Por que os caçadores de alien passaram 60
anos buscando novas soluções para equação de Drake
Os alienígenas, ou
somente “alien”, se tornaram um foco de estudos e de curiosos no mundo inteiro
que buscam respostas sobre se há realmente ou não vida inteligente em outro
planeta além da Terra. Presentes em diversos filmes de ficção, documentários e
pesquisas científicas, o que não falta é material para os interessados em
extraterrestres.
A jornalista
científica norte-americana Nadia Drake é filha do famoso astrônomo e
astrofísico Frank Drake, o autor da famosa equação que leva o seu nome e que
levou muitos a buscar por aliens. Antes de seu falecimento, em 2022, Nadia o
entrevistou para a National Geographic dos Estados Unidos.
Santa Cruz, Califórnia
– "Pai, você já imaginou que sua fórmula se tornaria tão famosa?"
pergunto à pessoa de 91 anos, de olhos bondosos, que está ao meu lado no pátio.
Meu pai, Frank Drake,
ficou quieto por um momento. Talvez ele estivesse se lembrando do dia de
novembro há mais de 60 anos, quando redigiu sem cerimônia uma fórmula que
acabou moldando a busca por civilizações extraterrestres. "Não", diz
meu pai após a pausa. "Eu nunca imaginei que isso se tornaria de interesse
tão amplo. Também esperava que pudessem ser feitas alterações nele, mas isso
não aconteceu."
Agora conhecida como
“equação de Drake”, a fórmula de papai fornece uma estrutura para os cientistas
que procuram vida inteligente além da Terra. Ao considerar uma série de
variáveis, a equação permite que os cientistas estimem o número de civilizações
alienígenas detectáveis que podem estar espalhadas pela Via Láctea.
Desde então, a fórmula
se tornou uma das equações mais reconhecidas na ciência. É uma tatuagem comum.
É uma cerveja. Está escrita na lateral de caminhões U-Haul. Sua lógica foi
emprestada e parodiada em desenhos animados sobre como encontrar um par ou calcular
o número de avistamentos de alienígenas aparentemente confiáveis.
Muitos cientistas
ainda hoje são guiados pela equação, e as últimas descobertas sobre outros
planetas, tanto dentro quanto fora do nosso Sistema Solar, estão ajudando os
pesquisadores a preencher as variáveis. É um legado notável, considerando que
ele só escreveu a equação em 1961, quando estava com pouco tempo e precisava
organizar uma reunião.
"Foi o melhor
começo de conversa de todos os tempos", disse o astrobiólogo David
Grinspoon, do Planetary Science Institute. "Ele estava tentando iniciar
uma conversa e, de certa forma, fez um trabalho tão bom que a conversa ainda
está acontecendo."
• Sonhos com a vida alienígena
Meu pai começou a se
perguntar se os seres humanos estão sozinhos no Cosmos quando estava crescendo
em Chicago na década de 1930 e seu pai mencionou um dia que "há outros
mundos lá fora".
Meu avô estava falando
sobre os outros planetas do Sistema Solar – na época, eram os únicos planetas
que os humanos conheciam – mas Frank, de oito anos, não sabia disso. Para ele,
"outros mundos" significava "outros mundos como a Terra",
lugares povoados por seres inteligentes e exóticos. A ideia fazia sentido para
papai e ele começou a pensar em como detectar esses mundos.
"Descobrir a
existência de criaturas inteligentes que são conscientes – isso seria muito
empolgante", disse meu pai na entrevista. "Eu me pergunto o quanto
essa situação está disseminada no universo."
Quando jovem, ele era
um dos poucos cientistas que levava a sério a busca por aliens. Em 1960, ele
teve sua primeira chance de procurar transmissões alienígenas no turbilhão de
ondas de rádio que cruzam a galáxia. Ele projetou um experimento para detectar
sinais de qualquer civilização que orbitasse duas estrelas próximas semelhantes
ao sol, Tau Ceti e Epsilon Eridani.
Ele batizou o
experimento de Projeto Ozma e, durante três meses, apontou o Telescópio Tatel
do Observatório Green Bank para essas duas estrelas. Na época, não se sabia que
nenhuma delas abrigava planetas, embora mundos em órbita de ambas as estrelas
viessem a ser descobertos quase meio século depois.
O Projeto Ozma atraiu
tanta atenção que, em 1961, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos
pediu ao papai que convocasse uma reunião em Green Bank, Virgínia Ocidental,
para discutir a busca científica por inteligência extraterrestre, ou SETI.
Frank Drake, a
primeira pessoa a usar um radiotelescópio moderno para procurar vida
extraterrestre, precisava de uma maneira de descrever a busca por alguns dos
principais cientistas do mundo e justificar o esforço.
• O início da SETI moderna
Meu pai convidou cerca
de uma dúzia de pessoas para ir a Green Bank, incluindo o astrônomo Carl Sagan,
que na época estava recém-saído de seu programa de doutorado; o líder do
Projeto Manhattan, Philip Morrison, que havia projetado de forma independente
um experimento para procurar vida extraterrestre; e o bioquímico Melvin Calvin,
que, segundo rumores, estava na lista de candidatos ao Prêmio Nobel de Química
daquele ano.
Há alguns meses, ele
vinha pensando nos vários fatores que influenciam nossa capacidade de detectar
vida na galáxia, começando pela taxa de nascimento das estrelas em torno das
quais os mundos giram. Ele pensou que cada um de seus fatores forneceria um tópico
rico para discussão, então anotou tudo e viu que havia criado uma fórmula
viável, dependendo, é claro, dos números que você inserisse nela.
"É uma ótima
maneira de organizar nossa ignorância", diz Jill Tarter, do SETI
Institute, uma pioneira no campo.
No dia 1º de novembro,
na abertura da reunião, papai escreveu sua fórmula em um quadro negro no salão
do observatório e, nos dois dias seguintes, ele e seus colegas discutiram cada
uma das variáveis, embora tenham feito uma pausa no segundo dia para "tomar
champanhe", como lembrou Sagan, quando Calvin ganhou o Prêmio Nobel por
seu trabalho sobre fotossíntese.
• A equação de Drake
De acordo com meu pai,
a natureza da equação é que tudo é igualmente importante. Está tudo escrito na
primeira potência — sem expoentes, sem logaritmos, nada extravagante.
Insira os valores de
cada termo, multiplique-os e obterá um número para N: o número de civilizações
detectáveis na Via Láctea. Pergunte ao meu pai sobre o valor de N e ele dirá
que muda a cada vez que ele pensa sobre o assunto. Mas, em geral, diz ele com
uma piscadela, o número está provavelmente
entre um e um bilhão, talvez próximo de 10 mil.
Mesmo que a equação
possa ser “resolvida”, ela nunca foi planejada para fornecer valores concretos
como a fórmula E=mc^2 de Einstein na teoria da relatividade especial ou a
segunda lei de Newton, F=ma.
“As pessoas vão
criticar todo o campo da SETI ao criticar a equação”, diz Jason Wright, da
Universidade Estadual da Pensilvânia. “Isso é bobagem. Frank disse que nunca pretendeu que ela fosse
precisa. A fórmula simplesmente é mal compreendida e mal utilizada.”
A equação é um
experimento mental, um argumento probabilístico e uma estrutura para pensar
sobre a vida no cosmos. Ela define cuidadosamente as variáveis para que a
fórmula respondesse a uma pergunta específica sobre a detecção de sinais de
rádio de civilizações alienígenas. E ele observa que a equação faz algumas
suposições importantes – como a que as civilizações permanecem no mesmo lugar
em vez de se movimentarem pela galáxia.
Ao longo dos anos,
vários cientistas propuseram fatores ausentes ou tentaram modificar a equação,
mas Grinspoon diz que essas são, na verdade, apenas tentativas de dividir as
variáveis de forma um pouco diferente ou de fazer uma pergunta ligeiramente diferente.
"Vi muitas
tentativas de melhorar a Equação de Drake ou criticá-la de várias maneiras,
todas bem-vindas e interessantes, mas não vi nenhum argumento ou artigo que a
tornasse obsoleta", revela Grinspoon. "Ela resistiu ao teste do
tempo. Qualquer tentativa de melhorá-lo está apenas validando seu valor."
• Perseguindo a vida extraterrestre
Quando meu pai criou a
fórmula, ele conhecia apenas um valor aproximado para uma variável: a taxa de
nascimento de estrelas. Para estrelas semelhantes ao Sol, essa taxa é de
aproximadamente uma por ano. O restante era um completo mistério.
Em 1961, não havia planetas conhecidos fora do
Sistema Solar, mas na década de 1990, os astrônomos finalmente observaram os
primeiros planetas que orbitavam estrelas distantes. Desde então, os caçadores
de planetas detectaram milhares de exoplanetas na Via Láctea e, usando
observações acumuladas na última década, a missão Kepler da Nasa revelou que,
em média, cada estrela abriga pelo menos um planeta.
"Passamos da
completa ignorância para um conhecimento realmente substancial, no que diz
respeito a planetas, desde que a equação foi colocada", afirma Grinspoon.
"Essa é uma grande mudança."
Esses sistemas
estelares alienígenas podem não ser bem diferentes do nosso, com planetas
enormes localizados perto de suas estrelas, mundos que orbitam os polos de uma
estrela em vez de seu equador ou inúmeros planetas com tamanhos que
simplesmente não vemos orbitando o Sol.
Mas o Kepler também
revelou que os mundos potencialmente habitáveis são comuns. Pode haver até 300
milhões de mundos semelhantes à Terra na Via Láctea, definidos como mundos
rochosos em órbitas temperadas ao redor de estrelas semelhantes ao Sol. Esse
número aumenta se forem incluídos os mundos que orbitam estrelas não
semelhantes ao Sol, e fica ainda maior se o termo "mundos" for
ampliado para incluir luas, além de planetas.
Agora também sabemos
que cerca de metade dos sistemas planetários que orbitam estrelas semelhantes
ao Sol têm pelo menos um planeta habitável – e essa é uma estimativa muito
conservadora.
Os cientistas
trabalham no restante das variáveis com certa pressa. Em breve, a sondas serão
lançadas em luas geladas no sistema solar externo, onde podem ser encontrados
todos os aspectos necessários para a vida como a conhecemos. E os cientistas
estão se preparando para estudar a atmosfera de outros planetas em busca de
moléculas que possam sugerir a presença de metabolismos alienígenas.
Eles também estão em
busca de sinais de tecnologia alienígena, como meu pai fez pela primeira vez
com o Projeto Ozma. Definido originalmente na equação como a fração de
civilizações que desenvolvem “tecnologia comunicativa”, muitos cientistas da
SETI hoje consideram uma definição mais ampla que inclui qualquer manifestação
de trabalho manual extraterrestre, como ondas de rádio, feixes de laser óptico
ou megaestruturas para captação de energia.
Para refletir essa
gama de possíveis sinais, Tarter cunhou o termo "tecnoassinaturas", e
ela diz que essa detecção provavelmente seria muito menos ambígua do que
extrair pistas de atmosferas alienígenas ou procurar micróbios fossilizados. À
medida que a próxima geração de telescópios de visão aguçada da Terra entrar em
operação, Tarter e outros cientistas do SETI esperam usar programas de
computador para examinar os muitos dados recebidos, procurando por qualquer
coisa incomum ou anômala.
Resolver as últimas
variáveis — fração de mundos com vida, inteligência e tecnologia — exigirá mais
do que uma única detecção. Tal como acontece com os exoplanetas, diversas
observações serão necessárias para revelar o quanto é comum a vida na galáxia.
"Com a vida,
tendemos a pensar: puxa, se a descobrirmos em um único lugar, isso será muito
revolucionário. É claro que será, mas, novamente, se a encontrarmos em um único
lugar, não passaremos da ignorância ao conhecimento substancial", explica
Grinspoon.
“Portanto, mesmo se
recebermos um sinal na próxima semana, não é como se não precisássemos mais da
Equação de Drake.”
• A variável mais difícil
Meu pai sempre disse
que a última variável na Equação de Drake, L, é a mais complicada. O L é o
tempo médio que as civilizações ficam detectáveis — uma definição que muitas
vezes é confundida com sobrevivência ou extinção, mas que não está
necessariamente ligada a nenhum desses dois conceitos.
“É uma pena que as
pessoas se refiram ao termo longevidade como a longevidade de uma civilização
tecnológica. Não é isso. É a longevidade do mecanismo de emissão”, explica
Tarter. “Nós poderíamos construir algo, algum tipo de tecnoassinatura, que
tenha uma longevidade muito além da de nossa civilização.”
Como L é uma média,
até mesmo uma transmissão alienígena incrivelmente duradoura poderia mudar
drasticamente seu valor. Por exemplo, se uma civilização encontrasse uma maneira
de transmitir sua presença na galáxia por bilhões de anos, talvez com o único
propósito de ajudar os outros na busca por companheiros cósmicos.
“Como tudo na equação
tem o mesmo peso, eu sabia que a resposta seria tão boa quanto aquilo que menos
sabemos”, meu pai me disse certa vez. “L é definitivamente a variante sobre a
qual sabemos menos.”
Ao contrário das
demais, o valor de L também depende da
capacidade de detecção da civilização que está fazendo a busca. Os humanos
podem buscar por tecnoassinaturas estudando uma variedade de sinais
eletromagnéticos. Se uma civilização como a nossa estivesse observando a Terra,
ela veria primeiro os chilreios do radar militar emitidos no início do século
20. Mas uma civilização com recursos de detecção superiores poderia procurar
pistas mais precisas.
Os alienígenas que
descobriram como ler as assinaturas da tecnologia nas atmosferas planetárias,
por exemplo, podem ter sido capazes de detectar as emissões realizadas durante
a Revolução Industrial em meados de 1800 — uma tecnoassinatura detectável se você
souber o que procurar e ter paciência para observar conforme um planeta muda
lentamente.
As civilizações com
tecnologia ainda mais avançada podem observar silenciosamente a vida surgir e
se desenvolver em diversos planetas, às vezes fracassando, outras vezes
prosperando.
A humanidade ainda não tem essa capacidade, e
não há garantia de que nossa espécie sobreviverá por tempo suficiente para
aperfeiçoar a arte de encontrar vida alienígena. Mas um dia, se continuarmos, é
possível que finalmente façamos contato.
• A vida como ela é
A civilização humana
avançada pode ser apenas um pontinho na idade do universo, mas meu pai achava
que era apenas uma questão de tempo e de vontade suficiente para encontrarmos
evidências de que a galáxia é povoada por mais seres inteligentes, seja qual for
a forma que assumam.
“Não sabemos o que
estamos procurando”, diz Wright. “Somos nosso único exemplo daquilo que temos
certeza de que estamos procurando.”
No mínimo, o legado
mais duradouro da equação de Drake não é uma solução numérica, mas um espelho:
ele nos pede para pensar sobre a Terra e sobre a humanidade, a partir de uma
perspectiva cósmica — considerar a fragilidade de nossa existência neste mar galáctico.
"Sua
durabilidade, longevidade, persistência, a razão pela qual ela permanece, a
razão pela qual continuamos a usá-la, a razão pela qual ela continua aparecendo
é porque ela é um ótimo guia para todo o problema da vida no universo",
afirma Wright. "É uma equação muito versátil, pois permite que você
explore todos os tipos de aspectos da vida e da humanidade, dependendo do termo
que você queira usar."
Fonte: National
Geographic Brasil
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