USP lança Centro de
Estudos da Amazônia Sustentável para acelerar o desenvolvimento da região
O
Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas) é um dos quatro novos centros
lançados em março pela USP – os outros três são o Centro de Agricultura
Tropical Sustentável (Stac), o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura
Tropical (CCarbon) e o Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para
Oncologia de Precisão (C2PO). Sob a coordenação do professor Paulo Artaxo, do
Instituto de Física (IF) da USP, e a vice-coordenação de Gabriela di Giulio, da
Faculdade de Saúde Pública (FSP), o Ceas tem como principal propósito a
produção, integração e disseminação da ciência, por meio de atividades
acadêmicas e científicas inter e transdisciplinares relacionadas ao ensino, à
pesquisa e à extensão, para o desenvolvimento sustentável da região.
“A
Amazônia é uma região estratégica para o Brasil e para o planeta como um todo,
e temos muito a aprender sobre seu funcionamento físico-químico e biológico,
bem como sobre suas complexas interações socioeconômicas e institucionais”,
afirma o professor Paulo Artaxo. As atividades propostas para o Ceas focam a
preservação da biodiversidade e da cultura dos povos originários, o uso
sustentável dos recursos naturais, a ampliação de esforços para mitigação de
emissões e adaptação às mudanças climáticas e para a melhora de condições de
vida das populações, considerando toda a diversidade étnica e populacional
(povos da floresta, ribeirinhos, comunidades quilombolas e os residentes das
áreas urbanas) e os paradoxos e complexidades amazônicos, salienta a professora Gabriela di Giulio.
“O futuro da Amazônia em vista das mudanças
climáticas e o desenvolvimento de um novo sistema econômico para a região,
explorando de modo sustentável sua sociobiodiversidade, também estão entre os
estudos propostos pelo Ceas”, acrescenta o físico, que é membro do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC (acrônimo de
Intergovernmental Panel on Climate Change).
Assim
como os demais centros, o Ceas pretende integrar atividades realizadas em
vários institutos e departamentos da USP. Segundo Artaxo, é preciso buscar
alternativas visando a um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico da
região da Amazônia, e o desenvolvimento de ciência básica e aplicada por parte
do Ceas pode dar importantes contribuições para alcançar esse objetivo. Como
ele afirma, “usaremos a ciência para propor modelos e prever cenários de
desenvolvimento sustentável, baseados no funcionamento físico-químico e
biológico acoplado às suas complexas interações socioeconômicas”.
O
atual modelo de desenvolvimento amazônico não é sustentável, ele não explora as
melhores oportunidades e potencialidades para a região amazônica, nem tampouco
distribui renda entre seus habitantes. Pretendemos desenvolver pesquisas sobre
questões ambientais e climáticas, questões associadas à biodiversidade, aos
modos de vida dos povos amazônicos, trabalhando a sustentabilidade da Amazônia
de maneira integrada às várias áreas de conhecimento da USP, em colaboração e
parceria com pesquisadores que trabalham em instituições amazônicas.” - Paulo
Artaxo, coordenador do novo Centro de Estudos da Amazônia Sustentável
Como
lembra Artaxo, a USP já tem uma forte agenda de pesquisas na região amazônica.
Para ele, “a integração entre os muitos estudos e a colaboração com
instituições amazônicas e com as iniciativas em curso são fundamentais para o
desenvolvimento e aprimoramento de estratégias sustentáveis, que alterem o rumo
do atual modelo de desenvolvimento ‘predatório’ ao ecossistema e não inclusivo
às populações locais”.
• Como vai funcionar o Ceas
O
Ceas está vinculado diretamente à Reitoria da USP, e conta com a participação
de pesquisadores do Instituto de Física, Instituto de Biociências, Instituto de
Química, Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Centro de
Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, da Faculdade de Direito, da Faculdade de
Saúde Pública, dentre vários outros.
Segundo
Artaxo, o Ceas tem atualmente cerca de 30 pesquisadores associados, de vários
campi da USP, incluindo o campus da Cidade Universitária, Quadrilátero
Saúde-Direito, Piracicaba, Ribeirão Preto e a EACH (Escola de Artes, Ciências e
Humanidades), localizada na zona leste de São Paulo. “São pesquisadores muito
ativos, com diferentes formações e experiências acadêmicas na elaboração de uma
agenda de pesquisa comum voltada à ciência para o desenvolvimento sustentável
da região amazônica”, afirma.
O
Ceas também terá colaborações com instituições estrangeiras. Como diz o
coordenador, “hoje é difícil fazer pesquisa de ponta sem fortes parcerias
internacionais, e essas parcerias estão sendo estruturadas”, citando o
Instituto Max Planck, da Alemanha, o CNRS francês, a Universidade de Yale, em
Connecticut, a Universidade de Berkeley, na Califórnia, a Michigan State
University e Universidade de Lancaster, na Inglaterra, entre os que
manifestaram interesse em colaborar nas pesquisas que o Ceas vai formar.
• Linhas de pesquisa
A
formação do Ceas é muito recente e, ao longo das próximas semanas, estará
ocorrendo uma série de reuniões para definir a missão, o regimento e os
projetos que serão desenvolvidos. “Estamos também estruturando o Conselho
Diretor, que vai dar as direções estratégicas para o centro, e o Conselho
Consultivo, que vai nos auxiliar a alcançar uma troca profícua de
conhecimentos, aumentando o impacto de nossas pesquisas e ações”, informa
Gabriela.
Artaxo
está otimista quanto ao início das atividades. “Esperamos que, em poucos meses,
o centro esteja em pleno funcionamento, escrevendo propostas de pesquisa para
grandes financiadores, de dentro e de fora do Brasil, e assim conseguir
financiamentos e apoios para o desenvolvimento de nossas pesquisas e
atividades”, espera o coordenador, acrescentando que o Ceas terá uma sede
física, com salas para receber pesquisadores e alunos da região amazônica, e
contribuir para a integração das atividades.
“Já
temos vários projetos temáticos financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo) que têm colaborações com o Ceas, mas queremos
escrever propostas específicas e multidisciplinares nos próximos meses, para
que o centro tenha recursos próprios para projetos de pesquisa dentro da nossa
agenda de atuação para os próximos cinco anos”, informa.
• Políticas ambientais
O
grupo de pesquisadores ligados ao Ceas tem feito, desde o início deste ano,
contatos e reuniões para o delineamento das linhas estratégicas de pesquisa e
das ações que devem ser fomentadas pelo centro. “Há um entendimento de que a
Amazônia é, ao mesmo tempo, um laboratório potente para investigar as dinâmicas
de políticas ambientais, para compreender as potências da multiplicidade de
populações a partir de seus diferentes modos de vida e suas relações com a
natureza, para avançar processos de descolonização e para desenvolver cadeias
de valor e sociobiodiversidade que mudem as práticas e modelos econômicos
atuais para um novo conjunto de iniciativas baseadas na floresta em pé”,
considera Gabriela.
Contudo,
segundo a professora, é preciso avançar a produção de conhecimento
técnico-científico e acelerar os esforços para enfrentar os desafios e
complexidades amazônicos. A formulação de políticas públicas baseadas no
conhecimento atual e a compreensão sobre os desafios e potencialidades nas
interações entre ciência, política e sociedade são também tarefas do Ceas.
Outras questões fundamentais que serão tema de estudos do centro incluem o
desmatamento e seus efeitos na biodiversidade e na saúde (humana e das demais
espécies) e seus impactos no ciclo hidrológico e no balanço de radiação; as
relações entre saúde e trabalho considerando tanto as ocupações legais como as
informais e as atividades ilegais.
• Aspectos territoriais
A
vice-coordenadora também menciona outros aspectos: as disputas e os conflitos
relacionados a aspectos territoriais, ligados a questões fundiárias nos
ambientes rurais e urbanos; os impactos da fragmentação do ecossistema,
desmatamento e degradação florestal para a emissão de carbono pelo ecossistema.
“Temos que desenvolver estratégias de pesquisas que levem em conta as vantagens
estratégicas da região, bem como suas vulnerabilidades”, ressalta.
Outras
questões críticas que fazem parte da linha de atuação do Ceas incluem o
desenvolvimento de um modelo econômico sustentável para a região amazônica que
possa melhorar as condições de vida dos grupos sociais amazônicos; respeitando
as diferentes abordagens dos grupos sociais amazônicos, o combate à insegurança
alimentar e nutricional; a ampliação de ofertas de serviços essenciais como
disponibilidade energética, e das condições de adaptação e resiliência dos
territórios amazônicos, incluindo as cidades e seus processos de urbanização
que seguem padrões desordenados, com
precários serviços urbanos; e as condições de saneamento, que estão associadas
à incidência de várias doenças.
“É
importante, ainda, transformar conhecimento científico e tradicional em
inovações sociais e tecnológicas que possam auxiliar na preservação do
ecossistema e, ao mesmo tempo, reduzir as desigualdades socioeconômicas da
região, promovendo inclusão social e desenvolvimento sustentável”, salientam os
coordenadores.
• Interações complexas
Com
uma atenção especial à inclusão, diversidade e equidade – elementos
fundamentais para o desenvolvimento e prática da boa ciência –, o Ceas quer se
estruturar também como um lócus de compartilhamento de conhecimentos e saberes
(científicos, tradicionais, locais, práticos), propiciando fortemente as
interações e colaborações com instituições e organizações que atuam na região
amazônica. Há uma expectativa, ainda, de que o centro aproxime estudantes (de
graduação e pós-graduação) e pesquisadores da USP na Amazônia, por meio de
pesquisas e missões científicas. O Ceas também deverá centrar esforços para
facilitar o acolhimento de estudantes da região amazônica nas atividades da
USP.
“A
Amazônia fornece oportunidades únicas em todas as áreas científicas, para
ampliar nosso conhecimento sobre as complexas interações sociais com o meio
ambiente. Temos muito a aprender com a região, e a ciência que o Ceas
desenvolverá focará na preservação do ecossistema, bem como em encontrar
caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, finaliza Artaxo.
O
Ceas é aberto à comunidade de pesquisadores da USP. Mais informações podem ser
obtidas com os professores Paulo Artaxo (artaxo@if.usp.br) e Gabriela Marques
di Giulio (ggiulio@usp.br).
Fonte:
Jornal da USP
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