segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Novo robô pode acelerar em meses o diagnóstico de câncer do pulmão

Uma ferramenta robótica de última geração permite aos médicos detectar câncer de pulmão ainda nos estágios iniciais da doença. O Hospital Wythenshawe, no Reino Unido, é um dos primeiros a utilizar a tecnologia que poderá reduzir em meses a espera pelo diagnóstico e pelo tratamento do tumor.

Chamado “Sistema Endoluminal Iônico” — ou sistema Ion –, a ferramenta funciona como um cateter robótico fino capaz de alcançar os lugares mais difíceis no órgão para fazer biópsia de forma rápida e precisa.

A tecnologia foi desenvolvida com base no trabalho pioneiro de Wythenshawe no programa Greater Manchester Lung Health Check, em que centros de triagem diagnosticaram mais de 600 cânceres de pulmão, a maioria em estágios iniciais e curáveis. O novo sistema robótico foi utilizado recentemente  nos primeiros pacientes com suspeita de câncer de pulmão.

Para Haval Balata, médico pneumologista e líder clínico do sistema Ion do Manchester University NHS Foundation Trust, o novo robô transforma a maneira como os pacientes com câncer de pulmão são tratados, pois eles poderiam começar o tratamento ou receber alta meses antes do que acontece atualmente.

“Ter essa nova tecnologia inovadora disponível para nossos pacientes acessarem é uma mudança radical. À medida que continuamos a expandir com sucesso nosso programa Lung Health Check, estamos diagnosticando cânceres de pulmão em um estágio muito mais precoce, quando as lesões são muito pequenas e difíceis de biopsiar”, afirma, em comunicado.

Atualmente, o diagnóstico de câncer de pulmão é feito por meio de exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos ou radiológicos de pessoas com sinais e sintomas suspeitos da doença. O raio-X e a tomografia do tórax são exames feitos inicialmente para avaliar a presença de nódulo ou massa pulmonar. Uma vez confirmada a suspeita, exames complementares como PET-SCAN e ressonância são solicitados para avaliar a extensão da doença.

A biópsia do pulmão guiada por exames de imagem é, na maioria das vezes, utilizada para confirmar as lesões patológicas. No entanto, pequenos nódulos pulmonares podem ser difíceis de serem alcançados pelos métodos tradicionais de biópsia, o que aumenta o tempo de espera pela confirmação do diagnóstico, já que é necessário que os nódulos cresçam mais para serem testados.

“O Ion nos permite coletar amostras dessas lesões com segurança e precisão e fornecer aos pacientes as respostas muito necessárias que eles buscam. Isso, por sua vez, nos permite oferecer aos pacientes os melhores tratamentos possíveis mais cedo do que tarde, quando o tratamento tem muito mais probabilidade de ser bem-sucedido”, esclarece Balata.

O diagnóstico precoce de câncer de pulmão aumenta em 20 vezes a probabilidade de sobrevivência do tumor em cinco anos, em comparação com aqueles diagnosticados em estágio já avançado.

“Nossas equipes de triagem de câncer de pulmão lideraram o caminho no desenvolvimento de novas maneiras de identificar pacientes com câncer o mais cedo possível, o que já está melhorando os resultados para os pacientes e sua qualidade de vida. A introdução recente do Ion nos ajudará a progredir ainda mais nessa área”, declara Mark Cubbon, diretor-executivo da Manchester University NHS Foundation Trust.

•        Nova abordagem no tratamento reduz em 32% chance de recidiva do câncer de bexiga

Um novo estudo mostrou, pela primeira vez, que uma imunoterapia injetável pode reduzir o risco de recidiva do câncer de bexiga quando combinado com a quimioterapia após cirurgia de remoção do órgão. O trabalho foi publicado na The New England Journal of Medicine, importante periódico científico mundial, e apresentado no último domingo (15) no Congresso Europeu de Oncologia, em Barcelona, Espanha.

O estudo, chamado NIAGARA, mostrou que a incorporação do Durvalumabe, imunoterapia injetável, ao tratamento aumentou em 34% a chance de resposta patológica completa, ou seja, a chance de o tumor desaparecer quando observado no microscópio após a cirurgia. Isso leva a uma redução de 32% no risco de o paciente apresentar recidiva, ou seja, retorno do câncer, após o término do tratamento.

“Os resultados obtidos neste estudo são importantes e poderão levar a uma mudança na forma como os pacientes com câncer de bexiga passarão a ser tratados, com chance de cura e qualidade de vida”, afirma Ariel Kann, coordenador do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e coautor do estudo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Cancer Society, 614 mil pessoas são diagnosticadas com câncer no órgão todos os anos, sendo o nono tipo mais frequente de câncer. A doença é quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres e o principal fator de risco é o tabagismo, além de exposição ocupacional e a alguns produtos químicos.

O principal sintoma do câncer de bexiga é a presença de sangue na urina, que pode vir acompanhado de dor pélvica e ardência ou dor para urinar. O tumor é diagnosticado por meio de exames de imagem (ultrassom, tomografia ou ressonância) e cistoscopia, um aparelho com câmera introduzido na uretra, analisando a bexiga e colhendo fragmentos para realizar uma biópsia.

<><> Inclusão da imunoterapia pode aumentar expectativa de vida dos pacientes

Existem dois tipos de paciente com câncer de bexiga, conforme explica Bruno Benigno, urologista e oncologista do Hospital Oswaldo Cruz e diretor da Clínica Uro Onco. “Há aqueles que têm o tumor superficial, ou seja, que pegou apenas a mucosa do órgão e não infiltrou na parte muscular, mais profunda da bexiga. E há o grupo que teve o tumor infiltrado na parte da musculatura. Quando isso acontece, há um grande contato com a vascularização, o que aumenta a chance de metástase”, afirma o especialista.

Atualmente, o tratamento é feito conforme o grau de evolução da doença, podendo variar de remoção parcial da bexiga (cistectomia parcial) ou remoção completa do órgão (cistectomia radical) — procedimento mais indicado para quem possui tumor mais profundo. Em estudos anteriores, foi descoberto que realizar quimioterapia antes da cirurgia poderia melhorar a expectativa de cura da doença entre 7% a 15%, o que tornou essa a abordagem padrão de tratamento de cânceres de bexiga avançados.

Apesar do tratamento atual ser efetivo, a recidiva da doença e a expectativa de vida ainda apresentavam desafios significativos, na visão de Benigno. A inclusão da imunoterapia na abordagem terapêutica, sugerida pelo novo estudo, pode ser uma forma de reverter esse cenário, apresentando uma solução mais eficaz para a sobrevida de pacientes com câncer de bexiga.

“O que é inovador nesse estudo é que agora temos uma droga que favorece um aumento das taxas de cura e expectativa de sobrevivência. Esse é o ganho”, comenta Benigno, que não esteve envolvido no estudo.

<><> Como o estudo foi feito?

Para chegar à conclusão, o estudo incluiu 1.063 pacientes com câncer de bexiga que precisavam passar por cirurgia. Eles foram divididos em dois grupos: os que receberiam a quimioterapia convencional — com os quimioterápicos Cisplatina e Gencitabina — e os que receberiam a quimioterapia combinada com a imunoterapia Durvalumabe antes e depois da cirurgia.

“A imunoterapia age estimulando o nosso sistema imunológico a reconhecer as células tumorais como células inimigas. Com isso, o nosso próprio corpo passa a atacar as células tumorais”, explica Kann. Os participantes do estudo receberam a quimioterapia com ou sem imunoterapia e, em seguida, passaram para cirurgia. Os que passaram pelo tratamento com imunoterapia tiveram uma menor chance de recidiva do tumor.

A nova abordagem terapêutica sugerida pelo estudo é indicada para pacientes com câncer de bexiga localizado, ou seja, que ainda não sofreu metástase (não se espalhou para outros órgãos), segundo Kann.

<><> Próximos passos para o tratamento do câncer de bexiga

Na opinião do coautor do estudo, a descoberta pode mudar a prática clínica de pacientes com câncer de bexiga. No entanto, para isso acontecer, os resultados ainda devem ser apresentados às agências reguladoras, como, no caso do Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Mas é só uma questão de tempo”, afirma Kann.

Já na visão de Benigno, o estudo pode apresentar algumas limitações, principalmente no cenário brasileiro. “Essa imunoterapia é uma medicação muito cara e é feita em, aproximadamente, oito ciclos e isso está longe de ser incorporado no sistema público de saúde. Então, um grande desafio é como trazer isso para beneficiar uma maior quantidade de pessoas”, avalia o urologista.

Outro desafio é identificar o desaparecimento do tumor antes da cirurgia de remoção da bexiga. “No estudo, aproximadamente 20 a 25% dos pacientes que receberam o tratamento de quimioterapia com imunoterapia não apresentavam mais o tumor na hora da cirurgia, o que é bom porque houve uma resposta completa, mas o grande desafio é como identificar esse desaparecimento completo do tumor antes de retirar a bexiga”, comenta Benigno.

Essa identificação prévia — que, segundo o especialista, poderia ser feita pelo desenvolvimento de marcadores sanguíneos ou urinários — poderia garantir para o cirurgião que houve uma regressão completa do tumor, aumentando a possibilidade de preservação da bexiga no paciente. “Nós ainda não temos esse marcador. Então, acredito que essa possa ser a direção futura dos próximos estudos”, afirma.

Segundo Kann, esse é o objetivo futuro dos pesquisadores. “O próximo passo é aproveitar esse estudo e analisar quais pacientes precisam receber todas as doses, quais pacientes precisam do aumento de ciclos de medicação. Está sendo investigado, nesse mesmo estudo, o DNA tumoral circulante. Também está sendo analisada a qualidade de vida dos pacientes e o objetivo futuro é, quem sabe, poupar os pacientes da cirurgia da bexiga, ou seja, tratá-los sem cirurgia. Esse seria o mundo ideal”, declara.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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