Carlos Carvalho:
Passava da hora de já ir embora
A
sociedade brasileira viu o monstro do fascismo emergir da lagoa, quando foi
levado a cabo o golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff. Daí em diante,
tudo o que havia de mais podre nos esgotos da política nacional ganhou status
de poder. Gestada nas hordas da mediocridade, na estupidez e no submundo das
falcatruas por pelo menos trinta anos, eis que uma das figuras mais abjetas da
política brasileira em todos os tempos é alçada ao cargo máximo do Executivo
nacional. E é claro que isso não poderia dar certo, como não deu.
A
chegada de tal choldra política ao posto mais alto da República abriu caminhos
para que ratos grandes, pequenos e minúsculos se digladiassem à luz do dia,
numa luta ferrenha para ver quem abocanharia as maiores partes do gigantesco
“queijo” do dinheiro público. Era a fatura sendo cobrada pelos patrocinadores
do “quanto pior, melhor”, afinal, os canalhas já haviam perdido completamente a
modéstia. E assim foram quatro anos de caos e retrocesso. Enquanto pais e mães
de família se humilhavam em filas para comprar ossos, pele de frango e carcaças
de peixe para alimentar seus filhos, o que se via eram passeios de jet-ski,
motociatas, ostentação e pregações extremistas em praças públicas e templos
ditos religiosos. Tudo isso pago pelo
contribuinte, obviamente. Enquanto o povo sofria horrores, o clã presidencial
se regalava com o bom e o melhor, inclusive, com recorrentes viagens ao
exterior e compra de mansões. Nem mesmo a morte de mais de 700 mil pessoas foi
levada a sério, ao contrário, o que se ouviu a respeito foram coisas como: “E
daí, eu não sou coveiro”. Mas foi o autor dessa famosa frase que, às vésperas
de ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, disse: “Quem
sabe Deus toque o coração de Alexandre de Moraes”. Bingo! Deus não apenas tocou
o coração de Moraes, mas de quatro outros ministros, o que resultou em um
placar de 5 a 2 pela condenação e consequente inelegibilidade do néscio por
oito anos.
A
decisão do TSE serve de aviso a todos aqueles que, conscientemente, usaram e
abusaram da disseminação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e o
processo eleitoral brasileiro, considerado um dos mais rápidos e seguros do
mundo. Tais criminosos, muitos abrigados sob o manto da imunidade parlamentar,
são hoje problema da Justiça que, certamente os alcançará mais cedo ou mais
tarde. Que seja cedo! E é a essa mesma Justiça que também deverão prestar
contas os empresários, coronéis, generais, suas esposas, filhos e filhas; que
atiçaram seus paus-mandados a atacar a democracia brasileira. E aqui cabe
perguntar: a quem interessava o golpe contra o presidente eleito? A quem
servem, afinal, as nossas dispendiosas forças armadas? Quem financiou a
tentativa de golpe? Sim. Estava mais que na hora do entulho já ir embora, mas
nada será como antes se a Justiça brasileira não apresentar respostas para
estas perguntas e não responsabilizar criminalmente os envolvidos. O tempo
urge, meus caros, e a democracia tem pressa.
Cúpula do PL fica furiosa com foto de
Bolsonaro
A
divulgação de uma fotografia do ex-presidente Jair Bolsonaro sem camisa,
expondo uma cicatriz deixada pela facada que levou no abdômen durante a
campanha eleitoral de 2018, irritou a cúpula do PL. A imagem foi alvo de memes
e considerada de “péssimo gosto” por dirigentes do partido de Bolsonaro, que
relataram à equipe da coluna não terem sido consultados previamente sobre a
publicação.
No
mesmo dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu o julgamento em
que tornou o ex-presidente inelegível e o condenou por abuso de poder político
e uso indevido dos meios de comunicação, o advogado Fabio Wajngarten, assessor
de Bolsonaro, divulgou o retrato do ex-presidente, como tentativa de demonstrar
apoio nas redes sociais.
“Vítima,
dessa tal DEMOCRACIA, que joga há muito tempo fora das 4 linhas, não por
palavras e sim por atos e decisões. Fique firme Pr @jairmessiasbolsonaro tamo
junto, SEMPRE”, escreveu Wajngarten, em seu perfil no Instagram.
Na
avaliação de integrantes do PL ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, a
publicação de Wajngarten vai na contramão do trabalho que está sendo feito pelo
time de comunicação, mostrando o ex-presidente “vulnerável”, “enfraquecido” e
“grotesco”.
Mais
recentemente, o ex-Secom passou a costurar sua eventual indicação como
candidato a vice do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), em 2024. A
empreitada não conta com a simpatia da cúpula do PL, mas Wajngarten conta com o
apoio de Bolsonaro para demover as resistências internas.
O
ex-secretário e atual assessor do ex-presidente acumula desgastes no PL desde
que assumiu a coordenação da comunicação da campanha de Bolsonaro à reeleição a
três meses do primeiro turno da eleição.
Na
época, como publicamos no blog, interlocutores do então presidente viam o
ex-secretário de Comunicação como o principal incentivador de falas radicais de
Bolsonaro enquanto Lula avançava nas pesquisas de intenção de voto. Antes do
embarque bolsonarista no PL, Wajngarten já havia sido exonerado da Secom por
atritos dentro do governo.
Após
a derrota nas urnas, o partido chefiado por Valdemar Costa Neto acatou um
pedido de Bolsonaro e contratou o ex-secretário com pagamentos mensais para
assessorar Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle.
A
ex-primeira-dama, no entanto, garantiu uma equipe de comunicação própria após
fazer chegar à cúpula do partido que tinha reservas ao perfil do ex-secretário,
visto por ela como muito “radical”.
Desde
então, Wajngarten tem atuado como assessor de imprensa, porta-voz e até gestor
de crises. O exemplo mais contundente até a conclusão do julgamento no TSE
havia sido o escândalo das joias sauditas, quando o assessor veio a público
defender o ex-presidente e Michelle das suspeitas de apropriação de presentes
que são de patrimônio público
Procurada
pela equipe da coluna, a assessoria do PL não se manifestou.
New York Times destaca as diferenças
entre os destinos de Trump e Bolsonaro
Em
análise publicada no sábado, o jornal The New York Times destacou as notáveis
diferenças nas repercussões políticas enfrentadas por Donald Trump e Jair
Bolsonaro após alegações infundadas de fraude eleitoral e ações de seus
apoiadores. Enquanto Trump permanece influente nos Estados Unidos e lidera as
pesquisas para se tornar novamente o candidato republicano à presidência,
Bolsonaro enfrenta investigações criminais e foi proibido de ocupar cargos
políticos pelo tribunal eleitoral do Brasil até 2030.
A
diferença nas consequências reflete a estrutura política e judicial distinta
dos dois países, com o sistema eleitoral brasileiro exercendo um papel mais
proativo e rápido na aplicação de medidas para proteger a democracia. Enquanto
os tribunais brasileiros têm sido incisivos no bloqueio de políticos
considerados ameaças, nos EUA, o destino de Trump depende da decisão dos
eleitores e do sistema de justiça mais lento e metódico.
Noblat: Se em 2026 a economia estiver bem
e Lula também, preparem-se…
Em
novembro de 1989, uma semana depois do primeiro turno da eleição em que os
brasileiros voltaram a escolher seu presidente com o fim da ditadura militar,
Leonel Brizola (PDT) convocou a militância do seu partido para uma reunião no
Riocentro, em Jacarepaguá, à época, o maior centro de convenções do país.
Brizola
ficou fora do segundo turno por diferença ínfima de votos válidos: teve 16,04%,
e Lula, 16,69%. Fernando Collor (PRN) teve quase o dobro – 32,47%. A poucas
horas da reunião, Brizola hesitava sobre o que fazer: apoiar Lula ou não apoiar
ninguém, liberando seus seguidores para votar como quisessem?
À
saída do prédio onde morava na Avenida Atlântica, acompanhado por um grupo de dirigentes
do PDT, Brizola foi abordado por uma vizinha, sua eleitora, que lhe disse de
bate-pronto: “É, governador, vamos ter que engolir o sapo barbudo”. No
Riocentro, o clima era escancaradamente a favor do voto em Lula.
Depois
de ouvir mais de uma dezena de discursos, sem que dissesse uma palavra que
antecipasse sua decisão, Brizola afinal se rendeu. E disfarçando a
contrariedade, começou a falar assim:
“É,
meus companheiros, vamos ter mesmo que engolir o sapo barbudo”.
Transferir
votos é uma coisa difícil. Deposto em 1945, Getúlio Vargas transferiu parte dos
seus para eleger presidente o general Eurico Gaspar Dutra, que fora seu
ministro da Guerra. Em 1961, Juscelino Kubitschek (PSD), no auge de sua
popularidade, foi obrigado a passar a faixa presidencial para Jânio Quadros
(UDN).
Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), que se elegeu e se reelegeu como pai do Plano Real
derrotando Lula (PT), não conseguiu fazer seu sucessor, José Serra. Lula fez o
dele – Dilma Rousseff. Bolsonaro se elegeu em 2018 porque, entre outras razões,
Lula, que liderou todas as pesquisas de intenção de voto, estava preso.
Bolsonaro
passará à História como o primeiro presidente que não se reelegeu, e como o
único até aqui que se tornou inelegível. Muita abobrinha está sendo escrita a
respeito da capacidade de Bolsonaro transferir votos para o candidato que em
2026 venha a enfrentar Lula ou outro nome apoiado por Lula.
Tais
votos irão naturalmente para o candidato da direita, ou os candidatos da
direita. Bolsonaro foi um acidente. Estava no lugar certo e na hora certa, e
por isso se elegeu. Uma eleição como a de 2018 jamais se repetirá. Bolsonaro
nunca foi homem de partido e nem de ideias. A direita começa a dar-lhe as
costas.
É
muito cedo para se especular sobre a eleição presidencial de 2026. É tolice
dizer que Tarcísio de Freitas (Republicanos), por governar São Paulo, está
fadado a ser o candidato da direita. Paulo Maluf, Mário Covas, Orestes Quércia,
Serra e Geraldo Alckmin governaram São Paulo, disputaram a presidência e
perderam.
Fonte:
Brasil 247/Metrópoles
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