Como as crianças
brincam pelo mundo
Pavel,
de Kiev (cinco anos na época da foto), não tem dúvidas: ele quer ser policial
quando crescer. O menino simplesmente ama suas armas e brinca com elas o dia
todo. Seu irmão mais novo, por exemplo, vive sendo preso, algemado e
interrogado - sob acusações de roubo de carrinhos de brinquedo. O capacete de
policial britânico visto na foto é um presente que a melhor amiga de sua mãe
lhe trouxe de Londres. "É o melhor presente que já ganhei", conta
Pavel, com orgulho.
Os
brinquedos são os "bens mais valiosos" das crianças em todo o mundo -
"do Texas à Índia, do Malawi à China, da Islândia ao Marrocos e às Ilhas
Fiji", diz o fotodocumentarista italiano Gabriele Galimberti. Seu objetivo
era capturar a "alegria espontânea e natural que une as crianças, apesar
de suas diferentes origens". E isso independentemente de uma criança ter muitos,
poucos ou talvez nenhum brinquedo que possa chamar de seu. "O orgulho que
uma criança tem de seus brinquedos é comovente, divertido e instigante",
diz Galimberti.
·
"Toy
Stories" surgiu por acaso
Em
entrevista à DW, o fotógrafo conta que a inspiração para o ensaio Toy Stories
surgiu meio que por acaso entre 2010 e 2011, quando, ao longo de dois anos, ele
viajou por 58 países no contexto de um projeto para o jornal italiano La
Repubblica sobre o serviço de hospitalidade oferecido pela plataforma
Couchsurfing. "Eu basicamente viajava, dormia na casa dos outros e
compartilhava histórias de todo o mundo."
Algumas
semanas antes, um amigo lhe havia pedido para fotografar sua filha Alessia, com
quatro anos na época. Quando o fotógrafo chegou, Alessia estava no estábulo do
avô separando seus brinquedos. Galimberti decidiu ajudar a menina e a
aconselhou a organizar tudo de acordo com a forma e a cor. Foi assim que — sem
saber no momento — surgiu a primeira foto de Toy Stories.
Galimberti
gostou do resultado e resolveu fazer mais fotos como essa ao longo de sua
viagem de dois anos pelo mundo. Dito e feito. E até hoje, o longo ensaio ainda
não teve fim. "É um projeto em andamento", diz Galimberti, cujo livro
Toy Stories, publicado em novembro de 2014, será agora seguido por Toy Stories
2, com publicação prevista para o ano que vem — dez anos depois.
·
Diferenças
entre ricos e pobres
Ele
mesmo criou suas próprias regras para o ensaio, como só fotografar crianças com
idades entre três e seis anos. , problema de aprendizagem."Calculei que
essa é a faixa etária em que só nos preocupamos com brincar. Ainda não há o
problema da aprendizagem, digamos assim", conta Galimberti à DW.
Com
crianças de famílias mais ricas, às vezes demorava um pouco mais até conquistar
a confiança delas, para que ele também pudesse brincar e elas ficassem afinal
felizes em serem fotografadas. Às vezes, essas crianças são "um pouco mais
possessivas com o que têm", diz o fotógrafo. Por outro lado, em regiões
mais pobres, como nos países africanos, ele costumava entrar na brincadeira
rapidinho. Segundo Galimberti, foi "um pouco mais fácil tirar fotos em
lugares onde há menos", embora ressalte que não pretende generalizar essa
observação.
Semelhante
a outros ensaios fotográficos de sua autoria, como Ameriguns, Home pharma, In
her kitchen, Galimberti posiciona os objetos (armas, remédios, utensílios de
cozinha e brinquedos, no caso de Toy Stories) com muita precisão ao redor de
seus protagonistas. E isso apesar de ser sabido de todos — para o desespero de
mães e pais pelo mundo — que quartos de crianças são uma bagunça.
·
Uma
"marca registrada"
"Talvez
porque eu goste de ordem", explicou o fotógrafo em entrevista à DW.
"É a minha marca registrada. Nós vemos pessoas, é claro, mas também vemos
números. Mais ou menos como um infográfico. É a minha maneira de fotografar
pessoas, objetos e posses."
Em
99% do tempo, as crianças se divertiram muito organizando seus brinquedos, diz
o fotógrafo. Se isso não fosse verdade, ou se as crianças tivessem realmente
chorado, ele conta que teria se afastado imediatamente. Quando muito, às vezes,
era necessária a mediação dos pais.
Ele
enfatiza ainda que o tipo de retrato que escolheu reflete seu jeito de contar
histórias. "Gosto de interagir com as pessoas. Não sou muito bom em
fotografar paisagens ou coisas. Mas as pessoas que fotografei são sempre
pessoas com quem tenho alguma ligação pois passo tempo com elas."
A
fotografia é "uma das linguagens mais vivas e faladas do planeta pois
todos a entendem", defende Galimberti. Para ele, a fotografia pode ajudar
a encurtar distâncias e contribuir para uma melhor compreensão intercultural.
Nascido
em 1977, o fotógrafo documentarista italiano Gabriele Galimberti trabalha para
revistas e jornais internacionais como National Geographic, Sunday Times, Stern,
Geo, Le Monde, La Repubblica e Marie Claire. Suas imagens foram exibidas em
exposições ao redor do mundo. Em 2021, ele ganhou o World Press Photo Award por
sua série de retratos The Ameriguns.
Fonte:
Deutsche Welle
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