Marcia Carmo: ‘Potência da China no
Mercosul’
Num momento em que o
acordo entre o Mercosul e a União Europeia volta a parecer utópico, a relação
regional com a China é cada vez mais intensa, como mostra um estudo realizado
pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Neste contexto de maior
aproximação, o presidente chinês Xi Jinping é esperado daqui a dois meses, em
novembro, na reunião de Cúpula do G20, no Brasil, e no Fórum de Cooperação
Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no Peru. Será sua primeira viagem à América
Latina desde a pandemia de coronavírus, e neste ano que marca os 50 anos de
relações diplomáticas entre o maior país da região, em termos econômicos e
populacionais, que é o Brasil, e o país asiático.
A China é um país
decisivo para as economias dos integrantes do Mercosul e com participação
crescente inclusive no Paraguai, que tem relação histórica com Taiwan, e com a
Bolívia, que neste ano aderiu ao bloco. Mais de 30% das importações paraguaias
chegam da China. E, por sua vez, apesar das críticas ao “país comunista”, o
presidente argentino Javier Milei tem buscado evitar novas polêmicas com o
gigante asiático, do qual a Argentina depende em termos financeiros. O
principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil, mas recentemente a China
chegou a superar nosso país e uma revista local batizou, então, essa relação de
“ArgenChina”, pouco antes do desembarque de Milei à Presidência.
Um estudo divulgado há
poucos dias pelo CEBC indicou que o Brasil é o único país do Mercosul que
registra “de forma constante superávits comerciais expressivos com a China”. E
sinaliza como essa relação poderia ser ainda mais produtiva, incluindo valor agregado
e a maior presença dos chineses em obras de infraestrutura nos nossos países. O
estudo aponta as perdas e ganhos para um eventual Acordo de Livre Comércio
(ALC) entre o bloco e os chineses. Prevê que o ALC com a China traria ganhos de
1,43% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que o grande beneficiado seria
o agro, que tem na China seu principal mercado, enquanto a indústria sofreria
perdas diante da competitividade da manufatura chinesa.
Os autores do estudo
mostram que um suposto ALC com a China deve ir além do âmbito comercial, com a
criação, por exemplo, de cadeias de produção regionais. O que dependeria do
amadurecimento do debate dentro do Mercosul, de acordo com seus autores. O estudo
foi realizado num momento de novas dificuldades para um possível acordo entre o
Mercosul e a União Europeia e ainda com Uruguai e Argentina, principalmente,
defendendo a maior abertura do bloco. “A China tem importância crescente para
os países do Mercosul como parceiro econômico, tanto comercial quanto como
fonte de investimentos, em um contexto de polarização das relações econômicas e
políticas entre China e Estados Unidos e de aumento de ações de política
industrial e protecionismo pelos países de alta renda”, diz o estudo editado
pela diretora executiva do CEBC, Cláudia Trevisan.
Será neste contexto
que o presidente chinês já teria sua presença confirmada no G20, segundo fontes
do Itamaraty. Xi Jinping também é esperado no Peru, onde deverá participar,
além da APEC, da inauguração do megaporto de Chancay, a cerca de oitenta quilômetros
da capital peruana. Este porto será uma conexão dos países banhados pelo Oceano
Atlântico com o Pacífico, ampliando os caminhos para a China. “Há grande
expectativa aqui para a inauguração do porto, com a presença de Xi Jinping, e
que vai favorecer também as exportações brasileiras”, disse à reportagem o
economista peruano Carlos Aquino, da Universidade Nacional Mayor de San Marcos
(UNMSM), de Lima.
Enquanto o impasse com
os europeus persiste, a realidade regional encontra alternativa na Ásia.
¨ Construção naval dos EUA perde posições para a China e procura
ajuda em aliados na Ásia
O enfraquecimento
significativo da indústria de construção naval norte-americana ameaça privar os
EUA de sua posição de "grande potência naval" no século XXI para a
China, gigante atual no setor, segundo a agência Bloomberg.
A Marinha dos EUA é
seriamente ameaçada pelo estado atual do setor de construção naval dos Estados
Unidos, que registra um grande declínio e que, em grande parte, conta com as
capacidades de seus aliados asiáticos, principalmente o Japão e a Coreia do Sul,
de acordo com o artigo.
O problema dos Estados
Unidos é também agravado pelo fato de o vizinho mais próximo dos dois países, a
China, ocupar o primeiro lugar no setor de construção naval, produzindo
"mais de metade dos navios mercantes em todo o mundo".
Enquanto a China teve
pedidos para a construção de 1.794 navios comerciais de grande porte, os EUA só
tiveram cinco, com seu setor de construção naval sendo responsável por menos de
1% das embarcações comerciais do mundo.
"Veja a diferença
na construção naval entre os Estados Unidos e a China, que [é] profundamente
preocupante. Temos que nos sair melhor nessa área ou não seremos a grande
potência naval que precisamos ser no século XXI", cita o artigo o
vice-secretário de Estado norte-americano Kurt Campbell.
Perdendo o título de
detentor da maior Marinha do mundo para a China, segundo a agência, os Estados
Unidos estão procurando investimentos de seus aliados da Ásia em suas próprias
instalações de construção naval, tendo recentemente vendido o antigo estaleiro
da Marinha na cidade da Filadélfia à empresa sul-coreana Hanwha Ocean Co.
Além disso, a
Bloomberg observa que em julho, os EUA, o Canadá e a Finlândia anunciaram um
plano para construir conjuntamente quebra-gelos para competir com a China e a
Rússia no Ártico.
Por último, a Rússia
relatou anteriormente que o Brasil, entre outros, manifestou interesse na
criação de um centro científico e educacional internacional no arquipélago de
Svalbard (Spitsbergen, na denominação russa).
Porém, o setor de
construção naval dos EUA está obviamente muito longe do que se precisa para
competir com os gigantes da Ásia-Pacífico, segundo a mídia.
"Mesmo com o
apoio da Hanwha e possivelmente de outras empresas asiáticas, os EUA levarão
anos para aumentar sua capacidade e reduzir os custos de forma significativa o
suficiente para melhorar um setor que continua sendo uma fração minúscula do da
China", afirma o artigo.
¨ Rivalidade EUA-China e os obstáculos para regulação da
inteligência artificial
Não se sabe ao certo
os motivos pelos quais a China decidiu não assinar uma declaração internacional
para manter os humanos, e não a inteligência artificial, no controle da tomada
de decisões ligadas a armas nucleares.
A declaração conjunta
foi endossada por mais de 60 países, incluindo Ucrânia e Estados Unidos, ao
final de uma conferência sobre o uso responsável da tecnologia militar em
questões militares.
Segundo o jornal South China Morning Post, essa posição ressalta o dilema vivido pelo governo chinês
enquanto busca equilibrar as preocupações sobre fazer compromissos relacionados
à energia nuclear em meio à sua rivalidade com os EUA sobre inteligência
artificial militar e seu desejo de ter mais voz na governança global da
tecnologia em rápida evolução.
Ao mesmo tempo, esse é
um exemplo prático de como a rivalidade entre EUA e China impede os esforços
globais de regulação da inteligência artificial, em especial seu uso militar em
expansão.
Outras explicações
plausíveis incluíam que Pequim pode querer evitar apoiar um evento liderado
principalmente pelo Ocidente, organizado por um aliado dos EUA, e uma proposta
que sabe que a Rússia (que não foi convidada ao evento por conta da invasão à
Ucrânia) se opõe.
A cúpula envolveu
quase 100 países durante dois dias na cidade de Seul, na Coréia do Sul, e
terminou com um “plano para ação” que apontava a necessidade de “manter o
controle e o envolvimento humanos para todas as ações… relativas ao emprego de
armas nucleares”.
“Nós enfatizamos a
necessidade de impedir que as tecnologias de IA sejam usadas para contribuir
para a proliferação de armas de destruição em massa e enfatizamos que as
tecnologias de IA apoiam e não impedem os esforços de desarmamento, controle de
armas e não proliferação”, disse a declaração.
“O uso militar da IA se tornou um componente-chave da rivalidade estratégica EUA-China, com ambas as nações investindo pesadamente no
desenvolvimento de IA para obter uma vantagem militar futura”, disse Seong-Hyon Lee, associado do
Harvard University Asia Centre.
<><>
Novo chefe militar da UE defende 'estoques obrigatórios de munições' para
rivalizar Rússia e China
O primeiro comissário
de Defesa da União Europeia quer forçar Estados-membros a estocarem níveis
mínimos de munição e outros suprimentos, dizendo que essa é a melhor maneira de
aumentar a indústria de armas do bloco a fim de prepará-la para a guerra.
De acordo com o
Financial Times, Andrius Kubilius, disse que a UE deve se preparar para um
ataque russo dentro de alguns anos. Kubilius comparou seu plano a acordos
semelhantes para gás natural, segundo os quais os países devem manter reservas
e compartilhá-las com vizinhos necessitados.
"Por que não
temos algum tipo de critério chamado segurança militar para manter em estoque
tal e tal quantidade de projéteis de artilharia e alguns outros produtos [...]?
Digamos, pólvora [explosivos]? Você traz valor agregado à segurança dos Estados-membros,
mas, além disso, você está criando demanda permanente para produção, que é o
maior problema para a indústria de defesa. Eles não têm pedidos estáveis de longo prazo para produção", afirmou a autoridade europeia, citada pelo jornal.
Segundo a mídia, a
Finlândia, vizinha da Rússia, é um dos poucos Estados-membros com grandes
reservas de armamento, enquanto relatos da mídia na Alemanha em 2022 disseram
que seu Exército ficaria sem munição após dois dias de combates.
Em março, a UE
destinou € 500 milhões (R$ 3 bilhões) sob a Lei de Apoio à Produção de Munição
(ASAP, na sigla em inglês) para aumentar a capacidade de produção para dois
milhões de projéteis anualmente até o final de 2025.
Kubilius, um
ex-primeiro-ministro lituano, disse que isso foi uma melhoria em relação ao
limite anual de 300 mil em 2022, mas que é preciso mais: "Se eu estiver
correto, ainda estamos atrás dos russos", afirmou.
A presidente da
Comissão, Ursula von der Leyen, disse que o bloco precisa gastar € 500 bilhões
(R$ 3 trilhões) para compensar o déficit nos gastos com defesa desde o fim da
Guerra Fria na década de 1990.
Von der Leyen deu a
Kubilius 100 dias após assumir o cargo para produzir um white paper sobre
estratégia de defesa. Ele deve incluir um escudo aéreo europeu, que custaria
centenas de bilhões de euros, e um sistema de defesa cibernética, disse a
presidente.
Kubilius quer que os
Estados-membros da UE tomem dinheiro emprestado para isso em conjunto, uma
ideia que, por enquanto, é contestada pelos contribuintes líquidos do
orçamento, Alemanha e Países Baixos, diz o jornal.
Há também planos para
indústria da UE incluir o Reino Unido, que deixou o bloco.
"Consideramos o
Reino Unido como parte da Europa", ele disse. "Os europeus
democráticos devem ser tão unidos quanto possível. Vejo o perigo de nossa
fraqueza [...]. Mas os chineses [também] estão observando. Os chineses chegarão
a uma conclusão simples: o Ocidente é bem fraco. Apesar do fato de o poder de
gasto econômico ocidental combinado ser cinco vezes mais forte que o russo, não
somos capazes de vencer. Qual é o motivo? É uma questão de vontade
política", afirmou o futuro chefe militar do bloco.
¨ OTAN deve 'se aposentar' junto com o secretário-geral cessante,
diz jornal chinês
Durante os 75 anos de
sua existência, a OTAN contribuiu para o estabelecimento de uma ordem mais
pacífica e segura, mas foi a raiz do surgimento de dilemas de segurança, a
Aliança Atlântica deve "se aposentar" junto com o secretário-geral
cessante, escreveu o jornal estatal chinês Global Times.
O mandato do atual
secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, está chegando ao fim. No dia 1º de
outubro, na sede da OTAN em Bruxelas, ocorrerá a entrega oficial das funções na
organização ao novo secretário-geral, o ex-premiê dos Países Baixos Mark Rutte.
Os autores do artigo
observam que os 75 anos de história da OTAN provaram que esta organização não
tornou a Europa ou o mundo mais pacíficos e seguros, mas a própria existência e
expansão contínua da aliança foram a principal causa de dilemas de segurança.
"Pelo contrário,
a 'paz duradoura' foi alcançada nos locais com menos intervenção da OTAN e da
mentalidade de confrontação", escreve o artigo.
"Apelamos à OTAN
para 'se aposentar' o mais rápido possível juntamente com o secretário-geral
cessante, juntamente com os conceitos obsoletos da mentalidade da Guerra Fria e
o jogo de soma zero, a prática errada de propaganda da força militar e a busca
da 'segurança absoluta', bem como o comportamento perigoso que está destruindo
a Europa e a região da Ásia-Pacífico", salienta o jornal.
É observado que a OTAN
deveria ter cessado sua existência no final da Guerra Fria.
A mídia escreve que
Stoltenberg tenta retratar a OTAN como defensora da segurança regional e até
global, mas a retórica de que "a força militar é uma condição prévia para
o diálogo" é apenas outra maneira de dizer que "a força gera o direito".
"Foi a expansão
da OTAN que lançou as sementes da crise ucraniana, e sua expansão para a região
da Ásia-Pacífico exportou as tensões geopolíticas para além das fronteiras da
Europa", conclui o jornal.
Fonte: Brasil 247/Jornal
GGN/Sputnik Brasil
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