A 'epidemia' de miopia que atinge 1 em 3
crianças no mundo (mas ainda não é tão comum no Brasil)
A visão das crianças
parece ter piorado nos últimos anos. Uma em cada três tem miopia ou é incapaz
de ver claramente coisas à distância, sugere um levantamento global.
Os autores do trabalho
avaliam que o isolamento relacionado à pandemia de covid-19 teve um impacto
negativo na visão, pois as crianças passaram mais tempo em telas — e menos
tempo ao ar livre.
A miopia é uma
preocupação global crescente de saúde, e deve afetar milhões de crianças até
2050, alerta o estudo.
As taxas mais altas da
condição estão concentradas na Ásia — 85% das crianças no Japão e 73% na Coreia
do Sul são míopes, com mais de 40% afetadas na China.
• O que revela o estudo
Paraguai e Uganda, com
cerca de 1% de miopia entre o público infantil, tiveram alguns dos níveis mais
baixos encontrados na pesquisa.
O Brasil também
apresenta uma baixa frequência do quadro: 3% das crianças do país são míopes.
Vale ponderar que esse
dado brasileiro vem de um único estudo, feito em 2013 na Universidade de São
Paulo em Ribeirão Preto, que avaliou 1.590 indivíduos de 10 a 15 anos na cidade
de Gurupi, no Tocantins.
O levantamento
internacional, publicado no British Journal of Ophthalmology, analisou
pesquisas que envolveram mais de 5 milhões de crianças e adolescentes de 50
países em todos os continentes.
Os cálculos revelaram
que os casos de miopia triplicaram entre 1990 e 2023.
E o aumento foi
"particularmente notável" após a pandemia de covid-19, segundo os
autores.
A miopia geralmente
começa durante os anos do Ensino Fundamental e tende a piorar até que o olho
pare de crescer, por volta dos 20 anos de idade.
Existem fatores que
aumentam o risco de desenvolver a condição — viver no Leste Asiático é um
deles.
O quadro também está
relacionado à genética e certas mutações que as crianças herdam de seus pais,
mas há outros fatores que podem influenciar, como a idade muito jovem, por
volta dos dois anos, em que as crianças vão para a escola em países como
Singapura e Hong Kong.
Isso significa que
esses jovens focam os olhos por mais tempo em livros e telas durante os
primeiros anos de vida, o que tensiona os músculos oculares e pode levar à
miopia, sugere a pesquisa.
Na África, onde a
educação formal começa na idade de seis a oito anos, a incidência de miopia é
cerca de um sétimo do que a verificada na Ásia.
Durante os momentos de
lockdowns e isolamento da pandemia de covid-19, quando milhões de pessoas
tiveram que ficar em ambientes fechados por longos períodos, a visão de
crianças e adolescentes foi prejudicada.
"Evidências
recentes sugerem uma associação potencial entre a pandemia e a deterioração
acelerada da visão entre jovens adultos", escrevem os pesquisadores.
Até 2050, a miopia
pode afetar mais da metade dos adolescentes em todo o mundo, preveem os
autores.
Ainda de acordo com o
trabalho recém-publicado, meninas e mulheres jovens provavelmente terão taxas
mais altas da condição do que indivíduos do sexo masculino porque tendem a
passar menos tempo em atividades ao ar livre na escola e em casa à medida que crescem.
Além disso, o
desenvolvimento das meninas, incluindo o período da puberdade, se inicia mais
cedo, o que significa que elas tendem a ter miopia em uma idade mais precoce.
Embora a Ásia deva ter
os índices mais altos da condição em comparação com todos os outros continentes
até 2050, os países em desenvolvimento também podem chegar a 40% da população
afetada pela miopia no futuro, estimam os pesquisadores.
• Como posso proteger a visão do meu
filho?
Para reduzir o risco
de miopia, as crianças — especialmente aquelas que têm entre sete e nove anos —
devem passar pelo menos duas horas ao ar livre todos os dias, sugerem
especialistas em oftalmologia do Reino Unido.
A ciência ainda não
descobriu se o fator mais preponderante aqui é a presença de luz solar natural,
o exercício feito ao ar livre ou fato de os olhos das crianças precisarem focar
em objetos mais distantes durante essas atividades.
"Há algo em estar
ao ar livre que traz um benefício real para as crianças", pontua o médico
Daniel Hardiman-McCartney, consultor clínico do Colégio de Optometristas do
Reino Unido.
Ele também recomenda
que os pais levem os filhos para um exame oftalmológco entre os sete e os 10
anos, mesmo que a visão da criança tenha sido verificada em anos anteriores.
Os pais também devem
ser avaliados, uma vez que a miopia é hereditária. Caso um dos progenitores
seja míope, os filhos têm três vezes mais probabilidade de também desenvolver o
quadro.
A miopia não tem cura,
mas pode ser corrigida com óculos ou lentes de contato.
Além disso, lentes
especiais podem retardar o desenvolvimento da miopia em crianças pequenas, ao
estimular o olho a crescer de forma adequada. No entanto, elas costumam ser
caras.
Na Ásia, onde essas
lentes especiais já são muito populares, salas de aula feitas de vidro, que
mimetizam o aprendizado ao ar livre, também viraram uma das soluções para o
problema.
<><> Quais
são os sinais de miopia?
• Dificuldade em ler palavras à distância,
como o que está escrito na lousa da escola;
• Sentar-se muito perto da TV e do
computador;
• Segurar o celular e o tablet perto do
rosto;
• Ter dores de cabeça frequentes;
• Esfregar muito os olhos.
Fonte: Por Philippa
Roxby, repórter de Saúde, BBC News
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