sábado, 5 de abril de 2025

Diagnóstico tardio: como o autismo na vida adulta ainda é pouco reconhecido

O diagnóstico de autismo na vida adulta é um desafio que afeta milhares de pessoas que, por anos, viveram sem compreender suas próprias dificuldades e diferenças. Identificar o autismo nessa fase da vida é um processo complexo, que envolve autoconhecimento, avaliação profissional e aceitação. Infelizmente, o diagnóstico tardio ainda é comum, gerando impactos emocionais, sociais e funcionais na vida dos indivíduos.

<><> Razões para diagnósticos tardios de autismo na vida adulta

O diagnóstico tardio de autismo na vida adulta ocorre por diversos fatores, sendo o principal a falta de conhecimento da sociedade e de profissionais da saúde sobre o espectro autista. Durante muito tempo, acreditou-se que o autismo só se manifestava na infância e que suas características eram visíveis apenas em comportamentos extremos, como a ausência completa da fala ou comportamentos repetitivos evidentes.

Além disso, a compreensão limitada sobre o autismo em adultos gerou um estigma que associava o transtorno a déficits severos e incapacitantes, desconsiderando as nuances e variações do espectro. Esse desconhecimento resultou na negligência de sinais sutis que, muitas vezes, são ignorados ou mal interpretados como questões emocionais ou traços de personalidade.

O preconceito e a falta de treinamento adequado por parte dos profissionais de saúde também dificultam o diagnóstico correto. Muitos adultos autistas passam por consultas médicas e terapias durante anos sem receber o diagnóstico adequado, enfrentando frustração e falta de direcionamento para um tratamento efetivo.

<><> Impactos emocionais e sociais do diagnóstico tardio

Descobrir o autismo na vida adulta é, para muitos, um processo libertador, mas também pode ser emocionalmente desafiador. Pessoas que recebem o diagnóstico nessa fase frequentemente relatam sentimentos de alívio por finalmente compreenderem suas dificuldades e comportamentos que antes eram considerados desafiadores ou socialmente indesejáveis.

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Por outro lado, o diagnóstico tardio também pode gerar sofrimento emocional, especialmente quando a pessoa se dá conta de que passou anos enfrentando desafios sem o suporte necessário. Questões como depressão, ansiedade e baixa autoestima são comuns em adultos autistas que não foram diagnosticados na infância.
Além disso, a falta de um diagnóstico precoce compromete a inclusão social e a adaptação em ambientes educacionais e profissionais. Muitos adultos autistas relatam dificuldades em manter empregos, construir relacionamentos e participar de atividades sociais devido à falta de compreensão e apoio especializado.

<><> Como reconhecer sinais do TEA na fase adulta

Identificar o autismo na vida adulta requer atenção a uma série de sinais que podem não ser óbvios, mas que interferem na qualidade de vida. Alguns dos principais indicadores incluem:

  • Dificuldade em interpretar expressões faciais, tom de voz e linguagem corporal;
  • Preferência por rotinas rígidas e dificuldade em lidar com mudanças inesperadas;
  • Hiperfoco em interesses específicos, que muitas vezes são aprofundados com grande dedicação;
  • Sensibilidade aumentada ou diminuída a estímulos sensoriais (luzes, sons, texturas);
  • Dificuldade em iniciar e manter relacionamentos sociais e amorosos;
  • Ansiedade social intensa e necessidade de períodos de isolamento para recarregar energias.

Reconhecer esses sinais é essencial para que o diagnóstico seja realizado de forma adequada. O acompanhamento profissional especializado é imprescindível para uma avaliação completa e o direcionamento correto do tratamento e do suporte necessários.

¨      Autismo: quais sinais observar e possíveis causas

Existem no Brasil, atualmente, 36 mil alunos com autismo, também chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo dados oficiais do Censo Escolar 2023, publicado em 2024. O número de matrículas de pessoas com autismo no país quase dobrou de 2022 para 2023. Apesar do aumento, o diagnóstico do transtorno ainda é um problema entre pais com crianças autistas, segundo especialistas — fazendo com que essas pessoas quando adultas, por vezes, percebam o distúrbio tardiamente.

O médico Antônio Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, alerta para a dificuldade no diagnóstico de adultos com autismo. Muitos desenvolvem estratégias de camuflagem ao longo da vida, o que pode mascarar os sinais do transtorno.

“Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será o prognóstico, melhorando então as chances de desenvolvimento saudável e melhor qualidade de vida para a criança”, disse ele à CNN.

De acordo com neuropsicóloga e espeiclaista em análise do comportamento e TEA Tatiana Serra, atualmente, o diagnóstico na infância tem se tornado mais acessível, o que é fundamental, pois a identificação precoce permite iniciar a intervenção desde cedo. Isso pode contribuir para um melhor desenvolvimento e um prognóstico mais favorável.

No entanto, os médicos alertam que a conscientização deve ser foco do Estado, pois alguns pais e responsáveis podem não saber identificar os sinais.

Quando a pessoa é adulta, pode ser mais difícil identificar o transtorno. “Muitas pessoas já apresentam comorbidades associadas, o que pode mascarar os sinais do transtorno. Além disso, a falta de autoconhecimento pode dificultar a auto percepção e a descrição precisa das próprias características. Soma-se a isso a resistência em buscar ajuda ou obter um diagnóstico, tornando o processo ainda mais complexo”, ressalta Tatiana.

“Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, melhor será o prognóstico, melhorando então as chances de desenvolvimento saudável e melhor qualidade de vida para a criança”, exalta Antônio.

<><> Quais sinais observar para o diagnóstico do autismo

Alguns sinais de autismo são mais evidentes na infância, como a ausência ou o pouco contato visual, explicam os profissionais.

“Os pais devem estar atentos a sinais como atrasos na fala, falta de contato visual, dificuldade em interagir com outras crianças, falta de resposta ao próprio nome, interesses restritos e às vezes, comportamentos repetitivos”, diz o psiquiatra.

Como explica Tatiana, crianças também podem brincar de maneira estereotipada, como girar em torno de si mesmas ou girar as rodas de brinquedos repetidamente por longos períodos. “Outra característica comum é a dificuldade com determinadas texturas, inclusive de alimentos. Além disso, a criança pode ser extremamente tímida ou apresentar dificuldades em se integrar com outras crianças da mesma idade.”

“Os responsáveis precisam observar muito a criança no sentido de ajudá-la com brevidade e acabar com esse preconceito de achar que não é uma doença psiquiátrica. O que precisa mesmo é ir a um psiquiatra da infância e adolescência para, desde cedo, junto com uma equipe multiprofissional, fazer um trabalho direcionado”, complementa Antônio Geraldo.

<><> Possíveis causa do autismo

“As causas do autismo não são completamente compreendidas, mas acredita-se que uma combinação de fatores genéticos com fatores ambientais vai contribuir para o desenvolvimento desse transtorno e as adaptações”, diz o profissional.

Tatiana Serra ressalta que a principal seria a predisposição genética, que, combinada a influências ambientais como deficiência de ácido fólico durante a gestação, exposição a substâncias tóxicas e condições maternas como depressão, pode contribuir para o desenvolvimento do transtorno.

À medida que a ciência avança na compreensão do autismo, espera-se que o diagnóstico e o tratamento melhorem. No entanto, é fundamental que a sociedade continue se conscientizando sobre o tema, evitando julgamentos e preconceitos, e oferecendo o suporte necessário às pessoas com TEA e suas famílias.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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