O que Biden
alcançou (e o que não) no primeiro mandato
O
que já era há muito tempo especulado tornou-se oficial nesta terça-feira
(25/04): o presidente dos EUA, Joe Biden, vai ser candidato à
reeleição na eleição presidencial de 2024. Mas o que ele alcançou no primeiro
mandato?
·
Redução do desemprego
Principalmente
a pandemia de
covid-19 levou
a uma grande alta do desemprego nos Estados Unidos em 2020, para mais de 14%.
A
economia gerou muito mais postos de trabalho do que o esperado. Os dados de
janeiro de 2023 do Departamento de Trabalho superaram todas as expectativas,
com a criação de 517 mil novos empregos, levando o desemprego para 3,4%. É o
nível mais baixo desde maio de 1969.
·
Investimentos em tecnologia
Com
incentivos de 52 bilhões de dólares, no âmbito da chamada Lei dos Chips (Chips
and Science Act), Biden ajudou a indústria doméstica de chips a alavancar a
produção de semicondutores.
Produtos
de alta tecnologia, como chips de computadores, baterias e carros elétricos,
deverão novamente ser made in USA, com incentivos e apoios do governo.
Cadeias
de produção deverão ser garantidas com incentivos a investimentos e políticas
industriais ativas.
Os
primeiros resultados já puderam ser vistos: todos os grandes fabricantes
mundiais de chips e baterias anunciaram investimentos milionários nos Estados
Unidos.
·
Proteção ambiental
Subsídios,
créditos fiscais, empréstimos: com cerca de 369 bilhões de dólares, o governo
quer combater a crise climática ao longo dos próximos dez anos, no âmbito da
Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act, ou IRA), de agosto de
2022.
A
produção de energias renováveis deverá ser ampliada, a eficiência energética de
residências deverá ser melhorada, e as emissões de usinas a gás e carvão,
reduzidas.
Um
americano que decidir comprar um carro elétrico usado receberá um subsídio de 4
mil dólares. Se for um carro novo, de 7.500. Com isso, os EUA querem reduzir
suas emissões em 40% até 2030.
·
Saúde
A
mesma lei também prevê investimentos de 64 bilhões de dólares no sistema de
saúde dos Estados Unidos. A ideia é ajudar os cidadãos com os custos de planos
privados de saúde e também reduzir os preços de medicamentos. Também as
contribuições próprias são reduzidas: um paciente com diabetes precisa pagar
apenas 35 dólares por mês pela sua insulina.
·
Renovação da infraestrutura
O
pacote para a infraestrutura, aprovado em novembro por maioria de votos dos
dois partidos, prevê cerca de 1 trilhão de dólares. Estradas, pontes e
ferrovias, bem como portos e aeroportos em todo o país deverão ser renovados, e
áreas rurais deverão receber internet de banda larga. O pacote inclui também
mais estações de recarga de carros elétricos e incentivos para ônibus
elétricos.
·
Casamento homoafetivo
Em
dezembro de 2022, Biden assinou a lei para
proteção do casamento homoafetivo, que obriga estados a reconheceram
alianças seladas em outros estados americanos.
Além
disso a lei elimina um trecho que definia o casamento como a união entre um
homem e uma mulher, já classificado de inconstitucional.
Biden
fez história já ao entrar na Casa Branca, quando nomeou como secretário
dos Transportes um homem declaradamente homossexual, Pete
Buttigieg.
·
Retomada das relações transatlânticas
Depois
de o antecessor, Donald Trump, favorecer ações nacionais isoladas e até mesmo
ameaçar com a saída dos Estados Unidos da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan), Biden retomou a cooperação internacional e, com isso, o
tradicional rumo da política externa americana.
Os
Estados Unidos assumiram a liderança no apoio conjunto, com a União Europeia, à
Ucrânia depois da invasão da Rússia. Desde o início da guerra, os EUA já
ofereceram mais de 70 bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia.
·
Apenas um leve endurecimento da lei de armas
Biden
chamou de importante a lei de proteção contra a violência por armas de
fogo, que ele
assinou em junho de 2022, mas reconheceu que esperava mais.
O
acordo entre democratas e republicanos prevê que compradores de armas com menos
de 21 anos sejam mais fortemente controlados. Incentivos financeiros devem
fazer com que estados retirem temporariamente as armas de portadores
potencialmente perigosos.
Além
disso, um pacote bilionário deverá tornar as escolas mais seguras e garantir um
melhor atendimento psiquiátrico. Mas: a proibição de fuzis de assalto foi
bloqueada pelos republicanos.
Com
os atentados em Uvalde, no Texas, e
em Buffalo, em Nova York, a
lei se mostrou aquém das expectativas.
·
Sem direito nacional ao aborto
Biden
não conseguiu implementar muitas de suas promessas de campanha. O crédito
fiscal ampliado para crianças não foi renovado, o programa de créditos
estudantis foi suspenso, e a reforma da polícia não avançou. E Biden e o
Partido Democrata não conseguiram tornar o direito ao aborto nacional. A
Suprema Corte, predominantemente conservadora, derrubou o direito
constitucional ao aborto em junho de 2022.
·
Fiasco na retirada do Afeganistão
O
ponto baixo da presidência de Biden foi a caótica retirada de tropas americanas
do Afeganistão. O mundo inteiro viu as imagens de afegãos que tentavam se
agarrar aos aviões dos EUA no aeroporto de Cabul. Biden queria encerrar a
presença americana no Afeganistão sem barulho, mas o resultado foi um fiasco.
Muito
criticada foi a insistência de Biden em encerrar a presença americana ainda
antes de 11 de setembro de 2021 (20 anos depois do 11 de Setembro), o que,
segundo muitos analistas, favoreceu o retorno ao poder do grupo fundamentalista
Talibã. Em meio à retirada, um atentado
suicida no aeroporto de Cabul matou cerca de 170 civis afegães e 13
soldados dos EUA.
·
Questão migratória em aberto
Depois
do governo Trump, Biden prometera uma política migratória mais humana para a
fronteira sul dos Estados Unidos. Ele colocou a vice-presidente
Kamala Harris no
posto de encarregada especial de migração com a missão de conter a migração
ilegal.
Até
aqui, a missão fracassou. É verdade que crianças não são mais separadas dos
pais na fronteira e colocadas em campos que lembram prisões, mas famílias
continuam sendo separadas.
Também
deportações aceleradas sem verificação jurídica voltaram a ser rotina. E o
número de pessoas que chegam todos os dias à fronteira se manteve alto —
foram 8 mil em dezembro passado.
A
nova abordagem de Biden: até 30 mil migrantes por mês, vindos da Venezuela, da
Nicarágua, de Cuba ou do Haiti, podem entrar de forma legal nos EUA, para
ficarem por dois anos, se passarem por um controle rigoroso de antecedentes. Em
contrapartida, 30 mil imigrantes ilegais desses países são deportados.
Ø
Biden
só é boa opção como antídoto a Trump. Por Ines Pohl
Os
presidentes americanos gostam de se ver como "os homens mais poderosos do
mundo" (até o momento não houve nenhuma mulher). Mas – para além da
questão de se, na competição com a China, os Estados Unidos ainda são realmente
a nação mais influente do planeta – o poder do chefe da Casa Branca dentro de
seu próprio país é bastante restrito.
No
sistema bipartidário, para alcançar êxitos políticos duradouros, o chefe de
Estado precisa encontrar meios de negociar consensos com a oposição. Só assim
se consegue aprovar leis: caso contrário, ele até pode assinar um monte
decretos, mas seu sucessor também poderá anulá-los com uma canetada só. Como
aconteceu com Acordo do
Clima de Paris sob
o antecessor de Joe Biden, Donald Trump.
No
contexto destrutivo do clima básico atual, o primeiro mandato de Joe Biden foi uma
história de sucesso do ponto de vista político. Embora para a ala de esquerda
progressista do Partido Democrata, haja muito que não foi longe o suficiente,
ele fez passar projetos importantes de infraestrutura, de que o país ainda se
beneficiará por décadas.
Sob
o rótulo do combate à inflação, Biden fez aprovar um incentivo à economia com
traços protecionistas, não muito diferente da doutrina "America first"
de Trump. Os medicamentos também ficaram mais baratos para milhões de
americanas e americanos.
Ele
também conseguiu impor sua linha na política externa: o volumoso apoio
financeiro à Ucrânia, dos cofres
americanos, é também mérito do democrata. Desde o começo da guerra, os EUA
investiram 71 bilhões de dólares na luta contra a agressora Rússia.
Como
demonstra seu decidido engajamento pelo país sob ataque e pela Otan, Joe Biden
é um dos últimos "grandes transatlânticos". Portanto sua eleição
seria uma boa notícia para a Alemanha, a Europa e toda a aliança ocidental,
ainda mais em tempos de guerra em solo europeu.
·
Kamala Harris, uma vice fraca
Mas,
aos 80 anos de idade, já sendo o chefe de Estado mais idoso da história
americana, ele conseguirá
mais uma vez,
ainda mais tendo a seu lado a vice Kamala Harris? Caso Biden falte, a pouco
apreciada democrata teria que assumir no lugar dele. Nas próximas
presidenciais, portanto, a decisão é também sobre ela como eventual presidente
substituta.
A
crer nas pesquisas de opinião mais recentes, Biden só tem uma chance real se
Donald Trump vencer as primárias republicanas e for seu oponente em novembro de
2024. Como no pleito anterior, para grande parte do eleitorado americano, o
democrata, com sua confiabilidade e experiência, representa o menor dos males.
Embora
no momento Trump lidere diversas consultas da ala republicana, sua candidatura
está longe de assegurada. Correm contra ele acusações formais e ameaças de
processo por fraude, sonegação de impostos e incitação popular. E, em especial
nos meios econômicos, há reticência em confiar no homem que, como nenhum outro
presidente americano antes dele, levou o país à beira do golpe de Estado.
Outras/os
candidatas/os republicanas/os vão se aquecendo para a disputa. A ex-embaixadora
nas Nações Unidas Nikki Haley já anunciou sua candidatura. Há o
ultraconservador governador da Flórida, Ron DeSantis. E o senador da Carolina
do Sul Tim Scott, que me parece ter grandes chances, pelo menos no momento.
É
altamente questionável se, numa campanha estafante e em formatos de debate
altamente exigentes, o velho, "obsoleto" Biden conseguirá se impor
contra essa nova geração.
·
Tudo, menos Trump
Do
ponto de vista dos democratas, é um jogo arriscado apostar no antagonismo de
Trump. É bem possível que desta vez o partido perca a Casa Branca por superestimar
o republicano.
Não
se discute: Joe Biden fez por merecer o cargo. Não só por ter evitado mais um
mandato de Trump, mas por, graças a sua experiência, implementar projetos que
poderão realmente contribuir para melhorias nos EUA. Sobretudo com seus pacotes
de investimentos, ele alcançou mais mudanças do que contavam até mesmo seus
próprios correligionários.
Mas
a política não é justa. E Biden não seria o primeiro líder de cujos êxitos quem
vai tirar proveito político é o seu sucessor. O fato de os democratas apostarem
nele para evitar de todo modo a volta de Trump mostra quão grande é o medo que
este inspira. Do ponto de vista internacional, é quase de um gesto nobre.
Fonte:
Deutsche Welle
Nenhum comentário:
Postar um comentário