terça-feira, 24 de setembro de 2024

Mossad: 6 megaoperações polêmicas da agência de inteligência de Israel

Em uma ação ousada, os pagers e outros aparelhos de comunicação usados pelos membros do Hezbollah foram transformados em dispositivos explosivos móveis.

Usados com a intenção de ser um meio seguro de burlar a vigilância avançada de Israel, eles detonaram nas mãos de seus usuários, matando dezenas de pessoas e ferindo outras milhares no Líbano.

O governo libanês acusou Israel dos ataques, classificando-os como uma "agressão criminosa israelense", enquanto o Hezbollah prometeu uma "retribuição justa".

Israel ainda não respondeu às alegações, mas alguns veículos de imprensa do país informaram que o gabinete de governo havia instruído os ministros a não fazerem declarações públicas sobre o evento.

Israel normalmente monitora de perto as atividades do Hezbollah, sugerindo que a operação pode fazer parte do conflito em curso entre os dois lados.

Se Israel for o responsável, esta será uma de suas operações mais surpreendentes e impactantes, reavivando memórias de missões passadas atribuídas ao país, e à sua agência nacional de inteligência, o Mossad, em particular.

<><> Os êxitos do Mossad

O Mossad é responsável por uma série de operações bem-sucedidas. A seguir, estão algumas das mais notáveis.

·        1. Caça ao nazista Adolf Eichmann

sequestro do nazista Adolf Eichmann na Argentina, em 1960, é um dos mais famosos feitos de inteligência do Mossad.

Eichmann, um dos principais arquitetos do Holocausto, foi responsável pela perseguição de judeus nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, nos quais cerca de seis milhões de judeus foram assassinados pela Alemanha nazista.

Depois de escapar da captura se deslocando entre vários países, Eichmann acabou se estabelecendo na Argentina.

Uma equipe de 14 agentes do Mossad o localizou, raptou e levou para Israel, onde foi julgado e, por fim, executado.

·        2. Operação Entebbe

A operação Entebbe, em Uganda, é considerada uma das missões militares mais bem-sucedidas de Israel.

O Mossad forneceu inteligência, enquanto os militares israelenses realizavam a operação.

As forças de comando israelenses resgataram com sucesso 100 reféns de um avião que viajava de Tel Aviv para Paris via Atenas. A aeronave transportava cerca de 250 passageiros, incluindo 103 israelenses.

Os sequestradores — dois membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina e dois cúmplices alemães — desviaram o voo para Entebbe, em Uganda.

A operação resultou na morte de três reféns, dos sequestradores, de vários soldados ugandenses e do soldado israelense Yonatan Netanyahu, irmão do atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,

·        3. Operação Irmãos

Em uma extraordinária operação de fachada no início da década de 1980, o Mossad — seguindo instruções do então primeiro-ministro, Menachem Begin — contrabandeou mais de 7 mil judeus etíopes para Israel via Sudão, usando um resort de mergulho falso como fachada.

O Sudão era um país inimigo da Liga Árabe. Por isso, operando clandestinamente, uma equipe de agentes do Mossad montou um resort na costa sudanesa do Mar Vermelho, que foi usado como base.

Durante o dia, eles se passavam por funcionários do resort e, à noite, contrabandeavam judeus, que haviam viajado secretamente da vizinha Etiópia, para fora do país por via aérea e marítima.

A operação durou pelo menos cinco anos e, quando foi descoberta, os agentes do Mossad já haviam escapado.

·        4. Retaliação após os sequestros nas Olimpíadas de Munique

Em 1972, o grupo militante palestino Setembro Negro matou dois membros da delegação israelense nos Jogos Olímpicos de Munique — e capturou outros nove.

Os reféns foram mortos posteriormente em uma tentativa fracassada de resgate pela polícia da Alemanha Ocidental.

Depois disso, o Mossad atacou vários membros da Organização para a Libertação da Palestina, incluindo Mahmoud Hamshari.

Ele foi morto por um dispositivo explosivo colocado no telefone do seu apartamento em Paris.

Hamshari perdeu uma perna na explosão e acabou não resistindo aos ferimentos.

·        5. Yahya Ayyash e o celular que explodiu

Em uma operação semelhante em 1996, Yahya Ayyash, um dos principais fabricantes de bombas do Hamas, foi assassinado depois que um celular Motorola Alpha foi recheado com 50 gramas de explosivos.

Ayyash, um proeminente líder da ala militar do Hamas, era conhecido por sua atuação na construção de bombas e na orquestração de ataques complexos contra alvos israelenses.

Isto fez dele o foco principal das agências de segurança israelenses, um dos homens mais procurados por Israel.

No fim de 2019, Israel suspendeu a censura sobre certos detalhes do assassinato, e o Canal 13 de televisão israelense exibiu uma gravação da última ligação telefônica entre Ayyash e o pai.

Os assassinatos de Hamshari e Ayyash destacam um longo e intrincado histórico de uso de tecnologia avançada para execuções direcionadas.

·        6. Mahmoud al-Mabhouh: estrangulado até a morte

Em 2010, Mahmoud al-Mabhouh, um alto líder militar do Hamas, foi assassinado em um hotel em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Inicialmente, parecia uma morte natural, mas a polícia de Dubai conseguiu identificar a equipe de assassinos depois de analisar as imagens das câmeras de segurança.

A polícia revelou mais tarde que al-Mabhouh havia sido morto por um choque elétrico e, na sequência, estrangulado.

Suspeita-se que a operação tenha sido orquestrada pelo Mossad, o que gerou indignação diplomática nos Emirados Árabes Unidos.

Os diplomatas israelenses alegaram, no entanto, que não havia evidências que ligassem o Mossad ao ataque.

Mas não negaram envolvimento, o que está alinhado com a política de Israel de manter a "ambiguidade" em assuntos deste tipo.

Tentativas de assassinato fracassadas

Apesar de inúmeras operações bem-sucedidas, o Mossad também conta com fracassos bem conhecidos.

<><> Khaled Meshal, líder político do Hamas

Uma das operações que levou a uma grande crise diplomática foi a tentativa de Israel, em 1997, de assassinar Khaled Meshaal, o chefe do gabinete político do Hamas, na Jordânia, usando veneno.

A missão falhou quando os agentes israelenses foram capturados, forçando Israel a fornecer o antídoto para salvar a vida de Meshaal.

O então chefe do Mossad, Danny Yatom, embarcou para a Jordânia para oferecer o tratamento a Meshaal.

Esta tentativa de assassinato prejudicou significativamente as relações entre a Jordânia e Israel.

<><>Mahmoud al-Zahar, líder do Hamas

Em 2003, Israel realizou um ataque aéreo contra a casa do líder do Hamas, Mahmoud al-Zahar, na Cidade de Gaza.

Embora al-Zahar tenha sobrevivido ao ataque, a operação resultou na morte da sua esposa e filho, Khaled, além de várias outras pessoas.

O bombardeio destruiu completamente sua residência, evidenciando as graves consequências de operações militares em áreas densamente povoadas.

<><> O caso Lavon

Em 1954, as autoridades egípcias desmantelaram uma operação de espionagem israelense conhecida como Operação Susannah.

O plano frustrado era colocar bombas em instalações americanas e britânicas no Egito para pressionar o Reino Unido a manter suas forças posicionadas no Canal de Suez.

O incidente ficou conhecido como caso Lavon, nome que remete ao então ministro da Defesa de Israel, Pinhas Lavon.

Acredita-se que ele estava envolvido no planejamento da operação.

O Mossad, por sua vez, foi visto à época como responsável por falhas catastróficas de inteligência.

<><> Guerra de Yom Kippur

Em 6 de outubro de 1973, o Egito e a Síria lançaram um ataque-surpresa contra Israel para reconquistar a Península do Sinai e as Colinas de Golã.

O momento do ataque, realizado durante o Yom Kippur, o Dia da Expiação judaico, pegou Israel desprevenido no início da guerra.

O Egito e a Síria atacaram Israel em duas frentes.

As forças egípcias cruzaram o Canal de Suez, sofrendo apenas uma fração das baixas previstas, enquanto as forças sírias atacaram as posições israelenses e invadiram as Colinas de Golã.

A União Soviética forneceu suprimentos à Síria e ao Egito, e os EUA forneceram uma remessa de suprimentos de emergência a Israel.

Israel conseguiu repelir as forças militares, e a guerra terminou em 25 de outubro — quatro dias depois de uma resolução das Nações Unidas que pedia o fim dos combates.

<><> Ataque de 7 de outubro de 2023

Quase 50 anos depois, Israel foi novamente surpreendido por um ataque-surpresa, desta vez lançado pelo Hamas contra cidades perto da fronteira de Gaza, em 7 de outubro de 2023.

O fracasso do Mossad em prever o ataque é considerado um grande fiasco, refletindo a projeção, segundo analistas, de uma fraqueza na política de dissuasão de Israel em relação ao Hamas.

O ataque de 7 de outubro resultou na morte de aproximadamente 1,2 mil pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. Cerca de outras 251 pessoas foram levadas para Gaza como reféns.

Em resposta ao ataque do Hamas, Israel iniciou uma guerra na Faixa de Gaza, que resultou até agora em mais de 40 mil mortes, a maioria de civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

 

¨      Gente e bicho… é tudo a mesma coisa. Por Samuel Kilsztajn

Nise da Silveira, pouco antes de partir, sentada em cadeira de rodas no seu apartamento em Botafogo, curvada pela idade, olhou fixo para nós, com seus olhos penetrantes, apontou o dedo para o pequeno grupo ali reunido e disse que queria que lembrássemos que “gente, cachorro, gato… é tudo a mesma coisa”.

Os chineses se alimentam de gatos e cachorros, para horror dos ocidentais, que poupam estes amigos, mas consomem outros primos. Para ficar mais fácil sacrificá-los, os ingleses (e norte-americanos) resolveram o mal pela raiz (da palavra). Os ingleses comem chicken, lamb, pork and beef; mas hen, sheep, pig or cow, nem pensar. Se você perguntar para um norte-americano se ele come pig ele vai ficar horrorizado, pois ele só se alimenta de pork. Contudo, o sangue destes analfabetos, ingerido pelos humanos, certamente se manifesta no comportamento de quem se alimenta de animais sacrificados.

Quando se quer degradar uma pessoa, é comum referir-se a ela como “um animal” ou como “um cachorro” (coitado, a alcunha tinha mesmo que sobrar para nosso pobre e fiel amigo, não é?!). A desumanização de pessoas e povos também é usada para facilitar o seu extermínio. Leonardo da Vinci, Liev Tolstoy, Mahatma Gandhi e Isaac Bashevis Singer consideravam que, enquanto houver abatedouros, haverá guerras.

A degradação do povo palestino, “esses animais”, faz parte da tática do Estado de Israel na atual guerra em Gaza, que está longe de ser uma guerra, é mais propriamente uma carnificina que compreende o extermínio da população civil em massa, mutilação, destruição de edificações e instituições, aviltamentos que serão traduzidos em traumas que acompanharão os palestinos por gerações. Alimentado pelos governos dos Estados Unidos e da Europa, o assimétrico poder bélico de Israel em relação ao povo palestino determina quanto vale cada vida, quem são os humanos e quem são os animais. “Israel, necropoder e desumanização”, assinado por Lincoln Veloso, enfatiza a manipulação política e ideológica, o processo de desumanização do povo palestino que está na base do massacre em curso.

Muitas pessoas continuam assistindo impassíveis à carnificina em Gaza. Não gostam, em sua zona de conforto –  já bastam os problemas que as cercam no dia a dia –, de se preocupar com desgraças alheias. Sentadas em seus sofás, assistindo ao massacre em tempo real e em cores como se fosse entretenimento, em consonância com a grande mídia, há pessoas que justificam a sua inação responsabilizando a sorte dos palestinos pelos seus próprios pecados, sem se preocuparem minimamente em entender a desgraça que se abateu sobre eles desde o início do século XX.

Em 1917, com a Declaração Balfour, a Inglaterra, então dona do mundo, ofereceu aos judeus as terras habitadas por uma indiscutível maioria palestina (92% da população). O detalhado estudo do historiador palestino Rashid Khalidi, Palestina: um século de guerra e resistência (1917-2017), assim como as pesquisas dos novos historiadores israelenses, desautorizam a versão oficial do Estado de Israel.

A esquerda sionista, hipócrita, iludindo os palestinos, abriu o caminho para a direita franca terminar o trabalho. Nas palavras de Khalidi, “Jabotinsky e seus seguidores estavam entre os poucos francos o bastante para admitir publicamente e sem rodeios a dura realidade que seria inevitável enfrentar na implantação de uma sociedade colonial num lugar com uma população existente… Ele [Jabotinsky] escreveu em 1923: ‘Toda população nativa no mundo resiste à colonização enquanto tiver a mínima esperança de ser capaz de se livrar do perigo de ser colonizada. É isso que os árabes na Palestina estão fazendo, e continuarão a fazer enquanto existir uma solitária faísca de esperança de que serão capazes de evitar a transformação da Palestina na Terra de Israel.’” 

Além de massacrar os palestinos, os sionistas resolveram também se apossar e deter a patente dos vocábulos genocídio e antifascista. Os judeus, vítimas por excelência de genocídio pelo fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, seriam antifascistas por definição. Essa assertiva talvez possa ainda causar efeito na geração do pós-guerra que cresceu sob o impacto do Holocausto, mas não nas novas gerações, para as quais o testemunho do atual massacre do povo palestino fala mais alto.

Até há pouco tempo, o genocídio dos judeus era sempre utilizado como referência por outros povos e camadas sociais vitimizados. Entretanto, dado o apoio incondicional quase absoluto dos judeus ao Estado de Israel, eles estão deixando de ser citados nas manifestações em que se mencionam os povos indígenas, negros, ciganos, arménios etc.

Meus pais, judeus poloneses sobreviventes do Holocausto, que perderam seus avós, pais, irmãos, primos e sobrinhos, nove a cada dez parentes sentenciados como subumanos, vermes, perderam suas casas, cidades e pátria, imigraram em 1948 para Israel e abandonaram a “Terra Prometida” em 1953.

Eu nasci em Jaffa, uma cidade eminentemente árabe, que até as Nações Unidas, em seu plano de partilha de 1947, haviam reservado aos palestinos. Contudo, para evitar o enclave, mesmo antes da criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948, os sionistas se encarregaram de jogar no mar 45 mil árabes de Jaffa, que ancoraram no Líbano.

A quase totalidade dos judeus israelenses e da diáspora apoia a existência de um país artificial que, desde antes de sua criação, oprime e extermina a população natural da Palestina. Mas eu, que herdei dos meus pais valores humanistas, pacifistas e internacionalistas, não me reconheço, não me sinto e não quero fazer parte deste grupo de opressores. Então fico dividido entre continuar dissidente e mudar a minha identidade para palestino budista.

Algumas pessoas já se adiantaram para me assegurar que os antissemitas não vão referendar minha mudança de identidade. Outras me advertiram que não serei aceito entre os palestinos, como é que um palestino poderia confiar em um judeu? Mas não é isto que me importa. Não estou buscando escapar ao referendo antissemita, nem ser aceito pelos palestinos. Minha crise de identidade é o que me mantém íntegro.

 

Fonte: BBC News/A Terra é Redonda

 

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