terça-feira, 11 de julho de 2023

Moisés Mendes: O tempo de cozimento de Bolsonaro é um dilema maior para a direita do que para a esquerda

A única grande dúvida agora é sobre o tempo de cozimento de Bolsonaro. Porque a falsa dúvida que existia até agora, sobre a utilidade dele para a direita, está desfeita.

Bolsonaro vivo e andando por aí só interessa à extrema direita, que precisa dele para continuar existindo com algum protagonismo marginal na política brasileira.

Os filhos, os militares obsessivos com minutas, joias e com o anticomunismo, os milicianos, a porção bandida do agro pop e os garimpeiros também querem Bolsonaro vivo.

Mas a direita, não. O resto, todo o resto, não precisa mais de Bolsonaro. Os empresários que precisam voltar a ganhar dinheiro, o agro não-fascista, a Faria Lima e o Centrão não querem saber dele.

Até prefeitos e vereadores da direita interiorana, das cidades médias aos grotões, já sabem que não ganham nada com um cabo eleitoral a caminho de novas condenações, agora na área criminal.

Esses entenderam as entrelinhas do que Tarcísio de Freitas disse no encontro do PL. O governador sugeriu que não ganha mais nada e só perde com o alongamento da vida de Bolsonaro.

Perdem todos os que, com Bolsonaro atravancando o caminho, atrasam a busca de novos rumos para a direita.

E aí entra a receita do cozimento e da intensidade da fervura. Bolsonaro morto já, ainda no inverno, interessa muito mais à direita do que às esquerdas, ao PT, ao governo ou a Lula.

Se acabarem com o sujeito agora, rejeitando explicitamente sua companhia, afrontando sua liderança moribunda e o empurrando para os cantos, a velha e a nova direita estarão libertas para repensar a vida.

Se o cozimento for mais lento, as esquerdas e o governo poderão assistir a um espetáculo previsível: a briga entre a base fiel de Bolsonaro e as bases de possíveis sucessores.

É o que já está se configurando, com os ataques de Ricardo Salles e Carluxo a Tarcísio, a Valdemar Costa Neto e aos parlamentares traidores do PL.

O embate de Bolsonaro com aliados que se dispersam é muito mais empolgante e devastador do que seria, com Bolsonaro já morto, o confronto entre os possíveis herdeiros do espólio entre si.

Nenhum outro espetáculo da política pode ser mais atraente hoje do que a briga da base raiz bolsonarista com os dissidentes em busca de autonomia e visibilidade nacional livres de Bolsonaro.

Mas tem o tempo de cozimento, decisivo em toda receita dos bons cozinheiros. Cada um tem o seu fogo, a sua pressa e a sua paciência. E além do tempo da política, temos o tempo da Justiça, que se mexe em várias frentes.

A única certeza é a de que Bolsonaro deve em algum momento ser totalmente contido, pela Justiça e pela política. Não só porque o país cobra, além da punição, a reparação. Mas porque a democracia não pode acolher, como parte do jogo, alguém que deseja destruí-la.

Bolsonaro deve voltar a ser o que era antes de 2018. Uma hiena sem turma, um figurante da política, dentro do cercadinho que lhe cabe no latifúndio da direita.

Os ricos e a classe média que adoeceram com Bolsonaro devem ter forças para buscar a cura e livrarem-se da imagem grotesca do indivíduo sem camisa no meio da sala.

Como diria Tarcísio de Freitas, o homem que explica, deixem que alguém da família explique o que deve ser feito para que o fim de Bolsonaro seja encarado como uma nova chance para a direita.

Desapaixonem-se, desapeguem-se, não vejam outro sentimento onde só existiu o ódio e seu derivados.

Apeguem-se a um Zema qualquer, mas não continuem dependentes de um sujeito derrotado, um inconveniente inútil e mais perigoso para a direita do que para as esquerdas.

 

Ø  Bolsonaro tem de convencer os aliados de que continua tão necessário quanto antes

 

Jair Bolsonaro esmerou-se por décadas em ser um deputado medíocre. Mostrou-se, porém, um candidato tão imprudente quanto bem-sucedido, ao encontrar numa audiência farta da mesmice produzida pela política ouvidos moucos para os absurdos que estava acostumado a proferir.

Na Presidência, provou-se inepto. Incapaz de repetir a astúcia que o levou a emudecer na reta final da campanha de 2018, tornou-se um produtor serial de complicações para si mesmo – e de adversidades para o País. Nada disso sacou-lhe o apoio das urnas. Se foi o primeiro presidente a não se reeleger, também mostrou que seu capital político, de tão grande, era capaz de resistir até a um governo seu. Perdeu por uma diferença pequena demais para ser ignorada.

É por isso que o real teste para Bolsonaro ainda se avizinha. Com a condenação que lhe retira a possibilidade de concorrer por longos oito anos, o ex-presidente tem de convencer seus aliados de que segue tão necessário quanto antes.

O deputado medíocre, que se reinventou num candidato bem-sucedido e num fenômeno eleitoral persistente, precisa metamorfosear-se em líder político. O jogo de sobrevivência do bolsonarismo começa agora.

Não faltará aos profissionais da política – leia-se Valdemar Costa Neto e próceres do Centrão – vontade de espremer até o talo sua capacidade de virar votos, enquanto repetem que pouco mudou. Não interessa ao PL desvalorizar o passe de Bolsonaro de imediato. Mas tampouco esse grupo irá titubear em abandoná-lo caso o bolsonarismo comece a minguar.

Será, portanto, responsabilidade de Bolsonaro manter-se como um ativo reluzente a seduzir o Centrão. E o início não parece alvissareiro. Quem está de fora não viu de pronto motociatas, aglomerações em aeroportos, tampouco onda de protestos e convocações significativas pelas redes sociais diante da cassação.

Não houve evento partidário nem ato de apoio de aliados políticos. Por medo, desinteresse ou estafa, a reação da militância bolsonarista foi até o momento, no mínimo, tímida.

Quem está próximo de Bolsonaro também antecipa dificuldades. Sem mandato desde janeiro, Bolsonaro parece perdido: ora recolhido, ora disposto a ir a público para defender-se dos seus muitos problemas judiciais. Em conversas privadas, externa consternação e tristeza, como se entendesse que a fatura chegou, me disse um aliado.

Mesmo tendo vitaminado o PL e feito o partido formar a maior bancada da Câmara, foi incapaz até o momento de organizar a oposição. Lula está mais preocupado em prever os passos de Arthur Lira do que se vacinar contra lances da oposição bolsonarista. Não faltam flancos a serem explorados em Lula 3. Falta estratégia a quem deveria antagonizá-lo.

Este mesmo Lula soube resguardar seu poderio político ao ser alijado do jogo eleitoral. Tinha ao seu lado uma militância histórica, um partido organizado e a certeza de que, sem relevância política, estaria perdido.

 Bolsonaro saiu derrotado da eleição e perdeu a chance de concorrer nas próximas eleições. Mas, se não souber jogar muito bem daqui para a frente, a pior derrota é a que ainda pode vir.

·         Carlos ataca presidente do Republicanos após fala sobre isolamento de Bolsonaro

Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) atacou o presidente do próprio partido, o deputado Marcos Pereira, após uma fala dele sobre o isolamento político de Jair Bolsonaro (PL). Sem mencionar Pereira de forma direta, ele usou o Twitter para criticar o trecho de uma entrevista do político.

Na imagem compartilhada pelo vereador, é possível ler o título de uma matéria escrita em cima de uma fala do deputado para o jornal O Globo. “‘Bolsonaro está isolado e é de extrema direita’, diz presidente do Republicanos”, segundo a chamada, que foi respondida por Carlos: “Tudo pela democracia!!! Viva a crença em Deus”.

Mas a fala, que também aparece na imagem, não foi suficiente e ele seguiu com os ataques no tuíte. “Essa raça aumentou a bancada e o poder devido às palavras e ações do Presidente Jair Bolsonaro e hoje falam assim. Será por quê? Acho que é porque creem no que pregam”, escreveu para acompanhar a foto.

<<<< Entenda o contexto da fala sobre Bolsonaro

O filho 02 do ex-presidente se revoltou com uma fala de Marcos Pereira após uma reunião sobre a Reforma Tributária, que ocorreu na última quinta-feira (6/7). Na ocasião, Jair Bolsonaro interrompeu o discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enquanto ele declarava apoio à mudança política.

“Os episódios de hoje (quinta-feira) não isolam Bolsonaro, porque ele já se isolou e vem se isolando pelo seu próprio comportamento. Entregou a eleição para o Lula (PT) por causa do comportamento dele. Vem se isolando quando começa a brigar com o Judiciário, quando lá no início do governo briga com o Parlamento, quando ele é contra a vacina”, destacou o presidente do Republicanos, que pontuou ainda que o político é de “extrema-direita”.

 

Ø  Racha do PL na votação da reforma tributária expõe desgaste de Bolsonaro

 

A votação da reforma tributária evidenciou o desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro no Partido Liberal (PL). Presidida por Valdemar Costa Neto, a sigla adotou Bolsonaro como presidente de honra da legenda e “mentor” das decisões tomadas pelas bancadas no Congresso Nacional.

A posição de Bolsonaro como conselheiro do partido foi intensificada após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) torná-lo inelegível por oito anos. Os últimos dias, no entanto, foram marcados por uma série de divergências dentro da sigla.

Desde que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou as tratativas para votar a reforma tributária, Bolsonaro se opôs ao projeto. Aliados do ex-presidente, no entanto, seguiram caminho contrário.

Apesar do histórico de oposição do estado de São Paulo à reforma tributária, Tarcísio de Freitas, governador do estado e ex-ministro de Bolsonaro, abriu diálogo com o governo federal e decidiu se posicionar a favor do projeto.

O movimento desagradou Bolsonaro. Em reunião com as bancadas federal e estadual do PL na quinta-feira (6/7), o ex-presidente chegou a interromper discurso de Tarcísio.

“Gente, a grande questão é construir um bom texto”, disse o governador de SP na ocasião. Bolsonaro pegou um microfone, nesse instante, e disse: “Se o PL estiver unido, não aprova nada”. “Eu tô tentando explicar… eu tô tentando explicar”, continuou o governador.

Além de ser alvo de Bolsonaro, Tarcísio foi hostilizado por outros nomes da legenda durante a reunião.

A situação causou desconforto no partido. Isso porque, apesar de ser filiado ao Republicanos, Tarcísio foi a aposta de Bolsonaro para o governo de São Paulo nas últimas eleições.

As críticas de Bolsonaro e da oposição à reforma não foram suficientes para atrapalhar a tramitação do texto. A matéria foi aprovada com folga na madrugada de sexta-feira (7/7): foram 382 votos favoráveis e 118 votos contrários no primeiro turno. No segundo, foram 375 a favor e 113 contra.

O resultado, no entanto, não foi mérito apenas da base governista. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), precisou articular com lideranças para garantir a aprovação do texto. Além disso, como moeda de troca, Lula liberou, em dois dias, R$ 7,5 bilhões em emendas parlamentares.

·         Traições

O clima desfavorável para o PL não foi marcado apenas pelo posicionamento de Tarcísio. Na Câmara, a bancada orientou que os parlamentares votassem contra o texto. Dos 99 deputados da legenda, 20 votaram a favor da reforma.

<<<< Veja a lista:

  • Antonio Carlos Rodrigues (SP);
  • Detinha (MA);
  • Giacobo (PR);
  • Icaro de Valmir (SE);
  • João Carlos Bacelar (BA);
  • João Maia (RN);
  • Josimar Maranhãozinho (MA);
  • Junior Lourenço (MA);
  • Júnior Mano (CE);
  • Luciano Vieira (RJ);
  • Luiz Carlos Motta (SP);
  • Matheus Noronha (CE);
  • Robinson Faria (RN);
  • Rosângela Reis (MG);
  • Samuel Viana (MG);
  • Tiririca (SP);
  • Vermelho (PR);
  • Vinicius Gurgel (AP);
  • Wellington Roberto (PB);
  • Zé Vitor (MG).

<<<< Desgaste

O cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa, avalia que, além de trazer uma exposição desnecessária para as divisões internas da legenda, o episódio expôs um desgaste para a figura de Bolsonaro como liderança do PL. “Uma coisa era o Bolsonaro presidente, com a caneta na mão. Outra é ele como um ex-presidente tornado inelegível até 2030”, ressalta.

André considera que o Partido Liberal, como maior bancada da Câmara dos Deputados e um grupo altamente heterogêneo, teria naturalmente divergências internas. Contudo, na avaliação dele, o racha ter sido exposto, como foi, faz com que o partido perca credibilidade diante do eleitor mais moderado.

Ele explica que a falta de homogeneidade na votação reflete a postura adotada no governo Bolsonaro, de terceirizar a administração. “Esse episódio mostra as limitações claras que ele tem. Eu imagino que rapidamente, em médio prazo, ele perderá mais [espaço] e pode se tornar uma figura quase irrelevante na cena política brasileira”, pontua.

“O Bolsonaro saiu muito mais desgastado. Se ele quer ser um grande cabo eleitoral e continuar na cena política mesmo que inelegível, ele vai ter que revisar suas ações”, afirma. “Na política, trabalhar com o fígado não funciona.”

·         Teste

O cientista político e professor da UDF André Rosa avalia que a votação da reforma tributária foi o primeiro grande teste de Bolsonaro como líder da oposição. “No meu entendimento, ele fracassou. Como sempre, ele tem um perfil de ir para o fronte sem considerar os eventuais riscos e contando com o acaso”, pontua.

“[O ex-presidente] mostra mais uma vez inabilidade, porque seria muito ingênuo, politicamente, pensar que a reforma tributária não passaria na Câmara após os bilhões em emendas liberados para o parlamento através do Executivo”, avalia. “Acredito que foi um erro de cálculo político do Bolsonaro.”

O professor de ciência política observa que o racha no PL é explicado pelo fato de parlamentares, na mesma linha de Tarcísio, terem defendido que se discute uma reforma tributária há praticamente 40 anos no Brasil e que nenhum governo foi capaz de aprová-la. Assim, o cálculo político considerou que, com a aprovação, o mérito seria de todos, e não apenas de Lula.

“Esse grupo que seguiu a linha narrativa do Tarcísio seguiu acertadamente. Nesse momento, Bolsonaro acaba se isolando, e quem mais ganhou com tudo isso foi o próprio Tarcísio”, analisa.

 

Fonte: Brasil 247/Agencia Estado/Metrópoles

 

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