terça-feira, 11 de julho de 2023

Internações por infarto aumentam mais de 150% no Brasil em 14 anos

O número de internações por infarto aumentou no Brasil entre 2008 e 2022. Entre os homens, a média mensal passou de 5.282 para 13.645, alta de 158%. Entre as mulheres, a média foi de 1.930 para 4.973, aumento de 157%, segundo um levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).

O estudo leva em consideração dados do Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, do Ministério da Saúde. Por isso, cobre todos os pacientes brasileiros que usam os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), seja nos hospitais públicos ou nos privados que têm convênios. Isso representa de 70% a 75% de todos os pacientes do país.

“O infarto do miocárdio acontece em populações mais idosas. E sabemos também do aumento da prevalência da obesidade na população brasileira”, explica a diretora-geral do INC, Aurora Issa.

Segundo Aurora, o frio também aumenta as chances de infarto. Dados do INC indicam que os casos são mais frequentes durante o inverno. No ano passado, o número de infartos nessa estação foi 27,8% maior em mulheres e 27,4% maior em homens na comparação com o verão.

“O frio leva à contração dos vasos [sanguíneos]”, diz a especialista. “A pessoa que tem um infarto, na maioria das vezes, já tem a placa de gordura nas artérias. O que leva ao infarto é uma inflamação na placa e a formação de um trombo em cima dessa placa. As infecções, muitas vezes, são um gatilho para a inflamação.”

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens e mulheres no Brasil. Entre 2017 a 2021, 7.368.654 pessoas morreram por esse motivo no país. De acordo com o INC, as principais formas de prevenção são a prática de exercícios físicos e a alimentação balanceada.

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O Brasil teve aumento de cerca de 62% nas mortes de mulheres de 15 a 49 anos por infarto de 1990 para 2019. Na faixa etária de 50 a 69 anos, o número quase triplicou, com alta de aproximadamente 176%. Os dados são da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

A prevenção inclui a prática regular de atividades físicas, alimentação adequada, não consumo de álcool e qualquer tipo de tabagismo, de acordo com o Ministério da Saúde.

Tradicionalmente menos afetado por esse tipo de problema, o público feminino teve agora aumento similar ao registrado entre homens. Entre os motivos estão as mudanças no estilo de vida, que levaram a mais sedentarismo, estresse, entre outros fatores de risco. Segundo Gláucia Maria Moraes de Oliveira, do Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC, o cenário das mulheres em relação a infarto merece atenção especial.

A especialista alerta que a falta de conhecimento delas sobre os sintomas as leva a procurar tardiamente um médico e, consequentemente, a terem um pior desfecho. Isso porque elas podem ter sintomas diferentes daqueles apresentados homens. Eles geralmente sentem dor intensa no peito, enquanto elas podem ter apenas cansaço extremo ou sinais semelhantes a uma crise de ansiedade.

Gláucia diz que até mesmo alguns médicos não estão preparados para diagnosticar corretamente o infarto em mulheres.

“Geralmente, as pessoas chegam ao pronto-socorro com obstrução coronária. Só que existem muitas mulheres que têm um tipo diferente de infarto, que a gente chama de ‘minoca’, em que há uma disfunção arterial igual à de um homem, mas sem a existência de uma placa aterosclerótica (placa de gordura que obstrui o vaso sanguíneo).”

Historicamente, foi atrelado aos homens maior risco de infarto por seus hábitos de vida, geralmente menos saudáveis que os das mulheres. Diante disso, muitos médicos da família e clínicos gerais, que atendem em pronto-socorro, estão mais atentos aos sinais do problema cardiovascular nos homens.

“Os cardiologistas sabem dessa diferença, mas os médicos que estão nas emergências geralmente não. Por isso, queremos conscientizá-los, além das próprias mulheres, sobre o diagnóstico”, diz Gláucia.

A especialista coordenou, pela SBC, um documento que indica a necessidade de protocolos médicos específicos para prevenção, diagnóstico e tratamento de infarto nas mulheres.

Os exames mais comuns para diagnosticar infarto são o de sangue e o eletrocardiograma. Para ter uma visão mais detalhada, os médicos recorrem ao ecocardiograma e, posteriormente, ao cateterismo, segundo Dennys Martins, cardiologista da franquia Clínica da Cidade que atua também em UTIs.

E o problema vai além da detecção do problema. Menos de 50% das mulheres que sofrem infarto são submetidas a tratamento medicamentoso adequado.

Um estudo publicado neste ano pela Academia Americana de Cardiologia observa ainda que elas são mais propensas a precisar de uma nova internação no ano seguinte ao evento – e sofrem mais complicações e têm mais risco de vida nesse período.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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