sábado, 8 de julho de 2023

Hormônio pode controlar efeito ioiô, mostra estudo

Quem já tentou perder peso já deve ter ouvido falar sobre o temido efeito ioiô. Também conhecido como efeito "rebote" ou "sanfona", ele acontece quando damos ao corpo menos calorias do que de costume, fazendo com que ele entre num estado de economia de energia. Quando voltamos à nossa dieta normal, portanto, acabamos ganhando peso novamente.

Mas esse problema pode agora virar coisa do passado. Cientistas canadenses acreditam ter descoberto uma via de sinalização hormonal capaz de ajudar a manter o metabolismo ativo mesmo após a redução da ingestão de alimentos.

"Em camundongos, descobrimos que o GDF15 [fator de diferenciação de crescimento-15] bloqueia a desaceleração do metabolismo observada durante uma dieta, acelerando o ciclo inútil de cálcio no músculo", disse Gregory Steinberg, pesquisador da Universidade McMaster, no Canadá.

·         Chave na luta contra a obesidade

O corpo produz GDF15 naturalmente, principalmente no fígado e nos rins. O estudo é consistente com pesquisas anteriores, que mostraram que o GDF15 e seu receptor associado, o GFRAL, influenciam a quantidade de comida ingerida pelos ratos.

Embora este seja apenas um pequeno indício, restando saber ainda se o hormônio pode ter o mesmo efeito em humanos, os primeiros resultados são promissores. Sobretudo quando se tem em conta que a obesidade deve afetar quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo até 2030.

No futuro, o GDF15 pode ser usado em combinação com medicamentos existentes para criar tratamentos supressores de apetite mais eficazes para aqueles que não obtiveram muito sucesso com as dietas convencionais.

"Novos estudos investigando as ligações entre a sinalização GDF15-GFRAL, o ciclo de cálcio muscular e o gasto de energia em humanos antes e depois da perda de peso serão importantes para estabelecer ainda mais o potencial terapêutico dessa via na termogênese adaptativa", escreveram os pesquisadores no artigo publicado na revista científica Nature no fim de junho.

 

Ø  O que é preciso saber sobre obesidade

 

Ao afetar milhões de pessoas em todo o mundo e se tornar uma doença crônica, a obesidade virou um grande problema de saúde. A enfermidade se espalhou por quase todos os cantos do planeta a ponto de "atingir proporções epidêmicas", segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 5 milhões de pessoas morrem a cada ano por causa de doenças e efeitos nocivos associados à condição.

Até 2035, mais da metade da população mundial − mais de 4 bilhões de pessoas − poderá ser obesa ou ter sobrepeso, de acordo com o Atlas da Federação Mundial da Obesidade de 2023.

·         Mas afinal o que é obesidade?

A obesidade é uma doença complexa que pode ocorrer em qualquer idade e afeta adultos e crianças. A OMS define a obesidade como "acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde".

Em essência, a obesidade ocorre quando uma pessoa consome excesso de calorias, que o corpo converte em gordura. Esse desequilíbrio entre as calorias que se ingere e as calorias queimadas – como quando se pratica exercícios físicos – pode ser causado por muitos fatores, incluindo sociais, estilo de vida, físicos, psicológicos, biológicos e genéticos.

Ao contrário do que ainda se acredita, a obesidade não é uma escolha ou resultado da falta de força de vontade, mas uma doença crônica que deve ser tratada como tal.

A obesidade é um dos principais fatores de risco para a morte precoce, pois aumenta o perigo de desenvolver outras doenças. Ela é associada a enfermidades cardiovasculares e respiratórias, problemas de saúde mental, alguns tipos de câncer e males metabólicos, como diabetes tipo 2, entre outros.

·         O que causa a enfermidade?

"Sabemos que apetite e saciedade são herdados e que até 70% do peso é geneticamente determinado. Há todas as razões para tratar a obesidade como uma doença crônica e recorrente", disse John Wass, professor de endocrinologia da Universidade de Oxford, à revista científica The Lancet.

Há muitos motivos pelos quais uma pessoa pode começar a consumir mais calorias do que queima, levando à obesidade. Esses fatores podem ser divididos em duas categorias: fatores internos, como o corpo da pessoa, sua biologia e genética; e fatores externos, como condições ambientais e sociais, como a renda, acesso a cuidados de saúde, a um parque, etc.

Aspectos genéticos, falta de exercício, maus hábitos alimentares, problemas psicológicos, problemas de saúde, condições sociais e econômicas, drogas, poluentes e outros fatores relacionados ao corpo podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade.

Condições médicas como a doença de Cushing e certos medicamentos, incluindo esteroides e alguns antidepressivos, também podem causar aumento de peso ou obesidade.

Mais recentemente, foi demonstrado que a flora intestinal pode estar desempenhando um papel importante em relação à obesidade. A flora ou microbiota intestinal diz respeito a todos os microrganismos que vivem dentro do intestino e aos quais é atribuída parte da saúde e bem-estar.

·         Como problema afeta o corpo?

obesidade pode afetar quase todas as partes do corpo e levar a muitos problemas de saúde. Os pesquisadores estimam que, para cada 5 aumentos no Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 25, há cerca de 30% de aumento na mortalidade.

Os sintomas relacionados ao excesso de gordura e peso corporal incluem dificuldade para realizar atividades físicas, dores em diferentes partes do corpo, como nas costas, e até osteoartrite. O sobrepeso também pode dificultar a respiração à noite, o que é chamado de apneia do sono.

A obesidade pode causar diabetes tipo 2, aumentar a pressão arterial, o colesterol e o açúcar no sangue e levar a doenças cardiovasculares, como derrames e ataques cardíacos devido ao aumento do acúmulo de gordura nas artérias.

A doença também tem sido associada a certos tipos de câncer, como do endométrio, esôfago, fígado, rim e cólon, entre outros. E ela pode afetar ainda  gravemente a saúde mental de uma pessoa, causando ansiedade, baixa autoestima e aumentando o risco de depressão.

·         Como a obesidade é constatada?

Determinada principalmente pela medição do Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa, a obesidade é diagnosticada quando o IMC de uma pessoa está acima de 30. O IMC é calculado dividindo o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Ele pode ser calculado, por exemplo, nesta calculadora do governo do Rio de Janeiro. (https://www.saude.rj.gov.br/obesidade/calcule-seu-imc)

Se a pessoa mede 1m80 e pesa 75 kg, seu IMC é 23, o que é considerado saudável. Mas, segundo a OMS, se o IMC for superior a 25, a pessoa está com sobrepeso; e, se for superior a 30, então esta é uma pessoa com obesidade. Mas isso pode variar de país para país e entre grupos étnicos.

No entanto, o IMC não é uma medida direta da quantidade de gordura, pois idade, sexo, etnia e massa muscular podem afetar a relação entre o IMC e a gordura corporal. Por exemplo, um levantador de peso com muita massa muscular pode ter um IMC alto, acima de 30, e não ter excesso de gordura.

Existem outras ferramentas para medir a quantidade de gordura com mais precisão, como bioimpedância elétrica ou varreduras DXA, mas elas não estão amplamente disponíveis. "A melhor maneira de medir a gordura corporal é usando ressonância magnética", disse à DW Alexander Miras, professor de endocrinologia da Universidade de Ulster, no Reino Unido.

Mas os exames de ressonância magnética são caros e são usados principalmente para determinar a gordura corporal para fins de pesquisa. O teor de gordura abdominal está associado a riscos de saúde mais elevados do que no resto do corpo. Por isso, as diretrizes médicas recomendam usar a circunferência da cintura para determiná-la.

·         Como pode ser tratada e prevenida?

A nível individual, a melhor forma de prevenir a obesidade passa por uma alimentação equilibrada, com menos gorduras e açúcares e mais frutas, legumes, cereais e frutos secos, e manter-se ativo, fazendo atividade física constante com exercício físico regular, cerca de 20 minutos por dia, recomenda a OMS. Mas isso só pode funcionar plenamente em conjunto com intervenções políticas, de saúde pública, sociais e da indústria alimentar.

"Na verdade, tem havido muita ênfase na culpa e na responsabilidade pessoal, inclusive por parte dos médicos", disse Francesco Rubino, presidente de cirurgia metabólica e bariátrica do King's College London, à The Lancet.

Como numa doença crônica, o médico deve fornecer um plano de tratamento de longo prazo que pode incluir modificações no estilo de vida, de hábitos alimentares, a opção por uma dieta mais equilibrada e modificar a forma como as pessoas se movem, promovendo a atividade física. Acompanhamentos regulares são importantes.

A perda de peso não precisa ser extrema no começo. Estudos demonstraram que mesmo uma redução de 10% no peso corporal pode diminuir significativamente a ameaça de fatores de risco relacionados à obesidade e que isso pode ser alcançado em seis meses com programas de tratamento bem planejados. Depois disso, programas de perda de peso mais intensos podem ser discutidos com o médico.

Pode ser difícil para os pacientes se manterem motivados, ou eles podem enfrentar problemas de saúde mental por causa da doença, e justamente por isso o acompanhamento psicológico e a motivação constante são fundamentais.

·         Quais medicamentos e cirurgias existem?

Se a dieta e o exercício não funcionarem, existem poucos medicamentos aprovados para tratar a obesidade que podem ajudar, mas também podem ter efeitos colaterais. O último a ser aprovado foi a semaglutida.

A medicação, vendida sob a marca Ozempic (versão injetável) ou Rybelsus (versão comprimido), foi aprovada pela Anvisa, no Brasil, e também nos Estados Unidos e pelo National Institute for Health and Care Excellence (Nice) no Reino Unido. Ela pode levar a mais de 10% de perda de peso. A droga deve ser autoinjetada uma vez por semana e pode causar efeitos colaterais como náusea, vômito, diarreia e obstipação.

A semaglutida reduz o apetite imitando o hormônio GLP-1, que é liberado depois que comemos.

Caso a dieta e os exercícios falharem para pessoas com obesidade grave, geralmente com IMC acima de 40,  a cirurgia bariátrica, como o bypass gástrico, pode ser um tratamento eficaz para redução de peso e melhoria da saúde. É importante discutir com o médico os benefícios, riscos e implicações deste procedimento.

As pessoas respondem de forma muito variada às diferentes intervenções, por isso o melhor tratamento possível deve ser cuidadosamente discutido com um médico.

·         Principais estatísticas sobre doença

Em 2016, 1,9 bilhão − ou 39% dos adultos em todo o mundo − viviam com sobrepeso, e 650 milhões − ou 13% − tinham obesidade.

A obesidade é um problema global crescente. A proporção de adultos obesos quase triplicou desde 1980, de acordo com o Observatório de Saúde Global da OMS.

Segundo o Observatório Global de Obesidade, a porcentagem de pessoas com obesidade é: 43% nos Estados Unidos, 20% na Arábia Saudita, cerca de 5% na Índia, 35% no Brasil, e nos países europeus os números giram em torno de 20%. Essas porcentagens não incluem pessoas com sobrepeso.

As crianças não estão isentas do problema. De acordo com a OMS, cerca de 38 milhões de menores de 5 anos são atingidos por sobrepeso ou obesidade, enquanto na faixa dos 5 aos 19 anos são 340 milhões em todo o mundo.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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