sábado, 29 de abril de 2023

Bolsonaro lamenta depoimento à PF: “Errei”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não gostou do  seu depoimento à Polícia Federal na quarta-feira (26). A aliados, o capitão da reserva desaprovou a justificativa que apresentou aos investigadores sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

Em conversa com sua defesa e aliados políticos, o antigo mandatário do país falou que o argumento usado o deixou apenas com a imagem de ‘maluco’. “Errei”, confessou o ex-presidente.

Aliados concordaram com o capitão da reserva e disseram que ele deveria ter jogada a responsabilidade para um dos assessores que cuidava das redes sociais. “Todos nós acreditamos nisso. Ele também percebeu que deveria ter usado esse argumento. Agora só piorou a situação”, comentou um interlocutor.

Seu núcleo tem certeza que a justificativa da morfina não colou e ainda viralizou de forma negativa nas redes sociais. “Ele foi tratado como louco, mas todos sabem que isso é o famoso ‘migué’. Só criou mais desgaste e, com certeza, será chamado para um segundo depoimento”.

Bolsonaro pediu para sua defesa acompanhar de perto as investigações do 8 de janeiro. A ideia é montar uma estratégica jurídica que o proteja e também um plano de comunicação para livrá-lo midiaticamente de qualquer relação com os atos golpistas. Aliados dizem que, midiaticamente, será impossível retirá-lo de qualquer ligação com os atos, mas que é possível alimentar sua base com narrativas que jogam as manifestações do 8 de janeiro no “colo” do governo Lula (PT). A CPMI é tratada pelos mais radicais como uma oportunidade.

Na área da Justiça, Bolsonaro acredita que pode escapar desde que consiga ter uma narrativa mais convincente. Só que, na avaliação do ex-presidente, o “sistema” quer pegá-lo a qualquer custo. Mesmo com aliados garantindo que ele terá todos os direitos na Justiça, Bolsonaro chega a zombar de quem defende o STF e a atuação atual da Polícia Federal.

RELEMBRE:

·         À PF, Bolsonaro nega participação e minimiza publicação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) justificou o uso de remédios para publicar um vídeo nas redes sociais em que questiona as urnas eletrônicas dois dias depois dos ataques antidemocráticos em Brasília. Em depoimento à Polícia Federal, Bolsonaro afirmou que não assistiu ao vídeo publicado e deu a entender que o compartilhamento não foi intencional.

Questionado pelos investigadores sobre os atos antidemocráticos, Bolsonaro negou sua participação e disse que rebateu as invasões no mesmo dia. Ele disse que horas após os ataques, precisou ser internado após uma obstrução intestinal.

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“QUE, no dia 08/01/2023, fez uma postagem na rede social TWITTER repudiando os atos de vandalismo ocorridos no mesmo dia; QUE, no dia 08/01/2023, passou mal com obstrução intestinal”, aponta o depoimento.

“QUE acionou o médico na madrugada do dia 09/01/2023 e permaneceu internado do dia 09/01/2023 até a tarde do dia 10/01/2023; QUE, enquanto esteve internado, foi medicado com morfina, conforme documentação médica apresentada”, completa.

Bolsonaro disse que ao receber alta, assistiu ao trecho de um vídeo no Facebook e que gostaria de acompanhar o restante da gravação posteriormente. Para isso, segundo o ex-presidente, tentou compartilhar o vídeo para o WhatsApp, mas a publicação foi divulgada em sua página pessoal no Facebook.

 “QUE, no dia 10/01/2023, tão logo saiu do hospital, já em sua residência, visualizou o vídeo postado na página do FACEBOOK de uma pessoa desconhecida, que se interessou em assisti-lo com mais cuidado posteriormente; QUE tem o costume de encaminhar todas as postagens que lhe interessam para o seu WHATSAPP particular para posterior visualização”, afirmou Bolsonaro.

“QUE, para encaminhar para o WHATSAPP, precisa acionar a opção compartilhar; QUE, ao acionar a opção compartilhar, é aberto um menu de opções de ícones de diferentes aplicativos (Instagram, Whatsapp, E-mail, SMS e FACEBOOK); QUE, todavia, ao clicar duas vezes na opção compartilhar, o vídeo passa a constar nas postagens da sua própria página no FACEBOOK”, ressaltou.

Aos investigadores, Bolsonaro negou conhecer o responsável pela gravação e providenciou a retirada da publicação horas após a postagem. Ele ainda disse que não acompanhou a repercussão e comentários sobre o vídeo em sua página.

O ex-presidente ainda foi questionado sobre sua opinião ao processo eleitoral do Brasil, mas desviou o assunto e disse que não emitiu ‘juízo de valor’ sobre o vídeo. Bolsonaro ainda disse que as eleições de 2022 são ‘página virada’.

“QUE, em relação ao conteúdo do vídeo, considera a Eleição de 2022 uma página virada em sua vida; QUE, indagado a respeito de sua opinião sobre o processo eleitoral, afirma que, ao postar o vídeo, não havia o assistido em sua integralidade e, em momento algum, emitiu juízo de valor sobre ele”, disse.

“QUE se fosse a intenção de divulgar o vídeo para os seus seguidores, o faria em todas as suas redes sociais e não apenas na sua rede social de menor repercussão”, completou o ex-presidente.

 

Ø  Entenda por que Bolsonaro disse estar “doidão” ao postar vídeo e o que ele tentou com isso

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu uma das mais patéticas e ridículas justificativas à Polícia Federal (PF), em depoimento colhido na quarta-feira (26), para as postagens feita em suas contas oficiais nas redes sociais logo após a tentativa frustrada de golpe de Estado levada a cabo por seus fanáticos seguidores, em 8 de janeiro, alegando que o vídeo compartilhado que desacreditava o sistema eleitoral brasileiro teria sido colocado no ar em seus perfis “sem querer”, porque ele estaria “sob efeito de medicamentos”. Naturalmente, a versão virou piada e não há qualquer hipótese de tal desculpa ser aceita pelas autoridades que investigam o líder de extrema direita.

No entanto, numa análise mais aprofundada, o que emerge inequivocamente da atitude do extremista de alegar o famoso e batido “foi mal, tava doidão” é uma tentativa de puxar para si a responsabilidade pelo criminoso ato de incentivo a um golpe, ainda que se dizendo “inocente”. Jair Bolsonaro, ao alegar que “recebeu altas doses de morfina” para seu quadro de obstrução intestinal, estava na verdade colocando em marcha uma espécie de “operação blindagem”.

Em 15 de janeiro, portanto cinco dias após compartilhar o vídeo com uma entrevista com um integrante do Ministério Público do Mato Grosso que fazia acusações totalmente infundadas contra a lisura da eleição realizada em outubro de 2022, um ex-ministro de Bolsonaro, que pediu para não ser identificado e deu entrevista ao jornalista Josias de Souza, do Uol, disse que o autor do compartilhamento golpista era Carlos Bolsonaro, o filho mais problemático e destemperado do antigo mandatário. De fato, é pública e oficial a informação de que “Carluxo”, como é conhecido o rebento 02 de Bolsonaro, sempre foi o operador de todos os perfis do pai nas redes sociais.

Visto como o cerne do chamado Gabinete de Ódio do bolsonarismo, a complexa máquina de fake news e de assassinato de reputações da extrema direita brasileira, Carlos teria percebido momentos depois o tamanho da besteira que fez ao espalhar o arquivo criminoso e por isso apagou as postagens minutos depois. O tal ex-ministro que falou sobre aqueles tumultuados dias do ex-presidente na Flórida, logo após ficar sem mandato, confirmou que Bolsonaro àquela altura estava tão deprimido que sequer falava com seus interlocutores políticos, tendo inclusive trocado o número de telefone para não ser encontrado na mansão do ex-lutador de MMA José Aldo, em Orlando.

Mesmo com o vídeo poucos minutos no ar, a decisão de fazer tal publicação fez com que o ministro Alexandre de Moraes, do STF e do TSE, incluísse o ex-presidente no inquérito que investiga os golpistas terroristas que invadiram e destruíram as sedes dos três poderes da República na capital federa.

Um outro forte indício de que Carlos Bolsonaro foi o autor da postagem golpista é o fato de o vereador ter informado no dia 16 deste mês que estava deixando de operar as redes sociais do pai e, realmente, desde então, tanto o Twitter, Facebook, Instagram e Telegram do ex-ocupante do Palácio do Planalto seguem sem atualizações.

Para muitos atores políticos, tanto bolsonaristas como ligados ao governo Lula, a desculpa de Jair Bolsonaro dizendo-se “dopado” para ter cometido a ilegalidade de insuflar seus golpistas por meio de um vídeo criminoso teria, no fundo, a intenção de proteger Carlos de uma investigação, uma vez que a situação do filho 02 no que diz respeito à Justiça é bem complicada, podendo ele ter prisão preventiva decretada a qualquer momento por conta muitas outras acusações.

 

Ø  Deu a louca nos advogados e porta-vozes que defendem os Bolsonaro

 

Em menos de 48 horas, eles ofereceram duas saídas bizarras para os perrengues que enfrentam o ex-presidente e a ex-primeira dama, ambos às voltas com o escândalo das joias milionárias ofertadas pela ditadura da Arábia Saudita; e no caso específico de Bolsonaro, também com a tentativa de golpe do 8 de janeiro.

As joias de Michelle, no valor de 16,5 milhões de reais, foram apreendidas pela Receita Federal. As de Bolsonaro, que entraram ilegalmente no país, apareceram dentro de um pacote entregue nas mãos de Michelle no Palácio da Alvorada. E o que seu porta-voz disse depois de ela ter dito que desconhecia as joias?

Que o pacote, cujo conteúdo Michelle ignorava, ficou fechado dois ou três dias, abandonado sobre uma pia da cozinha do palácio. Mais tarde foi aberto. Foi quando ela soube das joias presenteadas ao marido. Quanto às joias destinadas a ela, Michelle só ouviu falar por meio da imprensa. Não as pediu, nem recebeu.

A segunda explicação bizarra: foi “sem querer”, e sob efeito de morfina, que Bolsonaro, internado em um hospital americano, postou um vídeo no Facebook de estímulo tardio ao golpe que fracassara. Com a palavra, Paulo Cunha Bueno, um dos advogados que acompanhou o depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal:

“Esse vídeo foi postado na página do presidente no Facebook, quando ele tentava transmiti-lo pro seu arquivo de WhatsApp para assistir posteriormente. […] A postagem foi feita de forma equivocada, tanto que pouco tempo depois, duas ou três horas depois, ele foi advertido e imediatamente a retirou”.

Postado em 10 de janeiro, o vídeo questionava a lisura e a confiabilidade das eleições presidenciais de 2022. Acusava Lula de não ter sido eleito de maneira legítima pela população, mas sim por um conluio entre ministros de tribunais superiores. Bolsonaro recuperava-se de uma obstrução intestinal.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou à época que a conduta de Bolsonaro poderia ser enquadrada no delito de incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal e cometido por quem estimula a prática de infrações. E que tinha “o poder de estimular novas ações” contra os Poderes da República.

Ao incluir Bolsonaro nas investigações em torno do golpe, Alexandre de Moraes destacou um trecho da manifestação da PGR que diz que ele disseminou falsas informações “sobre as instituições judiciárias responsáveis pela organização dos pleitos, alegando que tramavam contra sua reeleição”.

Morfina não combina com obstrução intestinal, segundo médicos consultados pelo O Globo. É um medicamento usado contra diarreia e tem potencial de agravar o quadro de obstrução intestinal de Bolsonaro. Além disso, ela não provoca um quadro de confusão mental, a não ser se ministrada em doses elevadas.

Para a professora de farmacologia e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Smaili, a alegação é “estranha”:

“É uma argumentação ruim porque a morfina causa mais constipação, ao provocar uma diminuição na motilidade gastrointestinal.”

“Em relação ao sistema nervoso central, a morfina causa principalmente sonolência, uma certa depressão. Agora, confusão mental, só numa concentração muito alta”.

Bolsonaro já havia recebido alta do hospital quando postou o vídeo.

 

Ø  À PF, Bolsonaro disse que guarda "postagens que lhe interessam" sobre vídeo golpista

 

Em depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (26), Jair Bolsonaro (PL) afirmou que encaminha "todas as mensagens que lhe interessam para seu WhatsApp" ao se referir ao vídeo golpista que publicou - e apagou horas depois - no dia 10 de janeiro, dois dias após os ataques terroristas promovidos por apoiadores na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

No depoimento, Bolsonaro afirmou que "enquanto esteve internado, foi medicado com morfina, conforme documentação médica apresentada; que no dia 10/01/2023, tão logo saiu do hospital, já em sua residência, visualizou o vídeo postado na página do Facebook de uma pessoa desconhecida, que se interessou em assisti-lo com mais cuidado posteriormente" e que, por esse, motivo teria resolvido encaminhá-lo para o WhatsApp.

No entanto, Bolsonaro diz "que todavia, ao clicar duas vezes na opção compartilhar, o vídeo passa a constar da sua própria página do Facebook", confirmado a tese revelada por seus advogados de que publicou o vídeo "sem querer" na rede.

Em seguida, o ex-presidente diz ter sido alertado sobre a postagem por outras pessoas e que "não leu ou acompanhou qualquer comentário".

Bolsonaro ainda afirmou que não havia assistido ao vídeo "em sua integralidade", que não conhece a pessoa que aparece contestando o resultado das urnas no vídeo e que "considera a eleição de 2022 uma página virada em sua vida".

"Por fim, o declarante reitera que repudia e condena todo e qualquer ato que vise a abalar a ordem democrática e que durante os seus quatro anos de governo sempre atuou dentro das 'quatro linhas da Constituição", diz o depoimento colhido pela PF.

 

Fonte: iG/Fórum/Metrópoles

 

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