Argentina se isolou de 80% do mundo ao
decidir não aderir ao BRICS, afirma analista
A Argentina, ao
decidir não aderir ao BRICS e confiar nos EUA e na UE, isolou-se de 80% do
mundo, disse o analista internacional Marcelo Montes à Sputnik neste sábado
(21), cerca de um mês antes da cúpula do bloco que será realizada pela primeira
vez em um formato expandido de dez países, na Rússia.
O presidente
argentino, Javier Milei, após chegar ao poder, em dezembro de 2023, notificou
os líderes dos países do BRICS em cartas oficiais sobre a recusa do país em
aderir ao grupo.
"O mundo hoje é
multipolar e praticamente não existe uma hegemonia dos EUA com as
características do final dos anos 90, que durou mais ou menos até 2006, quando
o fracasso da política norte-americana no Iraque e no Afeganistão se tornou
óbvio", comentou Montes.
Segundo o analista,
hoje o poder mundial está "distribuído" e o BRICS reflete essa diversidade
e distribuição do poder mundial "melhor do que qualquer outro grupo".
Ao abandonar o BRICS e
dar preferência às relações com os Estados Unidos, Israel e a UE, a Argentina
só prejudica a si mesma, afirmou ele, "pois olha para apenas 12% do mundo,
deixando de lado os quase 80% restantes, e, consequentemente, perde oportunidades",
disse Montes.
Após a cúpula do BRICS
de 2023, a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e
o Irã foram convidados a se juntar à África do Sul, Brasil, China, Índia e
Rússia. Todos eles, menos a Argentina, passaram a integrar o grupo em 2024, depois
que o governo pró-ocidental de Javier Milei substituiu em dezembro de 2023 o de
Alberto Fernández (2019-2023).
• Milei cria carta e lança ofensiva
diplomática contra Maduro em organismos sul-americanos
Fontes do governo
brasileiro e argentino disseram ao jornal O Globo que a gestão de Javier Milei
iniciou uma ofensiva diplomática que tem como objetivo cercar a Venezuela em
foros regionais e expulsar o país do Consenso de Brasília.
O Consenso de Brasília
foi criado no ano passado por iniciativa do Brasil e da Comunidade de Estados
Latino-americanos e Caribenhos (CELAC).
O plano de Buenos
Aires, escreve a mídia, é conseguir que o consenso, formado por todos os países
da América do Sul, incorpore uma cláusula democrática e, em base a essa
cláusula, Caracas seja obrigada a sair do grupo.
Ainda segundo as
fontes ouvidas pelo jornal, a primeira jogada da Argentina foi enviar uma carta
ao ministro das Relações Exteriores da Colômbia (país que tem atualmente a
presidência temporária do Consenso de Brasília), Gilberto Murillo, na qual o
governo Milei, junto a outros integrantes do grupo, defende a necessidade de
discutir a situação política na Venezuela na próxima reunião de chanceleres do
grupo, em Nova York, na semana que vem.
Murillo compartilhou a
carta com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e a posição do Brasil,
afirmaram fontes oficiais, é conter a ofensiva argentina.
O texto argentino,
ainda preliminar e citado pelo O Globo, estabelece que "[...] por ruptura
ou grave ameaça de ruptura da ordem constitucional ou do Estado de Direito
[...] a presidência rotativa estabelecerá uma Comissão de Mediação composta
pelos demais Estados do Consenso de Brasília que desejarem participar [...]. A
referida Comissão apresentará um relatório 30 dias após a sua criação e, caso a
evolução dos acontecimentos indique que os esforços realizados não permitiram a
salvaguarda da democracia, o Estado será automaticamente suspenso, não podendo
participar nas reuniões do Consenso de Brasília".
A ofensiva argentina
acontece em momentos de elevada tensão entre os dois países.
Nesta semana, o
procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, anunciou que pedirá à Justiça
um mandado de prisão contra Milei, sua irmã e secretária-geral da Presidência,
Karina Milei, e a ministra da Segurança do país, Patricia Bullrich, pelo confisco
de um avião de carga venezuelano em Buenos Aires.
Do outro lado, em uma
audiência realizada recentemente nos tribunais da capital argentina,
presenciada por Bullrich, os promotores Carlos Stornelli e José Aguero Iturbe
exigiram que a Câmara Federal ordene a investigação e captura de Nicolás Maduro
e de seu ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, considerado o
número 2 do governo venezuelano.
A ofensiva diplomática
da Casa Rosada causa preocupação no governo brasileiro, relata a mídia, uma vez
que pode paralisar avanços no âmbito do Consenso de Brasília quando o Brasil,
insistiram as fontes, "quer avançar na integração regional, e o enfraquecimento
do consenso iria na contramão deste interesse".
No caso da CELAC, o
governo Milei tem feito discursos raivosos contra Maduro em reuniões da
comunidade, mas o impacto é quase irrelevante, diz o jornal, visto que o grupo
inclui países caribenhos que mantêm boas relações com Caracas e, em alguns
casos, ainda mantêm, uma dependência econômica.
• Lula discursa na ONU, denuncia
necessidade de reformas, mas estoura tempo e tem microfone cortado
Discursando brevemente
na Cúpula do Futuro, iniciativa lançada pelo secretário-geral da ONU, António
Guterres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Pacto da ONU
aprovado neste domingo (22) não é suficiente ainda para lidar com as crises estruturais
de suas instituições multilaterais.
Por determinação do
presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), os chefes de Estado
estavam limitados a apenas cinco minutos para discursar. Lula também se viu
prejudicado pelo limite de tempo imposto, mas, mesmo depois de ter tido seu
microfone cortado, continuou até concluir sua fala.
A iniciativa da ONU
para tentar resgatar os organismos multilaterais e tentar chegar a compromissos
dos governos em áreas como o clima, inteligência artificial (IA) e governança
global, nas palavras de Lula, careceu de "ambição e ousadia", apesar
de reconhecer avanços como a criação de uma instância de diálogo entre
presidentes e líderes de instituições financeiras internacionais que promete
recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial.
"Voltar atrás em
nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento
diplomático dos últimos anos e caminham para se tornar nosso maior fracasso
coletivo", destacou o presidente ao longo de sua fala.
O presidente
aproveitou a parte final de seu pronunciamento para defender a reformulação do
sistema da ONU e das instituições financeiras internacionais, para atender as
demandas dos países em desenvolvimento, chamando a atenção para as fraquezas
dessas instituições.
"A maioria dos
órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas
decisões. A Assembleia-Geral [da ONU] perdeu sua vitalidade, e o Conselho
Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança
encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de
atrocidades", declarou Lula.
O presidente criticou
ainda o fato de as instituições de Bretton Woods desconsiderarem as prioridades
e as necessidades do mundo em desenvolvimento, afirmando que "o Sul Global
não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico
e demográfico".
Quando Lula mencionou
que "a Carta da ONU não faz referência à promoção do desenvolvimento
sustentável", seu microfone foi cortado. Mas ele não cedeu e prosseguiu.
"Precisamos de
coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos. O
melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de
responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão",
completou.
• Brasil e China convidaram 19 países do
Sul Global para discutir paz na Ucrânia em Nova York
Expectativa é que a
reunião aconteça na próxima sexta-feira (27), após a Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Brasil e China lideram
iniciativa do Sul Global para proposta de paz na Ucrânia, em reação à cúpula
promovida pelo Ocidente sem participação da Rússia.
O jornal Folha de S.
Paulo divulgou nesta sexta-feira (20) a lista de países que foram convidados
por Brasil e China para discutir a paz na Ucrânia, todos do Sul Global. Neste
primeiro momento, Moscou e Kiev ainda não foram convidadas, conforme a
publicação.
As diplomacias
brasileira e chinesa já divulgaram anteriormente propostas elaboradas em
conjunto para solucionar a crise ucraniana, em reação à cúpula de paz realizada
na Suíça neste ano sem participação russa. O documento foi assinado em maio
pelo assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, e pelo
ministro das Relações Exteriores da China.
De acordo com a
reportagem, os primeiros nomes da lista reúnem as nações mais envolvidas no
processo: África do Sul, Arábia Saudita, Egito e Indonésia. Também foram
convidados Emirados Árabes Unidos, Tailândia, Vietnã, Etiópia, Nigéria,
Senegal, Bolívia, Colômbia, México, Argélia, Cazaquistão, Malásia, Quênia e
Azerbaijão.
Entre os pontos
defendidos por Brasil e China estão a realização de uma conferência
internacional de paz com Rússia e Ucrânia, que teriam participação igualitária.
Vladimir Zelensky já rejeitou todas as sugestões, as quais chamou de
destrutivas.
<><> Lula
conversou com Putin nesta semana
Na última quarta-feira
(18), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin conversaram por
telefone. Durante a sessão plenária do 4º Fórum Feminino Euroasiático e 1º
Fórum Feminino do BRICS, Putin citou que um dos pontos da conversa foi a necessidade
de estabelecer laços de cooperação dentro do grupo em agendas e pautas de
interesse de ambos os Estados e para as mulheres.
"Muitas
iniciativas concretas foram lançadas nos fóruns anteriores, incluindo o
fortalecimento da cooperação dentro do BRICS da Cooperação Econômica
Ásia-Pacífico e W20. Agora nós, por falar nisso, acabamos de discutir todas
essas coisas com o presidente brasileiro", declarou o presidente russo na
data.
O planalto confirmou o
recebimento do telefonema, acrescentando que Vladimir Putin manifestou
solidariedade ao Brasil no enfrentamento dos incêndios florestais que assolam o
país.
Durante o telefonema,
os dois presidentes conversaram sobre a reunião e os temas que serão debatidos
na cúpula do BRICS, no mês de outubro, em Kazan, na Rússia, e as relações
bilaterais entre os dois países. Para além disso, também falaram sobre proposta
de paz do Brasil e da China para o conflito entre Rússia e Ucrânia na
expectativa de que os diálogos possam avançar.
Fonte: Sputnik Brasil
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