57 anos sem Yuri Gagarin: primeiro ser humano
a viajar para o espaço
Há 57 anos, em 27 de março de 1968, o mundo
era surpreendido com a notícia da trágica morte do cosmonauta soviético Yuri
Gagarin. Ele faleceu em um acidente aéreo, enquanto realizava um voo de
treinamento.
Gagarin foi o primeiro ser humano a viajar
para o espaço. Em abril de 1961, a bordo da espaçonave Vostok 1, o cosmonauta
deu uma volta completa ao redor da Terra.
A viagem de Gagarin foi um dos grandes marcos
históricos do século 20, abrindo caminho para a exploração espacial tripulada e
consolidando a liderança na União Soviética na corrida espacial. A façanha
alçou Gagarin ao status de herói e o transformou em uma das personalidades mais
conhecidas do mundo.
- A
juventude e a carreira na Aeronáutica
Yuri Alexeievitch Gagarin nasceu em 9 de
março de 1934, em uma fazenda coletiva de Kluchino, nos arredores de Moscou.
Ele era o terceiro dos quatro filhos dos camponeses Anna Timofeievna e Aleksei
Gagarin.
Ainda muito pequeno, Gagarin testemunhou a
eclosão da Segunda Guerra Mundial e a invasão da União Soviética pelas tropas
de Adolf Hitler. A família de Gagarin foi submetida a diversos abusos pelos
invasores nazistas, chegando a ter a sua casa confiscada.
Valentin e Boris, os dois irmãos de Gagarin,
foram enviados para campos de concentração na Polônia, mas conseguiram fugir.
Juntaram-se posteriormente às tropas do Exército Vermelho e combateram as
forças do Terceiro Reich na Frente Oriental.
Com apenas oito anos de idade, Gagarin já
auxiliava na resistência antinazista, ajudando a sabotar os blindados alemães.
Reunida após o fim do conflito, a família se mudou para Gzhatsk, onde Gagarin
retomou seus estudos.
Aos 16 anos, Gagarin começou a trabalhar como
moldador em uma siderúrgica. Em seguida, mudou-se para Saratov, onde concluiu o
ensino secundário. Interessado por aviação desde a infância, ingressou no
aeroclube da cidade, onde aprendeu a pilotar aviões leves.
Gagarin se matriculou na Escola de Pilotos da
Força Aérea Soviética em Orenburg. Durante o treinamento, conheceu a médica
Valentina Goryacheva, com quem se casaria e teria duas filhas, Yelena e Galina.
Em 1957, Gagarin obteve a patente de tenente da Força Aérea. Dois anos depois,
recebeu a classificação de Piloto Militar de 3ª Classe.
- A
corrida espacial
Ainda em 1959, Gagarin se voluntariou a
participar do Programa Espacial Soviético. Ele foi motivado pelo lançamento da
sonda espacial Luna 3. Bem sucedida, a missão produziu o primeiro mapa do lado
oculto da Lua, fascinando o público e despertando a curiosidade pela exploração
do espaço. Gagarin foi selecionado para o programa junto com outros 154
candidatos e logo avançou para o grupo de vinte finalistas.
O programa espacial soviético experimentava
enorme progresso desde a Segunda Guerra Mundial — em grande parte viabilizado
pelo aperfeiçoamento do lançador de foguetes Katyusha e pelos avanços no campo
dos estudos sobre propulsão reativa.
Com o fim do conflito, teve início a
polarização da Guerra Fria, impulsionando a corrida armamentista e o
desenvolvimento dos programas espaciais da União Soviética e dos Estados
Unidos. As duas nações estabeleceram forte concorrência pelo domínio da tecnologia
aeroespacial, vista como estratégica para o desenvolvimento dos sistemas de
defesa.
Os soviéticos saíram à frente na corrida
espacial e armamentista com duas importantes inovações: o R-7 Semyorka e o
Sputnik 1. O R-7 Semyorka era o primeiro míssil balístico intercontinental do
mundo, capaz de percorrer quase 9.000 quilômetros. Já o Sputnik 1 era o
primeiro satélite artificial posto em órbita na história.
Dando sequência aos investimentos em pesquisa
aeroespacial, a União Soviética lançou em 1959 a sonda Luna 1, a primeira
espaçonave a se aproximar da superfície lunar. Em seguida, lançou o Programa
Vostok, que visava criar espaçonaves tripuladas para levar, pela primeira vez,
a humanidade até o espaço.
- O
voo de Gagarin
O Programa Vostok produziu vários protótipos
entre maio de 1960 e março de 1961, até chegar à Vostok 1. A espaçonave
consistia em uma cápsula com 2,3 metros de diâmetro e peso de 2.460 quilos —
sendo 837 quilos referentes apenas à massa do escudo protetor de calor da
fricção.
O formato foi escolhido de forma a diminuir a
exposição da superfície externa. O sistema de propulsão da Vostok 1 ainda era
limitado, o que dificultaria o controle da navegação no retorno à Terra. A
espaçonave foi projetada para transportar apenas um tripulante.
Com peso e altura ideais e desempenho
impecável nos testes, Yuri Gagarin foi selecionado para a missão. Gherman
Titov, que também obtivera bons resultados, foi convocado como reserva.
O lançamento ocorreu em 12 de abril de 1961,
no Centro Espacial de Baikonur, no Cazaquistão. Impulsionada pelo foguete
lançador Soyuz-R-7, a espaçonave Vostok 1 atingiu uma altitude de 315
quilômetros a partir da superfície terrestre.
Gagarin deu uma volta completa em torno da
órbita da Terra, voando a uma velocidade de 28 mil quilômetros por hora durante
108 minutos. “A Terra é azul”, registrou Gagarin, observando o planeta do alto.
“Através da janela, eu vejo a Terra. O chão é claramente identificável. Eu vejo
rios e as dobras do terreno. É tudo tão claro”.
Em função das restrições de peso da cápsula,
a Vostok 1 não tinha retrofoguetes de reserva. Gagarin tinha provisões para dez
dias, para garantir sua sobrevivência no caso de falha do único retrofoguete,
até que a cápsula retornasse à Terra por inércia.
Não foi necessário. O sistema de propulsão
conseguiu conduzir a espaçonave pelas camadas densas da atmosfera até a
trajetória de descida. Quando a cápsula estava a sete quilômetros de distância
do solo, já desacoplada do compartimento dos instrumentos, Gagarin saltou de
paraquedas.
Um erro no cálculo da trajetória de retorno
fez com que o cosmonauta aterrissasse a 320 quilômetros de distância do local
previsto, pousando perto do Rio Volga. Felizmente, foi a única falha em todo o
processo.
- Após
o Vostok 1
O feito inédito colocou os soviéticos na
dianteira da corrida espacial. Gagarin foi condecorado como Herói da União
Soviética e converteu-se em uma das personalidades mais famosas e queridas do
mundo.
Logo após a viagem, o cosmonauta passou a
viajar pelo mundo inteiro como representante da “Missão de Paz” da União
Soviética, que visava promover a tecnologia espacial do país e estreitar suas
relações com as nações do mundo. Gagarin visitou cerca de 30 países, sendo
sempre recepcionado com carinho pelas multidões e agraciado com honrarias por
chefes-de-Estado.
Na imprensa norte-americana, a reação ao
feito dos soviéticos variou da ironia ao melindre mal disfarçado, com doses
cavalares de anticomunismo e artigos histéricos que insuflavam o temor das
massas sobre como os comunistas pretendiam utilizar a tecnologia aeroespacial.
O presidente John Kennedy ficou tão
incomodado com popularidade do cosmonauta soviético que proibiu sua entrada nos
Estados Unidos, além pressionar os países aliados a não recepcioná-lo. Muitos
países latino-americanos seguiram a determinação de Washington, mas Cuba e
Brasil aceitaram receber o cosmonauta.
Gagarin esteve no Brasil entre os dias 29 de
julho de 5 de agosto de 1961, visitando Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. A
recepção calorosa ao cosmonauta contribuiu para que as relações diplomáticas
entre Brasil e União Solviética fossem reatadas.
Durante a visita, Gagarin foi condecorado com
a Ordem da Força Aérea Brasileira pelo presidente Jânio Quadros. A visita do
cosmonauta contribui para o nascimento do programa espacial brasileiro,
inspirando a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades
Espaciais, embrião do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Em São Paulo, Gagarin foi condecorado com o
diploma de “Pioneiro do Cosmos” pelo prefeito Prestes Maia e ovacionado por uma
multidão que lotou as arquibancadas do Ginásio do Ibirapuera para prestigiá-lo.
- Os
últimos anos
De volta ao seu país, Gagarin deu início à
sua carreira política, elegendo-se deputado do Soviete da União — a câmara
baixa do Soviete Supremo. Em 1964, ele foi eleito representante do Soviete das
Nacionalidades, a câmara alta do parlamento. O cosmonauta também integrou o
Comitê Central do Komsomol, a União da Juventude Comunista.
Em paralelo à política, Gagarin se dedicou à
formação dos futuros cosmonautas soviéticos e à testagem de novas aeronaves no
centro espacial da “Cidade das Estrelas”, nos arredores de Moscou. O acidente
ocorrido no pouso da tripulação Soyuz 1 em 1967, que custou a vida do
cosmonauta Vladimir Komarov, abalou profundamente Gagarin.
Em 27 de março de 1968, Gagarin sofreu um
acidente aéreo enquanto pilotava um MIG-15, falecendo aos 34 anos de idade.
Vladimir Seryogin, o instrutor de voo que o acompanhava, também morreu na queda
da aeronave.
As causas exatas do acidente nunca foram
esclarecidas, mas investigações posteriores sugeriram que Gagarin teve de
realizar uma manobra brusca para evitar um choque com um balão meteorológico ou
outra aeronave. A manobra, combinada com as más condições climáticas, teria
levado à perda de controle da aeronave.
A morte de Gagarin comoveu profundamente os
soviéticos, a comunidade científica e seus admiradores em todo o planeta. Seu
funeral foi acompanhado por uma gigantesca multidão em Moscou.
Pioneiro das viagens aeroespaciais, Gagarin
permanece como uma referência que inspirou gerações de cientistas, engenheiros,
aeronautas e cosmonautas. Ele foi homenageado emprestando seu nome à Medalha de
Ouro da Federação Aeronáutica Internacional e a uma das maiores crateras
lunares.
A data de lançamento da Vostok 1, 12 de
abril, é internacionalmente celebrada como “A Noite do Yuri” e foi reconhecida
pela ONU em 2011 como “Dia Internacional dos Voos Espaciais Tripulados”.
Fonte: Por Estevam Silva, em Opera Mundi

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