Ansiedade pode ser gatilho para Parkinson,
diz especialista
A incidência da doença
de Parkinson vem crescendo exponencialmente no mundo. Atualmente, cerca de 1%
da população mundial acima de 65 anos tem a doença, mas previsão da Organização
Mundial da Saúde (OMS) estima que esse número pode dobrar até 2040. Por isso,
conhecer os fatores de risco e os principais sinais de alerta é fundamental
para prevenir e detectar precocemente a doença.
Segundo Godinho, a
ansiedade pode ser um dos fatores de risco para o desenvolvimento de Parkinson.
“A presença de ansiedade em pessoas acima de 50 anos aumenta de três a quatro
vezes o risco de esse paciente desenvolver doença de Parkinson. A ansiedade é
um sintoma da doença de Parkinson, mas também pode ser um fator de risco, um
gatilho, para a doença”, afirma.
Além disso, os
sintomas da doença podem ser múltiplos e vão além das alterações motoras, como
tremor e rigidez muscular. “A gente costuma relacionar muito a doença de
Parkinson com sintomas motores, ou seja, o tremor, a lentidão e a rigidez
muscular. Agora, existem muitos outros sintomas não motores e esses até
antecedem o aparecimento dos sintomas motores”, explica Godinho.
Segundo o
especialista, alteração do sono, no hábito intestinal, no olfato e de humor
estão entre alguns dos sintomas não motores do Parkinson, além da dor. “A dor
difusa no corpo também é um sintoma muito frequente”, afirma.
Dificuldades em
realizar tarefas simples, como escrever, fazer a barba, escovar os dentes ou
vestir uma roupa, também são sinais de alerta, segundo os especialistas. “Por
mais que a gente fale do tremor, ele é o mais famoso na doença de Parkinson,
mas é presente em 70% das pessoas, 30% das pessoas com Parkinson não têm
tremor. Realmente, o centro dos sintomas é essa lentidão nos movimentos”,
explica Cury.
• O que é a doença de Parkinson?
O Parkinson é uma
doença neurológica causada pela degeneração das células que produzem a
dopamina, neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para
outras regiões do corpo. A redução dessa substância química afeta os
movimentos, podendo levar aos sintomas característicos da doença, como lentidão
de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na
escrita.
Atualmente, o
tratamento é feito com o uso de medicamentos, com o objetivo é o controle dos
sintomas, uma vez que não há cura. Segundo Godinho, em alguns casos, a cirurgia
pode ser indicada.
“Nós indicamos a
cirurgia quando o paciente, apesar de estar recebendo remédio e de ter uma
resposta ao remédio, não tem mais um controle bom dos sintomas com a
medicação”, explica. “Outra situação em que a gente indica cirurgia é quando o
paciente começa a desenvolver movimentos involuntários decorrentes do uso
crônico do remédio, que nós chamamos de discinesias. Esses movimentos
dificultam muito a performance motora do paciente durante o dia a dia, e leva
inclusive à perda de peso, porque ele se move o tempo todo”, completa.
Nos últimos anos,
houve avanços no tratamento do Parkinson. “Basicamente tem três grandes pilares
no tratamento. Um é atividade física aeróbica, que já mostrou reduzir a
evolução da doença de Parkinson. O outro pilar é controlar muito os fatores
clínicos desse paciente. Então, colesterol, glicemia, pressão arterial. E a
reposição da dopamina. Então, você tem três fatores que andam juntos”, explica
Cury.
“Fazendo isso desde o
início, o paciente fica, de fato, bem por muitos anos, e uma parcela daqueles
pacientes que não ficam bem, têm a opção cirúrgica. Em algumas situações ela
vai ter que se adaptar um pouco. Acho que a palavra aqui é adaptabilidade”, finaliza.
• Parkinson pode ter três tipos
diferentes, mostra estudo
Uma nova pesquisa,
conduzida por pesquisadores da Weill Cornell Medicine, em Nova York, Estados
Unidos, descobriu que o Parkinson pode ter três subtipos diferentes, baseados
no ritmo em que a doença progride em uma pessoa. As descobertas foram
publicadas na revista científica npj Digital Medicine, no dia 10 de julho.
O estudo também
descobriu que os diferentes tipos de Parkinson são marcados por genes
distintos. Os achados, se validados, podem aprimorar como a doença é tratada,
com o uso tanto de medicamentos novos, quanto os já existentes para tratar
especificamente cada tipo da doença.
“A doença de Parkinson
é altamente heterogênea, o que significa que pessoas com a mesma doença podem
ter sintomas muito diferentes”, explica o autor sênior do estudo, Fei Wang,
professor de ciências da saúde populacional e diretor fundador do Institute of
AI for Digital Health (AIDH) no Departamento de Ciências da Saúde Populacional
da Weill Cornell Medicine, em comunicado à imprensa.
“Isso indica que
provavelmente não há uma abordagem única para tratá-la. Podemos precisar
considerar estratégias de tratamento personalizadas com base no subtipo de
doença de um paciente”, acrescenta.
<><> Como
o estudo foi feito?
Para definir esses
três subtipos, os pesquisadores usaram aprendizado de máquina, um tipo de
inteligência artificial, para analisar registros clínicos anônimos de dois
grandes bancos de dados. Eles também exploraram o mecanismo molecular por trás
de cada subtipo, por meio de análise de perfis genéticos e transcriptômicos
(expressão dos genes) dos pacientes.
Por exemplo, um tipo
específico de Parkinson teve ativação de genes relacionados à neuroinflamação,
ao estresse oxidativo e ao metabolismo. Além disso, a equipe de pesquisadores
encontrou diferenças nas imagens cerebrais e fluido cerebrospinal dos três tipos.
<><> Tipos
baseados em padrões de progressão
Os pesquisadores
classificaram os diferentes tipos de Parkinson com base em seus padrões
distintos de progressão, ou seja, como os sintomas evoluem. Com isso, foram
definidos três tipos de Parkinson:
• Inching Pace (PD-I): doenças com
gravidade basal leve e velocidade de progressão leve, representando 36% dos
participantes do estudo;
• Moderate Pace (PD-M): casos com
gravidade basal leve, mas que avançam em uma velocidade moderada, representando
51% dos participantes;
• Rapid Pace (PD-R): casos com taxa de
progressão dos sintomas mais rápida.
<><>
Possíveis medicamentos para os diferentes tipos de Parkinson
Os pesquisadores
usaram as descobertas para identificar possíveis candidatos a medicamentos já
existentes que poderiam ser reaproveitados no tratamento dos diferentes tipos
de Parkinson. Para isso, eles usaram dois bancos de larga escala com dados de
mundo real (como prontuários médicos e informações de dispositivos de saúde,
por exemplo) de pacientes para confirmar se esses medicamentos poderiam ajudar
a reduzir a progressão de Parkinson.
Os bancos de dados
utilizados para a análise foram o INSIGHT Clinical Research Network, com sede
em Nova York, e o OneFlorida+ Clinical Research Consortium, da Flórida. Ambos
são parte da National Patient-Centered Clinical Research Network (PCORnet).
“Ao examinar esses
bancos de dados, descobrimos que as pessoas que tomam o medicamento para
diabetes metformina parecem ter melhorado os sintomas da doença — especialmente
os sintomas relacionados à cognição e quedas — em comparação com aquelas que
não tomam metformina”, afirma o primeiro autor do estudo, Chang Su, professor
assistente de ciências da saúde populacional e também membro do AIDH na Weill
Cornell Medicine.
Esse achado foi
observado, principalmente, entre os participantes com o subtipo PD-R, ou seja,
com maior taxa de progressão de Parkinson e com maior risco para ter sintomas
cognitivos logo no início da doença.
Se as descobertas
forem validadas por outros estudos e ensaios clínicos, elas poderão ser
ferramentas úteis para o avanço do tratamento da doença.
Fonte: CNN Brasil
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