Governo corre para
“compensar” herança do desmatamento deixada por Bolsonaro
Após
seis anos de alta, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu
alcançar uma redução de 33,6% no desmatamento na Amazônia durante o primeiro
semestre do ano. O número foi apresentado em coletiva de imprensa, realizada em
Brasília na tarde desta quinta-feira (6).
Entre
janeiro e junho de 2023, o bioma perdeu 2.649 km² de vegetação, o equivalente a
duas vezes a cidade do Rio de Janeiro. Apesar de expressiva, a cifra foi
comemorada. Esta é a primeira vez desde 2017 que o número cai.
Segundo
o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, a queda é resultado dos
esforços coletivos do novo governo em enfrentar o problema, negligenciado – e
até estimulado – durante a gestão federal anterior.
“Esse
número significa dizer que o esforço de reverter a curva de crescimento foi
atingido. Isso é um fato, nós revertemos, o desmatamento não está em alta”,
comemorou.
De
acordo com ele, no entanto, essa tendência de queda ainda precisa mostrar sua
força no mês atual. “Esperamos que em julho a gente repita esse êxito”, disse.
A
importância dada por Capobianco ao mês de julho justifica-se pelo fato de que a
taxa anual de desmatamento na Amazônia é medida sempre de 1º de agosto de um
ano até 31 de julho do ano seguinte.
Isto
é, os dados que foram registrados em agosto, setembro, outubro, novembro e
dezembro de 2022 representam a “herança” deixada por Bolsonaro. De janeiro a
julho eles já serão um reflexo das medidas adotadas pelo atual governo.
“Se
nós vamos conseguir uma redução nesse [primeiro] semestre que ‘compense’ a
herança do semestre do governo anterior e ter uma taxa [anual] este ano menor
do que o ano anterior, nós não sabemos. Mas nós atingimos o primeiro objetivo
fundamental que foi reverter a tendência de alta”, disse.
Os
números alcançados pelo governo Lula não foram comemorados somente por membros
da administração federal. Após a divulgação dos dados, diferentes organizações
da sociedade civil se manifestaram.
Para
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, os
resultados são fruto dos esforços implementados.
“Aos
poucos, o governo está retomando a fiscalização e a governança na Amazônia.
Temos um presidente que fala em proteger a floresta e seus povos. Ou seja, o
governo voltou a agir, a aplicar a lei, a proteger essa riqueza única que é a
Amazônia. Foi isso que mudou, é isso que está fazendo os números de
desmatamento diminuírem”, disse.
Segundo
Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, a queda na destruição da Amazônia
tem, de fato, relação com a postura do novo governo. Mas ele salienta que ainda
há muito trabalho pela frente para que a reversão total do desmatamento no
bioma seja atingida.
“A
mudança de discurso na área ambiental do governo federal, a ampliação das ações
de comando e controle com aumento de multas e embargos seja na floresta ou de
forma remota, colaboraram para esta queda. Mas o maior desafio vem agora no
segundo semestre, com o verão amazônico, que é quando historicamente temos os
meses com as maiores áreas de desmatamento, quanto o número de queimadas”,
disse.
·
Comando e Controle
Dentre
as ações que levaram aos resultados obtidos no primeiro semestre para a
Amazônia, o MMA destacou o lançamento da nova fase do Plano de Ação para
Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCDAm), o cancelamento de registros de
propriedade em áreas protegidas e o aumento na aplicação de multas, embargos e
apreensões.
De
fato, o Ibama aumentou em 166% a aplicação de multas no primeiro semestre de
2023, quando comparado com o mesmo período de 2022. Em seis meses, foram
aplicados 3.341 autos de infração, totalizando R$ 2,3 bilhões. Também foram
aplicados 2.086 embargos (aumento de 111%), 297 termos de destruição de bens
(aumento de 260%) e 1.283 termos de apreensão (aumento de 115%).
No
total, o órgão apreendeu 3 mil cabeças de gado, 25 aeronaves, 36 toneladas de
cassiterita e 30 barcos, entre outros bens. Além disso, foi feito embargo
remoto de 206 mil hectares e o bloqueio de 1,6 m³ de créditos virtuais de
madeira.
No
ICMBio, a aplicação de multas cresceu 348%, totalizando 1.141 autos de infração
no primeiro semestre, que resultaram em R$ 125 milhões. Também foram feitos 99
embargos (aumento de 94%), 452 termos de destruição de equipamentos (aumento de
138%) e 568 termos de apreensão (aumento de 95%).
Nos
seis primeiros meses do ano, o órgão retirou 3.200 cabeças de gado de dentro de
unidades de conservação.
“Em
seis meses, nós já temos um resultado que é fruto de duas coisas muito
importantes: recursos tangíveis e recursos intangíveis. Recursos tangíveis
vocês sabem: equipe, orçamento, capacidade de implementação das decisões
tomadas. Mas tem uma coisa que a gente não considera, que são os recursos
intangíveis. É a decisão do presidente Lula de assumir como uma política de governo
a continuidade da ideia de que a política ambiental brasileira será uma
política transversal. A decisão política de fazer o enfrentamento da mudança do
clima e o combate ao desmatamento. Isso é intangível, mas altamente potente”,
disse a ministra Marina Silva.
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Raio X do desmatamento na Amazônia
No
primeiro semestre do ano, o Mato Grosso ficou na liderança do ranking de
maiores desmatadores, com 34% do total (905 km²), seguido pelo Pará, com 28%
(746 km²), Amazonas, com 21% (553 km²), Rondônia, com 9,5% (252 km²), Roraima,
com 5% (122 km²), Acre, com 1,5% (38 km²), Maranhão, com 1% (24 km²), Amapá,
com 0,2% (6 km²) e Tocantins, com 0,1% do total registrado no período (2 km²).
Apenas
20 municípios de quatro estados – Mato Grosso, Pará, Amazonas e Rondônia –
concentraram 50% do desmatamento registrado.
“Nós
começamos um trabalho com os municípios da Amazônia na perspectiva de trabalhar
o que estamos chamando de um Pacto Federativo de Desmatamento Ilegal,
costurando ações de governança com esses municípios para que eles possam
participar de uma rede de ação, de operação, de monitoramento e controle”,
explicou o Secretário Extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento
Ambiental Territorial no MMA, André Lima.
Da
área total desmatada, 45,3% estava registrada como propriedade privada e 23,6%,
dentro de assentamentos.
O
restante do desmate ocorreu em áreas em que a prática é proibida ou onde não há
informação sobre a situação fundiária: 15,3% em florestas públicas ainda não
destinadas, 8,5% em áreas não definidas, 2,7 % em unidades de conservação e
1,4% em Terras Indígenas.
·
Para
conter alta no desmatamento, governo dará início ao embargo remoto no Cerrado
O
Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA) anunciou nesta
quinta-feira (6) que vai começar a embargar remotamente áreas desmatadas
ilegalmente no Cerrado, como uma das medidas para conter a alta no desmatamento
no bioma.
A
análise de imagens de satélite para realização de embargo foi adotada entre
2016 e 2018, mas interrompida durante o governo Bolsonaro. Com a chegada de
Luiz Inácio Lula da Silva no poder, a ferramenta voltou a ser utilizada, mas,
até então, com prioridade para a Amazônia.
Em
coletiva, o Secretário Extraordinário de Controle de Desmatamento e Ordenamento
Ambiental Territorial no MMA, André Lima, informou que serão embargadas desta
maneira áreas com desmatamento ilegal acima de 0,5 km² (50 hectares). A média
para o bioma é de 5 km² (500 hectares).
Além
do embargo remoto, estão previstas ações de fiscalização em campo em áreas
críticas, a revisão dos processos de autorização de desmatamento e a elaboração
de um relatório detalhado sobre o problema, para elaboração de medidas
futuras.
As
ações serão executadas em parceria com os estados, por meio da Associação
Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) e dos governos
estaduais.
Segundo
Lima, a revisão nas autorizações de desmate terá destaque entre as medidas
adotadas. De acordo com ele, todos os estados que compõem o bioma já se
mostraram abertos a revisar seus procedimentos.
“Tem
estados, como a Bahia, que delegaram para os municípios autorizarem [o
desmatamento]. Mais de 300 municípios da Bahia estão emitindo autorização. E
daí o controle de tudo isso, quando você dilui, sem o sistema integrado, fica
praticamente impossível de se ter, então queremos estabelecer uma regra
nacional”, explicou.
Pelos
altos números de desmatamento registrados na Bahia, o campeão entre os estados
(leia mais abaixo), o MMA anunciou que criará um grupo de trabalho com o
governo local para suspensão dos Cadastros Ambientais Rurais (CAR) com
desmatamento ilegal.
Durante
a coletiva, o governo também anunciou que está previsto para outubro o
lançamento do novo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e
Queimadas do Cerrado, o PPCerrado. O grupo que vai trabalhar no novo plano já
foi formado e, em setembro próximo, o documento deve ser aberto para consulta
pública e recebimento de sugestões.
·
Raio-X do desmatamento
De
acordo com números apresentados pelo governo durante a coletiva, entre janeiro
e junho de 2023, o Cerrado perdeu 4.407 km² de vegetação nativa, área
equivalente à cidade de Cuiabá, a oitava maior capital do país em termos
territoriais.
O
número é o maior da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), iniciada em 2019 para o bioma. Ele também representa uma alta
de 21% em relação ao mesmo período do ano anterior. ((o))eco já havia adiantado a alta na
última terça-feira (4).
“A
gente voltou a ter transparência, ninguém fica brigando com os dados do
satélite, escondendo o satélite, querendo demitir o presidente do INPE, o que
estamos fazendo é mostrar com transparência o que está acontecendo no
território, trabalhando com parceiros, buscando acertar as políticas em tempo
real”, disse a ministra Marina Silva.
Ainda
segundo dados do INPE, 81% do desmatamento no Cerrado no primeiro semestre
aconteceu nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecido pelo
acrônimo Matopiba.
A
Bahia foi responsável por 28% do total desmatado, seguido pelo Maranhão (23%),
Tocantins (18%) e Piauí (12%). A maior parte do desmatamento – 76,6 % – desse
desmatamento aconteceu em áreas registradas como particulares, 16,2% em áreas
indefinidas, 4,1% em Áreas de Proteção Ambiental (APA), 1,7% em assentamentos,
0,5% em unidades de conservação e 0,9% em florestas públicas e terras
indígenas.
Apenas
26 municípios desses quatro estados concentram 50% do total desmatado entre
janeiro e junho de 2023. “Estamos falando de um Pacto Federativo pelo
desmatamento Ilegal Zero. Dá para pôr nesta sala todos os prefeitos e
secretários de meio ambiente desses municípios pra gente combinar uma
estratégia de ação articulada”, explicou André Lima.
·
Comando e controle
O
aumento no desmatamento no Cerrado aconteceu mesmo com a implementação de mais
ações de fiscalização e medidas de comando e controle no bioma.
Segundo
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, no primeiro semestre de 2023 foram
aplicadas 417 multas a infratores no bioma, totalizando R$ 113,8 milhões. O
número de autos de infração lavrados representa um aumento de 22% em comparação
com o mesmo período do ano anterior.
Entre
janeiro e junho deste ano, o Ibama também realizou 247 embargos (aumento de
36%), lavrou 327 termos de apreensão (aumento de 46%) e 90 termos de destruição
de equipamentos (aumento de 243% em relação ao mesmo periodo de 2022).
Já
o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aplicou 56
multas a infratores com ilegalidades dentro de áreas protegidas, totalizando R$
13,4 milhões em multas. O número de autos lavrados é 8% maior que o mesmo
período de 2022.
Além
disso, o órgão também fez 30 embargos (aumento de 25%) e lavrou 36 termos de
apreensão (aumento de 80%).
“São
dois trilhos, o trilho estruturante e o trilho emergencial. No caso do Cerrado,
estamos no trilho emergencial e trabalhando o PPCerrado. Mas não dá para
esperar o PPCerrado, então que bom que tem uma excelente articulação com os
governos para trabalharmos juntos”, disse Marina Silva.
Ø
Banco
esconde os nomes de desmatadores com empréstimos
Será
cada vez mais difícil para quem desmata a Amazônia e outros biomas conseguir
créditos e fazer negócios nos mercados brasileiro e internacional.
A
fiscalização ambiental foi retomada, imóveis sobrepostos a terras públicas não
receberão empréstimos, cadastros ambientais rurais (CAR) em áreas protegidas
serão suspensos pelo governo, mercados internacionais se fecham a produtos
sujos por desmate e outros impactos socioambientais.
Na
mesma linha, desde fevereiro o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) bloqueia repasses a
fazendas com desmatamento ilegal. Mas parece faltar transparência à medida.
Pedidos
da Don’t LAI to Me – Fiquem Sabendo sobre nomes
de empresas e pessoas bloqueadas são negados pelo banco público. O BNDES alega
que tudo está protegido “pelo sigilo empresarial” e pela Lei Geral de Proteção
de Dados.
A
plataforma recorreu da negativa e afirma que a lei não tem “a função de
proteger empresas”.
Ø
MP
investigará autorizações para desmatamento no Mato Grosso do Sul
O
Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) vai investigar o sistema do
Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) que licencia e
concede autorização ambiental de desmatamento no estado. Tornado público nesta
sexta-feira (7), o inquérito civil foi instaurado em meio a denúncias de
desmatamento desenfreado no Pantanal.
No
último quadriênio (2019-2022), o estado respondeu por mais de 90% da área
desmatada do bioma, que, neste ano, ainda teve os cinco primeiros meses mais
desmatados do quinquênio (2019-2023) no estado.
Conforme
consta em publicação no Diário
Oficial do MPMS, a investigação partiu de requerimento do Instituto SOS Pantanal, e quer “apurar
eventual desconformidade do sistema do IMASUL”, afirma o documento.
·
Legislativo também está de olho
Na
última semana, a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Mato
Grosso do Sul (ALMS) também instituiu um grupo para investigar o tema. “Os
assessores parlamentares dos deputados que compõem a comissão vão buscar,
através de convocação de instituições de controle e de depoimentos com pessoas
que tem envolvimento em determinados casos, conhecer com profundidade as
denúncias”, explica a ((o))eco o deputado Renato Câmara (MDB-MS), que é
presidente da comissão.
Segundo
Câmara, em sua grande maioria, as denúncias são pertinentes ao Imasul. “É o
órgão que concede autorizações de empreendimentos, de expansão da agricultura,
de desmatamento, de limpeza, entre outros”, explica.
Por
este motivo, o órgão ambiental será a primeira instituição que o grupo
instituído pela comissão deve ouvir nos próximos dias – outras serão procuradas
durante os trabalhos da comissão. “A informação que nós temos que buscar é se
aquele que teve alguma concessão, se ele está cumprindo as normas que foram
autorizadas ou estão indo além do que ele tem autorização”, explica o
deputado.
A
expectativa, diz Câmara, é que resultados surjam com o desfecho das denúncias.
“A maioria das denúncias, que chegaram até nós tem muito poucos elementos
informativos, tem alguns indícios, e diante disso nós iremos em busca de
ampliar e aprofundar essas afirmativas”, completa o presidente da
comissão.
·
O líder do desmate no Pantanal
No
ano passado, mais de 80% da área desmatada no Pantanal foi registrada em Mato
Grosso do Sul, segundo dados da plataforma MapBiomas Alerta. Entre 2019 e 2022,
104,3 mil ha foram desmatados em todo o bioma, mas o estado respondeu sozinho
por 94 mil ha, ou 90,1% do total.
Nos
cinco primeiros meses deste ano, 16,8 mil ha já foram desmatados no Pantanal
sul-mato-grossense, o que configura o maior índice para o período desde 2019 –
a partir de quando os dados da plataforma do MapBiomas são
disponibilizados.
Fonte:
((o))eco
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