REFORMA TRIBUTÁRIA:
Sistema de cashback devolverá imposto aos mais pobres
Dois
benefícios foram criados na reforma tributária com o objetivo de promover a
justiça fiscal diretamente com o cidadão. Um deles é o cashback, um mecanismo
que possibilitará a devolução de parte do valor do imposto pago pelo consumidor
de baixa renda em produtos essenciais.
Esse
mecanismo substituirá as atuais desonerações tributárias, em que a redução de
impostos beneficia a todos, independente da classe social. Com o cashback, no
entender do relator da reforma na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB),
promove-se a destinação direta de recursos a quem realmente precisa.
A
outra medida, que não constava anteriormente do relatório, mas foi inserida
durante o processo de negociação, foi a isenção dos produtos da cesta básica. O
texto final estabelece a criação da Cesta Básica Nacional de Alimentos, cujos
produtos terão alíquota zerada. A relação de todos os produtos que comporão a
cesta será definida posteriormente, por meio de um projeto de lei complementar.
Atualmente,
cada estado define a sua cesta básica e decide sobre a isenção do ICMS.
"Nós estamos criando a cesta básica nacional de alimentos. Essa cesta
básica tem alíquota zero. É o que estamos colocando no texto para que ninguém
fique inventando alíquota e dizendo que a gente vai pesar a mão sobre o pobre.
Não posso crer que tenha um parlamentar nesta Casa que vote contra os mais
pobres", afirmou Ribeiro, ao explicar a inclusão deste dispositivo no
relatório.
• Transição em sete anos
O
relatório prevê que a transição para o novo sistema ocorra em sete anos,
começando em 2026, com uma "fase teste" tanto para o IVA nacional
(CBS) e quanto para o subnacional (IBS).
Em
2027, PIS e Cofins serão extintos, e a alíquota do IPI será reduzida a zero,
com exceção de produtos que também tenham industrialização na Zona Franca de
Manaus (ZFM). A partir de 2029 e até 2032 haverá a redução escalonada do ICMS e
do ISS. Ao mesmo tempo, O IBS será elevado gradualmente, até alcançar o mesmo
valor dos impostos que serão extintos totalmente em 2033. Neste período também
haverá a redução gradual dos incentivos fiscais promovidos pelos governos
estaduais.
O
texto ainda será apreciado pelo Senado, após o recesso parlamentar. Mas o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que não haverá muitas
dificuldades para aprovação. "Já recebi telefonema de senadores elogiando
o texto, dizendo que o relator da Câmara já atendeu a uma boa parte do pleito dos
senadores e, portanto, estão otimistas em relação a tramitação no Senado,"
disse Haddad ao lembrar que o relator da proposta, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB),
contemplou, em seu parecer, a PEC 110/2019, que vinha sendo debatida no Senado.
Efeitos da reforma tributária virão a
longo prazo, segundo analistas
Celebrada
como um acontecimento histórico para o país, a reforma tributária, cuja votação
no plenário da Câmara dos Deputados teve início na quinta-feira e só terminou
na madrugada desta sexta-feira (7/7), ainda é incógnita quanto a seus efeitos
imediatos no bolso do cidadão. Importantes pontos do relatório apresentado pelo
deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) só serão plenamente entendidos quando forem
regulamentados por meio de lei complementar.
É
o caso, por exemplo, da alíquota a ser cobrada nos tributos que estão sendo
criados e do chamado cashback, que prevê a devolução parcial de imposto, de
acordo com a renda do contribuinte.
A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 45/2019, aprovada na Câmara, não
diminui o percentual que o consumidor paga em impostos cada vez que vai comprar
um produto. Mas simplifica a maneira como é feita a cobrança das empresas e a
distribuição dos recursos entre estados e municípios.
Segundo
os defensores da reforma, que precisa passar por votação no Senado, os
benefícios ao cidadão surgirão posteriormente, por dois caminhos. Primeiro, a
partir do novo dinamismo que ela trará para a economia, podendo gerar mais
emprego e renda para a população.
• Tributação sobre renda e patrimônio
ficou para depois
Depois,
na segunda etapa da reforma, quando for discutida a taxação sobre renda e
patrimônio. Nessa fase, estarão em pauta temas como como tributação de grandes
fortunas, taxação de dividendos e correção da tabela de Imposto de Renda (IR).
O relatório aprovado ontem prevê que a reforma do IR seja enviada ao Congresso
Nacional em até 180 dias da promulgação do texto em discussão atualmente.
Neste
primeiro momento, a reforma mexe apenas na tributação sobre o consumo, que
envolve a relação entre empresa e governos, num emaranhado sistema de pagamento
de impostos e contribuições federais, estaduais e municipais, com cobranças em
diversas etapas da cadeia produtiva, além de 27 diferentes legislações a reger
o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), imposto estadual.
O
sistema é considerado obsoleto e inseguro do ponto de vista jurídico, o que
obriga empresas a gastar fortunas com contadores para dar conta do pagamento de
impostos e resgates posteriores.
Ao
comentar ontem a vitória expressiva, com quase 400 votos dos deputados, o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad disse que o atual sistema é um gargalo que
impede o desenvolvimento econômico do país. "A reforma trará aumento da
produtividade do trabalho e segurança jurídica para investimentos nacionais e
estrangeiros", observou Haddad.
• Simplificação facilita vida de empresas
A
principal conquista da atual fase da reforma é a criação de um Imposto sobre
Valor Agregado (IVA) dual. Houve resistência de vários governos estaduais que
se sentiam prejudicados por não poderem mais legislar sobre o ICMS. Atualmente,
cada governador decide a alíquota que vai incidir sobre os produtos fabricados
em seu estado e pode criar incentivos para atrair investidores, provocando a
chamada "guerra fiscal" entre estados.
Pela
proposta, o ICMS, imposto estadual, e o ISS, municipal serão unificados no
Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Já os tributos federais IPI, PIS e Cofins
serão substituídos pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). O relatório
também prevê que o imposto será cobrado no destino, ou seja, no estado
consumidor do bem ou serviço, e não na origem, onde é produzido.
Haverá
uma alíquota padrão, a ser definida por lei complementar e outra diferenciada,
que poderá ter redução de 60% para bens e serviços de alguns setores, como
transporte público e escolas. A proposta traz ainda a figura do Imposto
Seletivo, que incidirá sobre itens nocivos à saúde e ao meio ambiente.
Para
administrar o IBS, decidindo sobre a divisão dos recursos recolhidos entre
estados e municípios, será criado o Conselho Federativo, integrado por 27
representantes dos estados e o Distrito Federal, um para cada ente federado.
Os
municípios também serão representados por 27 membros, sendo que 14 votarão como
representantes do município, independentemente do seu tamanho, e outros 13
representando as cidades mais populosas.
• Fundos vão compensar estados
Com
o objetivo de reduzir as desigualdades regionais e sociais entre os entes da
Federação, o substitutivo criou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional
(FNDR), que deve chegar a R$ 40 bilhões até 2033. Os aportes serão feitos pela
União em valores que começam com R$ 8 bilhões em 2029.
Outro
fundo, o Fundo de Compensação, garante que os estados honrem os benefícios
fiscais de programas de incentivos feitos com o ICMS em anos passados,
convalidados até 2032. Os aportes de recursos também serão feitos pela União e
começam em R$ 8 bilhões em 2025, aumentam até R$ 32 bilhões em 2028 e, depois,
se reduzem progressivamente, até R$ 8 bilhões em 2032.
Reforma irá "revolucionar"
sistema tributário, diz especialista
Aprovada
em dois turnos entre a noite de quinta (6) e a madrugada desta sexta-feira (7),
a reforma tributária é bem avaliada por especialistas. O relatório do deputado
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), enviado ao Senado Federal, propõe a junção de cinco
tributos em dois impostos sobre Valor Agregado (IVAs). Um deles será gerenciado
pela União, outro terá a gestão compartilhada entre estados e municípios (IBS)
— a ideia é o chamado "IVA dual".
Na
avaliação de Pedro Abdo, advogado especialista em Direito Tributário do
escritório Lucas Terto Advocacia, a reforma vai “revolucionar” o sistema
tributário brasileiro.
“Na
minha opinião é uma proposta que vai revolucionar o sistema tributário do nosso
país porque hoje nosso sistema é complexo, ele é burocrático, ele é caro e
ineficiente então isso atrapalha as nossas indústrias e as nossas empresas e o
desenvolvimento do nosso país como um todo, é o sistema mais complexo do mundo.
A proposta é boa e fruto de várias anos de estudo para promover uma melhora
substancial na no nosso ordenamento jurídico no que tange ao direito tributário
como um todo”, avaliou.
Abdo
destaca ainda que a reforma pode ser um potencializador da economia brasileira
e pode diminuir desigualdades e gerar crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) do país.
“São
muitos estudos que indicam um crescimento exponencial do PIB em relação só só
em decorrência da aprovação dessa reforma uma diminuição da desigualdade, né? O
índice Gini, que mede a desigualdade, espera-se que haja um melhoramento na
casa de 20% né? Sobretudo nas pessoas que ganham até um salário mínimo. Aumento
consequentemente do número de empregos, redução da desigualdade regional entre
os estados. Vai haver simplificação do nosso sistema. Hoje nosso sistema é
caótico ninguém entende. Ninguém sabe quanto paga de imposto. Então essa
questão vai ser mais transparente as empresas vão diminuir os custos para
entender, né os custos com a operacionalização do nosso sistema tributário
atual”, explicou.
O
especialista ainda definiu que a reforma, além de trazer uma ideia de
progressividade ao sistema tributário brasileiro, onde os que ganham mais
dinheiro pagam impostos e os mais pobres pagam menos. Ele ainda desmentiu os
argumentos de parlamentares contrários à aprovação do texto de Aguinaldo, que
diziam que a PEC iria aumentar o preço dos alimentos.
“O
nosso sistema vai ficando cada vez mais progressivo, onde os ricos pagam
proporcionalmente mais impostos que os mais pobres e mais simples então isso
acarreta no aumento da economia como um todo no aumento da nossa
competitividade na exportação. Então são inúmeros benefícios, vários, e ainda
tem muitos outros que eu poderia listar. Então, no geral, é uma reforma bastante
positiva para o nosso país e que não vai acarretar um aumento da carga
tributária para praticamente nenhuma área da economia”, disse
“Quanto
as críticas ao suposto aumento dos itens da cesta básica, é uma crítica
infundada, até mesmo antes da mudança proposta ontem, quando a ideia inicial
era ser uma alíquota reduzida de 50%. Mesmo durante essa ideia, os itens não
ficariam mais caros. Estudos mostram que na verdade o preço até diminuiria um
pouquinho, cerca de 2%”, concluiu Pedro Abdo, que ainda afirmou que devido à
inclusão de alíquota zero aos itens da cesta básica, haverá redução no preço
desses alimentos.
Mercado reage com otimismo à aprovação da
reforma tributária
O
mercado financeiro demonstrou mais otimismo, ontem, ao amanhecer com a Proposta
de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Tributária, a PEC 45/2019, aprovada
em dois turnos pela Câmara dos Deputados, após mais de 30 anos de discussões em
torno do tema no Congresso, com poucos avanços. Após fechar com queda de 1,78%,
na véspera — em meio à indecisão se haveria ou não votação e à sinalização do
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que vai retomar a
alta de juros nas próximas reuniões —, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3)
encerrou o pregão de com alta de 1,25%, a 118.897 pontos. O dólar comercial,
por sua vez, recuou 1,3% frente ao real e finalizou o dia cotado a R$ 4,866
para a venda.
De
acordo com analistas, a reação positiva reflete que, apesar dos vários
problemas na redação da PEC aprovada pelos deputados, principalmente os jabutis
que deixam o texto muito complexo, o atual sistema tributário ainda é muito
pior, com excesso de regras e de alíquotas, além de ser cumulativo na cadeia
total. Eles destacam que o processo de transição é bastante lento e o impacto
ainda é incerto, por conta da indefinição do valor da nova alíquota, mas
elogiam o fato de que haverá uma simplificação para os contribuintes com a
unificação dos regimes de 27 unidades da Federação.
"Acho
que é um divisor de águas, se a reforma aprovada ficasse só na unificação do
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) já teria valido a
pena. Imagina ir de carro de São Paulo ao Rio e não ter que ficar calculando a
quantidade de gasolina para não precisar encher o tanque no Rio porque lá o
ICMS é muito maior do que em São Paulo?", exemplificou Luis Otávio de
Souza Leal, economista-chefe da G5 Partner, empresa especializada em serviços
financeiros. "Agora, postos da fronteira vão perder clientes, uma prova de
que não é uma reforma que vai agradar a todos em um primeiro momento",
acrescentou.
"A
reforma tributária, comparada com o que a gente tem hoje, um sistema
completamente caótico e irracional, melhora de forma significativa, diminui
contenciosos fiscais e tributários, diminui dramaticamente a quantidade de
alíquotas, vai acabar essa história de cada produto praticamente ter uma
alíquota diferente, provocando uma briga infinita no Judiciário", avaliou
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
• Muitas isenções
Os
analistas demonstraram preocupação com o excesso de isenções tributárias e
reduções de alíquota, que ainda não estão definidas e podem ser bem altas.
Questionado sobre o assunto, o secretário extraordinário da Reforma Tributária
do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, não deu sinal do valor dessa alíquota.
Informou apenas que ela ainda será fixada durante o período de transição, até
2027, para a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), e entre 2029 e 2033,
para o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). "Na verdade, o texto deixa a
possibilidade de fazer ajustes finos nas alíquotas (para manter a carga
tributária) até 2033", disse.
Na
avaliação de Leal, da G5, a reforma ainda vai continuar confusa porque ela
precisará ser regulamentada por lei complementar, mas ele não tem dúvida de que
a alíquota, que ainda não está definida, deverá ficar acima de 25%, por conta
do excesso de isenções tributárias incluídas durante a votação. "Como
dizia Margaret Thatcher (ex-primeira-ministra britânica), se tem alguém
recebendo sem trabalhar é porque alguém está trabalhando sem receber",
citou o gestor.
Vale,
da MB, também demonstrou preocupação com o excesso de exceções incluídas no
texto, principalmente, às vésperas da votação na Câmara. "Os problemas
foram aparecendo desde o relatório inicial. Tem exceções demais. Setores demais
estão colocados ou em regimes específicos ou com corte significativo de
alíquota, que já era alta em 50%, e, agora, um corte de 60% na alíquota. Essas
exceções preocupam um pouco, porque não são setores pequenos, são setores que,
no final, eventualmente, a gente pode acabar tendo uma alíquota final maior do
que se imaginava antes para contemplar esses cortes colocados agora",
alertou. Ele torce para que esses jabutis sejam retirados pelo Senado Federal,
onde também será preciso a aprovação de três quintos de parlamentares da Casa,
em dois turnos.
• Mudanças no futuro
"O
ideal, obviamente, seria que o texto fosse mais parecido com o da PEC 45. A
gente não vai conseguir esse nível neste momento, mas é uma reforma inicial, um
momento inicial que pode, no futuro, ter ajustes na emenda constitucional que
demandem menos recursos políticos do que essa reforma, que é muito mais ampla e
muito mais desgastante", afirmou Vale. "A partir dessa base inicial
que a gente tem agora e, eventualmente, reformas adicionais que precisam ser
feitas no futuro sejam mais fáceis de acontecer. Isso é bastante positivo de se
pensar. Quer dizer, a gente está fazendo essa primeira grande reforma no
futuro, eventualmente precisa, vai precisar de ajustes. Mas, pelo menos, a
gente está passando por esse grande teste", acrescentou.
Tiago
Sbardelotto, economista da XP Investimentos, lembrou que os cinco tributos
unificados pela reforma respondem por mais de 40% da arrecadação do setor
público e também demonstrou preocupação com as alterações, porque elas
reduziram o potencial da reforma. Ele lembrou que a alíquota de referência
(padrão), varia entre 15%, em países em desenvolvimento, a 25%, em países mais
desenvolvidos. "Do lado negativo, ressaltamos que a ampliação do rol de
exceções pode contribuir para uma alíquota mais elevada. Do lado positivo, a
redução dos benefícios tributários e o incentivo à formalização da economia
pela adoção da não cumulatividade plena podem ajudar a se chegar a uma alíquota
menor", destacou. "Vale ressaltar que, na proposta final,
introduziu-se um artigo para assegurar que a carga tributária não será elevada.
No entanto, é preciso destacar que isso depende também da referência a ser
adotada", disse ele.
Basicamente,
a reforma vai unificar cinco tributos em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA)
dual. São três impostos federais — Programa de Integração Social (PIS),
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) —; um estadual — ICMS —; e um municipal —
Imposto Sobre Serviços (ISS). Dessa forma, serão criados a CBS, federal, e o
IBS, regional.
Fonte:
Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário