segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Ansiedade pode ser gatilho para Parkinson, diz especialista

A incidência da doença de Parkinson vem crescendo exponencialmente no mundo. Atualmente, cerca de 1% da população mundial acima de 65 anos tem a doença, mas previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que esse número pode dobrar até 2040. Por isso, conhecer os fatores de risco e os principais sinais de alerta é fundamental para prevenir e detectar precocemente a doença.

Segundo Godinho, a ansiedade pode ser um dos fatores de risco para o desenvolvimento de Parkinson. “A presença de ansiedade em pessoas acima de 50 anos aumenta de três a quatro vezes o risco de esse paciente desenvolver doença de Parkinson. A ansiedade é um sintoma da doença de Parkinson, mas também pode ser um fator de risco, um gatilho, para a doença”, afirma.

Além disso, os sintomas da doença podem ser múltiplos e vão além das alterações motoras, como tremor e rigidez muscular. “A gente costuma relacionar muito a doença de Parkinson com sintomas motores, ou seja, o tremor, a lentidão e a rigidez muscular. Agora, existem muitos outros sintomas não motores e esses até antecedem o aparecimento dos sintomas motores”, explica Godinho.

Segundo o especialista, alteração do sono, no hábito intestinal, no olfato e de humor estão entre alguns dos sintomas não motores do Parkinson, além da dor. “A dor difusa no corpo também é um sintoma muito frequente”, afirma.

Dificuldades em realizar tarefas simples, como escrever, fazer a barba, escovar os dentes ou vestir uma roupa, também são sinais de alerta, segundo os especialistas. “Por mais que a gente fale do tremor, ele é o mais famoso na doença de Parkinson, mas é presente em 70% das pessoas, 30% das pessoas com Parkinson não têm tremor. Realmente, o centro dos sintomas é essa lentidão nos movimentos”, explica Cury.

•        O que é a doença de Parkinson?

O Parkinson é uma doença neurológica causada pela degeneração das células que produzem a dopamina, neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para outras regiões do corpo. A redução dessa substância química afeta os movimentos, podendo levar aos sintomas característicos da doença, como lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita.

Atualmente, o tratamento é feito com o uso de medicamentos, com o objetivo é o controle dos sintomas, uma vez que não há cura. Segundo Godinho, em alguns casos, a cirurgia pode ser indicada.

“Nós indicamos a cirurgia quando o paciente, apesar de estar recebendo remédio e de ter uma resposta ao remédio, não tem mais um controle bom dos sintomas com a medicação”, explica. “Outra situação em que a gente indica cirurgia é quando o paciente começa a desenvolver movimentos involuntários decorrentes do uso crônico do remédio, que nós chamamos de discinesias. Esses movimentos dificultam muito a performance motora do paciente durante o dia a dia, e leva inclusive à perda de peso, porque ele se move o tempo todo”, completa.

Nos últimos anos, houve avanços no tratamento do Parkinson. “Basicamente tem três grandes pilares no tratamento. Um é atividade física aeróbica, que já mostrou reduzir a evolução da doença de Parkinson. O outro pilar é controlar muito os fatores clínicos desse paciente. Então, colesterol, glicemia, pressão arterial. E a reposição da dopamina. Então, você tem três fatores que andam juntos”, explica Cury.

“Fazendo isso desde o início, o paciente fica, de fato, bem por muitos anos, e uma parcela daqueles pacientes que não ficam bem, têm a opção cirúrgica. Em algumas situações ela vai ter que se adaptar um pouco. Acho que a palavra aqui é adaptabilidade”, finaliza.

 

•        Parkinson pode ter três tipos diferentes, mostra estudo

Uma nova pesquisa, conduzida por pesquisadores da Weill Cornell Medicine, em Nova York, Estados Unidos, descobriu que o Parkinson pode ter três subtipos diferentes, baseados no ritmo em que a doença progride em uma pessoa. As descobertas foram publicadas na revista científica npj Digital Medicine, no dia 10 de julho.

O estudo também descobriu que os diferentes tipos de Parkinson são marcados por genes distintos. Os achados, se validados, podem aprimorar como a doença é tratada, com o uso tanto de medicamentos novos, quanto os já existentes para tratar especificamente cada tipo da doença.

“A doença de Parkinson é altamente heterogênea, o que significa que pessoas com a mesma doença podem ter sintomas muito diferentes”, explica o autor sênior do estudo, Fei Wang, professor de ciências da saúde populacional e diretor fundador do Institute of AI for Digital Health (AIDH) no Departamento de Ciências da Saúde Populacional da Weill Cornell Medicine, em comunicado à imprensa.

“Isso indica que provavelmente não há uma abordagem única para tratá-la. Podemos precisar considerar estratégias de tratamento personalizadas com base no subtipo de doença de um paciente”, acrescenta.

<><> Como o estudo foi feito?

Para definir esses três subtipos, os pesquisadores usaram aprendizado de máquina, um tipo de inteligência artificial, para analisar registros clínicos anônimos de dois grandes bancos de dados. Eles também exploraram o mecanismo molecular por trás de cada subtipo, por meio de análise de perfis genéticos e transcriptômicos (expressão dos genes) dos pacientes.

Por exemplo, um tipo específico de Parkinson teve ativação de genes relacionados à neuroinflamação, ao estresse oxidativo e ao metabolismo. Além disso, a equipe de pesquisadores encontrou diferenças nas imagens cerebrais e fluido cerebrospinal dos três tipos.

<><> Tipos baseados em padrões de progressão

Os pesquisadores classificaram os diferentes tipos de Parkinson com base em seus padrões distintos de progressão, ou seja, como os sintomas evoluem. Com isso, foram definidos três tipos de Parkinson:

•        Inching Pace (PD-I): doenças com gravidade basal leve e velocidade de progressão leve, representando 36% dos participantes do estudo;

•        Moderate Pace (PD-M): casos com gravidade basal leve, mas que avançam em uma velocidade moderada, representando 51% dos participantes;

•        Rapid Pace (PD-R): casos com taxa de progressão dos sintomas mais rápida.

<><> Possíveis medicamentos para os diferentes tipos de Parkinson

Os pesquisadores usaram as descobertas para identificar possíveis candidatos a medicamentos já existentes que poderiam ser reaproveitados no tratamento dos diferentes tipos de Parkinson. Para isso, eles usaram dois bancos de larga escala com dados de mundo real (como prontuários médicos e informações de dispositivos de saúde, por exemplo) de pacientes para confirmar se esses medicamentos poderiam ajudar a reduzir a progressão de Parkinson.

Os bancos de dados utilizados para a análise foram o INSIGHT Clinical Research Network, com sede em Nova York, e o OneFlorida+ Clinical Research Consortium, da Flórida. Ambos são parte da National Patient-Centered Clinical Research Network (PCORnet).

“Ao examinar esses bancos de dados, descobrimos que as pessoas que tomam o medicamento para diabetes metformina parecem ter melhorado os sintomas da doença — especialmente os sintomas relacionados à cognição e quedas — em comparação com aquelas que não tomam metformina”, afirma o primeiro autor do estudo, Chang Su, professor assistente de ciências da saúde populacional e também membro do AIDH na Weill Cornell Medicine.

Esse achado foi observado, principalmente, entre os participantes com o subtipo PD-R, ou seja, com maior taxa de progressão de Parkinson e com maior risco para ter sintomas cognitivos logo no início da doença.

Se as descobertas forem validadas por outros estudos e ensaios clínicos, elas poderão ser ferramentas úteis para o avanço do tratamento da doença.

 

Fonte: CNN Brasil

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário