terça-feira, 11 de julho de 2023

Quem são os 'lunaristas', eleitores de Bolsonaro que agora aprovam Lula

Seis meses após o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), institutos de pesquisa de opinião pública passaram a detectar um fenômeno inesperado.

Em meio a um cenário político ainda polarizado, uma parcela de eleitores que afirmam ter votado em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições de 2022 veem com bons olhos o governo de Lula, principal adversário político do ex-presidente.

Os achados vão, aparentemente, na contramão do que as pesquisas de intenção de voto apontavam na reta final da acirrada campanha eleitoral do ano passado, quando o percentual de eleitores de Lula e Bolsonaro oscilou pouco.

Isso indicava preferência e rejeições fortes dos grupos em relação a Lula e Bolsonaro. Quem apoiava Lula rejeitava Bolsonaro e vice-versa.

Agora, alguns desses mesmos institutos de pesquisa começam a mostrar uma mudança nesse cenário.

E dados exclusivos obtidos pela BBC News Brasil ajudam a entender quem são estes "lunaristas" — os bolsonaristas que agora aprovam Lula.

•        O que dizem as pesquisas?

Pesquisa de avaliação de governo conduzida pelo Ipec mostrou que 37% de todos os entrevistados aprovam o governo Lula classificando-o como ótimo ou bom.

Outros 28% dos entrevistados desaprovam o governo, classificando-o como ruim ou péssimo. Do restante, 32% avaliam o governo como regular e 3% não souberam ou não responderam.

Foram ouvidas 2 mil pessoas entre 1º e 5 de junho em 127 municípios e a pesquisa tem uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O detalhamento desses dados feito pelo instituto deu um passo além e mostrou que eleitores de Bolsonaro passaram a aprovar o governo Lula.

O Ipec perguntou aos entrevistados em quem eles votaram no segundo turno das eleições.

A pesquisa mostra que 8% dos entrevistados que afirmaram terem votado em Bolsonaro aprovam o governo do seu principal adversário político ao classificarem-no como ótimo ou bom.

Considerando a margem de erro, esse valor pode estar entre 6% e 10%.

A pesquisa também perguntou se os entrevistados aprovavam a forma como Lula vem administrando o país.

Nesse item, 19% dos que dizem ter votado em Bolsonaro no segundo turno disseram que aprovam a forma como o petista está conduzindo o governo.

•        Quem são os 'lunaristas'?

Dados dessa pesquisa obtidos pela BBC News Brasil revelam quem são os eleitores de Bolsonaro que classificam o governo Lula como ótimo ou bom.

O perfil majoritário dos "lunaristas" é o seguinte:

•        Mulheres (55%);

•        Têm entre 25 e 34 anos (29%) e 45 e 59 anos (30%);

•        Pretos ou pardos (52%);

•        Católicos (53%);

•        Estudaram até o ensino médio (42%);

•        Estão no Sudeste (32%);

•        E vivem em cidades do interior (65%).

A Quaest, que divulgou uma pesquisa de avaliação de governo em junho, também detectou a aprovação do governo Lula por parte do eleitorado bolsonarista.

O levantamento apontou que 22% dos entrevistados que afirmam ter votado em Bolsonaro no segundo turno aprovam o governo Lula.

A pesquisa foi feita com 2.029 pessoas entre 15 e 18 de junho em 120 municípios e tem uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

•        Por que bolsonaristas aprovam Lula?

Para a presidente do Ipec, Márcia Cavallari, a aprovação de Lula entre eleitores de Bolsonaro afeta uma parte do eleitorado bolsonarista menos ideológica.

São pessoas cuja opinião é mais influenciada por fatores econômicos como redução da inflação, aumento do poder aquisitivo e crescimento do produto interno bruto (PIB).

"A decisão do voto não é puramente ideológica. Então, à medida que o governo avança, mesmo quem não votou no Lula e votou no Bolsonaro vai fazendo uma avaliação do governo e pode ir mudando sua posição", disse Cavallari à BBC News Brasil.

A presidente do Ipec atribui essa aprovação de Lula entre eleitores de Bolsonaro à sensação de melhora na economia.

"Isso acontece por conta de uma percepção de que diminuiu a inflação e o custo de vida. Há uma percepção de que os indicadores econômicos estão melhores, de que ele (Lula) estaria cumprindo o que falou na campanha e de que ele está tomando ações de combate à fome e à pobreza", afirma Cavallari.

"O eleitor está dizendo: 'Eu não votei nele, mas estou vendo o que está acontecendo'. O eleitor vai se reposicionando."

O diretor da Quaest, Felipe Nunes, também avalia que a percepção de melhora no cenário político pode ter influenciado parte do eleitor que votou em Bolsonaro e que, agora, aprova a gestão de Lula.

Ele explica que o eleitorado de Bolsonaro é composto por uma base ideológica e outra pragmática.

A ideológica apoia o ex-presidente com base nas ideias defendidas por ele —Bolsonaro ficou conhecido por se posicionar contra a expansão de direitos femininos e LGBTQIA+ e a descriminalização das drogas e por se associar fortemente a segmentos considerados mais conservadores da sociedade como o eleitorado evangélico, aponta Nunes.

Ele diz, no entanto, que o eleitorado "pragmático" de Bolsonaro é aquele que percebeu uma melhora no ambiente econômico no final do ano passado, quando o governo criou benefícios sociais às vésperas do período eleitoral.

Segundo Nunes, é essa parcela do eleitorado bolsonarista que aprova agora o governo Lula.

"Esse eleitorado que vota não pela ideologia, mas por pragmatismo, é o que está se movendo neste momento. Ele é minoritário, mas existe", diz Nunes à BBC News Brasil.

Nunes cita como exemplos desse pragmatismo as respostas dos entrevistados que disseram ter votado em Bolsonaro a perguntas sobre a economia do país.

"No caso dos alimentos, metade da população diz que o preço parou de subir, o que é muito importante. Em relação aos combustíveis, parte desse eleitorado afirma que o preço caiu", afirma Nunes.

"Quando você junta a queda no preço dos combustíveis de um lado e a percepção de que os alimentos pararam de subir, de outro, você tem um efeito econômico observado diretamente."

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), conhecido como uma prévia da inflação oficial, desacelerou em junho pelo quarto mês seguido, para 0,04%, segundo divulgou o IBGE. Foi a menor variação mensal desde setembro de 2022, quando houve deflação de 0,37%.

Esther Solano, professora de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP), diz que essa compreensão de que o eleitorado bolsonarista não é homogêneo é chave para entender o surgimento dos "lunaristas".

“Nós temos, de um lado, o eleitorado mais ideológico, mais radicalizado, e fiel ao presidente. Depois, nós também temos um eleitorado mais moderado que votou de fato no Bolsonaro, mas que não adotou um discurso antipetista tão raivoso, tão violento e agressivo", diz Solano.

"Nesse eleitorado mais moderado, uma boa parte já votou no Lula em gestões passadas e tem uma lembrança positiva desses governos”.

Para a professora da USP, esta não é uma base cativa do ex-presidente.

Questionada se esse apoio pode se refletir nas eleições municipais de 2024, Esther Solano segue a mesma linha de Márcia Cavallari e Felipe Nunes ao afirmar que o PT deve se fortalecer, mas que a corrente bolsonarista também deve continuar forte.

“O campo petista entra com mais força por estar no poder, e a centro-direita tradicional continua com um grande problema porque não está se reestruturando e se reinventando", afirma Solano.

"Mesmo agora com a inelegibilidade de Bolsonaro, o ecossistema bolsonarista é muito importante. Digitalmente, eles ainda são protagonistas. Ele ainda tem uma força simbólica muito grande.”

•        Apoio frágil

Apesar de os dois institutos terem registrado a existência de eleitores de Bolsonaro aprovando o governo Lula, os diretores do Ipec e da Quaest afirmam que isso não significa que esses eleitores votariam no petista em uma eventual nova disputa contra o ex-presidente.

Segundo eles, a conversão da aprovação em votos depende de outros fatores que não se resumem à percepção da situação da economia.

"A eleição é fruto de um debate e de uma comparação. O governo pode estar comemorando essa aprovação, mas isso não é garantia de sucesso eleitoral mais adiante", diz Nunes.

"Se o tema principal das próximas eleições foram valores ou costumes, de nada vai adiantar essa avaliação positiva da economia ou, pelo menos, não será preponderante", segue Nunes.

Márcia Cavallari concorda que só a aprovação do governo não é suficiente.

"A pessoa pode estar aprovando o governo agora, mas isso não significa que ela irá, necessariamente, votar neste governante. É preciso fidelizar esse eleitor antes", diz.

Segundo ela, as eleições no Brasil são marcadas por uma personalização da disputa em torno da figura dos candidatos e por uma baixa identificação dos eleitores com partidos.

"Precisa de muito mais coisa (que a melhora econômica) para fidelizar. Tem um elemento forte de empatia porque as pessoas não conseguem distinguir diferenças entre os partidos, é uma eleição muito personificada", diz Cavallari.

Isso faz com que características pessoais de quem disputa os cargos tenham um peso muito alto na decisão do voto.

A fidelização de novos eleitores fica ainda mais difícil neste cenário, especialmente se eles estão em um campo político diferente da candidatura que busca seus votos.

"Ainda é cedo para falar que há uma fidelização (para Lula do eleitor que votou em Bolsonaro)", diz Cavallari.

Nunes enxerga um possível teto para a aprovação de Lula entre eleitores de Bolsonaro.

"Eu tenho dúvidas se esse fenômeno vai continuar ou se haverá um contingente maior do que o que a gente observou (até agora) porque a gente estaria chegando ao limite daquilo que seria o eleitorado pragmático de Bolsonaro. Esse eleitorado é menor (que o ideológico)", diz.

Para Esther Solano, o apoio de bolsonaristas a Lula é frágil e depende de se o partido vai conquistar espaço em debates em que o bolsonarismo é dominante, como “os valores da antipolítica, a luta contra a corrupção, da ordem e da fé”.

"Se o PT conseguisse fazer essa disputa ideológica dos princípios, dos valores e das questões simbólicas, aí de fato ele teria uma fortaleza maior.”

 

       Minirreforma ministerial abre disputa pelo comando da Câmara em 2025 e atrai o Centrão

 

A minirreforma ministerial no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que vem sendo negociada pelo Centrão deve começar a definir quem sairá na frente na disputa para presidente da Câmara dos Deputados em 2025. Os partidos do Centrão trabalham neste momento para indicar nomes para a Esplanada dos Ministérios petista e também para chefiar alguma estatal de relevo....

O grupo espera a nomeação para 3 ministérios: Turismo, Desenvolvimento e Assistência Social e Esportes. Também é desejado o comando da Caixa Econômica Federal, como noticiou o Poder360 na semana passada. A mudança no Turismo já é certa. As demais ainda estão em negociação....

Como ter um ministro para liberar verbas e até nomear aliados pelo Brasil em órgãos federais é uma potente ferramenta eleitoral, a ambição de comandar a Câmara a partir de 2025 passa pela minirreforma, que poderá dar ainda mais relevância e poder para alguns partidos.

Hoje, há 2 nomes considerados mais fortes para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL). São eles:

# Elmar Nascimento (União Brasil-BA), 53 anos;

# Marcos Pereira (Republicanos-SP), 51 anos.

Segundo apurou o Poder360, os 2 deputados são os mais organizados até agora para entrar na disputa pelo comando da Casa. Elmar deve ser anunciado como pré-candidato em 2023, no início deste 2º semestre.

Há ainda outros 2 deputados tentando participar da corrida sucessória na Câmara, mas com menos viabilidade neste momento.

Eis os nomes:

# Hugo Motta (Republicanos-PB), 33 anos;

# Isnaldo Bulhões (MDB-AL), 46 anos.

Pelo governo, o que se busca é um nome de consenso. Lula reconhece que o Palácio do Planalto não tem como lançar um candidato próprio, do PT, com reais chances de vitória. O presidente já avisou que esse tema tem de ser resolvido entre os deputados de partidos que o apoiam para haver uma disputa suave.

MUDANÇAS À VISTA

O Centrão espera com as mudanças contemplar nomes indicados pelas representações na Câmara de União Brasil, PP e Republicanos, partidos que não se sentem devidamente atendidos no governo e que desejam ter mais poder na administração Lula.

Eis as mudanças esperadas pelo Centrão:

# Ministério do Turismo

– sai a titular Daniela Carneiro (União Brasil) e vai para o deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA). O marido de Daniela é o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, que apoiou a eleição de Lula, mas deixou o União Brasil e se filiou ao Republicanos em abril. Daniela segue no União Brasil, mas o partido (que faz parte do Centrão) não a identifica como integrante do grupo. A troca já está fechada e deve ser anunciada até 6ª feira (14.jul);

# Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

– sai Wellington Dias (senador eleito pelo PT do Piauí e reassume seu cargo no Congresso) e assume o deputado federal André Fufuca (PP-MA), que é do Centrão, mas que em 2022 esteve junto com Flávio Dino (PSB) no processo eleitoral (Dino foi eleito senador, mas no momento é ministro da Justiça de Lula). Fufuca atende ao Centrão, é ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas não se trata de político hostilizado pelo PT. Seria um nome palatável para Lula colocar na Esplanada;

# Ministério dos Esportes

– sai a ex-jogadora de vôlei Ana Moser (que não tem nenhum apoio partidário) e entra o deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O deputado cotado para ministro é filho de outro político tradicional de Pernambuco, Silvio Costa, apoiador de Lula e defensor da entrada do Republicanos no governo federal;

# Caixa Econômica Federal – Rita Serrano (funcionária de carreira do banco) deve sair para dar lugar para algum quadro técnico indicado pelo Centrão. O nome já mencionado em Brasília é o do mineiro Gilberto Occhi, que chegou a presidir o banco de 2016 a 2018, durante o governo de Michel Temer (MDB).

No caso da Caixa, Lula tem demonstrado a interlocutores que não está satisfeito com o desempenho de Rita Serrano no comando. A saída parece ser inevitável. Occhi é um daqueles quadros profissionais de Brasília, que serve a qualquer governo e tem amplo conhecimento da máquina pública e do funcionamento dos partidos políticos, algo que a atual presidente da CEF não tem.

Também conta a favor de Occhi para voltar a presidir a estatal o fato de que ele já trabalhou com o PT e outras legendas de centro. Ele foi ministro das Cidades (2014-2015) e da Integração Nacional (2015-2016), durante o governo de Dilma Rousseff (PT), e ocupou o cargo de ministro da Saúde (2018-2019), sob Michel Temer.

A Caixa é vista como estratégica pelo porte e por ser um banco rico em verbas, atuando para formatar projetos de emendas ao Orçamento de deputados e senadores. Isso tem provocado grande disputa entre integrantes do Centrão e Occhi ainda não está garantido no cargo.

 

Fonte: BBC News Brasil/Poder 360

 

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