terça-feira, 24 de setembro de 2024

Argentina se isolou de 80% do mundo ao decidir não aderir ao BRICS, afirma analista

A Argentina, ao decidir não aderir ao BRICS e confiar nos EUA e na UE, isolou-se de 80% do mundo, disse o analista internacional Marcelo Montes à Sputnik neste sábado (21), cerca de um mês antes da cúpula do bloco que será realizada pela primeira vez em um formato expandido de dez países, na Rússia.

O presidente argentino, Javier Milei, após chegar ao poder, em dezembro de 2023, notificou os líderes dos países do BRICS em cartas oficiais sobre a recusa do país em aderir ao grupo.

"O mundo hoje é multipolar e praticamente não existe uma hegemonia dos EUA com as características do final dos anos 90, que durou mais ou menos até 2006, quando o fracasso da política norte-americana no Iraque e no Afeganistão se tornou óbvio", comentou Montes.

Segundo o analista, hoje o poder mundial está "distribuído" e o BRICS reflete essa diversidade e distribuição do poder mundial "melhor do que qualquer outro grupo".

Ao abandonar o BRICS e dar preferência às relações com os Estados Unidos, Israel e a UE, a Argentina só prejudica a si mesma, afirmou ele, "pois olha para apenas 12% do mundo, deixando de lado os quase 80% restantes, e, consequentemente, perde oportunidades", disse Montes.

Após a cúpula do BRICS de 2023, a Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e o Irã foram convidados a se juntar à África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia. Todos eles, menos a Argentina, passaram a integrar o grupo em 2024, depois que o governo pró-ocidental de Javier Milei substituiu em dezembro de 2023 o de Alberto Fernández (2019-2023).

•        Milei cria carta e lança ofensiva diplomática contra Maduro em organismos sul-americanos

Fontes do governo brasileiro e argentino disseram ao jornal O Globo que a gestão de Javier Milei iniciou uma ofensiva diplomática que tem como objetivo cercar a Venezuela em foros regionais e expulsar o país do Consenso de Brasília.

O Consenso de Brasília foi criado no ano passado por iniciativa do Brasil e da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC).

O plano de Buenos Aires, escreve a mídia, é conseguir que o consenso, formado por todos os países da América do Sul, incorpore uma cláusula democrática e, em base a essa cláusula, Caracas seja obrigada a sair do grupo.

Ainda segundo as fontes ouvidas pelo jornal, a primeira jogada da Argentina foi enviar uma carta ao ministro das Relações Exteriores da Colômbia (país que tem atualmente a presidência temporária do Consenso de Brasília), Gilberto Murillo, na qual o governo Milei, junto a outros integrantes do grupo, defende a necessidade de discutir a situação política na Venezuela na próxima reunião de chanceleres do grupo, em Nova York, na semana que vem.

Murillo compartilhou a carta com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e a posição do Brasil, afirmaram fontes oficiais, é conter a ofensiva argentina.

O texto argentino, ainda preliminar e citado pelo O Globo, estabelece que "[...] por ruptura ou grave ameaça de ruptura da ordem constitucional ou do Estado de Direito [...] a presidência rotativa estabelecerá uma Comissão de Mediação composta pelos demais Estados do Consenso de Brasília que desejarem participar [...]. A referida Comissão apresentará um relatório 30 dias após a sua criação e, caso a evolução dos acontecimentos indique que os esforços realizados não permitiram a salvaguarda da democracia, o Estado será automaticamente suspenso, não podendo participar nas reuniões do Consenso de Brasília".

A ofensiva argentina acontece em momentos de elevada tensão entre os dois países.

Nesta semana, o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, anunciou que pedirá à Justiça um mandado de prisão contra Milei, sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei, e a ministra da Segurança do país, Patricia Bullrich, pelo confisco de um avião de carga venezuelano em Buenos Aires.

Do outro lado, em uma audiência realizada recentemente nos tribunais da capital argentina, presenciada por Bullrich, os promotores Carlos Stornelli e José Aguero Iturbe exigiram que a Câmara Federal ordene a investigação e captura de Nicolás Maduro e de seu ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, considerado o número 2 do governo venezuelano.

A ofensiva diplomática da Casa Rosada causa preocupação no governo brasileiro, relata a mídia, uma vez que pode paralisar avanços no âmbito do Consenso de Brasília quando o Brasil, insistiram as fontes, "quer avançar na integração regional, e o enfraquecimento do consenso iria na contramão deste interesse".

No caso da CELAC, o governo Milei tem feito discursos raivosos contra Maduro em reuniões da comunidade, mas o impacto é quase irrelevante, diz o jornal, visto que o grupo inclui países caribenhos que mantêm boas relações com Caracas e, em alguns casos, ainda mantêm, uma dependência econômica.

 

•        Lula discursa na ONU, denuncia necessidade de reformas, mas estoura tempo e tem microfone cortado

Discursando brevemente na Cúpula do Futuro, iniciativa lançada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Pacto da ONU aprovado neste domingo (22) não é suficiente ainda para lidar com as crises estruturais de suas instituições multilaterais.

Por determinação do presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), os chefes de Estado estavam limitados a apenas cinco minutos para discursar. Lula também se viu prejudicado pelo limite de tempo imposto, mas, mesmo depois de ter tido seu microfone cortado, continuou até concluir sua fala.

A iniciativa da ONU para tentar resgatar os organismos multilaterais e tentar chegar a compromissos dos governos em áreas como o clima, inteligência artificial (IA) e governança global, nas palavras de Lula, careceu de "ambição e ousadia", apesar de reconhecer avanços como a criação de uma instância de diálogo entre presidentes e líderes de instituições financeiras internacionais que promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial.

"Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornar nosso maior fracasso coletivo", destacou o presidente ao longo de sua fala.

O presidente aproveitou a parte final de seu pronunciamento para defender a reformulação do sistema da ONU e das instituições financeiras internacionais, para atender as demandas dos países em desenvolvimento, chamando a atenção para as fraquezas dessas instituições.

"A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões. A Assembleia-Geral [da ONU] perdeu sua vitalidade, e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades", declarou Lula.

O presidente criticou ainda o fato de as instituições de Bretton Woods desconsiderarem as prioridades e as necessidades do mundo em desenvolvimento, afirmando que "o Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico".

Quando Lula mencionou que "a Carta da ONU não faz referência à promoção do desenvolvimento sustentável", seu microfone foi cortado. Mas ele não cedeu e prosseguiu.

"Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos. O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão", completou.

•        Brasil e China convidaram 19 países do Sul Global para discutir paz na Ucrânia em Nova York

Expectativa é que a reunião aconteça na próxima sexta-feira (27), após a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Brasil e China lideram iniciativa do Sul Global para proposta de paz na Ucrânia, em reação à cúpula promovida pelo Ocidente sem participação da Rússia.

O jornal Folha de S. Paulo divulgou nesta sexta-feira (20) a lista de países que foram convidados por Brasil e China para discutir a paz na Ucrânia, todos do Sul Global. Neste primeiro momento, Moscou e Kiev ainda não foram convidadas, conforme a publicação.

As diplomacias brasileira e chinesa já divulgaram anteriormente propostas elaboradas em conjunto para solucionar a crise ucraniana, em reação à cúpula de paz realizada na Suíça neste ano sem participação russa. O documento foi assinado em maio pelo assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, e pelo ministro das Relações Exteriores da China.

De acordo com a reportagem, os primeiros nomes da lista reúnem as nações mais envolvidas no processo: África do Sul, Arábia Saudita, Egito e Indonésia. Também foram convidados Emirados Árabes Unidos, Tailândia, Vietnã, Etiópia, Nigéria, Senegal, Bolívia, Colômbia, México, Argélia, Cazaquistão, Malásia, Quênia e Azerbaijão.

Entre os pontos defendidos por Brasil e China estão a realização de uma conferência internacional de paz com Rússia e Ucrânia, que teriam participação igualitária. Vladimir Zelensky já rejeitou todas as sugestões, as quais chamou de destrutivas.

<><> Lula conversou com Putin nesta semana

Na última quarta-feira (18), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin conversaram por telefone. Durante a sessão plenária do 4º Fórum Feminino Euroasiático e 1º Fórum Feminino do BRICS, Putin citou que um dos pontos da conversa foi a necessidade de estabelecer laços de cooperação dentro do grupo em agendas e pautas de interesse de ambos os Estados e para as mulheres.

"Muitas iniciativas concretas foram lançadas nos fóruns anteriores, incluindo o fortalecimento da cooperação dentro do BRICS da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico e W20. Agora nós, por falar nisso, acabamos de discutir todas essas coisas com o presidente brasileiro", declarou o presidente russo na data.

O planalto confirmou o recebimento do telefonema, acrescentando que Vladimir Putin manifestou solidariedade ao Brasil no enfrentamento dos incêndios florestais que assolam o país.

Durante o telefonema, os dois presidentes conversaram sobre a reunião e os temas que serão debatidos na cúpula do BRICS, no mês de outubro, em Kazan, na Rússia, e as relações bilaterais entre os dois países. Para além disso, também falaram sobre proposta de paz do Brasil e da China para o conflito entre Rússia e Ucrânia na expectativa de que os diálogos possam avançar.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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