Multinacionais
controlam maior polo de alumínio do Brasil
No
início de qunta-feira (27), a Vale emitiu um “comunicado ao mercado” para
informar que assinara um “acordo vinculante” com a Ananke Alumina, empresa
controlada pela multinacional Norsk Hydro, para vender 40% da sua participação
na Mineração Rio do Norte, que é a maior produtora de bauxita do Brasil e das
maiores do mundo. A MRN funciona desde 1979 em Porto Trombetas, no município de
Oriximiná, e também em Faro e Terra Santa, no noroeste do Pará.
Finalizada
a transação, as multinacionais passariam a controlar 90% do capital da MRN. A
Hydro se tornaria o maior acionista da mineradora, com 45% do seu capital. A
South32 (antiga BHP) ficaria com 33% e a Rio Tinto, com 12%. Ambas são
anglo-australianas. A única empresa nacional que restará seria a CBA, do grupo
Votorantim, com 10%.
Poucas
horas depois, a multinacional suíça Glencore anunciou ter feito dois acordos.
Um deles, para assumir 45% da Rio do Norte, através da compra dos 40% da Vale e
de 5% da Norsk Hydro, que deixaria a mineradora. Em outro acordo, a Glencore
adquiriu 30% das ações da Hydro na Alunorte, metalúrgica instalada em
Barcarena, no Pará, a maior do mundo fora da China, que era de propriedade
única da Hydro.
O
acerto previa que 40% da Vale na MRN serão vendidos primeiro para a Ananke
Alumina, por um valor não revelado. Imediatamente, a Ananke repassará as ações
à Glencore. Pelas duas transações, a empresa suíça deverá pagar cerca de 700
milhões de dólares.
“A
aquisição das participações acionárias na Alunorte e na MRN fornece à Glencore
exposição à alumina e bauxita de menor carbono, aumentando nossa capacidade de
fornecer esse material crítico para a transição energética em andamento para
nossos clientes”, disse em nota Robin Scheiner, o responsável pelo setor de
alumina e alumínio da empresa.
Para
a Vale, a sua retirada da mineradora de bauxita conclui seu principal programa
de desinvestimento, que envolveu a venda de mais de 10 ativos em vários
continentes desde 2019.
“Através
desse programa, a Vale conseguiu simplificar e reduzir a exposição ao risco dos
seus negócios, resultando na eliminação de despesas de até 2 bilhões de dólares
por ano”, informou a mineradora.
Já
a norueguesa Hydro atrai um parceiro importante para desenvolver os negócios da
Alunorte, afirmou à imprensa o executivo da empresa, Hilde Merete Aasheim. Ele
declarou que essa iniciativa foi “um passo importante para cumprir a estratégia
da Hydro. Os recursos da transação serão usados para crescimento estratégico e
para distribuição aos acionistas. A Alunorte continua sendo um ativo
estratégico essencial para a Hydro e é uma fonte importante de fornecimento de
alumina de baixo carbono para nossos principais mercador. A Hydro continuará a
ser alumina longa, mas agora mais equilibrada em relação à demanda de nosso
portfólio de smelters de alumínio”.
“Nossa
área de negócios de bauxita e alumina fez progressos significativos nos últimos
anos para reduzir a pegada de produção de alumina, o que permite à Hydro
fortalecer nossa posição em alumínio de baixo carbono. Esperamos nos tornar
parceiros da Glencore e de sua ampla experiência industrial em metais e
mineração para desenvolver ainda mais a Alunorte”, disse Aasheim. Ele espera
que em 2025, a Alunorte se torne líder no fornecimento de alumina de baixo
carbono.
Um
terço da bauxita necessária para atender a capacidade máxima de produção da
Alunorte, de 6,3 milhões de toneladas, continuará a ser fornecida pela MRN, mas
o maior volume virá das minas de Paragominas, muito mais próximas, através de
mineroduto até a refinaria de Barcarena. A Hydro é a única proprietária dessas
jazidas.
Ela
continua a ter quase metade das ações da Albrás, vizinha à Alunorte, no distrito
industrial de Barcarena, a 50 quilômetros de Belém, que é a oitava maior
produtora de alumínio do mundo. Um consórcio de empresas japonesas tem pouco
mais de 50% das ações.
As
bruscas e importantes transformações em um único dia surpreenderam até mesmo
quem acompanha o setor de bauxita-alumina-alumínio no Brasil e,
especificamente, no Pará. Mas as mudanças já vêm de mais tempo. A mineradora
anglo-australiana South32, por exemplo, se tornou, no ano passado, a segunda
maior acionista da MRN. A South surgiu em 2015, no lugar da BHP, já como uma
das líderes mundiais do mercado de alumínio. A empresa é sócia da Alcoa na
fábrica de alumínio da Alumar, em São Luís do Maranhão, com 40% do controle
acionário.
A
Alcoa Alumínio, a Alcoa World Alumina e a Alcoa World Alumina Brasil
transferiram a totalidade das suas ações ordinárias e preferenciais à
mineradora, cuja participação passou de 15% para 33%. Dos 2,2 bilhões de reais
que a MRN faturou vendendo para seus sócios, a South32 foi o maior cliente,
pagando R$ 723 milhões. Em termos nominais, a partilha ficou dividida ao meio
entre empresas nacionais e estrangeiras. Em 31 de dezembro de 2022, o capital
da empresa era de quase R$ 504 milhões.
Mas
como há participação estrangeira na antiga estatal, o peso real pode ficar mais
para as multinacionais. Por deterem um mínimo de 5% das ações ordinárias, todas
as três, que agora serão sócias majoritárias têm direito a indicar um membro no
Conselho de Administração. Além disso, cada ação ordinária dá direito a um voto
nas decisões tomadas. Podem não mandar sozinhos, mas podem brecar decisões que
os contrariarem.
Todos
esses arranjos e movimentações indicam uma reorganização importante no polo de
alumínio mais importante do país, no Pará. Mas os paraenses quase nada sabem sobre
o que está acontecendo diante dos seus olhos. Os documentos da operação não
foram fornecidos e as informações são escassas. A história da implantação da
atividade industrial que mais utiliza alumínio muda de novo.
Tribunal federal suspende obras da
Eletronorte em terras indígenas
São
nulos e extintos — e, portanto, não produzem efeitos jurídicos — os atos que
tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse de terras indígenas, ou a
exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes.
Com
esse entendimento, a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em
julgamento de agravo de instrumento contra decisão da 8ª Vara Federal do
Maranhão, decidiu favoravelmente ao Conselho Supremo de Caciques e Lideranças
da Terra Indígena Cana Brava Guajajara para que as Centrais Elétricas do Norte
do Brasil (Eletronorte) suspendam toda e qualquer atividade no território.
A
decisão suspende obras e licenças concedidas para as linhas de transmissão
500KV Tucuruí-Marabá-Imperatriz-Presidente Dutra, uma vez que o empreendimento
abrange terras indígenas.
No
acórdão, o desembargador relator, Souza Prudente, determinou ainda que o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
não deverá conceder novas licenças ambientais ao empreendimento até que seja
feito estudo do componente indígena (ECI), com consulta prévia à comunidade
afetada, como prevê a Constituição Federal, sob pena de multa de R$ 100 mil por
dia de atraso.
O
TRF-1 determinou que caberá ao Ibama e à Fundação Nacional dos Povos Indígenas
(Funai) a fiscalização do cumprimento da ECI e de possíveis impactos sobre a
concessão da autorização sobre os indígenas e sua cultura.
"Assim
posta a questão e considerando os lúcidos fundamentos lançados no parecer
ministerial em referência, nas razões expostas no agravo interno interposto
pelo recorrente e no pedido de reconsideração por ele formulado, notadamente o
noticiado estado de miserabilidade a que se encontram submetidos os indígenas
atingidos pelos efeitos da instalação do empreendimento em referência, sem a
observância do devido processo legal, inviabilizando a fonte alternativa de
subsistência das comunidades, ora privada da fruição dos recursos ambientais,
essenciais à sua subsistência física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições, em flagrante violação ao princípio da dignidade da pessoa humana,
impõe-se a concessão da tutela de urgência recursal postulada", escreveu o
relator.
"Com
essas considerações e no exercício do juízo de retratação, defiro o pedido de
antecipação da tutela recursal postulada na inicial e, por conseguinte,
determino: a suspensão incontinenti de toda e qualquer atividade nas Terras
Indígenas Canabrava/Guajajara, Rodeador, Lagoa Comprida e Urucu/Juruá, bem
assim das licenças já concedidas ao empreendimento Linhas de Transmissão 500KV
Tucuruí-Marabá-Imperatriz-Presidente Dutra", afirmou o desembargador.
Fonte:
Amazônia Real/Conjur
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