ou um alerta, como 'Até que você resolva essa
situação [tráfico ilegal de armas], não vou comprar de você'", critica
Martínez Téllez.
·
Existe alguma possibilidade de solução?
Uma possível solução
para o tráfico ilegal de armas depende em grande parte da vontade do governo
dos Estados Unidos de regulamentar ainda mais a compra e a venda de armas, e de
um maior envolvimento dos fabricantes no assunto.
"A dinâmica que
se esperaria é que não apenas os Estados Unidos, como país, regulem
federalmente a questão da compra e venda de armas de fogo, mas que também as
empresas privadas se envolvam", destacou Martínez Téllez.
No que diz respeito ao
trabalho do governo mexicano, a especialista da UNAM reconhece o valor da ação
judicial que as autoridades mexicanas impuseram contra alguns fabricantes pelo
tráfico de seus produtos para o México e pela violência que geram.
"É uma estratégia
sem precedentes, e tem sido muito importante, porque de alguma forma ajuda a
tornar visível de onde vêm essas armas, nomeia as corporações ou empresas que
vendem essas armas. De alguma forma, também coloca em evidência o enorme tráfico
ilegal de armas dos Estados Unidos para o México e nos permite compreender as
causas da militarização e da violência no México", conclui Kanety.
Fonte: Jornal GGN/Sputnik
Brasil
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