Os 5 dados assustadores sobre o clima
extremo ligados ao aumento do calor na Terra
Eventos climáticos
extremos idealmente deveriam ser acontecimentos raros, que incluem ondas de
calor e de frio, enchentes, secas, tornados e ciclones tropicais, diz a
Organização Meteorológica Mundial (OMM), a agência especializada da Organização
das Nações Unidas para assuntos meteorológicos.
As características do
que é chamado de "clima extremo", no entanto, podem variar de um
lugar para outro, mas – de forma geral –apresentam características fora do
usual em termos de "magnitude, localização, momento ou extensão",
detalha a fonte.
Por isso mesmo, dados
publicados pela OMM acendem um sinal de alerta. Eles mostram que os eventos
climáticos têm ocorrido de forma cada vez mais frequente e em uma intensidade
que os cientistas não esperavam. "A mudança climática induzida pelo homem,
além da variabilidade climática natural, incluindo eventos extremos mais
frequentes e intensos, causou impactos adversos generalizados e perdas e danos
relacionados à natureza e às pessoas", detalha também o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (da sigla IPCC, em inglês), de
2022.
De olho nesse cenário,
National Geographic separou cinco pontos que mostram como o clima está sob
pressão em decorrência do aquecimento global.
• 1. Se a temperatura da Terra aumentar
1°C o resultado será… Enchentes
Segundo a OMM, a
projeção é de que "para cada 1°C de aquecimento global aconteça um aumento
de 7% nas chuvas diárias extremas".
Por isso, é importante
limitar a já prevista mudança climática em, no máximo, 1,5 °C em vez de 2°C, o
que resulta em "420 milhões de pessoas a menos no mundo expostas com
frequência aos impactos de eventos extremos".
• 2. Viver em um mundo com temperaturas
acima dos 40°C já é realidade
A OMM alerta que serão
cada vez mais comuns temperaturas extremas de mais de 40°C e até de 50°C em
todo o mundo.
Somente este ano, por
exemplo, três cidades no Paquistão tiveram temperaturas superiores aos 50°C
quando o país foi atingido por uma onda de calor no último mês de maio, como
informou o Centro Nacional de Meteorologia paquistanês.
Já no México, também
em maio de 2024, o Ministério da Saúde local confirmou a morte de mais de 20
pessoas em decorrência de uma onda de calor que elevou a temperatura no país
para acima dos 45°C em diversas regiões.
Dados do observatório
europeu Copernicus mostram que em 22 de julho de 2024 a temperatura média
global diária atingiu um novo recorde de alta: chegou a com 17,15°C, superando
os registros anteriores de 17,09°C em 21 de julho de 2024, e os 17,08°C de 6 de
julho de 2023, explica a OMM sobre os últimos dados da fonte europeia.
• 3. Tornados e furacōes já impactam 200%
mais pessoas globalmente
O número é chocante:
200% é a porcentagem de quanto aumentou o total da população que vive em
regiões propensas a ciclones tropicais.
Para a temporada de
ciclones de 2024 no Atlântico norte, por exemplo, a Administração Nacional
Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) prevê um aumento acima da
média na formação de furacões.
"O alto conteúdo
de calor oceânico e o desenvolvimento previsto do La Niña devem alimentar uma
temporada de furacões acima da média", afirma a OMM.
• 4. Ondas de calor que duram dias a fio
devem ser o "novo normal"
A agência
meteorológica da ONU ressalta que é bom o mundo se preparar para a ocorrência
de ondas de calor muito mais extensas do que se "considerava normal".
"Em 2022, uma
onda de calor na China durou mais de 70 dias, tornando-se a pior já registrada
no país", detalha a OMM. Já no Reino Unido, ondas de calor "quebraram
o recorde nacional anterior de 38,7°C", diz a fonte, elevando a temperatura
para 40.3°C.
O resultado de ondas
de calor tão longas assim são secas, incêndios, inundações repentinas e
poluição do ar – "o que causa impactos combinados nas pessoas e na
natureza", diz a OMM.
• 5. Clima extremo nas cidades:
temperaturas podem subir de 5°C to 10°C em grandes centros urbanos
A entidade da ONU para
o clima alerta ainda que "áreas urbanas podem ser até 5°C a 10°C mais
quentes do que as áreas vizinhas", ou seja, locais com menos aglomerados
de pessoas.
Esse registro reforça
os riscos decorrentes das ondas de calor para milhares de pessoas. "As
ondas de calor se espalharam rapidamente para novas regiões do globo e ocorrem
em épocas do ano fora do usual", diz a fonte.
O IPCC afirma que,
"com a continuação do aquecimento global, podemos esperar um aumento na
intensidade, na frequência e na duração das ondas de calor", finalizam os
dados da OMM.
• Como o clima extremo propício para
incêndios tem o potencial de resfriar o planeta
O calor extremo
costuma provocar queimadas florestais graves. Nos Estados Unidos e do Canadá,
ondas de calor sem precedentes alimentaram enormes focos de incêndios, assim
como na região do Mediterrâneo e na Sibéria. Mas, paradoxalmente, incêndios
florestais mais intensos podem provocar o efeito oposto nas temperaturas ao
resfriar a superfície terrestre, tanto em nível regional quanto global.
A fumaça densa dos
incêndios bloqueia temporariamente a luz solar, que não atinge o solo, e pode
fazer com que as temperaturas regionais diminuam vários graus. A fumaça de
incêndios florestais também pode causar o resfriamento global ao aumentar a
reflexividade das nuvens presentes na camada mais baixa da atmosfera ou
bloquear a penetração da luz do sol na camada mais alta da atmosfera,
semelhante ao efeito causado por erupções vulcânicas.
Cientistas passaram a
analisar esses efeitos recentemente, sendo que o primeiro registro de
resfriamento global induzido pela fumaça de incêndios florestais detectado por
pesquisadores ocorreu na Austrália, nos anos de 2019 e 2020. O efeito é muito
pequeno comparado ao aquecimento global causado por humanos e pesquisadores
afirmam ser muito cedo para prever seu papel no sistema climático como um todo.
Porém, com temporadas
de incêndios cada vez mais intensas em todo o mundo e o desencadeamento de
ondas de clima propício para incêndios na América do Norte e em outros lugares
durante o verão, a busca por respostas tornou-se cada vez mais urgente.
“Está muito claro que
pesquisas relacionadas ao efeito dos incêndios florestais no clima são
relevantes”, afirma Sergey Khaykin, especialista em climas propícios para
incêndios da Universidade Sorbonne, na França.
<><> Céu
mais escuro, nuvens mais claras
Um coquetel de
partículas minúsculas, vapor de água e gases é lançado no ar cada vez que um
incêndio florestal ocorre. Carregada pelo vento, a fumaça desses incêndios pode
poluir o ar em um raio de centenas a milhares de quilômetros.
Moradores do nordeste
dos Estados Unidos foram os primeiros a observar esse efeito, em meados de
julho de 2023, quando uma onda de fumaça proveniente de um incêndio florestal
no sul do Canadá flutuou sobre as cidades de Nova York, Filadélfia e Washington
D.C., avermelhando o pôr do sol e desencadeando alertas sobre a qualidade do
ar.
No fim de julho, a
fumaça causada por incêndios florestais canadenses espalhou-se pelo estado de
Minnesota, causando níveis “sem precedentes” de poluição do ar. Há pouco tempo,
a cidade de Atenas também sofreu com a fumaça causada por incêndios florestais
que assolaram áreas próximas. Atualmente, o Dixie Fire é o maior incêndio do
estado da Califórnia, que destruiu mais de 100 casas e arrasou uma cidade
histórica.
Além de ser
prejudicial à saúde, a fumaça densa de incêndios florestais que pairam perto do
solo pode bloquear a luz em níveis suficientes para reduzir as temperaturas da
superfície. Desde meados da década de 1950, cientistas tem mensurado esse
efeito ao comparar as temperaturas em dias de fumaça intensa com as
temperaturas previstas para ocorrer na ausência dela.
“O efeito varia
dependendo da distância da origem do incêndio, do seu tamanho e da quantidade
de fumaça gerada”, explica Robert Field, cientista pesquisador do Instituto
Goddard de Estudos Espaciais da Nasa. Mas, quando a fumaça do incêndio é
espessa o suficiente, continua Field, “é possível obter um breve efeito de
resfriamento de cinco graus Celsius”.
Field descreve esses
efeitos de resfriamento como “ocasionais” e “quase uma curiosidade acadêmica”
se comparados aos impactos da fumaça de incêndios florestais na saúde pública.
No entanto pesquisas realizadas durante a temporada de incêndios florestais de
2019 e 2020 na Austrália apontam outra maneira, potencialmente muito mais
significativa, através da qual a fumaça de incêndios florestais pode resfriar a
superfície terrestre.
Em um estudo publicado
recentemente na revista científica Geophysical Research Letters, cientistas do
Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica relataram que os incêndios australianos
produziram tanta fumaça na atmosfera do Hemisfério Sul a ponto de desencadear
um efeito de resfriamento global “forte e rápido” de cerca de 0,06 grau
Celsius.
De acordo com o
principal autor do estudo, John Fasullo, isso ocorreu devido à maneira com que
as partículas de fumaça interagiram com as nuvens na camada mais baixa da
atmosfera, ou troposfera.
Partículas de fumaça
agem como sementes para o vapor d’água formar gotículas, resultando em nuvens
menores, com mais gotículas e que refletem mais luz solar. Mesmo que as nuvens
não retenham a fumaça por muito tempo, os incêndios florestais australianos duraram
meses, lançando mais e mais fumaça na atmosfera, tornando as nuvens mais
claras.
“Não é um efeito
impactante, mas ao abranger o Oceano Antártico inteiro, ele se torna
cumulativo”, comenta Fasullo.
De fato, o impacto
parece ter se propagado por todo o sistema climático. Modelos criados por
pesquisadores mostraram que, no Hemisfério Sul, o resfriamento induzido pela
fumaça alterou a rota de um cinturão crítico de tempestades tropicais, a Zona
de Convergência Intertropical, movendo-a mais ao norte.
Fasullo diz que essa
mudança pode ter contribuído para os efeitos do fenômeno La Niña no ano
passado, que esfriou a temperatura da superfície do oceano na região do
Pacífico Equatorial Oriental, embora mais pesquisas sejam necessárias para
confirmar essa hipótese.
No entanto, de acordo
com Fasullo, não restam dúvidas de que “incêndios florestais podem gerar uma
condição climática própria ou instigar uma resposta climática”.
<><> Clima
alimentado pelo fogo
A pesquisa de Fasullo
destaca os efeitos de resfriamento na camada mais baixa da atmosfera provocados
pela fumaça, mas ocasionalmente ela rompe a troposfera e chega à estratosfera,
camada atmosférica que tem início a cerca de 16 quilômetros de altura. Nesse
ponto, é possível ocorrer efeitos adicionais no clima.
A fumaça atinge a
estratosfera quando o calor provocado por um incêndio intenso cria uma corrente
ascendente que se combina com a umidade da atmosfera gerando nuvens carregadas.
Conhecidas como pirocúmulos, essas nuvens alimentadas pelo fogo podem atuar como
chaminés, canalizando a fumaça até a camada mais alta da atmosfera, onde ela
pode circundar o planeta e permanecer lá durante meses.
Esse efeito aconteceu
na Austrália, no fim de 2019 e início de 2020, quando uma “grande rajada”
inédita de 38 pirocúmulos impulsionou cerca de um milhão de toneladas métricas
de fumaça até a estratosfera inferior. Uma pesquisa conduzida por Khaykin e publicada
em setembro passado mostrou que a fumaça formou uma sombra sobre a superfície
da Terra por vários meses, provavelmente produzindo um pequeno efeito adicional
de resfriamento global, além de clarear as nuvens.
Há indícios de que a
temporada de incêndios no oeste da América do Norte, em 2021, tenha começado de
forma intensa, com os meses de junho e julho apresentando temperaturas
excepcionalmente quentes e diversos incêndios florestais na Califórnia,
noroeste do Pacífico e Colúmbia Britânica. Além dos incêndios, cientistas
testemunharam uma torrente de pirocúmulos, começando com uma enorme nuvem de
fogo na Colúmbia Britânica em 30 de junho, que expeliu fumaça a uma altura de
cerca de 16 quilômetros. Esse evento deu início “ao que se tornou uma onda de
nuvens pirocúmulos que durou vários dias”, conta David Peterson, cientista do
Laboratório de Pesquisa Naval e pesquisador desse tipo de nuvem.
Entre o fim de maio e
o dia 2 de agosto, o Canadá testemunhou 49 formações de eventos de pirocúmulos,
incluindo uma rajada de dez nuvens no dia 15 de julho, que ocupa o segundo
lugar no ranking de grandes eclosões australianas, em termos de número de tempestades
de fogo que ocorreram durante um único episódio. Outras 21 nuvens pirocúmulos
se formaram na região continental dos Estados Unidos durante o verão. Peterson
afirma que, se analisados em conjunto, este é o maior número de nuvens
pirocúmulos observadas na América do Norte desde 2013, ano em que cientistas
começaram a manter registros detalhados deste fenômeno.
Khaykin, que assim
como outros cientistas na Sibéria está rastreando a formação de nuvens
pirocúmulos, afirma que até o momento elas lançaram consideravelmente menos
fumaça na estratosfera do que a eclosão australiana do ano passado. Mas a
situação pode mudar, já que ainda faltam vários meses para o fim da temporada
de incêndios florestais e condições quentes e secas persistem em grande parte
do Ocidente.
Khaykin acrescenta
que, enquanto a rajada australiana de nuvens pirocúmulos propagou fumaça para
altitudes excepcionalmente altas, neste ano, a fumaça está sendo injetada na
parte inferior da estratosfera, local onde as nuvens cirros se formam. Ele
explica que isso pode levar a uma “interação melhor de nuvens de aerossol” na
estratosfera, “fenômeno realmente pouco conhecido”.
“Ainda estamos
começando a compreender a magnitude e a importância dos efeitos dos incêndios
florestais”, ele conclui.
Fonte: National
Geographic Brasil
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