Netanyahu está impedindo um acordo para
libertar reféns
Com seis reféns
israelenses mortos, um deles cidadão americano, e protestos massivos contra o
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acontecendo no país, um jogo de apontar
culpados publicamente se estabeleceu. Questionado na segunda-feira se Netanyahu
estava fazendo o suficiente para garantir a libertação dos reféns ainda
mantidos pelo Hamas, o presidente Joe Biden respondeu secamente: “Não”.
Um Netanyahu ferido
revidou com sua própria declaração pública, lendo
afirmações recentes de autoridades americanas que elogiaram Israel por
trabalhar construtivamente no sentido de um acordo e colocar unicamente sobre o
Hamas a responsabilidade de aceitar seus termos, insistindo que a organização
palestina era o verdadeiro obstáculo para um cessar-fogo e um acordo de
libertação dos reféns. Em quem devemos acreditar?
Uma resposta é ouvir
fontes do alto escalão do governo ou envolvidas nas negociações dos países
mediadores como Egito, Estados Unidos e até mesmo Israel. Por meses, essas
vozes têm dito constantemente à mídia — frequentemente veículos de notícias
israelenses e jornais americanos bem estabelecidos e extremamente amigáveis a Israel — que o principal obstáculo para um acordo de cessar-fogo é o próprio Netanyahu, e que ele tem continuamente inserido bloqueios e
envenenado o processo para sabotar as negociações como uma forma de permanecer no poder.
“Faça tudo para
impedir um acordo”
Isso inclui os últimos
dias, depois que a descoberta dos corpos dos seis reféns israelenses no último
sábado alimentou a raiva israelense pelo fracasso de Netanyahu em trazê-los de
volta para casa.
Enquanto autoridades
dos países mediadores mais uma vez ligavam para tentar finalmente garantir um
acordo, a CNN relatou que “uma fonte
familiarizada com as discussões” disse ao canal que Netanyahu “minou tudo em um
discurso”, no qual reiterou sua exigência de que Israel ocupe permanentemente o
Corredor Filadélfia, uma estreita faixa de terra ao longo da fronteira entre
Gaza e Egito, uma exigência que se tornou o principal ponto de discórdia nas
negociações ao longo do último mês e meio.
Estranhamente, a
citação foi manchete em grandes veículos de comunicação israelenses como
o Times of Israel, Haaretz e Yedioth
Ahronoth (mais conhecido pelo apelido Ynet em
sua edição online), mas foi abafada no vigésimo quarto parágrafo da reportagem
original da CNN de onde veio.
No mesmo dia, o
Ynet publicou sua própria
reportagem sobre as mudanças que Netanyahu fez
pessoalmente em uma proposta anterior de cessar-fogo que, como ele mesmo
destacou, havia “recebido com concordância pelo Hamas na maioria das
condições”. A nova proposta de Netanyahu, que havia sido apresentada aos
mediadores em 27 de julho, fez “mudanças e adições drásticas” que “mudaram
completamente o quadro das negociações”, afirmou o jornal.
Isso foi baseado em
uma reportagem à parte do
jornal de dois dias antes, que apresentou este veredito condenatório sobre a
proposta alterada dado por alguém que o Ynet descreveu como
“um alto funcionário da defesa que foi citado aqui muitas vezes e que estava
tão triste e tragicamente certo em todas as suas previsões”:
Um dia, a história
julgará este documento com muita severidade. . . No topo do documento, está
escrito que é um “documento de esclarecimento”, mas, na minha opinião, o
apelido mais apropriado para ele é “documento sangrento” — porque suas páginas
estão manchadas com o sangue dos seis reféns que foram assassinados em um túnel
em Rafah. Se não fosse pela sabotagem deliberada contida no documento para
impedir um acordo, há uma boa chance de que eles já tivessem sido libertados há
um mês e estivessem aqui conosco, vivos.
A fonte continuou
chamando o documento de “uma tentativa de [Netanyahu] de minar o momento
positivo nas negociações”, e que ele foi “criado especificamente para impedir”
um acordo de libertação de reféns — uma acusação, afirmou o jornal, que foi
“significativamente reforçada em conversas com outras autoridades relacionadas
às negociações” e por outros documentos de negociação.
Com base nessas
fontes, o Ynet caracterizou a demanda de Netanyahu no Corredor
Filadélfia como a origem do atual impasse de negociação, e relatou que os
negociadores israelenses estão extremamente descontentes com o documento, “que
na opinião deles destrói qualquer chance de chegar a um acordo”.
Dias antes, quando os
corpos dos reféns foram descobertos, o que parece ser o mesmo oficial do alto
escalão da defesa israelense (com base na descrição idêntica usada pelo
jornal) disse à Ynet que
Netanyahu e outros estavam deliberadamente negociando de uma forma a garantir
que a guerra não acabasse de fato. Embora o Hamas fosse obviamente o maior
culpado direto pelas mortes dos reféns, o oficial disse ao jornal, na verdade o
que leva à morte de muitos reféns… [é] a recusa israelense na prática, não há
outra maneira de dizer isso, de assinar um acordo de libertação dos
sequestrados que fará com que todos os sobreviventes retornem para casa e acabe
a guerra em Gaza.
Todo o establishment
militar e da defesa israelense não teve problemas em se retirar do Corredor
Filadélfia, disse a fonte ao jornal. Em vez disso, ela afirmou, o acordo estava
completamente nas mãos de Netanyahu, mas ele “fará de tudo para impedir sua efetivação”.
Antes disso, houve
duas reportagens diferentes sobre uma reunião do gabinete de defesa israelense
em 29 de agosto. Um do Times of Israel, e outro
no Axios,
de autoria do bem informado jornalista israelense Barak Ravid. Ambas ofereceram
um relato surpreendentemente detalhado da reunião que contou a mesma história:
de uma discussão acalorada entre Netanyahu e seu ministro da defesa, Yoav
Gallant, que acusou o mandatário israelense de forçar a demanda pelo Corredor
Filadélfia a um exército que não achava necessário, e que Israel teve que
escolher entre se manter ali ou obter os reféns de volta — apenas para ser
isolado e derrotado na votação graças a Netanyahu.
A reportagem do
Times of Israel foi particularmente condenatória. Por exemplo, quando
Gallant perguntou diretamente a Netanyahu o que ele diria se o Hamas lhe desse
um ultimato de que ele poderia ficar no Corredor Filadélfia ou trazer os reféns
de volta, o texto declarou: “Netanyahu respondeu que o imperativo de manter as
[Forças de Defesa de Israel] no corredor era de importância crucial para o
Estado.” Em outras palavras, como dizia a manchete do jornal, Netanyahu deixou
explícito que ele “prioriza o Corredor Filadélfia ao invés dos reféns.”
Pessoas atentas que
lerem ambos as reportagens não encontrarão o gabinete israelense sequer
mencionando o Hamas, nem listando qualquer obstáculo que eles tenham posto no
sentido de um acordo — apenas uma discussão sobre se Israel deve aceitar o
acordo e trazer seu povo de volta, ou pressionar por mais concessões do grupo
terrorista, com a última visão vencendo.
Simplesmente não há
outra conclusão que alguém possa tirar da leitura das palavras de oficiais de
alto escalão contidas nessas recentes reportagens, a não ser a de que Netanyahu
poderia fechar um acordo trazendo os reféns de volta a qualquer momento que quisesse,
mas está fazendo tudo o que pode para evita-lo. Mas muito disso não foi
relatado na mídia dos EUA, e poucos estadunidenses acompanham a imprensa
israelense.
<><> “Faça
tudo para impedir um acordo porque Netanyahu não quer paz”
Seria errado pensar
que esses desdobramentos são recentes. Podemos voltar e ver alegações quase
idênticas de fontes de alto escalão em passagens quase idênticas de reportagens
que remontam a muitos meses.
Tomemos como exemplo
os trabalhos desta “fonte ex-integrante do alto escalão da inteligência” que
integra a equipe de um dos negociadores israelenses, conforme citado em
uma reportagem do
Haaretz de 28 de março:
Há sinais crescentes
de que [Netanyahu] está fazendo quase todo o possível para adiar, atrasar e
arruinar a chance de um acordo para libertar os reféns em troca de terroristas.
O relatório continuou
revelando várias ações que Netanyahu havia tomado para minar as negociações —
incluindo evitar ou atrasar a convocação do gabinete de guerra, várias
declarações públicas destinadas a contaminar discussões produtivas e impedir
negociadores de participar das tratativas — e que a posição de Netanyahu estava
em desacordo com os chefes militares de Israel.
Aqui está o que
o New York Times relatou em 5 de maio sobre o que seu
repórter havia ouvido de uma autoridade israelense que pediu anonimato em
relação à insistência absurda de Netanyahu de que, como parte de qualquer acordo
de cessar-fogo, Israel teria o direito de retomar os disparos após
um breve intervalo, algo que o jornal então chamou de “o principal obstáculo
nas negociações”:
que Israel e o Hamas
estavam mais próximos de um acordo há alguns dias, mas que as declarações do
Sr. Netanyahu sobre Rafah obrigaram o Hamas a endurecer suas exigências em uma
tentativa de garantir que as forças israelenses não entrem na cidade.
Parece que Netanyahu
pode estar tentando sabotar o acordo antes mesmo que o gabinete tenha os
detalhes e faça uma votação sobre ele. A operação militar israelense
acontecendo agora (quase 23:00, horário de Israel) visa claramente pressionar o
Hamas a retirar seu acordo de cessar-fogo. Netanyahu, ao que parece, está mais
uma vez colocando seus próprios interesses políticos à frente do país e dos
reféns israelenses.
Veja o que o próprio
Biden disse em 4 de junho
— não em uma conversa privada que foi vazada posteriormente, mas em uma
entrevista sobre alta política externa para a revista Time —
quando perguntado se Netanyahu estava prolongando a guerra por seus próprios
motivos políticos: “Há muitos motivos para as pessoas chegarem a essa
conclusão”.
“Netanyahu poderia
fechar um acordo para trazer os reféns de volta quando quisesse, mas está
fazendo tudo o que pode para evitar isso.”
Ou veja o que várias
autoridades disseram sobre a emissão de quatro exigências “inegociáveis” por
Netanyahu em 7 de julho, que incluíam a recusa de devolver aqueles que Israel
mesmo mantinha prisioneiros (uma disposição que fazia parte de versões anteriores
do acordo) e uma cláusula que permitiria que Israel “retornasse à luta até que
seus objetivos de guerra fossem alcançados”.
Essas exigências
surgiram no momento em que as negociações estavam prestes a recomeçar, e logo
após o Hamas fazer uma grande concessão: que concordaria com um acordo sem um
compromisso israelense inicial de um “cessar-fogo completo e permanente” na
primeira fase de libertação de reféns — algo que até mesmo o governo Biden
chamou de “ajuste significativo” por parte do
grupo.
Um alto funcionário de
um dos países que faz a mediação entre Israel e o Hamas também acusou Netanyahu
de tentar sabotar o acordo… [e disse] que a exigência inegociável de retomar os
combates após o primeiro estágio do acordo de cessar-fogo e libertação de
reféns divulgado pelo gabinete de Netanyahu atingiu o aspecto mais sensível das
negociações em andamento.
Outra fonte alertou
que as novas exigências de Israel devem atrasar a conclusão das negociações e
que não estava claro se o Hamas aceitaria essas novas condições.
“O Hamas já concordou com a última posição apresentada por Israel. Mas na
reunião de sexta-feira, Israel apresentou alguns novos pontos que exige que o
Hamas aceite”, disse uma fonte familiarizada com os detalhes.
Conduta inapropriada
que prejudicará a chance de retorno dos sequestrados para casa. Há também uma
questão de timing aqui… Se essa for a conduta, os reféns não
retornarão.
Um oficial da defesa
israelense não identificado disse ao Canal 12 de Israel: “Netanyahu
finge que quer um acordo, mas está trabalhando para miná-lo”.
Ou veja as várias
respostas à declaração de Netanyahu em 11 de julho, naquele ponto introduzido pela primeira vez no curso das
negociações, de que Israel deve ocupar permanentemente o Corredor Filadélfia em
qualquer acordo final, caracterizado por vários relatórios israelenses como
Netanyahu “acirrando” ou “endurecendo” a posição de Israel nas negociações. Isto, por exemplo, é o
que uma fonte próxima às negociações disse ao Canal 12.
Esta é uma demanda que
impedirá um acordo. No melhor dos casos, é um obstáculo que tornará a
continuação [das negociações] mais difícil, e no pior, visa frear as
negociações e eliminar a capacidade de se chegar a um acordo… O
primeiro-ministro Netanyahu acrescentou demandas que divergem dos acordos com
os mediadores.
Foi o que um
“ex-oficial egípcio com informações das negociações” disse ao Washington Post sobre isso: “Netanyahu não quer paz. Isso é tudo. Ele
encontrará desculpas… para prolongar esta guerra até 5 de novembro [a data da
eleição dos EUA].”
Segundo as fontes, a
delegação israelense aprovaria diversas condições em discussão, mas depois
voltaria com emendas ou introduziria novas condições que arriscariam afundar as
negociações.
Elas disseram que os
mediadores viram as “contradições, atrasos nas respostas e a introdução de
novos termos contrários ao que foi previamente acordado” como sinais de que o
lado israelense via as negociações como uma formalidade destinada a influenciar
a opinião pública.
Até mesmo o jornal de
direita Jerusalem Post concordou, relatando que fontes não
identificadas disseram ao jornal que “Netanyahu está sabotando ativamente a
possibilidade de qualquer acordo de libertação dos reféns, a fim de evitar o
colapso de seu governo”, ao introduzir a demanda do Corredor Filadélfia na
última hora.
Essas fontes também
“ridicularizaram” as novas exigências “como irrelevantes de uma perspectiva da
defesa”, especularam que o primeiro-ministro estava “muito confiante de que
[Donald] Trump será eleito novamente e sente menos pressão” para cumprir as exigências
de Biden e acreditavam que “a enorme concessão do Hamas poderia ter levado à
ratificação do acordo esta semana ou na semana que vem, e uma parte dos reféns
já teria retornado para suas casas”.
Isto foi apoiado por
uma reportagem posterior, de 28 de julho, no New
York Times, onde foi relatado por seis autoridades israelenses que
Netanyahu
foi a principal razão
para a posição endurecida de Israel nas negociações de Roma, e que altos
funcionários da defesa estão pressionando o primeiro-ministro a mostrar maior flexibilidade
para garantir um acordo. A margem de manobra do Sr. Netanyahu é limitada pelos
membros de seu governo de coalizão de direita; alguns deles se opõem a uma
trégua que permitiria ao Hamas sobreviver à guerra intacto e ameaçaram derrubar
o governo se seus desejos não fossem atendidos.
<>< “Os
obstáculos vêm de Netanyahu”
Dias depois, houve
provavelmente a demonstração mais clara da falta de seriedade de Netanyahu em
relação às negociações, quando ele assassinou o negociador do outro lado da
mesa: o oficial mais moderado do Hamas, Ismail Haniyeh. O movimento imprudente
e totalmente ilegal foi amplamente
denunciado, inclusive por autoridades de países
envolvidos nas negociações. Isso incluiu o primeiro-ministro do Catar, Mohammed
bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani, que perguntou: “Como a mediação
pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador do outro lado?”
Assim como o
Ministério das Relações Exteriores egípcio, que em um comunicado acusou que:
A coincidência dessa
escalada regional com a falta de progresso nas negociações de cessar-fogo em
Gaza aumenta a complexidade da situação e indica a ausência de vontade política
israelense para acalmá-la.
E até o próprio Biden.
De acordo com um funcionário dos EUA que
falou com a Axios, o presidente dos EUA reclamou com Netanyahu que ele
levou a cabo o assassinato depois que eles tinham falado apenas uma semana
antes sobre garantir um acordo, e disse:
Estamos em um ponto de
inflexão… precisamos fazer de tudo para acabar com a guerra e alcançar a
estabilidade regional, mesmo que o acordo não seja perfeito. O Hamas quer o
acordo agora mesmo. Ele pode mudar.
Não é de se espantar
que “três oficiais de países mediadores” tenham dito ao Times
of Israel no início de agosto que a equipe de negociação israelense
havia perdido credibilidade. Como um dos oficiais, um diplomata, disse ao
jornal:
Está claro que tudo
isso são táticas de adiamento; toda vez que chegamos perto de um acordo, mais
ataques acontecem. Haniyeh era alguém que queria um acordo. Agora mesmo, os
obstáculos vêm de Netanyahu.
O mesmo diplomata
disse que “os negociadores israelenses diziam uma coisa aos mediadores na sala
e então Netanyahu dizia o oposto em público”, atrasando as negociações,
enquanto outro dos oficiais alegou que os negociadores israelenses
repetidamente asseguravam aos mediadores quais condições o governo israelense
estava preparado para aceitar, apenas para fazê-los voltar atrás depois de
falar com Netanyahu. Outro ainda revelou que Netanyahu havia rejeitado uma
oferta do Hamas para libertar todos os reféns civis em troca de uma pausa de
uma semana nos combates feita dias depois de 7 de outubro.
Como resultado desse
comportamento, o Canal 12 relatou que Netanyahu
entrou aos berros em uma discussão com seus próprios chefes de segurança, que
questionaram se ele realmente queria fazer um acordo e o instaram a aceitar o
que estava na mesa, apenas para o primeiro-ministro israelense chamá-los de “fracos”
e dizer para pressionarem o Hamas em vez dele. Isso levou os chefes de
segurança a concluir que Netanyahu não queria um acordo, segundo o Canal 12,
com uma fonte não identificada dizendo ao canal: “Ele desistiu dos reféns”.
Relatos como esses
continuaram ao longo do final de agosto sobre a demanda de Netanyahu sobre o
Corredor Filadélfia, levando à descoberta dos reféns executados no último
sábado.
Um relatório do Haaretz de 20 de agosto, por exemplo, citou duas fontes que
disseram que Netanyahu estava “mais uma vez sabotando as negociações” e
“consistentemente minando as negociações e atrasando um acordo”, até mesmo
rejeitando propostas do establishment da defesa israelense sobre como se
retirar do Corredor Filadélfia. Um alto funcionário dos EUA viajando com o
Secretário de Estado Antony Blinken então reclamou “que declarações
maximalistas como essa não são construtivas para se alcançar a conclusão de um
acordo de cessar-fogo e certamente arriscam a capacidade” de avançar com as
negociações. Na semana passada, em 28 de agosto, “uma fonte envolvida no
acordo” disse ao Haaretz que “a menos que haja alguma flexibilidade nessas
questões” — incluindo a insistência de Netanyahu em uma presença israelense
contínua no Corredor Filadélfia — “é duvidoso que seremos capazes de garantir a
libertação dos reféns”.
Isso tudo até ontem,
quando o Washington Post relatou que nove
autoridades atuais e antigas de países mediadores concordaram que a demanda de
Netanyahu pelo Corredor era o principal obstáculo para um acordo de libertação
dos reféns, com uma autoridade israelense “desabafando” com o jornal:
Poderíamos tê-los
salvado. O Hamas cometeu o crime e deve ser responsabilizado, mas meu governo
tinha a responsabilidade de fazer o que fosse preciso para salvá-los, e falhou
com eles e suas famílias. Devemos a eles um pedido de desculpas.
<><> Assassinato
absurdo
Não são apenas uma, ou
duas, ou mesmo três reportagens. São mais de duas dúzias delas nos últimos seis
meses, em uma variedade de veículos de comunicação israelenses e
estadunidenses, todos dizendo a mesma coisa: que Netanyahu é o principal
obstáculo para um acordo de cessar-fogo, tendo sabotado sistematicamente
qualquer perspectiva de paz e se importando muito mais em manter sua coalizão
governamental unida — e, portanto, se apegar ao poder político — do que em
levar os reféns de volta para casa, confiante de que pode simplesmente aguentar
até os democratas perderem para Trump em novembro.
É difícil dizer o que
é mais absurdo: que ainda haja alguma dúvida sobre o motivo pelo qual um acordo
de cessar-fogo em Gaza, com o qual o governo Biden está supostamente
desesperado, não pode ser efetivado, ou que o governo Biden continue a apoiar e
armar voluntariamente o homem que todos os envolvidos sabem ser seu principal
sabotador.
Fonte: Por Branko
Marcetic, com tradução de Pedro Silva, para Jacobin Brasil
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