Calor está relacionado ao aumento de casos
de AVC no mundo, diz estudo
O número de casos de
acidente vascular cerebral (AVC) e mortes consequentes aumentaram 44% e 70%,
respectivamente, no mundo, segundo um novo estudo publicado na renomada revista
científica The Lancet Neurology, nesta quarta-feira (18). A carga global de derrame
associada às altas temperaturas é uma das que mais cresceu nas últimas três
décadas, representando um aumento de 72%, de acordo com a análise.
No total, 84% da carga
da condição em 2021 está atribuída a 23 fatores de risco modificáveis,
incluindo, além do calor, a poluição do ar, o excesso de peso corporal, a
hipertensão, o tabagismo e o sedentarismo. O trabalho será apresentado em
outubro no Congresso Mundial de AVC, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Essa é a primeira vez
que uma análise sugere que a poluição do ar por partículas é um dos principais
fatores de risco para AVC hemorrágico, contribuindo para 14% da morte e incapacidade
causadas pelo subtipo de AVC — um nível semelhante ao risco associado ao
tabagismo.
Ainda de acordo com a
análise, a deterioração da saúde devido ao AVC aumentou em 32% em todo o mundo.
Do ponto de vista dos pesquisadores, esse aumento ocorre devido tanto ao
crescimento populacional quanto ao aumento do envelhecimento da população mundial,
além da maior exposição aos fatores de risco ambientais e comportamentais.
As descobertas
reforçam a necessidade de medidas eficazes, acessíveis e econômicas para
prevenção do AVC, com ênfase no controle da pressão arterial, estilo de vida e
fatores ambientais.
“O crescimento global
do número de pessoas que desenvolvem AVC, morrem ou permanecem incapacitadas
devido a ele está crescendo rapidamente, sugerindo fortemente que as
estratégias de prevenção atualmente utilizadas não são suficientemente
eficazes”, afirma o autor principal do estudo Valery L. Feigin, professor da
Universidade de Tecnologia de Auckland, na Nova Zelândia, e professor afiliado
do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de
Washington, nos Estados Unidos, em comunicado à imprensa.
“Novas estratégias de
prevenção populacional comprovadamente eficazes e motivacionais para o
indivíduo que poderiam ser aplicadas a todas as pessoas em risco de AVC,
independentemente do nível de risco, como recomendado na recente Comissão de
AVC da Lancet Neurology, devem ser implementadas urgentemente em todo o mundo”,
completa.
• Mais de três quartos dos afetados por
AVC vivem em países de baixa renda
Segundo a análise, o
número de pessoas que tiveram um quadro de AVC aumentou para 11,9 milhões em
2021, um aumento de 70% desde 1990. O número de sobreviventes da condição
aumentou 93,8 milhões (86%) nas últimas três décadas, enquanto o número de
mortes relacionados ao AVC subiu para 7,3 milhões (44%), tornando-se a terceira
principal causa de morte no mundo, perdendo apenas para a doença cardíaca
isquêmica e para Covid-19.
Além disso, o estudo
mostrou que mais de três quartos dos afetados por AVC vivem em países de baixa
e média renda. Nas regiões da Ásia Oriental e Central e da África Subsaariana,
as taxas de incidência, prevalência, morte e anos de vida ajustados por incapacidade
(DALYs) foram de 2 a 10 vezes maiores em 2021. Nessas regiões, a proporção de
AVCs hemorrágicos é o dobro da dos países de alta renda.
Em contraste, nas
regiões de alta renda da América do Norte, Australásia (região que concentra
Austrália, a Nova Zelândia, a Nova Guiné e algumas ilhas menores da parte
oriental da Indonésia) e na América Latina de renda média, foram registradas as
menores cargas de AVC.
“A perda de saúde
relacionada ao AVC impacta desproporcionalmente muitos dos países mais
desfavorecidos da Ásia e da África Subsaariana, devido ao crescente peso de
fatores de risco descontrolados, especialmente a pressão arterial alta mal
controlada, e aos níveis crescentes de obesidade e diabetes tipo 2 em jovens
adultos, bem como à falta de serviços de prevenção e cuidados com AVC nessas
regiões”, explicou a coautora do estudo Catherine O. Johnson, cientista-chefe
de pesquisa do IHME.
• Além do calor, outros fatores
relacionados ao aumento de AVC no mundo
As altas temperaturas
estavam relacionadas ao aumento de 72% da carga global de AVC no mundo, mas
questões climáticas não são os únicos fatores relacionados ao aumento de casos
e óbitos pela condição.
Segundo a análise,
fatores de risco metabólicos, como índice de massa corporal (IMC) alto,
hipertensão e colesterol alto, contribuíram para a maior carga de AVC em todos
os níveis de renda dos países, variando de 66% a 70% de aumento em 2021.
Em seguida, estão os
fatores de risco ambientais, como poluição do ar, temperatura ambiente alta ou
baixa e exposição ao chumbo, representando uma variação de aumento entre 35% e
53% nos países de baixa e média renda.
Em contraste, o estudo
aponta que houve um progresso substancial na redução da carga global de AVC a
partir de fatores de risco relacionados à dieta inadequada, com a perda de
saúde devido a dietas ricas em carne processada e pobres em vegetais diminuindo
em 40% e 30%, respectivamente. A perda de saúde relacionada à poluição do ar
por partículas reduziu 20%, enquanto o tabagismo representou uma redução de
13%.
Isso sugere que
estratégias para reduzir a exposição a esses fatores de risco realizadas nas
últimas três décadas, como zonas de ar limpo e proibições públicas de fumar,
foram bem-sucedidas. “Com 84% da carga de AVC ligada a 23 fatores de risco
modificáveis, há enormes oportunidades para alterar a trajetória do risco de
AVC para a próxima geração”, afirma Johnson.
“Dado que a poluição
do ar ambiente está reciprocamente ligada à temperatura ambiente e às mudanças
climáticas, a importância de ações urgentes para o clima e de medidas para
reduzir a poluição do ar não pode ser subestimada. Com o aumento da exposição a
fatores de risco, como açúcar elevado no sangue e dietas ricas em bebidas
adoçadas com açúcar, há uma necessidade crítica de intervenções focadas na
obesidade e nas síndromes metabólicas. Identificar maneiras sustentáveis de
trabalhar com as comunidades para tomar medidas e prevenir e controlar fatores
de risco modificáveis para AVC é essencial para enfrentar essa crise
crescente”, completa.
Fonte: CNN Brasil
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