terça-feira, 24 de setembro de 2024

César Fonseca: ‘Lula vê ONU mergulhada em caos total’

O presidente Lula colocou com energia o dedo na ferida: a ONU está falida.

Nada funciona.

O mundo está de cabeça para baixo e as orientações dela não tem consequência.

Essa é a constatação óbvia de que a reformulação da ONU é a demanda global mais urgente quando o mundo enfrenta duas guerras simultâneas: a Guerra na Ucrânia e o genocídio de guerra na Palestina pela união Israel-Estados Unidos.

De nada tem adiantado as reclamações da maior representação da humanidade contra o genocídio de Israel, armado pelos Estados Unidos.

Todas as recomendações contrárias à guerra são desconhecidas explicitamente pelo império e seu principal aliado.

As votações favoráveis ao cessar fogo na faixa de Gaza são olimpicamente desobedecidas.

É como se a comunidade internacional perdesse todos os comandos sobre si mesma no sentido de conduzir o bom senso global e evitar desastres por conta desse desentendimento global.

A ONU virou uma nave sem rumo.

O clima é de caos, como sugeriram as palavras do presidente Lula.

SUL GLOBAL TENTA REAGIR

Como representante do Sul Global, Lula pediu, na Conferência do Futuro, urgência na mudança da ONU, visto que o poder do norte global perdeu legitimidade para conduzir a geopolítica imperialista com o mínimo de estabilidade para dar segurança à comunidade internacional.

O norte global virou fonte de instabilidade, porque suas ações são no sentido de fomentar guerras e desuniões entre os próprios aliados.

A Europa reage ao genocídio de Israel e pede providencias aos Estados Unidos para reduzir fornecimento de armas para impedir continuidade dos conflitos.

Mas, os europeus perderam força depois que se renderam a Washington diante do boicote imperialista a Moscou que jogou a economia europeia em crise total.

O sul global, como Lula destacou, quer ter sua voz mais destacada, caso contrário irão para os ares acordos internacionais como o do Mercosul, que está jogando a América do Sul nas mãos do fascismo europeu e americano, conforme avanço neoliberal europeu e americano, denunciado, durante semana, pelo presidente Maduro, da Venezuela.

A América do Sul, diante da imposição do norte global, corre perigo de retornar à condição de colônia, fornecedora de matérias primas e minérios, sem chances de industrializar-se.

VOZ DA INDUSTRIALIZAÇÃO

A voz de Lula é a da industrialização do sul global no palco de um pretendido - mas nunca alcançado - novo Conselho de Segurança da ONU.

Porém, a hegemonia do norte global não deixa operar a reivindicação de Lula.

Pelo contrário, Washington, como demonstrou em recente declaração a general Laura Richardson, que comanda as forças armadas americanas no sul global, quer o sul global e seu braço forte, o BRICS.

Richardson proclama a doutrina Monroe, que prega a América para os americanos do norte.

A ONU não tem força para representar o discurso do sul global, formulado hoje pelo presidente Lula na conferência do futuro, porque ele está sob ataque do norte global.

Para o sul global, o futuro está sem futuro, enquanto o norte global impede a principal reivindicação do sul global de implementar nova correlação de forças políticas dentro da ONU.

Sem essa possibilidade, a ONU segue monitorada pelo norte global imperialista.

DISSEMINAR CENSURA À INFORMAÇÃO

A prioridade do norte global, como denunciou a agência RT russa, é desarticular o sul global e censurar as informações que a RT tem disseminado para expor a geopolítica imperialista que deseja transformar a América do Sul em condomínio do norte global.

As vozes do sul global, como a de Lula, caem no vazio, porque, para Washington, o fundamental é barrar a aproximação entre os principais líderes dos BRICS, Rússia e China, e os líderes da América do Sul.

O poder midiático, comandado por Washington, pressiona o sul global a afastar-se de China e Rússia, principais representantes dos BRICS, que sustentam a infraestrutura do sul global, geopoliticamente.

NORTE GLOBAL DIVIDE AMÉRICA LATINA

O norte global, por sua vez, comemora a divisão que promove no continente sul-americano diante das eleições na Venezuela.

A contestação do resultado da eleição do presidente Nicolás Maduro, pela oposição apoiada pelo império americano, dividiu a América do Sul e polarizou as relações diplomáticas continentais.

A integração latino-americana, que se apresenta como prioridade nas constituições dos países do continente, caminha para o seu reverso, a desintegração latino-americana, depois das controvérsias levantadas pela eleição na Venezuela.

As divisões se mostram como produto de manipulação do império sobre a periferia latino-americana.

O candidato derrotado da Venezuela, Edmundo González Urrutia, reconheceu no exílio a legitimidade da vitória de Maduro e a seriedade das instituições eleitorais venezuelanas.

Não houve coação de Maduro sobre Gonzales, como destaca a mídia ocidental obediente às pautas ditadas por Washington para formar narrativa pró-golpe de Maduro.

A negociação para o autoexílio de Gonzales foi solicitada por Gonzales ao presidente da Assembleia Nacional, mas conduzida pela embaixada da Espanha.

O testemunho fundamental da negociação de Gonzales com o governo Maduro foi dado pela Espanha não por Gonzales.

GOLPE DE WASHINGTON

Os Estados Unidos induziram os países latino-americanos a priorizarem aspectos administrativos intrínsecos à burocracia eleitoral venezuelana que cabe ao poder Venezuela resolver sem ingerência que fere autodeterminação dos povos.

Caíram na armadilha de Washington, o que não aconteceu com a China e a Rússia, que cuidaram de observar preferencialmente a geopolítica do sul global para reconhecer imediatamente a vitória de Nicolás Maduro.

O fato é que a pretensão da América do Sul de sentar no Conselho de Segurança da ONU, como quer o Brasil, esvaziou-se.

Dificilmente se realizaria com a divisão política interna latino-americana, provocada pelos próprios Estados Unidos como desarticulador de pretensa união sul-americana, numa sonhada Unasul etc.

Portanto, no cenário da financeirização especulativa global em que a América do Sul está submetida, pela pressão imperialista, ao neoliberalismo, o que se vê é a recolonização latino-americana, que se aprofundará, se o sul global se desarticular, no ambiente de uma ONU dominada pelo império americano e seu aliado Israel, propensos a levar o mundo a guerra permanente.

É o ideal do capitalismo financeiro armamentista neoliberal especulativo.

•        Lula volta a criticar postura da ONU no enfrentamento a conflitos

No primeiro pronunciamento em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde participará da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a falta de atuação da entidade global diante de crises que o mundo vem enfrentando nos últimos anos.

"A crise na governança global requer mudanças estruturais, a pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais", afirmou.

A fala de Lula fez parte da Cúpula do Futuro, evento organizado pela ONU, que antecede a abertura da Assembleia Geral. 

Desde que assumiu o terceiro mandato, Lula apresenta uma postura crítica à capacidade de mediação da ONU em situações de emergência. Na própria assembleia das Nações Unidas do ano passado, o presidente chegou a citar "paralisia" da entidade.

O início do atual massacre na Faixa de Gaza, em outubro do ano passado, foi um episódio-chave para um reforço da postura do presidente neste sentido. Desde então, ele vem cobrando mais atuação de organizações internacionais ao que já chamou de “genocídio” do povo palestino por parte de Israel.

No discurso deste domingo, Lula disse que "a legitimidade do Conselho de Segurança [da ONU] encolhe cada vez que ele aplica duplos padrões diante de atrocidades", sem citar a Faixa de Gaza.

"Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos, e caminham para ser o nosso maior fracasso coletivo", afirmou o presidente citando uma das principais bandeiras do evento promovido pela ONU neste domingo.

O mandatário brasileiro também afirmou que “o Sul Global não está devidamente representando com seu atual peso político-econômico”.

Lula teve parte de seu discurso cortado durante o pronunciamento. Durante fala, o microfone dele foi desligado, e o locutor oficial do evento agradeceu a participação de Lula, embora a imagem da transmissão seguisse mostrando Lula falando.

Combate à fome e mudanças climáticas no centro da discussão

Lula está em Nova Iorque desde sábado (22) para participar da Assembleia Geral da ONU, que acontece na terça-feira (24).  Como já é tradição, o Brasil fará o discurso de abertura. A participação de Lula é aguarda para falar, principalmente, a respeito do combate a fome e mudanças climáticas.

O Brasil vive uma seca histórica que tem impactado diretamente famílias da região do Médio Solimões, no Amazonas, por exemplo, que estão isoladas por conta da baixa dos rios impossibilitar o transporte.

Além disso, especialistas afirmam que a condição climática está relacionada diretamente com o número de focos de calor que tomaram conta do país nas últimas semanas.   De janeiro a agosto de 2024, os incêndios no Brasil já atingiram 11,39 milhões de hectares do território do país, segundo dados do Monitor do Fogo Mapbiomas. Basicamente metade da área, 49%, foi consumida pelo fogo apenas no mês de agosto.

<><> Líderes mundiais reunidos

A abertura da Cúpula do Futuro contou também com discursos do secretário-geral da ONU, António Guterres, e do presidente da Assembleia Geral, Philemon Yang.

O evento reúne líderes mundiais para debater formas de enfrentar as crises de segurança emergentes, acelerar o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e abordar as ameaças e oportunidades das tecnologias digitais.

O debate geral deste ano tem como tema “Sem deixar ninguém para trás: agindo juntos para o avanço da paz, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana para as gerações presentes e futuras”.

 

•        Lula bateu a porta corta-fogo e viajou para cobrar responsabilidade climática. Por Denise Assis

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, todas as vezes que cruza a linha do Equador, rumo ao Norte, parece ter se servido da latinha de espinafre do marinheiro Popeye. Assume um vigor com as palavras, que por aqui anda mais comedido – e não menos atacado, a cada vez que direciona os seus comentários para a área econômica -, daí ser mesmo mais prudente.

Em seu discurso na sessão de abertura da Cúpula do Futuro, evento paralelo à Assembleia-Geral das Nações Unidas, apesar de interrompido abruptamente -, talvez um erro de cálculo que o adequasse à minutagem a seu dispor -, Lula afirmou que "faltam ambição e ousadia" no cenário atual. Não a ele, quando fala para fora.

Apesar do pouco tempo para o seu pronunciamento, não deixou de demarcar os temas de que vem tratando com líderes estrangeiros. Conclamou os seus homólogos a refletir sobre questões fundamentais e urgentes ao mundo: o combate à fome, a atenção às questões climáticas e a preocupação com os avanços tecnológicos desenfreados que, sem regramento, transformam verdades em mentiras e mentiras em verdades. Uma questão acrescida de um enorme problema. A morte agora chega direcionada, a um clique.

No que falou, passou exatamente isto: coragem e ousadia. Cobrança que dirigiu aos seus pares. Na sede da ONU, criticou o passadismo e a pouca autoridade da instituição, num mundo onde Israel dita as regras do armamento e rasga a Convenção de Genebra (o conjunto de Tratados celebrados em Genebra, na Suíça, - 1863; 1906; 1929; 1949 -, que versam sobre Direito Humanitário Internacional).

Com a sua sanha expansionista, o líder de Israel, Benjamin Netanyahu, dizima Gaza, mira o Líbano e provoca o Irã, de costas para o que foi idealizado pelo filantropo suíço, Henri Durant, para a regulação dos direitos humanos em tempos de guerra, agora solenemente desprezados. Vale tudo: de dedo no olho a crianças degoladas, desde que desocupem a terra almejada. Um massacre ou, “um genocídio”, como já definiu Lula.

Lá, no auditório das Nações Unidas, o presidente exortou: “Vamos recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial”, apontando para alguns avanços, como as negociações para um Pacto Digital”, para em seguida reconhecer: “Todos esses avanços serão louváveis e significativos, mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia”.

Em seguida, criticou a omissão dos países desenvolvidos para mitigar os efeitos do aquecimento global. Apontou o quanto são insuficientes os recursos para financiar projetos ambientais e alertou para o fato de que os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) podem se transformar em um grande fracasso coletivo.

Nesse ponto, corre um sério risco. Lula bateu no país a “porta corta-fogo” e viajou, deixando atrás de si mais de 80 inquéritos abertos contra criminosos ambientais, cerca de 11 governadores insatisfeitos e o setor do agronegócio ultrapassando limites, incendiando áreas nas quais depositam rebanhos, para dar concretude a uma invasão que ali na frente tentarão regularizar. Pode acabar recebendo críticas por ser um ferreiro em casa de pau.

Lula tem ambição, mas lhe faltou ousadia para perceber que a questão climática no Brasil precisa ser enfrentada tanto quanto uma conversa olhos nos olhos com os governadores de oposição, antes de viajar. Não é questão que se delegue. Quem sabe na volta eles não estejam mais no mesmo lugar, como diz o samba-canção.

Talvez tenha se escorado no fato de que “os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornarem nosso maior fracasso coletivo. No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo”, alertou na ONU. Um dado tão real quanto os hectares destruídos em seu país. Passou confiança.

Voltou aos assuntos que lhe são caros: “não se pode recuar na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação”. Não deixou de lado as ameaças nucleares e repisou “a necessidade de uma frente mundial de combate à fome”, citando de cor o número de 733 milhões nessa situação.

E, por fim, tocou num assunto em que vem dando recados ambíguos: a reforma da governança global, uma das prioridades do Brasil na presidência do G20 (grupo formado pelas maiores economias do mundo). “A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades. O Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico”.

Não fica claro se ele quer a “reforma e a modernização” da ONU ou que ela abra espaço, no seu atual modelo: “A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades. O Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico”, queixou-se.

Para que essa governança evolua no sentido de formar esse bloco coeso, de países que se identificam com essa proposta, talvez seja necessário avançar no princípio de uma América Latina unida e uma América do Sul alinhada. Isso não será mais possível, desde que o Brasil se colocou na indefinição quanto às eleições na Venezuela. E com essa divisão na América do Sul, será difícil avançar nesta pauta. Aguardemos os próximos capítulos.

Há um ponto, porém, que sua assertividade é indiscutível: “A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais. A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões”. Sim, a ONU precisa voltar a ser ouvida. Do contrário, seu prazo de validade estará absolutamente vencido.

 

Fonte: Brasil 247/Brasil de Fato

 

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