Novas epidemias de
chikungunya incapacitam e matam no Brasil, revela estudo
O
aumento da incidência e distribuição geográfica de doenças como chikungunya e dengue,
transmitidas pelo Aedes aegypti, representa um importante problema
de saúde pública na região das Américas. O alerta foi feito pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
A
dengue é responsável pelo maior número de casos no continente, com epidemias
ocorrendo a cada três a cinco anos. Embora a dengue e a chikungunya sejam endêmicas na
maioria dos países da América Central, América do Sul e Caribe, na atual
temporada de verão, o aumento da transmissão e a expansão dos casos de chikungunya
foram observados além das áreas históricas de transmissão.
De
acordo com a OMS, 2023 mostra intensa transmissão de
dengue. Além disso, são esperados maiores índices de transmissão nos próximos
meses no hemisfério Sul, devido às condições climáticas favoráveis à
proliferação dos mosquitos.
Houve
2,8 milhões de casos de dengue relatados nas Américas em 2022, o que representa um aumento
de mais de duas vezes quando comparado aos 1,2 milhão de casos relatados em
2021. A mesma tendência crescente foi observada para a chikungunya, com uma
alta incidência de inflamação no cérebro (meningoencefalite) possivelmente
associada à chikungunya.
No
nível regional, a OMS avalia o risco como alto devido à presença generalizada
de mosquitos vetores, o
risco contínuo de doenças graves e até morte e a expansão fora das áreas
históricas de transmissão, onde toda a população, incluindo grupos de risco e
profissionais de saúde, podem não estar cientes das manifestações clínicas da
doença, incluindo quadros graves.
·
Panorama epidemiológico no Brasil
Um
estudo internacional detalha a disseminação do vírus chikungunya (CHIKV) desde
sua introdução no país há dez anos. A pesquisa, que conta com a participação
da Universidade de São Paulo (USP), faz
análise de 253.545 casos confirmados em laboratório entre 2013 e 2022.
Os
dados sugerem que a doença se distribuiu pelo território brasileiro de forma
heterogênea, sendo que cidades mais afetadas apresentaram alguma proteção a
novos surtos, enquanto municípios menos expostos a ondas anteriores
permaneceram mais suscetíveis. Os resultados foram publicados no periódico
científico The Lancet Microbe.
“O
CHIKV é uma grande ameaça à saúde pública global, e o
vírus é transmitido principalmente entre humanos por mosquitos da
espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, os
mesmos vetores da dengue e da Zika. Durante os últimos 20 anos, a chikungunya
teve mais de 10 milhões de casos relatados em mais de 125 países e
territórios”, afirma o virologista William Marciel de Souza, da University of
Texas Medical Branch, dos Estados Unidos, primeiro autor do artigo em
comunicado.
A
doença é caracterizada por sintomas como febre alta de início repentino e dores
intensas nas articulações. Apesar das semelhanças nos sintomas, a principal
diferença entre a dengue e a chikungunya é a dor nas articulações, muito mais
intensa na chikungunya, afetando principalmente pés e mãos, geralmente nos
tornozelos e pulsos.
O
diagnóstico deve ser feito por um médico e pode ser confirmado por exames laboratoriais específicos,
que podem ser feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Como a doença é
transmitida por mosquitos, a medida de prevenção inclui a eliminação dos
criadouros nas casas e vizinhança, que consistem basicamente em locais de
acúmulo de água parada.
“A
chikungunya é uma doença febril tipicamente caracterizada por sinais e sintomas humanos
agudos e crônicos, geralmente com artralgia grave [dor nas articulações],
muitas vezes crônica e incapacitante, mas também incluindo algumas complicações
neurológicas e morte. Atualmente não há vacinas licenciadas ou medicamentos
antivirais disponíveis para prevenir ou tratar a infecção”, explica o
pesquisador.
Os
pesquisadores estimam que 1,3 bilhão de pessoas vivem em áreas de risco para
transmissão do vírus chikungunya, e o Brasil é o país com maior ocorrência de
casos nas Américas.
“Neste
estudo epidemiológico, usamos dados de sequenciamento genômico, informações do
vetor do vírus, o Aedes
aegypti, e dados clínicos agregados de casos de chikungunya no Brasil, o
que representa mais de 250 mil casos confirmados por exames laboratoriais. Em
seguida, avaliamos a dinâmica espaço-temporal da chikungunya no Brasil por meio
de séries temporais, mapeamento, distribuição de idade e sexo, letalidade e
análises genéticas, entre outros fatores”, diz.
Entre
março de 2013 e junho de 2022, foram notificados 253.545 casos de chikungunya
confirmados em laboratório em 3.316 (59,5%) dos 5.570 municípios, distribuídos
principalmente em sete ondas epidêmicas de 2016 a 2022. A pesquisa revela que o
Ceará foi o estado mais afetado, com 77.418 casos durante as três maiores
ondas epidêmicas, ocorridas em 2016, 2017 e 2022.
“Assim,
sequenciamos os genomas do vírus e identificamos que a recorrência de
chikungunya em 2022 no Ceará, após um hiato de quatro anos, foi associada a uma
nova introdução de uma linhagem leste-centro-sul-africana, provavelmente
originária de outros estados brasileiros. O estudo também estima que essa nova
linhagem de CHIKV foi introduzida no Estado entre meados e final de 2021”,
acrescenta Souza.
“Com
base na análise epidemiológica, identificamos que as recorrências de
chikungunya no Ceará, Tocantins e Pernambuco foram limitadas a municípios com
poucos ou nenhum caso relatado nas ondas epidêmicas anteriores, indicando que a
heterogeneidade espacial da disseminação do CHIKV e a imunidade da população
pode explicar o padrão de recorrência no país”, aponta o especialista.
No
Ceará, estado com o maior número de casos de chikungunya (77.418 casos)
registrados no país, o número de mortes pela doença nos últimos dez anos foi
superior ao da dengue. De acordo com o estudo foi 1,3 óbito por mil casos
diagnosticados (a taxa de mortalidade da dengue é de 1,1 por mil).
De
acordo com os pesquisadores, o panorama traçado pelo estudo indica que as
subsequentes epidemias de chikungunya não serão encerradas sem intervenções de
saúde pública – como evidência, citam o surgimento de uma nova onda este ano,
desta vez em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Tocantins.
De
acordo com o virologista, os dados sugerem que as populações dos municípios
mais afetados pelas ondas epidêmicas de chikungunya apresentaram algum nível de
proteção imunológica contra a doença e transmissão que impediu temporariamente
a recorrência de surtos explosivos. Em contraste, as populações de municípios
menos expostos a ondas anteriores permaneceram mais suscetíveis. O que resulta
na heterogeneidade geográfica da dinâmica de chikungunya no Brasil.
“Nosso
estudo mostra que as epidemias de chikungunya provavelmente continuarão a
ocorrer se nenhuma intervenção for implementada, causando grandes ondas
epidêmicas com milhares de casos e mortes devido à heterogeneidade geográfica
associada à disseminação ou recorrência do vírus”, alerta Souza. “Por fim,
destacamos que esses resultados serão úteis para informar o setor de saúde
pública para antecipar e prevenir futuras ondas epidêmicas no país”, completa.
Ø
Casos de chikungunya
crescem 50% no Brasil em 2023; saiba como prevenir
Os
casos de chikungunya aumentaram de
maneira expressiva no Brasil em 2023. De acordo com dados do Ministério da
Saúde, até o dia 20 de abril foram registrados 80.823 casos prováveis de
chikungunya no país, em quase 2 mil municípios, com 17 óbitos confirmados e 31
em investigação.
Nos
três primeiros meses de 2023, houve um crescimento de 97% nas notificações da
doença em comparação com o mesmo período de 2022. Em relação a abril, a alta é
de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o
ministério, o número de casos prováveis de chikungunya no Brasil em 2023
ultrapassou o limite máximo esperado, considerando a série histórica.
O
informe mais recente do ministério, divulgado na quinta-feira (20), aponta que
a região Sudeste apresenta o maior coeficiente de incidência. Os estados com
maiores números de casos são Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul
e Espírito Santo.
Em Minas Gerais, por exemplo,
foram registrados 48.794 casos prováveis de chikungunya, dos quais 18.494 foram
confirmados. Até o momento, foram confirmados 11 óbitos pela doença no estado e
outras 13 estão em investigação.
Já
em Santa Catarina, o último informe
epidemiológico da secretaria de Saúde aponta que foram notificados 299 casos
suspeitos de chikungunya no estado. Desses, 18 foram confirmados. Na comparação
com o mesmo período do ano passado, quando foram confirmados seis casos de
chikungunya no estado, observa-se que em 2023 houve um aumento de 200% de
confirmados.
As
mortes confirmadas de chikungunya também estão concentrados na região Sudeste.
O perfil dos óbitos confirmados é principalmente de homens (58,8%) acima de 69
anos (70,6%).
·
Emergência
Para
monitorar o aumento de casos dengue, Zika e chikungunya no país, o Ministério da Saúde instalou, em
março, o Centro de Operações de Emergências (COE), com o objetivo de elaborar
estratégias de controle e redução de casos graves e óbitos.
“Identificamos
crescimento em alguns estados, o que nos deixa alerta. Já estamos enviando
equipes de campo para traçar um diagnóstico da situação nessas áreas e vamos
reforçar o monitoramento do cenário das arboviroses em todo o país. Nossa
prioridade é sensibilizar a população, para que assim possamos controlar o
avanço da transmissão dessas doenças”, destacou Alda Maria da Cruz, diretora do
Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, em comunicado.
Até
o dia 20 de abril, foram notificados 799.870 casos prováveis de dengue, em 4.456 municípios. Desse total, 8.144
foram casos graves e com sinais de alarme. O índice representa um aumento de
35% em relação ao mesmo período do ano passado.
A
região Norte apresenta o maior coeficiente de incidência de Zika, com destaque para Espírito Santo,
Tocantins e Acre. Foram registrados até o momento no país 6.295 casos prováveis
de Zika, em 538 municípios, um aumento de 289% em relação a abril de 2022.
Fonte:
CNN Brasil
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