terça-feira, 24 de setembro de 2024

Marcia Carmo: ‘Potência da China no Mercosul’

Num momento em que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia volta a parecer utópico, a relação regional com a China é cada vez mais intensa, como mostra um estudo realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Neste contexto de maior aproximação, o presidente chinês Xi Jinping é esperado daqui a dois meses, em novembro, na reunião de Cúpula do G20, no Brasil, e no Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no Peru. Será sua primeira viagem à América Latina desde a pandemia de coronavírus, e neste ano que marca os 50 anos de relações diplomáticas entre o maior país da região, em termos econômicos e populacionais, que é o Brasil, e o país asiático.

A China é um país decisivo para as economias dos integrantes do Mercosul e com participação crescente inclusive no Paraguai, que tem relação histórica com Taiwan, e com a Bolívia, que neste ano aderiu ao bloco. Mais de 30% das importações paraguaias chegam da China. E, por sua vez, apesar das críticas ao “país comunista”, o presidente argentino Javier Milei tem buscado evitar novas polêmicas com o gigante asiático, do qual a Argentina depende em termos financeiros. O principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil, mas recentemente a China chegou a superar nosso país e uma revista local batizou, então, essa relação de “ArgenChina”, pouco antes do desembarque de Milei à Presidência.

Um estudo divulgado há poucos dias pelo CEBC indicou que o Brasil é o único país do Mercosul que registra “de forma constante superávits comerciais expressivos com a China”. E sinaliza como essa relação poderia ser ainda mais produtiva, incluindo valor agregado e a maior presença dos chineses em obras de infraestrutura nos nossos países. O estudo aponta as perdas e ganhos para um eventual Acordo de Livre Comércio (ALC) entre o bloco e os chineses. Prevê que o ALC com a China traria ganhos de 1,43% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que o grande beneficiado seria o agro, que tem na China seu principal mercado, enquanto a indústria sofreria perdas diante da competitividade da manufatura chinesa.

Os autores do estudo mostram que um suposto ALC com a China deve ir além do âmbito comercial, com a criação, por exemplo, de cadeias de produção regionais. O que dependeria do amadurecimento do debate dentro do Mercosul, de acordo com seus autores. O estudo foi realizado num momento de novas dificuldades para um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia e ainda com Uruguai e Argentina, principalmente, defendendo a maior abertura do bloco. “A China tem importância crescente para os países do Mercosul como parceiro econômico, tanto comercial quanto como fonte de investimentos, em um contexto de polarização das relações econômicas e políticas entre China e Estados Unidos e de aumento de ações de política industrial e protecionismo pelos países de alta renda”, diz o estudo editado pela diretora executiva do CEBC, Cláudia Trevisan.

Será neste contexto que o presidente chinês já teria sua presença confirmada no G20, segundo fontes do Itamaraty. Xi Jinping também é esperado no Peru, onde deverá participar, além da APEC, da inauguração do megaporto de Chancay, a cerca de oitenta quilômetros da capital peruana. Este porto será uma conexão dos países banhados pelo Oceano Atlântico com o Pacífico, ampliando os caminhos para a China. “Há grande expectativa aqui para a inauguração do porto, com a presença de Xi Jinping, e que vai favorecer também as exportações brasileiras”, disse à reportagem o economista peruano Carlos Aquino, da Universidade Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), de Lima.

Enquanto o impasse com os europeus persiste, a realidade regional encontra alternativa na Ásia.

 

¨      Construção naval dos EUA perde posições para a China e procura ajuda em aliados na Ásia

O enfraquecimento significativo da indústria de construção naval norte-americana ameaça privar os EUA de sua posição de "grande potência naval" no século XXI para a China, gigante atual no setor, segundo a agência Bloomberg.

A Marinha dos EUA é seriamente ameaçada pelo estado atual do setor de construção naval dos Estados Unidos, que registra um grande declínio e que, em grande parte, conta com as capacidades de seus aliados asiáticos, principalmente o Japão e a Coreia do Sul, de acordo com o artigo.

O problema dos Estados Unidos é também agravado pelo fato de o vizinho mais próximo dos dois países, a China, ocupar o primeiro lugar no setor de construção naval, produzindo "mais de metade dos navios mercantes em todo o mundo".

Enquanto a China teve pedidos para a construção de 1.794 navios comerciais de grande porte, os EUA só tiveram cinco, com seu setor de construção naval sendo responsável por menos de 1% das embarcações comerciais do mundo.

"Veja a diferença na construção naval entre os Estados Unidos e a China, que [é] profundamente preocupante. Temos que nos sair melhor nessa área ou não seremos a grande potência naval que precisamos ser no século XXI", cita o artigo o vice-secretário de Estado norte-americano Kurt Campbell.

Perdendo o título de detentor da maior Marinha do mundo para a China, segundo a agência, os Estados Unidos estão procurando investimentos de seus aliados da Ásia em suas próprias instalações de construção naval, tendo recentemente vendido o antigo estaleiro da Marinha na cidade da Filadélfia à empresa sul-coreana Hanwha Ocean Co.

Além disso, a Bloomberg observa que em julho, os EUA, o Canadá e a Finlândia anunciaram um plano para construir conjuntamente quebra-gelos para competir com a China e a Rússia no Ártico.

Por último, a Rússia relatou anteriormente que o Brasil, entre outros, manifestou interesse na criação de um centro científico e educacional internacional no arquipélago de Svalbard (Spitsbergen, na denominação russa).

Porém, o setor de construção naval dos EUA está obviamente muito longe do que se precisa para competir com os gigantes da Ásia-Pacífico, segundo a mídia.

"Mesmo com o apoio da Hanwha e possivelmente de outras empresas asiáticas, os EUA levarão anos para aumentar sua capacidade e reduzir os custos de forma significativa o suficiente para melhorar um setor que continua sendo uma fração minúscula do da China", afirma o artigo.

¨      Rivalidade EUA-China e os obstáculos para regulação da inteligência artificial

Não se sabe ao certo os motivos pelos quais a China decidiu não assinar uma declaração internacional para manter os humanos, e não a inteligência artificial, no controle da tomada de decisões ligadas a armas nucleares.

A declaração conjunta foi endossada por mais de 60 países, incluindo Ucrânia e Estados Unidos, ao final de uma conferência sobre o uso responsável da tecnologia militar em questões militares.

Segundo o jornal South China Morning Post, essa posição ressalta o dilema vivido pelo governo chinês enquanto busca equilibrar as preocupações sobre fazer compromissos relacionados à energia nuclear em meio à sua rivalidade com os EUA sobre inteligência artificial militar e seu desejo de ter mais voz na governança global da tecnologia em rápida evolução.

Ao mesmo tempo, esse é um exemplo prático de como a rivalidade entre EUA e China impede os esforços globais de regulação da inteligência artificial, em especial seu uso militar em expansão.

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Outras explicações plausíveis incluíam que Pequim pode querer evitar apoiar um evento liderado principalmente pelo Ocidente, organizado por um aliado dos EUA, e uma proposta que sabe que a Rússia (que não foi convidada ao evento por conta da invasão à Ucrânia) se opõe.

A cúpula envolveu quase 100 países durante dois dias na cidade de Seul, na Coréia do Sul, e terminou com um “plano para ação” que apontava a necessidade de “manter o controle e o envolvimento humanos para todas as ações… relativas ao emprego de armas nucleares”.

“Nós enfatizamos a necessidade de impedir que as tecnologias de IA sejam usadas para contribuir para a proliferação de armas de destruição em massa e enfatizamos que as tecnologias de IA apoiam e não impedem os esforços de desarmamento, controle de armas e não proliferação”, disse a declaração.

“O uso militar da IA ​​se tornou um componente-chave da rivalidade estratégica EUA-China, com ambas as nações investindo pesadamente no desenvolvimento de IA para obter uma vantagem militar futura, disse Seong-Hyon Lee, associado do Harvard University Asia Centre.

<><> Novo chefe militar da UE defende 'estoques obrigatórios de munições' para rivalizar Rússia e China

O primeiro comissário de Defesa da União Europeia quer forçar Estados-membros a estocarem níveis mínimos de munição e outros suprimentos, dizendo que essa é a melhor maneira de aumentar a indústria de armas do bloco a fim de prepará-la para a guerra.

De acordo com o Financial Times, Andrius Kubilius, disse que a UE deve se preparar para um ataque russo dentro de alguns anos. Kubilius comparou seu plano a acordos semelhantes para gás natural, segundo os quais os países devem manter reservas e compartilhá-las com vizinhos necessitados.

"Por que não temos algum tipo de critério chamado segurança militar para manter em estoque tal e tal quantidade de projéteis de artilharia e alguns outros produtos [...]? Digamos, pólvora [explosivos]? Você traz valor agregado à segurança dos Estados-membros, mas, além disso, você está criando demanda permanente para produção, que é o maior problema para a indústria de defesa. Eles não têm pedidos estáveis ​​de longo prazo para produção", afirmou a autoridade europeia, citada pelo jornal.

Segundo a mídia, a Finlândia, vizinha da Rússia, é um dos poucos Estados-membros com grandes reservas de armamento, enquanto relatos da mídia na Alemanha em 2022 disseram que seu Exército ficaria sem munição após dois dias de combates.

Em março, a UE destinou € 500 milhões (R$ 3 bilhões) sob a Lei de Apoio à Produção de Munição (ASAP, na sigla em inglês) para aumentar a capacidade de produção para dois milhões de projéteis anualmente até o final de 2025.

Kubilius, um ex-primeiro-ministro lituano, disse que isso foi uma melhoria em relação ao limite anual de 300 mil em 2022, mas que é preciso mais: "Se eu estiver correto, ainda estamos atrás dos russos", afirmou.

A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, disse que o bloco precisa gastar € 500 bilhões (R$ 3 trilhões) para compensar o déficit nos gastos com defesa desde o fim da Guerra Fria na década de 1990.

Von der Leyen deu a Kubilius 100 dias após assumir o cargo para produzir um white paper sobre estratégia de defesa. Ele deve incluir um escudo aéreo europeu, que custaria centenas de bilhões de euros, e um sistema de defesa cibernética, disse a presidente.

Kubilius quer que os Estados-membros da UE tomem dinheiro emprestado para isso em conjunto, uma ideia que, por enquanto, é contestada pelos contribuintes líquidos do orçamento, Alemanha e Países Baixos, diz o jornal.

Há também planos para indústria da UE incluir o Reino Unido, que deixou o bloco.

"Consideramos o Reino Unido como parte da Europa", ele disse. "Os europeus democráticos devem ser tão unidos quanto possível. Vejo o perigo de nossa fraqueza [...]. Mas os chineses [também] estão observando. Os chineses chegarão a uma conclusão simples: o Ocidente é bem fraco. Apesar do fato de o poder de gasto econômico ocidental combinado ser cinco vezes mais forte que o russo, não somos capazes de vencer. Qual é o motivo? É uma questão de vontade política", afirmou o futuro chefe militar do bloco.

¨      OTAN deve 'se aposentar' junto com o secretário-geral cessante, diz jornal chinês

Durante os 75 anos de sua existência, a OTAN contribuiu para o estabelecimento de uma ordem mais pacífica e segura, mas foi a raiz do surgimento de dilemas de segurança, a Aliança Atlântica deve "se aposentar" junto com o secretário-geral cessante, escreveu o jornal estatal chinês Global Times.

O mandato do atual secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, está chegando ao fim. No dia 1º de outubro, na sede da OTAN em Bruxelas, ocorrerá a entrega oficial das funções na organização ao novo secretário-geral, o ex-premiê dos Países Baixos Mark Rutte.

Os autores do artigo observam que os 75 anos de história da OTAN provaram que esta organização não tornou a Europa ou o mundo mais pacíficos e seguros, mas a própria existência e expansão contínua da aliança foram a principal causa de dilemas de segurança.

"Pelo contrário, a 'paz duradoura' foi alcançada nos locais com menos intervenção da OTAN e da mentalidade de confrontação", escreve o artigo.

"Apelamos à OTAN para 'se aposentar' o mais rápido possível juntamente com o secretário-geral cessante, juntamente com os conceitos obsoletos da mentalidade da Guerra Fria e o jogo de soma zero, a prática errada de propaganda da força militar e a busca da 'segurança absoluta', bem como o comportamento perigoso que está destruindo a Europa e a região da Ásia-Pacífico", salienta o jornal.

É observado que a OTAN deveria ter cessado sua existência no final da Guerra Fria.

A mídia escreve que Stoltenberg tenta retratar a OTAN como defensora da segurança regional e até global, mas a retórica de que "a força militar é uma condição prévia para o diálogo" é apenas outra maneira de dizer que "a força gera o direito".

"Foi a expansão da OTAN que lançou as sementes da crise ucraniana, e sua expansão para a região da Ásia-Pacífico exportou as tensões geopolíticas para além das fronteiras da Europa", conclui o jornal.

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN/Sputnik Brasil

 

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