O empreendedor que
aposta na descoberta da juventude eterna
Nosso
destino é inevitável, mas cada vez mais especialistas acreditam que a forma
como nos sentimos nos últimos anos de vida talvez não seja.
Eles
falam dos "períodos saudáveis" – a quantidade de anos em que temos
saúde nas nossas vidas.
A
expectativa de vida dos seres humanos pode ter dobrado nos últimos 150 anos,
mas muitos de nós temos presenciado o declínio devastador dos nossos entes
queridos à medida que eles envelhecem.
Para
evitar esse destino, está surgindo uma nova indústria, que promete uma
revolução da longevidade, com técnicas que, segundo eles, podem trazer vidas
mais longas e saudáveis.
Os
negócios neste setor estão se expandindo. Suplementos são indicados como a
forma de combater nosso declínio celular e surgem todos os tipos de terapia
para tentar reduzir as inflamações e o risco de doenças nos nossos corpos.
Por
isso, viajei para o centro dessa indústria – a Califórnia, nos Estados Unidos –
sem saber ao certo se encontraria o coração de uma cultura muito lucrativa ou a
próxima fronteira da medicina.
O
empresário de tecnologia Bryan Johnson gasta milhões de dólares por ano
tentando reduzir sua idade biológica – quantos anos seu corpo parece ter, em
vez da sua idade real cronológica, de 45 anos.
Todos
nós temos uma boa razão para isso. A idade é o maior fator de risco de doenças,
seja câncer, diabetes tipo 2, doenças cardíacas ou demência. Por isso, se o
envelhecimento como um todo pudesse ser retardado, também postergaríamos o
risco de deflagração dessas doenças.
Mas,
para Johnson, este é um passatempo. Na sua luxuosa casa em Venice Beach (Los
Angeles), um dos quartos foi transformado em clínica. Lá, ele passa muitas
horas por dia.
Ele
acorda às cinco horas da manhã, come sua primeira refeição uma hora mais tarde,
depois uma segunda e uma terceira e última refeição às 11 horas.
Tudo
isso combinado com 54 comprimidos criteriosamente selecionados, mais um
conjunto de suplementos e medicamentos aprovados – tudo planejado após a
leitura de uma série de exames.
Os
seus dias consistem de um torturante regime de exercícios, monitoramento e
inúmeros tratamentos.
Ele
me disse que está fazendo um tratamento de pele a laser que reduziu a idade da
sua pele em 22 anos. É a maior redução de idade que ele conseguiu em qualquer
parte do corpo.
Mas
a estética é apenas uma pequena parte do processo. Ele me relembra que "a
pele é o nosso maior órgão".
Johnson
foi atencioso, lógico e agradável. Saí da sua casa querendo ser (um pouco) como
ele. Talvez eu já seja – afinal, eu corro 5 km por dia, tento evitar açúcar e
testo aparelhos extremos de caminhada por diversão.
Meus
colegas acharam a vida de Johnson infeliz, algo que claramente não é para
qualquer pessoa. De fato, sua rotina parece ser extenuante, mas todas as minhas
conversas seguiram abordando o estilo de vida.
"O
estilo de vida é responsável por cerca de 93% da sua longevidade – apenas cerca
de 7% é a genética", afirma Eric Verdin, o principal executivo do
Instituto Buck de Pesquisa do Envelhecimento.
"Segundo
os dados, [se vivermos de forma saudável] eu diria que a maior parte das
pessoas poderia viver até os 95 anos com boa saúde", afirma ele. "Por
isso, existem 15 a 17 anos [adicionais] de vida saudável ao alcance de todos
nós."
A
grande questão que Verdin e outras pessoas estão pesquisando é o que significa
um estilo de vida saudável.
O
exercício físico, por exemplo, deveria ser uma caminhada diária ou um treino de
alta intensidade? Quanto à alimentação saudável, o jejum é mais importante do
que evitar açúcar? E ter uma boa noite de sono?
Por
sinal, a obsessão pelo sono que encontrei entre as pessoas não pode ser
subestimada. Conheci muitos que ajustam seu despertador não para despertar de
manhã, mas para lembrá-los de ir para a cama no horário certo e poder dormir
oito horas completas.
Bem,
todos nós definimos nossos objetivos em níveis diferentes.
Verdin
pratica o que apregoa. Seu regime consiste de "muito exercício, um pouco
de jejum, bom sono, muitas conexões sociais e muito pouco álcool".
Sua
sugestão para os demais é "tentar passar pelo menos 14 das suas 24 horas
sem ingerir calorias, pois isso tem profundo efeito sobre o seu
metabolismo".
Mas
fica aberto o debate para definir o quanto isso é saudável para algumas
mulheres.
·
Ganhando tempo
Acompanhar
melhor os nossos corpos à medida que envelhecemos pode ajudar. Os riscos à
saúde podem ser sinalizados a tempo e novos remédios podem ser usados no
momento certo.
O
mantra é personalize, previna e faça melhor.
Foi
interessante observar que grande parte das pessoas que trabalham na ciência da
longevidade usa mais de um rastreador pessoal – normalmente, um smartwatch e um
anel (que, posso afirmar, é muito mais conveniente para dormir e essas pessoas
são obcecadas pela prioridade do sono).
Para
mim, o rastreamento da saúde foi esclarecedor. Não sou diabética, mas fiquei
fascinada com as descobertas de um monitor contínuo de glicose que usei por
algum tempo.
Atualmente,
aumentar o nosso tempo de vida requer muito trabalho. Como disse o jornalista
do Vale do Silício Danny Fortson: "O exercício é difícil, as pílulas
mágicas são fáceis e é por isso que todos ficam tão animados com a
pílula".
A
premissa é que o progresso no campo da longevidade irá chegar, mas de uma forma
menos sensacionalista do que algumas pessoas esperam.
Especialistas
indicam que pode surgir um remédio que, inicialmente, fará um ou dois anos de
diferença, depois alguns anos mais na geração seguinte e assim por diante.
Mas,
junto com esses progressos, virão dilemas éticos e práticos.
Uma
questão fundamental é se o envelhecimento pode ser definido como uma doença.
Esta definição pode simplificar a aprovação de remédios pelos órgãos
reguladores, mas corre-se o risco de rotular as pessoas acima de uma certa
idade como "doentes".
Já
o custo desses tratamentos (seja para o paciente ou para os sistemas públicos
de saúde) pode ou não ser um problema, dependendo de qual venha a ser esse
custo.
E,
por fim, ter uma vida mais saudável provavelmente irá trazer mais alguns anos
de existência, de forma que podemos precisar trabalhar por mais tempo.
Na
minha jornada para aprender sobre a longevidade, minhas expectativas mudaram
completamente.
Eu
havia visto as manchetes sensacionalistas, sugerindo bilionários da tecnologia
relaxando nos seus iates, discutindo como eles imaginavam salvar o mundo,
viajar para o espaço ou "curar" o envelhecimento.
Mas
a realidade que encontrei é diferente. Os ricos vêm doando dinheiro para as
pesquisas médicas há anos. Esta é apenas uma nova geração de pessoas ricas e
uma possível especialidade nova para a medicina. E, o mais interessante, ela
afeta a todos nós.
Voltei
para casa mais determinada do que nunca a viver da forma mais saudável possível
– dormir melhor, não inventar desculpas para não fazer exercício, comer bem e
valorizar as conexões sociais (sim, este ponto está na receita para a
longevidade).
Com
isso e um pouco de sorte, talvez eu consiga ganhar tempo para poder aproveitar
futuras descobertas científicas.
Fonte:
Por Lara Lewington. Apresentadora da BBC Click TV
Nenhum comentário:
Postar um comentário