terça-feira, 11 de julho de 2023

Apostas esportivas: saiba quando vira vício e como se livrar

As apostas esportivas sempre estiveram presentes na sociedade. Contudo, elas ganharam popularidade e influência com a ascensão de novas casas de apostas em aplicativos de celular. A prática, porém, tem se tornado cada vez mais preocupante, uma vez que pode desencadear vício nos usuários.

O fato de que jogos de azar podem viciar não é novidade, e ter a plataforma de apostas na palma da mão facilita o desenvolvimento do problema. O psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, afirma que o número de pessoas com compulsão em apostas tem crescido em seu consultório.

 “Muitos jovens estão viciados em apostas esportivas online, especialmente de futebol. O vício em apostas esportivas online é, na verdade, um transtorno que pode ser chamado de ludomania ou jogo patológico. Torna-se preocupante a partir do momento em que atrapalha as atividades sociais do jogador ou faz ele cometer loucuras para continuar apostando”, explica o psiquiatra.

Ele conta que um dos problemas é que existem quadrilhas que emprestam dinheiro para que o indivíduo aposte, mas, ao perder, o grupo começa a fazer ameaças. “Já tive pacientes que chegaram a perder o próprio imóvel, ficaram com dívidas enormes, os casamentos acabaram, foi bem trágico”, alerta.

Como o vício se desenvolve

Quando os jogadores observam o resultado da aposta, ocorre um aumento de atividade no sistema cerebral. Neurotransmissores como a dopamina, hormônio associado ao prazer, são liberados e a pessoa se sente bem.

Uma pesquisa publicada na revista Science Direct analisou 1.248 participantes para constatar que o cérebro entende esse processo como uma recompensa. Para sentir a sensação novamente, a pessoa repete a aposta e tenta ganhar a qualquer custo.

Ainda segundo a pesquisa, o perfil de indivíduos com ludomania é predominantemente de jovens solteiros com alta escolaridade.

<<<< Fatores de risco para o vício:

  • Começar a apostar;
  • Tratar a aposta como investimento financeiro/fonte de renda;
  • Ter na família alguém com um vício, seja em álcool, drogas ou em compras;
  • Incentivo de amigos, influenciadores digitais e outras pessoas para apostar;
  • Ter hábito de jogar desde criança;
  • Ter algum outro vício.

O vício é reconhecido por atitudes como olhar o aplicativo o tempo todo, gastar mais do que ganha, tentar reduzir as apostas mas não conseguir, ficar irritado ao não apostar, continuar jogando para recuperar o dinheiro perdido, mentir sobre o quanto perde ou o quanto ganha nas apostas, e preferir o aplicativo em vez de se socializar.

Tratamento

“O primeiro passo para vencer o vício é o paciente querer. Enquanto ele não quiser parar, o transtorno vai continuar. A próxima etapa é desinstalar o aplicativo e parar de consumir aquilo que lhe dá gatilho para apostar. A pessoa pode ainda praticar psicoterapia ou participar de grupos de apoio para tratar a ludomania”, ensina Leite.

 

Ø  Especialistas explicam o que vai mudar com regulamentação das apostas

 

Regulamentar o mercado de apostas esportivas no país, esse é o objetivo do Ministério da Fazenda ao anunciar a edição de uma Medida Provisória para organizar os jogos online. Dentre as medidas estão outorga de R 30 milhões e alíquota de 15% sobre toda a receita descontados os prêmios pagos.

A coluna Futebol Etc foi ouvir a opinião de três especialistas para saber o que vai mudar no universo das apostas online, a partir dessa decisão do governo.

Que a regulamentação venha logo

“O mercado torce para que essa regulamentação venha logo, porque é grande o apetite dos agentes operadores em entrar no Brasil, é grande a necessidade do Estado Brasileiro por mais recursos e é grande a necessidade e a demanda dos apostadores por mais proteção. O mais importante nessa história toda é que se deu o pontapé inicial. Não podemos correr o risco de buscar uma regulação ótima, uma regulação excepcional. A melhor regulação é aquela que temos, e ela é muito melhor do que o quadro atual, em que nós não temos rigorosamente nada. Então, eu acho muito prudente que se dê o primeiro passo com aquilo que o Ministério da Fazenda considera que já está maduro para que eventuais mudanças e aprimoramentos sejam feitos durante a tramitação no Congresso Nacional”- Fabiano Jantalia é advogado especialista em Direito de Jogos e Bancário, sócio-fundador do Jantalia Advogados.

·         Vai acabar com a instabilidade

“As informações ainda são especulativas, apenas com o texto aprovado e publicado é que teremos a dimensão do impacto que a regulamentação gerará no mercado. No entanto, vemos com bons olhos o intuito em regular a atividade o quanto antes. Atualmente, todos as casas de apostas estão sediadas no exterior, criando um cenário de instabilidade para as plataformas e, principalmente, para os usuários, além de fazer com que o país perca arrecadação. Uma regulamentação adequada trará estabilidade e trairá investimentos para o mercado, além de políticas de conscientização dos usuários e de eventuais patrocínios, propaganda e publicidade” – Marcelo Mattoso é especialista no mercado de Games e eSports, sócio do Barcellos Tucunduva Advogados.

·         Cuidados com a publicidade

“A regulação vai atingir também a publicidade, visto que decorre, sobretudo, do fato de que as apostas esportivas são produtos com restrições ou mesmo impróprios para determinados públicos e faixas etárias. Então, as comunicações na mídia, as publicidades, devem ser seguras, bem definidas, estruturadas conforme a legislação permite, socialmente responsáveis e éticas. Em resumo, é necessária bastante transparência nesse tipo de casos, em especial por se tratar de um mercado ainda incipiente no País, cujo consumo excessivo e oferta exagerada podem ser bastante traiçoeiros e prejudiciais à sociedade como um todo. Do contrário, as apostas deixarão de ser entretenimento e se tornarão caso de saúde pública (patologia, vício, compulsão), com o potencial de culminar num superendividamento e bancarrota econômico-financeira dos apostadores/consumidores”- Felipe Crisafulli – Especialista em Direito Desportico do Ambiel Advogados

 

Fonte: Metrópoles

 

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