Moisés Mendes: O
tempo de cozimento de Bolsonaro é um dilema maior para a direita do que para a
esquerda
A
única grande dúvida agora é sobre o tempo de cozimento de Bolsonaro. Porque a
falsa dúvida que existia até agora, sobre a utilidade dele para a direita, está
desfeita.
Bolsonaro
vivo e andando por aí só interessa à extrema direita, que precisa dele para
continuar existindo com algum protagonismo marginal na política brasileira.
Os
filhos, os militares obsessivos com minutas, joias e com o anticomunismo, os
milicianos, a porção bandida do agro pop e os garimpeiros também querem
Bolsonaro vivo.
Mas
a direita, não. O resto, todo o resto, não precisa mais de Bolsonaro. Os
empresários que precisam voltar a ganhar dinheiro, o agro não-fascista, a Faria
Lima e o Centrão não querem saber dele.
Até
prefeitos e vereadores da direita interiorana, das cidades médias aos grotões,
já sabem que não ganham nada com um cabo eleitoral a caminho de novas
condenações, agora na área criminal.
Esses
entenderam as entrelinhas do que Tarcísio de Freitas disse no encontro do PL. O
governador sugeriu que não ganha mais nada e só perde com o alongamento da vida
de Bolsonaro.
Perdem
todos os que, com Bolsonaro atravancando o caminho, atrasam a busca de novos
rumos para a direita.
E
aí entra a receita do cozimento e da intensidade da fervura. Bolsonaro morto
já, ainda no inverno, interessa muito mais à direita do que às esquerdas, ao
PT, ao governo ou a Lula.
Se
acabarem com o sujeito agora, rejeitando explicitamente sua companhia,
afrontando sua liderança moribunda e o empurrando para os cantos, a velha e a
nova direita estarão libertas para repensar a vida.
Se
o cozimento for mais lento, as esquerdas e o governo poderão assistir a um
espetáculo previsível: a briga entre a base fiel de Bolsonaro e as bases de
possíveis sucessores.
É
o que já está se configurando, com os ataques de Ricardo Salles e Carluxo a
Tarcísio, a Valdemar Costa Neto e aos parlamentares traidores do PL.
O
embate de Bolsonaro com aliados que se dispersam é muito mais empolgante e
devastador do que seria, com Bolsonaro já morto, o confronto entre os possíveis
herdeiros do espólio entre si.
Nenhum
outro espetáculo da política pode ser mais atraente hoje do que a briga da base
raiz bolsonarista com os dissidentes em busca de autonomia e visibilidade
nacional livres de Bolsonaro.
Mas
tem o tempo de cozimento, decisivo em toda receita dos bons cozinheiros. Cada
um tem o seu fogo, a sua pressa e a sua paciência. E além do tempo da política,
temos o tempo da Justiça, que se mexe em várias frentes.
A
única certeza é a de que Bolsonaro deve em algum momento ser totalmente
contido, pela Justiça e pela política. Não só porque o país cobra, além da
punição, a reparação. Mas porque a democracia não pode acolher, como parte do
jogo, alguém que deseja destruí-la.
Bolsonaro
deve voltar a ser o que era antes de 2018. Uma hiena sem turma, um figurante da
política, dentro do cercadinho que lhe cabe no latifúndio da direita.
Os
ricos e a classe média que adoeceram com Bolsonaro devem ter forças para buscar
a cura e livrarem-se da imagem grotesca do indivíduo sem camisa no meio da
sala.
Como
diria Tarcísio de Freitas, o homem que explica, deixem que alguém da família
explique o que deve ser feito para que o fim de Bolsonaro seja encarado como
uma nova chance para a direita.
Desapaixonem-se,
desapeguem-se, não vejam outro sentimento onde só existiu o ódio e seu
derivados.
Apeguem-se
a um Zema qualquer, mas não continuem dependentes de um sujeito derrotado, um
inconveniente inútil e mais perigoso para a direita do que para as esquerdas.
Ø
Bolsonaro
tem de convencer os aliados de que continua tão necessário quanto antes
Jair
Bolsonaro esmerou-se por décadas em ser um deputado medíocre. Mostrou-se,
porém, um candidato tão imprudente quanto bem-sucedido, ao encontrar numa
audiência farta da mesmice produzida pela política ouvidos moucos para os
absurdos que estava acostumado a proferir.
Na
Presidência, provou-se inepto. Incapaz de repetir a astúcia que o levou a
emudecer na reta final da campanha de 2018, tornou-se um produtor serial de
complicações para si mesmo – e de adversidades para o País. Nada disso
sacou-lhe o apoio das urnas. Se foi o primeiro presidente a não se reeleger,
também mostrou que seu capital político, de tão grande, era capaz de resistir
até a um governo seu. Perdeu por uma diferença pequena demais para ser
ignorada.
É
por isso que o real teste para Bolsonaro ainda se avizinha. Com a condenação
que lhe retira a possibilidade de concorrer por longos oito anos, o
ex-presidente tem de convencer seus aliados de que segue tão necessário quanto
antes.
O
deputado medíocre, que se reinventou num candidato bem-sucedido e num fenômeno
eleitoral persistente, precisa metamorfosear-se em líder político. O jogo de
sobrevivência do bolsonarismo começa agora.
Não
faltará aos profissionais da política – leia-se Valdemar Costa Neto e próceres
do Centrão – vontade de espremer até o talo sua capacidade de virar votos,
enquanto repetem que pouco mudou. Não interessa ao PL desvalorizar o passe de
Bolsonaro de imediato. Mas tampouco esse grupo irá titubear em abandoná-lo caso
o bolsonarismo comece a minguar.
Será,
portanto, responsabilidade de Bolsonaro manter-se como um ativo reluzente a
seduzir o Centrão. E o início não parece alvissareiro. Quem está de fora não
viu de pronto motociatas, aglomerações em aeroportos, tampouco onda de
protestos e convocações significativas pelas redes sociais diante da cassação.
Não
houve evento partidário nem ato de apoio de aliados políticos. Por medo,
desinteresse ou estafa, a reação da militância bolsonarista foi até o momento,
no mínimo, tímida.
Quem
está próximo de Bolsonaro também antecipa dificuldades. Sem mandato desde
janeiro, Bolsonaro parece perdido: ora recolhido, ora disposto a ir a público
para defender-se dos seus muitos problemas judiciais. Em conversas privadas,
externa consternação e tristeza, como se entendesse que a fatura chegou, me
disse um aliado.
Mesmo
tendo vitaminado o PL e feito o partido formar a maior bancada da Câmara, foi
incapaz até o momento de organizar a oposição. Lula está mais preocupado em
prever os passos de Arthur Lira do que se vacinar contra lances da oposição
bolsonarista. Não faltam flancos a serem explorados em Lula 3. Falta estratégia
a quem deveria antagonizá-lo.
Este
mesmo Lula soube resguardar seu poderio político ao ser alijado do jogo
eleitoral. Tinha ao seu lado uma militância histórica, um partido organizado e
a certeza de que, sem relevância política, estaria perdido.
Bolsonaro
saiu derrotado da eleição e perdeu a chance de concorrer nas próximas eleições.
Mas, se não souber jogar muito bem daqui para a frente, a pior derrota é a que
ainda pode vir.
·
Carlos
ataca presidente do Republicanos após fala sobre isolamento de Bolsonaro
Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ)
atacou o presidente do próprio partido, o deputado Marcos Pereira, após uma
fala dele sobre o isolamento político de Jair Bolsonaro (PL). Sem
mencionar Pereira de forma direta, ele usou o Twitter para criticar o trecho de
uma entrevista do político.
Na
imagem compartilhada pelo vereador, é possível ler o título de uma matéria
escrita em cima de uma fala do deputado para o jornal O Globo. “‘Bolsonaro está
isolado e é de extrema direita’, diz presidente do Republicanos”, segundo a
chamada, que foi respondida por Carlos: “Tudo pela democracia!!! Viva a crença
em Deus”.
Mas
a fala, que também aparece na imagem, não foi suficiente e ele seguiu com os
ataques no tuíte. “Essa raça aumentou a bancada e o poder devido às palavras e
ações do Presidente Jair Bolsonaro e hoje falam assim. Será por quê? Acho que é
porque creem no que pregam”, escreveu para acompanhar a foto.
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Entenda o contexto da fala sobre Bolsonaro
O
filho 02 do ex-presidente se revoltou com uma fala de Marcos Pereira após uma
reunião sobre a Reforma Tributária, que ocorreu na última quinta-feira (6/7).
Na ocasião, Jair Bolsonaro interrompeu o
discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), enquanto ele declarava apoio à mudança política.
“Os
episódios de hoje (quinta-feira) não isolam Bolsonaro, porque ele já se isolou
e vem se isolando pelo seu próprio comportamento. Entregou a eleição para o
Lula (PT) por causa do comportamento dele. Vem se isolando quando começa a
brigar com o Judiciário, quando lá no início do governo briga com o Parlamento,
quando ele é contra a vacina”, destacou o presidente do Republicanos, que
pontuou ainda que o político é de “extrema-direita”.
Ø
Racha
do PL na votação da reforma tributária expõe desgaste de Bolsonaro
A
votação da reforma tributária evidenciou o
desgaste do ex-presidente Jair Bolsonaro no Partido
Liberal (PL). Presidida por Valdemar Costa Neto, a sigla adotou Bolsonaro como
presidente de honra da legenda e “mentor” das decisões tomadas pelas bancadas
no Congresso Nacional.
A
posição de Bolsonaro como conselheiro do partido foi intensificada
após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) torná-lo inelegível por oito anos. Os últimos dias,
no entanto, foram marcados por uma série de divergências dentro da sigla.
Desde
que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou as tratativas para
votar a reforma tributária, Bolsonaro se opôs ao projeto. Aliados do
ex-presidente, no entanto, seguiram caminho contrário.
Apesar
do histórico de oposição do estado de São Paulo à reforma tributária, Tarcísio
de Freitas, governador do estado e ex-ministro de Bolsonaro, abriu diálogo com
o governo federal e decidiu se posicionar a favor do projeto.
O
movimento desagradou Bolsonaro. Em reunião com as bancadas federal e estadual
do PL na quinta-feira (6/7), o ex-presidente chegou a interromper discurso de
Tarcísio.
“Gente,
a grande questão é construir um bom texto”, disse o governador de SP na
ocasião. Bolsonaro pegou um microfone, nesse instante, e disse: “Se o PL
estiver unido, não aprova nada”. “Eu tô tentando explicar… eu tô tentando
explicar”, continuou o governador.
A
situação causou desconforto no partido. Isso porque, apesar de ser filiado ao
Republicanos, Tarcísio foi a aposta de Bolsonaro para o governo de São Paulo
nas últimas eleições.
As
críticas de Bolsonaro e da oposição à reforma não foram suficientes para
atrapalhar a tramitação do texto. A matéria foi aprovada com folga na madrugada
de sexta-feira (7/7): foram 382 votos
favoráveis e 118 votos contrários no primeiro turno. No segundo, foram 375 a
favor e 113 contra.
O
resultado, no entanto, não foi mérito apenas da base governista. O presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), precisou articular com lideranças para garantir
a aprovação do texto. Além disso, como moeda de troca, Lula liberou, em dois
dias, R$ 7,5 bilhões em emendas parlamentares.
·
Traições
O
clima desfavorável para o PL não foi marcado apenas pelo posicionamento de
Tarcísio. Na Câmara, a bancada orientou que os parlamentares votassem contra o
texto. Dos 99 deputados da
legenda, 20 votaram a favor da reforma.
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Veja a lista:
- Antonio Carlos
Rodrigues (SP);
- Detinha (MA);
- Giacobo (PR);
- Icaro de
Valmir (SE);
- João Carlos
Bacelar (BA);
- João Maia
(RN);
- Josimar
Maranhãozinho (MA);
- Junior
Lourenço (MA);
- Júnior Mano
(CE);
- Luciano Vieira
(RJ);
- Luiz Carlos
Motta (SP);
- Matheus
Noronha (CE);
- Robinson Faria
(RN);
- Rosângela Reis
(MG);
- Samuel Viana
(MG);
- Tiririca (SP);
- Vermelho (PR);
- Vinicius Gurgel
(AP);
- Wellington
Roberto (PB);
- Zé Vitor (MG).
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Desgaste
O
cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa, avalia
que, além de trazer uma exposição desnecessária para as divisões internas da
legenda, o episódio expôs um desgaste para a figura de Bolsonaro como liderança
do PL. “Uma coisa era o Bolsonaro presidente, com a caneta na mão. Outra é ele
como um ex-presidente tornado inelegível até 2030”, ressalta.
André
considera que o Partido Liberal, como maior bancada da Câmara dos Deputados e
um grupo altamente heterogêneo, teria naturalmente divergências internas.
Contudo, na avaliação dele, o racha ter sido exposto, como foi, faz com que o
partido perca credibilidade diante do eleitor mais moderado.
Ele
explica que a falta de homogeneidade na votação reflete a postura adotada no
governo Bolsonaro, de terceirizar a administração. “Esse episódio mostra as
limitações claras que ele tem. Eu imagino que rapidamente, em médio prazo, ele
perderá mais [espaço] e pode se tornar uma figura quase irrelevante na cena
política brasileira”, pontua.
“O
Bolsonaro saiu muito mais desgastado. Se ele quer ser um grande cabo eleitoral
e continuar na cena política mesmo que inelegível, ele vai ter que revisar suas
ações”, afirma. “Na política, trabalhar com o fígado não funciona.”
·
Teste
O
cientista político e professor da UDF André Rosa avalia que a votação da
reforma tributária foi o primeiro grande teste de Bolsonaro como líder da
oposição. “No meu entendimento, ele fracassou. Como sempre, ele tem um perfil
de ir para o fronte sem considerar os eventuais riscos e contando com o acaso”,
pontua.
“[O
ex-presidente] mostra mais uma vez inabilidade, porque seria muito ingênuo,
politicamente, pensar que a reforma tributária não passaria na Câmara após os
bilhões em emendas liberados para o parlamento através do Executivo”, avalia.
“Acredito que foi um erro de cálculo político do Bolsonaro.”
O
professor de ciência política observa que o racha no PL é explicado pelo fato
de parlamentares, na mesma linha de Tarcísio, terem defendido que se discute
uma reforma tributária há praticamente 40 anos no Brasil e que nenhum governo
foi capaz de aprová-la. Assim, o cálculo político considerou que, com a
aprovação, o mérito seria de todos, e não apenas de Lula.
“Esse
grupo que seguiu a linha narrativa do Tarcísio seguiu acertadamente. Nesse
momento, Bolsonaro acaba se isolando, e quem mais ganhou com tudo isso foi o
próprio Tarcísio”, analisa.
Fonte:
Brasil 247/Agencia Estado/Metrópoles
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